No Ritmo do Coração (CODA)

9/25/2021 03:22:00 AM |

Sempre que vejo uma refilmagem fico pensando em qual a necessidade de se reinventar algo para um molde que alguns querem enxergar, se realmente não valeria apenas mostrar para as pessoas o filme original que sentiriam o mesmo propósito, ou se irão fazer com que seu filme na nova versão passe percepções diferentes com o mesmo sentimento, e desde que vi o trailer de "No Ritmo do Coração" fiquei intrigado se a conseguiriam passar a bela mensagem do filme francês "A Família Bélier" para um molde americanizado não apenas para que o público norte-americano que não gosta de legendas visse uma bela trama em sua língua, mas sim que algo a mais fosse colocado, que as músicas escolhidas falassem tão bem como as músicas do original, que tudo fizesse um sentido de uma recriação, e vendo o longa ser tão bem premiado quanto o original já comecei a ficar empolgado com o que poderia surgir, e hoje ao conferir felizmente vi que o Festival de Sundance, que costuma premiar coisas bem esquisitas, não errou nesse ano e o longa é tão especial e gostoso quanto o que vi lá em 2015, trazendo algo mais adulto por aqui a jovem não ser a irmã mais velha, então a premissa de deixar o bastão funciona, porém ainda sendo um romancezinho gostoso, um drama familiar bem colocado, e com músicas ainda mais representativas para que a garota com um vozeirão incrível tocasse fundo nossa alma e a dos demais personagens, e até sobrando espaço para as mesmas piadas familiares (como o caso da consulta médica, entre outras). Ou seja, se você gosta de romances dramáticos musicais pode ir conferir que a emoção é garantida.

O longa conta a história de uma família com deficiência auditiva que comanda um negócio de pesca em Gloucester, nos Estados Unidos. Ruby, a única pessoa da família que escuta, ajuda os pais e o irmão surdo com as atividades do dia-a-dia. Na escola, ela se junta ao coral, onde acaba se envolvendo romanticamente com um de seus colegas. Com o tempo, ela percebe que tem uma grande paixão por cantar e seu professor a encoraja a tentar entrar em uma escola de música. A jovem, então, precisa decidir entre continuar ajudando sua família ou ir atrás de seus sonhos.

Um fato bem interessante que fez o filme muito melhor é que a diretora e roteirista Sian Heder usou a base da história original francesa, porém desenvolveu algo a mais dentro de toda a situação, fazendo com que seu filme ficasse quase algo original de proposta, e assim trabalhando todas as sacadas do romance, da necessidade familiar de ter a garota para seus atos, e até mesmo de sua desenvoltura ficar mais solta com as atividades musicais acaba mostrando que o filme tem tudo para um funcionamento envolvente e criativo, ao ponto que vemos claramente as devidas intenções da diretora, vemos toda a simbologia clássica que ocorre com a maioria dos CODAs (o nome original do filme que se dá aos filhos de surdos que ouvem e passam a ser o elo dos pais com as demais pessoas ouvintes, por serem bilíngues tanto com sinais quanto com a voz), e principalmente vemos todo o elo musical funcionar com a simbologia nas músicas escolhidas para representar a trama, de forma que ler a letra faz toda a diferença para o envolvimento funcionar, e isso é ainda mais belo de sentir. Ou seja, não conhecia a diretora, mas posso dizer que fez um trabalho primoroso ao ponto de querermos mais dela, e certamente deve ser mais usada, pois quem leva muitos prêmios chama a atenção.

Agora sem dúvida alguma quem surpreendeu demais foi Emilia Jones, que só tinha visto em longas de terror, e aqui entregou uma Ruby com tanta personalidade, com uma simpatia ímpar nos seus atos, e principalmente com uma voz para o canto que não tenho dúvidas que muito em breve a veremos em todos os musicais possíveis e imaginários, pois a jovem tem carisma e tem dinâmica vocal, algo que raramente vemos em atrizes jovens, e assim sendo aqui ela deu um show literalmente do começo ao fim. Eugenio Derbez costuma fazer sempre atuações forçadas, e isso fez com que seus personagens raramente ficassem marcantes pela interpretação em si, e aqui seu Bernardo Villalobos é cheio de nuances, cheio de expressividades, e acaba sendo envolvente na formação da garota, inclusive bem marcante na cena final, ao ponto que iremos lembrar dele por uma boa atuação, e assim sendo foi um grande acerto na trama. Agora a maior sacada em relação ao original foi arrumar três ótimos atores surdos realmente para os papeis do pai, da mãe e do irmão, ao ponto que foram muito naturais com tudo o que entregaram, souberam fazer com que os gestuais em libras fossem incrivelmente marcantes, e assim sendo entregaram todas as nuances que os papeis pediam, sendo Troy Kotsur um pai cheio de força visual, mas que é a base da garota, Marlee Matlin sendo marcante nos ensejos de uma mãe preocupada com a família como um todo e claro se a filha realmente era boa naquilo que desejava já que não tinha como saber, e principalmente o jovem Daniel Durant sendo bem marcante na postura mais dura de um jovem já mais velho que a irmã, porém tratado como bem mais novo por ser surdo, e que conseguiu ser ainda mais marcante nas cenas que se mistura com todos os demais, dando uma desenvoltura ainda mais impactante. Quanto aos demais, cada um apareceu como pode, sem grandes cenas marcantes, tendo claro o destaque para o par romântico da garota vivido por Ferdia Walsh-Peelo, que além de entregar boas nuances vocais com seu Miles, ainda foi bem corado se entregar nas cenas de paixonites bem graciosas, ou seja, foi bem no que precisava fazer.

Visualmente a trama tem bons momentos no barco em alto mar, com a retirada dos peixes, temos todo o imbróglio das vendas deles para o mercado de leilões e a abertura da comunidade colaborativa de vendas, vemos claro todo o trabalho das aulas de música num ambiente bem montado da escola, a apresentação final, a audição, e claro a casa maluca da família completamente inversa da organizada e bem decorada do professor, mostrando que a equipe de arte soube brincar bem com tudo, representando cada momento e cada ato como algo único bem feito.

Claro que por ser um longa musical as escolhas foram bem primorosas tanto para cair bem nas vozes dos artistas, quanto para passar a representatividade nas letras, afinal tudo tem de fazer um sentido para a história, e assim sendo vou deixar aqui o link para que todos possam escutar as canções depois, porém recomendo ouvir lendo a letra em algum site ou aplicativo (para quem não for conferir nos cinemas, o que é uma pena!), pois vai valer bem a pena toda a conexão com a trama.

Enfim, é um tremendo filmaço que vale muito a conferida, que emociona e diverte na medida certa, e que fez bem o trabalho de remontar um longa que já era bom de uma forma igual ou melhor, ao ponto que recomendo demais ele, e salvou a noite após um filme bem ruim que vi antes. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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