Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens)

11/22/2015 10:24:00 PM |

E não é que um candidato à filme Oscar de Filme Estrangeiro apareceu por aqui bem antes da premiação! Coisa bem rara de acontecer! E que filme nos foi apresentado hoje na abertura da Itinerância da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pois "Labirinto de Mentiras" é daqueles que nos prendem na cadeira e ficamos desesperados para saber o final. Claro que muitos até devem saber boas partes do que aconteceu, afinal o longa é baseado livremente em fatos reais, e com isso alguns nomes conhecidos das investigações sabemos o rumo que tomou, e assim dá para ficar com menos indagações, mas como é algo que não é muito lembrado nas aulas de História, ficando com a Alemanha só até o fim de Hitler, o longa apresentou fatos duríssimos de ver como todo o nazismo e os campos de concentração foram apagados da mente dos alemães, de modo que ao buscar justiça, o protagonista foi forte, impactante e trabalhou todas as perspectivas possíveis para que o longa não fosse uma simples investigação policial, mas sim um filme com toda uma nuance criativa de tirar o chapéu e aplaudir no final. Ou seja, só vi dois candidatos até agora, Alemanha e Brasil, e minha torcida para o Oscar de Filme Estrangeiro vai no ritmo do resultado do futebol.

O longa nos situa em Frankfurt em 1958, aonde o jovem promotor público Johann Radmann encontra documentos que ajudam a iniciar um processo contra alguns membros da SS que serviram em Auschwitz. No entanto, os horrores do passado e a hostilidade demonstrada em relação ao seu trabalho deixam Johann à beira de um colapso. Para ele, é quase impossível encontrar o seu caminho em um labirinto em que todos parecem estar envolvidos ou serem culpados.

Depois de atuar por muitos anos e dirigir alguns curtas, o italiano Giulio Ricciarelli estreia sua mão em um longa-metragem com muito louvor, pois além de dirigir esteve junto de Elisabeth Bartel para criar um roteiro originalíssimo com uma pegada incrível de nuances que vão se interligando, deixando o espectador curioso a cada nova cena e principalmente trabalhando em demasia junto do ator para que ele incorporasse todo o desespero de querer incriminar todos os possíveis "assassinos" de Auschwitz. E dessa maneira, trabalhando bem cada ponto da investigação, usando do estilo tradicional da escola alemã de cinema de não perder nenhuma cena, o diretor foi dando peças para que o jogo se completasse num fechamento único, que certamente não só incrementará o fato na História para que muitos conheçam o que foi e tudo que aconteceu, como ao dar perspectivas mais simbólicas e dinâmicas, ele conseguiu transformar seu filme quase que em uma obra americana tradicional, mas conhecendo um pouco como são nossos amigos hollywoodianos, em breve veremos essa mesma história com atores americanos e um diretor de renome, afinal todo estrangeiro que é muito bom, eles refilmam.

Talvez um único adendo para o filme não ser mais perfeito é o carisma do ator Alexander Fehling ser muito de aparecer, de modo que promotores geralmente são pessoas mais duronas e sem vida, e o jovem mesmo o personagem sendo um novato acabou dando felicidades demais para o personagem de Johann, claro que seu momento de surto foi incrível, mas ele poderia ter sido mais durão nas demais cenas e menos xerife como é citado em determinado momento do filme, mas nada que ande atrapalhando, pois nos festivais que concorreu, ganhou os prêmios de melhor ator, então rumo para novos e bons personagens. Não sei o motivo, mas Andre Szymanski possui um rosto tão familiar, porém olhando sua biografia não lembro de ter visto nenhum filme seu, mas a sagacidade impregnada no personagem Gnielka que ele conseguiu demonstrar e trabalhando muito bem nos diálogos junto do protagonista, nos levaram a ficar bem de olho em tudo o que fez, saindo bem no contexto geral. É engraçado que logo que vemos a personagem Marlene de Friederike Becht sabemos que vai dar liga, e isso poderia ser menos forçado, mas como é cinema não dá para ser singelo e tudo tem de ser rápido demais mesmo, mas a atriz não procurou dar à personagem uma simbologia mais forte, e mesmo tendo a família como parte da SS, o que era certeza de criar um conflito, seu melhor momento foi no diálogo de desculpas, e fora isso ela ficou bem apagadinha. Agora se teve alguém que a cada cena que aparecia você certamente queria acusar foi Gert Voss fazendo Fritz Bauer, claro que dando um leve spoiler o cara foi um dos grandes nomes do julgamento depois dito nos créditos finais, mas sua imponência e cara sempre fechada, além de muitos diálogos incriminadores, fizeram com que o ator sempre fosse um suspeito para quem gosta de tentar adivinhar os finais dos filmes, e certamente se o protagonista tivesse somente metade da postura de Voss, o filme seria um espetáculo ainda maior. Tivemos outros bons atores, mas sempre funcionando como conexões, então para que eu não me alongue muito no texto, apenas tenho de falar que todos foram bem corretos.

