Faroeste Caboclo

5/30/2013 01:55:00 AM |

Já irei começar meu texto com uma ressalva, afinal o que o público de minha sessão fez foi sacanagem e me deixou mais emocionado do que normalmente ficaria com um filme. "Faroeste Caboclo" é um excelente filme, tem seus defeitos sim, mas nunca imaginei que veria essa cena: SALA LOTADA pra filme nacional + ninguém sai da sala ao começar os créditos com a canção título do filme tocada na íntegra, ou seja, quase 10 minutos + todos cantam ela em coro uníssono + ao final todos se auto aplaudem. Pronto, já valeu qualquer erro que existisse no filme, transformando algo simples em sensacional. O longa teve diversos problemas desde a pré-produção em 2005, demorando praticamente 6 anos para começar as filmagens mesmo e somente agora sendo lançado para o público, mas como disse nas redes sociais, agora finalmente Renato Russo pode descansar no seu túmulo tranquilamente, depois do trágico retrato que fizeram dele algumas semanas atrás em outro filme em cartaz ainda.

A sinopse nos mostra que João deixa Santo Cristo em busca de uma vida melhor em Brasília. Ele quer deixar o passado repleto de tragédias para trás. Lá, conta com o apoio do primo e traficante Pablo, com quem passa a trabalhar. Já conhecido como João de Santo Cristo, o jovem se envolve com o tráfico de drogas, ao mesmo tempo em que mantém um emprego como carpinteiro. Em meio a tudo isso, conhece a bela e inquieta Maria Lúcia, filha de um senador, por quem se apaixona loucamente. Os dois começam uma relação marcada pela paixão e pelo romance, mas logo se verá em meio a uma guerra com o playboy e traficante Jeremias, que coloca tudo a perder.

Como todo mundo já escutou pelo menos uma vez na vida a música, já sabe praticamente tudo que vai acontecer e da forma que vai acontecer, correto? Não! O diretor René Sampaio em seu primeiro longa simplesmente usa a canção apenas como base, colocando elementos bem interessantes para a trama que caminha sozinha completamente independente da música, o que talvez alguns fãs mais exagerados do cantor reclame por não seguirem-na fielmente. E com isso o roteiro escrito por 6 mãos (Marcos Bernstein, Victor Atherino e José de Carvalho), os dois primeiros se redimindo depois de maltratar Renato Russo em "Somos Tão Jovens", consegue tomar uma forma bem interessante retratando bem a juventude daquela época, além claro de colocar excelentes elementos de faroestes que estamos tão acostumados a ver nos longas americanos. O diretor não só estreia com chave de ouro, como se credencia para muitos outros projetos, pois se todos algum dia imaginaram a música como um filme pela sua duração e história, ele peitou uma editora que alegava ter os direitos da canção e fez algo ímpar para mostrar que o cinema nacional tem salvação sem ser com comédias bestas, colocando num único longa ação, comédia, drama e romance.

As atuações estão interessantes, mas alguns personagens poderiam ter sido pouca coisa melhor. Por exemplo, Isis Valverde até está bacana, mas como seu personagem devia pedir ser daquelas jovens que são meio perdidas de cabeça, ela viajou um pouco na expressão ficando muitas vezes atônita e nem parecendo ser a grande atriz que conhecemos hoje, tudo bem que por ser seu primeiro trabalho no cinema, irá aprender mais, assim como aprendeu nas novelas, mas esperava um pouco mais dela no filme. Em compensação Fabricio Boliveira, que já antecipo, pois ouvi muitas pessoas na sessão falando que era o Zé Pequeno do "Cidade de Deus", não ele fez "Tropa de Elite" entre outros filmes, mas não era ele o Zé Pequeno, aqui está ótimo sendo como vi em alguns lugares o "negão mais foda do Brasil", pois o rapaz peita todo mundo muito bem, faz ótimas expressões, e praticamente pôs o personagem com seu nome, e calma pois mesmo a cena logo no início que muitos irão julgar inútil e boba sua atitude será justificada logo mais na frente com um flashback. Felipe Abib é outro que poderia ter sido bem melhor, até faz boas expressões na cena final, mas não convence bem como um vilão de forma que consideraria até mais como vilão do filme Antonio Calloni do que ele. Já que comecei a falar de Calloni, vamos lá que personagem que ele faz, primeiro que os maquiadores devem ter gastado uns 100 litros de gel no cabelo do cara, mas nem com a cabeça pesada de tanto gel suas atitudes mudaram, sendo de um nível acima da média mesmo que aparecendo em poucas cenas. O gringo César Troncoso consegue ser o ponto cômico da trama, aliando bons diálogos com uma interpretação bem favorável, não o conhecia, mas fiquei curioso pela sua filmografia. O pobre finado Marcos Paulo aparece bem pouco, mas logo em sua primeira cena, o roteiro já dá aquela pontada social, mas como é um personagem que não tem tanta participação na história, apenas serve para dar essa e mais umas duas pontadas críticas na sociedade, caiu como luvas de pelica as pontadas. Os demais personagens praticamente nem possuem falas, então também não atrapalham o andar do longa.

