Anos Incríveis

5/10/2013 01:19:00 AM |

Esse filme eu dedicaria à praticamente todos meus amigos que estudaram comigo querendo trabalhar em cinema, mas pelo cinema no interior do Brasil praticamente inexistir, acabam caindo em TVs e muitas vezes em canais que acabam fazendo de tudo um pouco para passar onde quase ninguém vê. Ok, muitos já se identificaram, outros nunca mais lerão meu blog, mas precisava falar isso, pois "Anos Incríveis" conseguiu me atingir exatamente dessa forma com uma proposta interessante e uma dinâmica bacana mesmo tendo vários personagens que acabam tendo até sua parcela de tempo bem dividida, agradando com comicidade e ao mesmo tempo dando pontadas ideológicas e políticas mais para esse meio que é tão poluído pelos que pagam e acabam não fazendo o que realmente gostam.

O filme nos mostra que Jean-Lou, Yasmina, Adonis, Clara, Victor e outros amigos formam um grupo de jovens idealistas e revolucionários. Em reação contra a mídia, considerada conservadora e reacionária, eles compram câmeras amadoras e criam um novo canal de televisão: "Télé Gaucho", uma rede anarquista, libertária, com poucos recursos, mas muita criatividade. Durante cinco anos, este grupo cobre notícias sobre greves, manifestações populares e assuntos ligados aos direitos humanos.

Pronto, Michel Leclerc se redimiu comigo pelo menos, pois depois do péssimo "Os Nomes do Amor" que tem um consenso político num filme romântico, aqui ele quis usar isso novamente, mas de forma cômica e mais cabível para demostrar sua revolta com imigrantes e tudo mais, que até segue de pano de fundo algumas vezes no longa, mas sai de forma simples e simpática, agradando muito mais. O diretor conseguiu colocar uma linguagem icônica para a trama e mostrar que nem sempre a vida é fácil para quem quer seguir o ramo audiovisual, já que muitos acabam entrando numa faculdade do tipo achando que vai sair um Spielberg, ou porque não dizer já que estamos falando de cinema francês, um Godard, trabalhando em mil filmes e tudo mais. E essa forma que ele se expressa acaba divertindo embora de forma séria, politizando até mesmo o mundo da mídia, que mostra que o programa pode até ser um lixo, mas tem patrocinador então passa no horário nobre (as novelas estão aí pra nos mostrar isso), e com isso muitos que não são da área até podem não gostar muito do filme, afinal não vi muitas caras de contente na sessão onde estava e apenas eu parecia estar rindo de tanta coisa (geralmente é o inverso), mas consegui tirar todas essas relações e com isso saí muito feliz com o que vi. Claro que algumas coisas poderiam ser bem diferentes, por exemplo, algumas cenas desnecessárias de nudez e pessoas estranhas fazendo bizarrices, mas como é um meio bem eclético esse do audiovisual, vamos aceitar tudo.

Sabia que conhecia Félix Moati de algum outro filme, mas não lembrava qual, e agora olhando sua filmografia lembrei que era o "Rindo à Toa", um dos primeiros filmes franceses que vi logo que comecei a faculdade e claro critiquei deveras por ser bem nada a ver o filme, porém falando sobre o que faz nesse é algo anos-luz à frente, pois se mostra um personagem bastante interessante, com boa participação de tela e se enquadrando sempre de forma que possamos ver a essência do personagem, e isso é perfeito para um ator tão jovem, tanto que foi indicado ao César 2013 como ator revelação pelo filme. Eric Elmosnino conseguiu estar tão bom quanto em "Aconteceu em Saint-Tropez" que também conferimos no Festival Varilux, aqui como seu personagem não é tão melancólico acaba agradando mais mesmo tendo menos participação de tela, e outra coisa que consigo enxergar nele é potencial para fazer ótimos filmes onde tenha que ser meio suspeito, que agradará muito. Sara Forestier que protagonizou o péssimo "Os Nomes do Amor", quase que já posso culpá-la de o filme anterior de Michel Leclerc ser um pesadelo, pois aqui se sua participação fosse maior atrapalharia muito, ok que é quase a protagonista, mas como aqui Félix Moati domina, ela consegue ser jogada bem pra escanteio, até fazendo algumas participações interessantes, mas sua atuação desleixada incomoda. O cinema francês está cheio de atrizes com nomes estranhos, então temos também Maïwenn que faz um personagem ao mesmo tempo que bem sério, mas consegue polemizar com seus acessos por defender as causas dos oprimidos, é a típica personagem que não faltaria num filme de Leclerc. Os demais personagens, e são muitos, até colocam boas tramas para o filme, mas ficar citando cada um e a maioria sendo desconhecida tradicional nossa, ficaria chato demais, então vou preferir dizer que cabem a eles a maior parte cômica da trama.

Como disse para muitos o visual vai parecer até um pouco poluído, mas se entrarem em sets de filmagens pelo menos uma vez na vida, principalmente de emissoras pequenas de TV ou até mesmo pequenas produtoras, vocês verão que realmente é toda essa bagunça que o filme consegue retratar perfeitamente e de forma até mesmo funcionando de homenagem para que essas não desistam nem mudem seus princípios nunca, ou seja, todos os elementos visuais estão na medida exata. A fotografia poderia ter sido menos agressiva e acelerada, pois as luzes estão sempre indo em velocidade diferente dos artistas, tudo bem que quiseram passar o lance de estarem sendo filmados, mas ficou quase um programa de TV ao invés de cinema, e não era essa a proposta.

Enfim, é um longa interessante principalmente para quem é da área audiovisual, que vai conseguir se enxergar facilmente nele, para o público em geral a política exagerada de Leclerc talvez ainda incomode um pouco, deixando a história em si sempre para segundo plano. É no geral um filme que diverte pelas trapalhadas e conquistas dos personagens, mas poderia não agradar somente nós seres audiovisuais. Encerro aqui hoje o Festival Varilux de Cinema Francês, tendo conferido todos os 15 filmes que foram colocados na grade de programação e saio muito satisfeito com tudo que vi, pois mostra que o cinema da França vem crescendo numa vertente mais associável ao público, mantendo claro todo seu diferencial, mas não ficando apenas focados em idealismos. Então se você está numa das cidades que começarão a exibir o Festival nessa sexta, não perca nenhum dos filmes, pois todos valem ao menos uma assistida e outros são obras geniais que demorarão a estrear aqui no Brasil. Fico por aqui agora, mas hoje à noite já temos as estreias da semana para conferir, então abraços e até mais tarde.



0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...