Cenograficamente o longa não tem furos, é algo bem pautado, com elementos cênicos funcionais, mostrando que desde sempre fóruns, repartições públicas e arquivos são coisas do inferno, com papelada saindo pelo teto (o que está no pôster acima é apenas um enfeite perto de tudo que é mostrado) e com bons figurinos e locações escolhidas na medida, a equipe de arte mostrou que entende tudo de História e fez cada detalhe parecer super importante para a trama, ou seja, até situações bobas como uma comemoração num barquinho, passou a ser símbolo de algo maior que determinava o estilo dos personagens. A fotografia usou e abusou de tons puxados para o marrom para dar o teor de época e nas cenas menos tensas trabalhou bem com o céu bem azul e os verdes dos campos, para contrastar bem na simbologia fechada dos ternos e togas dos julgamentos, ou seja, um trabalho bem minucioso para realçar e dançar com o espectador durante toda a exibição.

Enfim, um longa muito bem feito e que a Alemanha acertou em cheio em indicar como candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro, pois a academia está lotada de judeus, o filme tem toda uma cara bem clássica que eles gostam, e é baseado em fatos reais, ou seja, certamente deve chegar nas cabeças, isso se não entrar no top 5 de possíveis ganhadores, aí pra ganhar precisamos ver os demais. Bem é isso pessoal, o longa estreia no Brasil somente dia 17 de Dezembro, mas nas cidades que estão com a Itinerância da Mostra Internacional poderão ver mais cedo, e recomendo demais que todos assistam, pois é um excelente filme. Fico por aqui hoje, mas volto na terça com mais um filme da Mostra, então abraços e até breve.

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Entre Umas e Outras

11/22/2015 12:54:00 AM |

Bem amigos, como a proposta do site é falar de todos os longas que vejo, é claro que não deixaria de lado novo filho de Alexandre Carlomagno que estreou hoje e deve permanecer no espaço onde foi exibido por mais algumas semanas para que o público confira. Embora se olharmos com estranheza para a sinopse de "Entre Umas e Outras", o documentário nos leva a perceber uma certa humanidade num lugar que muitos até torcem a cara, que é o tradicional boteco de esquina e suas figuras irreverentes. Pois se perguntar para qualquer um, o que podemos enxergar é que ali só tem pinguço ou gente que não tem nenhum conhecimento e vai afogar as mágoas tomando uma cerveja. Mas se você parar para conversar um pouco com cada um pode descobrir histórias e com isso até mesmo uma pessoa que você imaginaria ser uma simples tiazinha de esquina, já foi presa por um certo tempo, outros viajaram muito, muitos tem família mas não convive e através desse microcosmo pode ampliar toda a vertente para uma cidade que praticamente tem seus bares lotados os sete dias da semana, e claro, com muita gente disposta a bater um bom papo. Então fazendo uma analogia para com o título da trama, entre umas e outras podemos conhecer uns e outros com um olhar diferente e que pode ser bem interessante.

A sinopse do filme nos diz: Um boteco... Várias pessoas com nada em comum a não ser elas mesmas. A equipe invade um boteco e monta um retrato humano com as diversas vidas que ilustram os bares. Não tenha dúvidas: o Brasil acontece entre umas e outras.

