Netflix - Um Ninho Para Dois (The Starling)

9/27/2021 01:42:00 AM |

Acho que os roteiristas já estavam com alguma carta na manga sabendo que muitas pessoas morreriam ou perderiam entes queridos nos próximos anos, pois tem surgido tantos filmes envolvendo reflexões sobre o luto, tratamentos para depressões do estilo, envolvimento de pessoas com animais e metáforas necessárias para que fluíssemos no tema que não tem como alguém não saber por onde olhar para se emocionar com o tema, e isso não é ruim, pois muitos acabam vendo nos filmes chances para não se matar, para não entrar num colapso ainda maior, e quando a síntese da trama entrega até atos cômicos como é o caso do lançamento da semana da Netflix, "Um Ninho Para Dois", o tema acaba fluindo de uma maneira ainda mais gostosa de ver, sentir e refletir. Claro que um bom terapeuta pode ajudar, mas as vezes símbolos e reflexões passam melhores mensagens para uma pessoa se apoiar em algo após um momento como esse que o resultado é amenizado de uma forma mais leve e simpática de acontecer. Ou seja, é um filme bem simples e bonito de ver, com alguns atos meio que estranhos por parecer um misto de real com computação gráfica (ainda não me convenci do pássaro ser real - ao menos nos voos para cima da protagonista), mas que passa tão rápido e bem feito que acabamos envolvidos e emocionados com toda a proposta, valendo assim a conferida mesmo que você não esteja passando por isso.

O longa nos conta que o bebê de Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O'Dowd) morre, levando-o a uma internação em uma clínica de reabilitação devido ao sentimento intenso de tristeza. A esposa fica em casa sozinha e decide construir um jardim para ajudar o marido quando ele voltar à casa. Ela então passa a ser atormentada por um pássaro agressivo e decide procurar um veterinário para saber como se livrar do animal de forma humana. O profissional que a esposa encontra costumava ser um psiquiatra, mas largou tudo para ajudar os animais, e acaba dando conselhos inesperados.

Diria que o diretor Theodore Melfi tem um estilo bem peculiar de trabalhar a emoção, pois em seus filmes sempre vemos alguém numa fria sentimental fortíssima que acaba ajudado por alguma outra pessoa a pensar diferente da caixa e ir para um fluxo que dê algum sentido maior para a vida, e isso é um nicho que hoje muitas pessoas procuram, seja em livros de auto-ajuda, em filmes, ou até mesmo em terapeutas e amigos, e é bom ver um diretor que gosta da proposta, ainda mais nessa época que tudo está um caos completo, então é sempre bom alguém com esse estilo de pensamento, e aqui ele trabalhou muito bem o drama da protagonista de uma forma bem leve e gostosa, pois ela mostrou ser a força da família, e mesmo abalada por tudo seguiu sua vida, tentando fazer o seu melhor, seja ele fugindo de pássaros ou colocando todo o mercado a venda por cinco centavos, enquanto o marido tentou se matar, se internou e não consegue ir além em sua vida. Ou seja, temos um trabalho bem envolvente de todos os lados, temos frases contundentes bem marcantes, e principalmente temos ótimas atuações numa trama bem desenvolvida, que certamente vai pegar muitos desprevenidos que forem ver achando ser apenas mais um filme do estilo.

O mais bacana de ver nas atuações é que por ser uma atriz que faz bem tanto dramas quanto comédias Melissa McCarthy conseguiu incorporar para sua Lilly tudo o que a personagem precisava, de estar tanto envolvida no luto, quanto disposta para brigar com um passarinho e divertir com as situações que isso lhe causaria, além claro da disposição para estar fazendo absurdos no mercado que trabalhava e ir conversar com um veterinário, ou seja, ela pegou a proposta da personagem e abriu em tantos leques quanto conseguisse, chamando a atenção e fazendo trejeitos tão perfeitos que ficasse incrivelmente marcada, dando novamente um show em cena ao ponto de até arriscarmos lhe ver novamente indicada à premiações. Chris O'Dowd é daqueles atores de personificação marcante que sempre cai bem em um papel, e aqui seu Jack puxa sabe lá de onde uma síntese tão forte para seus momentos, que mesmo estando numa instalação psiquiátrica ousa florear envolvimentos, discutir numa brincadeira de crianças e até mesmo ser criativo nas aulas de artes, ao ponto de vermos em seus olhares nas discussões com o diretor da instalação tudo o que deseja passar numa introspecção maravilhosa e muito bem colocada que junto da protagonista em cena fica maior ainda. Kevin Kline num primeiro momento parece não estar muito presente nas dinâmicas do filme, mas conforme vai passando as metáforas dos animais com a protagonista, seu Larry vai crescendo e entrando com força na didática completa da trama, e a forma que escolheu desistir da área da terapia é tão forte e marcante que tudo passa a ser representativo, ou seja, foi muito bem no papel com nuances de olhares, mas muito mais na força dos diálogos. Quanto aos demais praticamente ninguém foi muito além, tendo alguns leves destaques para os dois médicos da instituição vividos por Ravi Kapoor e Kim Quinn, mas mais pela essência do que trabalharam nas discussões com os protagonistas do que pelas atuações em si.

Visualmente o longa também brincou muito com as multi-linguagens cênicas dos ambientes, primeiro pelo desapego dos objetos do quarto da criança, depois da tentativa de criar uma horta, das noites de sono mal-dormidas na poltrona vendo um programa religioso ruim, mas sem dúvida alguma os melhores momentos foram nas brigas do quintal com o passarinho, seja ouvindo música alta no rádio ou até mesmo arrumando meios de atacar ou até tentar matar ele com comida envenenada ou pedras, ao ponto claro de depois termos toda a simbologia no veterinário/terapeuta junto da protagonista e de todos os casos animais ali, e ainda todo o ambiente do hospital psiquiátrico aonde vemos desde as aulas/atividades de arte até os momentos de conversas e caminhadas afora, além claro do quarto do protagonista aonde guarda as sacolas que a esposa leva e seus remédios que não toma, e por último mas não menos importante os momentos de trabalho da protagonista no mercado, aonde está sempre arrumando um espaço bonito e bem arrumado para o alimento favorito do marido, suas loucuras de mudanças de preço e tudo mais. Ou seja, é um filme muito representativo aonde a equipe de arte pode brincar bastante, e ainda fazer um belo ninho para o passarinho na composição cênica visual temática, e assim agradar muito.

O longa contou também com canções muito bem escolhidas, que deram um tom meio que melancólico para a trama, mas que envolveram bem todos os momentos da trama, e assim sendo soando gostosas de ouvir tanto em cena, quanto depois da conferida, e assim sendo deixo aqui o link para todos curtirem.

Enfim, desde quando vi o trailer pela primeira vez imaginava que me conectaria à trama por algum momento, pois senti algo a mais vindo da estética toda, mas hoje ao conferir me emocionei em diversos momentos, ri em muitos outros e acabei bem feliz com o resultado todo, ao ponto que com certeza, mesmo me incomodando alguns atos estranhos, recomendo ele para todos se emocionarem e vivenciarem cada ato da trama. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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