Outro ponto que foi feito na medida é a direção de arte, pois conseguiram fazer um retrato de Brasília com a destreza perfeita da época que se passa o filme, desde um ônibus bem bacana, passando pela cenografia citada pela canção com luzes natalinas, as ruas praticamente desertas a noite devido a ditadura, figurinos e veículos na medida para representar as classes distintas de pessoas, ou seja, tudo perfeito não pecando em detalhe algum, e claro não poderia deixar de falar das escolhas de armas que estão mais do que perfeitas. A fotografia inicial estava linda demais, porém em muitas cenas poderiam ter iluminado melhor, ficando escuro demais em algumas cenas, afinal esqueceram que nosso protagonista é bem escuro, ou seja, nas cenas noturnas não vemos praticamente nada, ficando na imaginação do espectador, não sei se essa era a intenção dos diretores (de fotografia e geral), mas é o único ponto que se eu fosse tirar nota seria nele.

As trilhas escolhidas são muito bem encaixadas, retratando o que se ouvia na época juntamente com composições próprias da melhor qualidade, que em muitos momentos ouvimos toda a referência musical aos Western Spaghetti de Tarantino e Morricone, ou seja, não tinha como ser melhor escolhido como base.

Enfim, era um longa que eu não esperava praticamente nada, afinal nem sou tão fã de Renato Russo assim, mas que tinha uma certa curiosidade para ver como ficaria uma música de quase 10 minutos representada em um filme. Para muitos esse longa era o grande nome do cinema nacional pro ano e com certeza depois do que vi, pode praticamente confirmar isso, afinal saiu muito melhor do que apenas uma canção representada na tela, que muitos poderiam até achar que sairia algo próximo de um videoclipe, mas como disse o diretor fez algo totalmente independente da música em seu primeiro longa e já estarei com toda certeza esperando seu próximo trabalho. Recomendo muito ele para quem é fã e até mesmo pros que odeiam a música. Claro que ele possui defeitos, alguns eu até citei no texto, mas como falei no primeiro parágrafo a emoção que o público conseguiu passar ao final foi maior do que qualquer erro que pudesse ter no filme, então como já disse algumas vezes que gosto de saber a sensação que o público sentiu, nem precisei perguntar nada para escolhe a nota que daria. Fico por aqui nessa madrugada, mas nesse feriado ainda irei ver uma estreia e uma pré-estreia para poder contar para vocês o que achei. Então abraços e até mais tarde.


4 comentários:

EderGustavo disse...

Fernando o filme é bacana, mas essa é uma das poucas vezes que não concordo com sua nota. Algumas partes ele foge muito da música do Renato Russo, principalmente no final. Esperava mais. Eu daria no máximo uns 8.

Fernando Coelho disse...

Olá Eder... foi justamente isso que eu mais gostei dele não se prender tanto a música, mas é de gosto realmente. Eu iria dar 8-9 mesmo... só dei nota 10 pelo lance completamente diferente que foi a sessão aonde o público continuou cantando e ficou muito bacana, que gosto demais dessa interação público/filme do demais consideraria os erros e reduziria a nota por aí. Abraços.

EderGustavo disse...

rsrs..No meu público não teve isso não...Quase todos levantaram e foi embora na hora que a música começou.

Fernando Coelho disse...

Que pena Eder, pois pelo que andei vendo em mais lugares ocorreu isso e todo mundo está se surpreendendo com esse diferencial nas salas.

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