A maior dificuldade de um documentário sempre será a de que os entrevistados tenham muito o que falar, e consigam com isso responder as perguntas bases criando o texto que o diretor deseja, e diferentemente do primeiro longa do diretor Alexandre Carlomagno, "Patrícia", aonde a personagem principal tinha muito o que falar, aqui alguns dos entrevistados apenas responderam às perguntas de maneira simples e objetiva, o que certamente acabou dando um trabalho monstruoso para a equipe de edição conseguir fazer uma história alongada sem necessidade de pausas para as perguntas, então esse pode ser citado como a maior diferença entre os dois trabalhos do diretor, e claro, o maior defeito desse novo filme, mas que quem der continuidade nas frases dos entrevistados, certamente vai entender qual foi a pergunta e completará o contexto em si. Talvez se cortassem alguns desses momentos, o filme ficasse mais enxuto e até daria uma dinâmica bacana, mas também correria o risco de ficar com pouco tempo, então volto a frisar que é apenas um detalhe técnico que incomoda um pouco, e facilmente quem não for muito atento não irá pegar. Porém tirando esse detalhe técnico, o filme se desenrola bem, tem bons "personagens" e uma boa dinâmica entre eles, o que fez com que o longa tivesse um ritmo interessante e não cansasse (afinal já disse isso uma vez aqui no site, e documentários com muita enrolação, dão sono demais). Portanto, o resultado que certamente era desejado de mostrar que a vida em um boteco qualquer que pode estar acontecendo bem ao lado de sua casa e você nunca parou para observar, ou até mesmo conhecer quem são aquelas pessoas que estão ali, foi passado e bem feita pela equipe.

Um grande ponto positivo da trama, além claro das histórias (a qual sem dúvida alguma a melhor é de Silvia), é a fotografia do longa que trabalhou muito bem a luz natural e escolheu alguns ângulos de filmagem não muito usuais, evitando a centralização chata dos personagens, colocando-os meio que de lado e aproveitando o espaço rústico do bar, com as demais pessoas jogando baralho, bebendo e fazendo tudo atrás sem atrapalhar o desenvolver da história e muito menos chamando mais atenção do que o entrevistado que está na frente.

Enfim, é um filme gostoso de ver e que passa um tempo bem tranquilo acompanhando os diferentes tipos de pessoas que foram entrevistadas ali, e que certamente tem um lugar no mercado, desse modo o resultado da trama pode ser considerado bem eficiente. Citei outros defeitos técnicos para a equipe do filme, mas que podem ser facilmente melhorados para outras exibições, pois são detalhes da exibição mesmo e não do produto, e já que o longa vai continuar sendo exibido no Espaço Zavaglia em Ribeirão Preto e depois deve rodar por festivais afora, dá para darem uma melhoradinha para que todos gostem. Portanto recomendo que quem puder, vá conferir e se divertir com essas histórias que aconteceram entre umas e outras. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas neste Domingo já começa a Mostra Internacional de Cinema, então em breve volto com mais textos. Fiquem com meus abraços e até breve.

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Eu Nunca

11/20/2015 09:02:00 PM |

Não levantei bem os números, mas tenho certeza quase que absoluta que esse ano foi um dos que mais tivemos uma diversidade cinematográfica nos longas nacionais, e isso é muito bom, pois mostra que se quisermos podemos sair das comédias novelescas para algo que realmente seja cinema de qualidade. Só não posso dizer isso de uma forma tão feliz, pois as sessões dos bons filmes nacionais estiveram praticamente vazias, e isso não é legal de forma alguma, pois mostra que o público ainda tem medo de chegar na sala e ver algo completamente maluco como aconteceu há alguns anos atrás quando tentaram fugir das comédias e vieram com coisas bizarras que testavam a capacidade de até os próprios diretores entenderem. Pois bem, podemos dizer que "Eu Nunca" é um filme bem simples, mas é executado de uma maneira tão interessante que acabamos nos envolvendo com os personagens mesmo nas cenas mais escuras da fotografia escolhida, e olha que poucos filmes nacionais conseguem ter a coragem de mostrar filmes feitos apenas com uma câmera na mão sendo passada de pessoa por pessoa para tentar retratar a situação mais próxima do ocorrido. Vale com certeza conferir esse filme que acabou passando despercebido nas cidades que estreou em Setembro, e que bate um bolão em cima de outros que lotam salas.

O longa nos mostra que Guilherme e Thiago são dois primos que acabam de perder o avô. Sem saber como lidar com a dor desta perda, decidem fugir para o sítio da família, na companhia da amiga Priscila. Entre bebidas e brincadeiras, tudo registrado com uma câmera, eles começam a desenvolver jogos de sedução com a amiga.

A ideia original de Kauê Telloli que assumiu quase todas as funções do longa, passando de roteirista a diretor e inclusive atuando é algo que mostra que não é só em países com grandes faculdades de cinema que saem filmes simples aonde uma pessoa faz quase tudo e acaba ganhando as graças das grandes produtoras, pois ao trabalhar bem a ideia da câmera na mão (claro que depois de chegar no sitio, pois até chegar lá acontecem coisas bem bizarras de se ver em um filme) para controlar toda a dinâmica do filme, o jovem conseguiu agradar tanto a linha de história para criar drama e suspense quanto não deixar de lado uma linguagem bem condicionada para que seu filme ficasse bem interessante e não soasse estranho demais. É imprescindível dizer que a trama inteira usa do recurso da câmera sendo movida pelos personagens, então de repente estamos olhando a imagem, você vê eles pegando e muda o ângulo, dando uma falsa impressão de plano sequência, mas o que inicialmente incomoda, com o passar do tempo já estamos quase que pedindo para que eles coloquem a câmera em outra posição para podermos ver o que está acontecendo melhor, e isso é algo bem legal de acontecer. Um pequeno defeito da trama é o ritmo, pois o que inicialmente passa rápido, vai diminuindo de velocidade e cansando um pouco, e dessa maneira, o filme que tem 72 minutos parece ter no mínimo 100, e isso para quem prefere um longa mais agitado pode ser que não se empolgue com o que o diretor fez, mas é um mero detalhe de gosto.

Sobre as atuações, os três protagonistas conseguiram fazer uma dinâmica bem natural, quase que dando perspectivas de um reality show de jovens que gostam de filmar tudo, e isso é bacana, pois quanto mais natural pareciam, menos artificiais ficavam até os momentos em que interpretavam coisas que haviam ocorrido no sítio. Kauê até que saiu bem com seu papel de Guilherme, mas ainda não sou favorável à diretores atuarem em seus próprios filmes, prefiro que o comando de cena seja mais firme e que não se misture os dois lados da câmera, claro que ele não falhou em nada, mas também não deu o seu máximo, deixando algumas responsabilidades para os outros. Francisco Miguez já havia agradado bastante há 5 anos atrás no filme "As Melhores Coisas do Mundo", e agora caiu muito bem o papel de Thiago para ele, aonde pode trabalhar expressões e jogar a interpretação do personagem num nível incrível de ser visto, certamente ainda vamos ouvir falar muito dele. E para fechar o elenco Samya Pascotto deu todo um jeitinho sedutor para sua Priscila, segurando bem a onda entre os primos e com isso fazendo caras e bocas para desenvolver a personagem sem recair para um tom forçado, e isso mostra uma técnica bem bacana de ver já que a jovem ainda está bem no começo de sua carreira, ou seja, ainda tem muito o que aprender, mas tem futuro.

Sobre o conceito artístico da trama, até que a equipe de arte sofreu bastante para compôr o sítio, afinal são mostrado diversos elementos cênicos e muitos deles são usados nas histórias dos personagens, ou seja, tiveram de procurar muita coisa para remeter ao roteiro e isso funcionou bem. A fotografia usou bem pouca iluminação para deixar o tom rural do sitio sem muita tecnologia (ao menos até um telefone tocar e deixar um pouco confuso toda a história, que acabei ficando na dúvida de se tudo não passou de um golpe dos garotos ou se foi realmente um furo de roteiro, vou preferir ficar com a primeira impressão), e essa iluminação mais rústica deu um tom mais alaranjado para a trama, o que segura bastante um filme de suspense, mas o sentimento completo foi passado mesmo nos momentos em que tudo ficou preto, e isso foi certamente um grande trunfo da equipe.

Enfim, não vou dizer que é o melhor filme do gênero que já vi, mas confesso que fiquei muito feliz com a história, com o estilo escolhido pela direção e principalmente por conseguirem uma distribuição bacana, afinal sem ela o longa não chegaria ao interior. O longa claro que possui defeitos, afinal todo filme feito com câmera na mão fica estranho de ver, tem também a questão do ritmo, mas tirando esses, o resultado é incrível de ver. Torço agora com muita força para que junto de minha boa crítica, mais pessoas confiram o longa nos cinemas, afinal precisamos apoiar novos estilos dentro do cinema nacional, então fica aqui a dica para quem for de Ribeirão Preto e também nas demais cidades que estiverem passando, que vá e confira o trabalho bem bacana desse jovem diretor que quem sabe mais em breve ainda explodirá os cinemas nacionais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos no site, então abraços e até breve.

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Ninguém Ama Ninguém... (por mais de dois anos)

11/20/2015 12:37:00 AM |

Se algum dia você for roteirista de um filme, ou de uma peça da escola, ou até mesmo se for escrever um texto com determinado tema, por favor sigam uma dica do tio Coelho, não fique repetindo o título mil vezes pra enfatizar como o filme/peça/texto chama, é o absurdo máximo que muitas vezes vemos no cinema nacional, e com "Ninguém Ama Ninguém... (por mais de dois anos)", quando resolvi contar por já estar de saco cheio de ouvir os personagens falando isso, contei 5 vezes, mas acho que teve mais. Deixada essa dica, e ao mesmo tempo reclamação, o que posso adiantar sobre o longa é que longe do que pensava, não é um filme de todo ruim, tem boas lições, situações interessantes e até mesmo alguns bons diálogos dentro da história, mas basicamente a estrutura novelesca, aliada ao tradicionalismo(putaria pura) dos textos de Nelson Rodrigues, funcionaria bem mais numa minissérie ou algo do estilo do que propriamente no cinema, ou caso ainda quisessem realmente fazer um filme, que deixassem a preguiça de lado e adaptassem mesmo o texto para uma época mais atual com conflitos modernos, que aí sim, chamaria a atenção para o trabalho do diretor. Portanto, quem gosta desse estilo novelesco, certamente vai gostar do que verá com vários subtramas, muitos personagens e o contexto quase que único sobre traição.

O longa acompanha as histórias de cinco casais que vivem, paralelamente, no final dos anos 1950 e início dos anos 1960 no Brasil. Em uma sociedade cheia de moralismo, os desejos de homens e mulheres se manifestam de maneiras diferentes, porém, com liberdade, em suas vidas íntimas.

A sinopse em si é bem básica, pois não temos muito o que falar sem revelar a história de cada personagem, mas quem leu os contos da coluna "A Vida Como Ela É" de Nelson Rodrigues publicadas entre 51 e 56 vai poder ver na telona o retrato daquilo que foi escrito com minúcias cênicas. Claro que você não precisou viver naquela época para ler, afinal a coluna já foi tema de diversas provas e até de algumas adaptações na TV, inclusive a história final que envolve Ernani Moraes tenho certeza de já ter visto adaptada, exatamente da mesma forma, mas não lembro aonde para citar, afinal a cabeça desse Coelho anda cada vez mais esquecida. O diretor Clovis Mello não quis também arriscar muito e ao trabalhar a época do filme foi bem seguro dos planos, usando ao mesmo tempo crítica aos trejeitos da sociedade e junto da sensualidade sem muito exagero para contrabalancear bem e não deixar o filme pesado para nenhum dos dois lados. Claro que os textos do Nelson sempre trabalharam muito com o erotismo, pontuam muitas tramas machistas e isso não foi deixado de lado, mas souberam dividir bem as cenas misturando as cinco histórias para que nada chocasse logo de cara o público, e sendo assim, o resultado da direção até que foi bem feita, mas volto a frisar, se ousassem mais com uma adaptação mais moderna, o longa seria genial.

Quanto das atuações, foram bem maldosos com os críticos vestindo as mulheres quase que com o mesmo figurino/cabelo e até mesmo a forma de interpretar foi bem semelhante, ou seja, quem não for acostumado com as atrizes é capaz de achar que a mesma mulher está traindo até mais vezes do que já vem acontecendo na história. Como são muitos personagens, vou destacar apenas alguns para que o texto não fique chato, afinal tudo foi bem trabalhado no conceito interpretativo e poucos cometeram alguma gafe. Gosto muito quando Ernani Moraes trabalha no misto drama/comédia com seus personagens, pois ele é um dos que sabe ser enfático e demonstra facilmente na cara o desespero da cena com seu Juventino, claro que teve também alguns momentos bobos dentro do bar, mas no geral agrada mais do que decepciona. Marcelo Faria deixou seu personagem Asdrubal bem mais mineiro do que carioca, pois sempre parecendo não querer fazer as coisas, mas fazendo pelos cantos resultou em algo bem dúbio de ver, porém o ator sempre entrega boas expressões nos personagens que faz, e aqui não foi diferente, então agrada também. Michel Melamed e Pedro Brício, respectivamente com seus Eusébio e Orozimbo ficaram bem em cima do muro com suas expressões, sendo que o primeiro inicialmente parecia que ia mostrar bastante serviço, mas foi acalmando bem e nem a cena clímax entre os dois conseguiu ser impactante, o que é uma pena, pois os personagens tinham potencial. Gabriela Duarte também aparentava ser a protagonista da trama toda com sua Elvira, mas ao trabalhar bem seu jeito fogoso deu mais boas nuances sensuais do que uma interpretação ativa para a personagem, ou seja, agrada sem chamar a responsabilidade e nem ter a atuação do ano. Agora falando em sensualidade Lidi Lisboa e Branca Messina deram um show nas suas cenas solo e se tivessem mais cenas levariam o longa no peito, literalmente.

A cenografia de época é algo que sempre souberam fazer bem no Brasil, e dessa maneira certamente a equipe de arte mesmo tendo grandes trabalhos souberam dosar cada cena dentro de suas proporções para que o filme convencesse e agradasse sem que o orçamento fosse esbanjado, claro que você não vai ver uma frota de carros antigos no estacionamento, mas um só sozinho foi apelar demais, e além disso outros momentos poderiam ser evitados para não cometer gafes simples que até com câmeras mais próximas dos personagens agradaria e simplificaria cada momento. No conceito fotográfico, algumas cenas ficaram iluminadas demais e outras estranhas para a ambiência que o diretor desejava, de modo que sem necessitar, usaram focos distorcidos que não tiveram linguagem alguma e até destoaram das cores que o filme estava seguindo, então de certo modo o filme saiu mal trabalhado na técnica, o que não chega a ser defeituoso, mas também não vai agradar tanto quem for mais exigente com a produção.

Enfim, não é um filme ruim, mas também não é nada que vamos sair comemorando como uma grande aposta nacional, volto a repetir que como série agradaria bem mais do jeito que foi feito, e se arriscassem mudanças do texto para um contexto mais moderno caberia bem como filme, então até posso recomendar a trama para quem gosta do estilo de texto do Nelson Rodrigues, mas deixo claro que quem não curtir situações machistas e símbolos de traição é melhor passar bem longe. Bem é isso pessoal, deixo dessa maneira minha recomendação do longa, mas ainda tenho muitos outros para conferir nessa semana, e olha que a maioria nacionais, então abraços e até breve.


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Jogos Vorazes: A Esperança - O Final em 3D (The Hunger Games: Mockingjay - Part 2)

11/19/2015 02:03:00 AM |

E lá se vai mais uma saga para apenas nossa memória cinematográfica, pois após quatro anos sempre sabendo que teríamos no final do ano, a série de jogos com invenções insanas, personagens caricatos e boas tensões, eis que como diz no segundo subtítulo O Final chega para "Jogos Vorazes: A Esperança". Não sou e nem nunca serei favorável à um longa ser dividido em duas partes, primeiro pela quebra da expectativa, segundo que é apenas para que os produtores ganhem mais dinheiro, terceiro que rever o anterior todo ano é algo que cansa demais, então vamos parar com essa putaria, pois se juntarmos os 123 minutos da parte 1 com os 137 minutos da parte dois e cortarmos as partes de enfeite, teríamos um longa com 150 minutos daqueles de cair o queixo a cada ponto de virada. Claro que para isso, mataríamos personagens importantes do livro, não teríamos todas as inflexões pensantes que dá para remeter ao mundo moderno e tudo mais, mas ainda assim os fãs vão continuar reclamando de coisas que faltaram, e o público mais exigente vai reclamar de momentos cansativos, então as próximas sagas que inventarem de vir para substituir o coração carente do público que gosta desse estilo, tratem de entregar algo conciso e mais bem feito, que certamente ainda venderão muitos ingressos. Porém, como já analisei o primeiro filme no ano passado, que você pode ler aqui, vamos à análise dessa nova parte, que já vi vários torcendo a cara, falando que não empolga e tudo mais, mas temos boas cenas de ação, artistas dando gás de interpretação no nível máximo (afinal acabou a boquinha da sequência), e felizmente alguns bons efeitos para valer o gasto de pagar pelo 3D (nada que vai falar ser impressionante, mas agrada nas cenas que tem), de modo que não vou dizer que foi o melhor da franquia (o segundo ainda é o que tira o maior fôlego e me deixou mais emputecido com o final), mas com a forma que encontraram para fechar de uma maneira bonita com o epílogo, e com diversos problemas que a produção teve, o resultado como produção é bem satisfatório tanto para os fãs, quanto para quem gosta de um longa dinâmico e interessante (com ressalvas à algumas cenas bem monótonas no miolo).

O longa nos mostra que ainda se recuperando do choque de ver Peeta contra si, Katniss Everdeen é enviada ao Distrito 2 pela presidente Coin. Lá ela ajuda a convencer os moradores locais a se rebelarem contra a Capital. Com todos os distritos unidos, tem início o ataque decisivo contra o presidente Snow. Só que Katniss tem seus próprios planos para o combate e, para levá-los adiante, precisa da ajuda de Gale, Finnick, Cressida, Pollux e do próprio Peeta, enviado para compôr sua equipe.

É fato que a mudança criativa tanto dos roteiristas quanto de diretor logo após o primeiro filme deu novos rumos para a produção, pois se antes tínhamos algo mais violento e próprio de uma competição que Gary Ross e equipe fizeram, logo tudo foi substituído por rumos políticos e dinâmicas próprias de cada personagem, não importando mais tanto o Jogo em si para Francis Lawrence e equipe de roteiro. Não digo que nenhuma das duas vertentes estava errada, e pelo que conversei com alguns leitores do livro (mais uma saga que não gastei tempo lendo), essa mudança do estilo de escrita também é vista nos textos de Suzanne Collins, então isso sem dúvida alguma é um ponto positivo monstruoso, e a cena de infiltração de Katniss na mansão (não vou dar mais spoilers, mas preciso colocar isso aqui) se tivesse sido filmada uma semana atrás não teria sido tão atual com os acontecimentos políticos do mundo moderno!!! Dito isso, posso afirmar com toda certeza que vamos ver o diretor ainda apresentar grandes feitos no futuro, afinal errou bem pouco a mão nos três longas da franquia e em seus longas anteriores, e todo o trabalho conceitual que procurou colocar ficou visivelmente satisfatório para agradar à todos. Volto a repetir, a trama em si poderia facilmente ser resumida em um filme só, que não teríamos os momentos de calma e apresentação de personagens (mesmo no último filme sem utilidade alguma), mas com toda certeza os amantes do livro iriam reclamar demais da falta de diversos elementos, então já que fizeram dois, vamos curtir como foi entregue e quando sair em mídia os dois, vemos juntos e ponto final.

Sobre as atuações, já vimos acontecer isso em "Harry Potter", em "Senhor dos Anéis" e até mesmo na saga "Crepúsculo", e aqui não foi diferente, os atores se entregam mais nos últimos filmes, pois como não terão a garantia de voltar mais uma vez no papel (alguns dão sorte, pois como a Terra Média voltou, alguns puderam retornar seus papéis), então procuram chamar atenção por suas cargas dramáticas e expressivas, e isso é bem legal de ver. Digo isso, pois Jennifer Lawrence após ganhar seu Oscar e muito dinheiro com a renovação do contrato de Katniss, acabou ficando mais desleixada no segundo filme, e em diversas outras produções que estrelou, não que não tenha saído muito bem no "Em Chamas", mas acabou sendo mais repetitiva nas expressões e não decolou como poderia, daí com esse novo filme já vimos a atriz dando a cara para bater, e com o que acabou sobrando nesse final foi algo bem dinâmico e com formatos incríveis de mostrar que a atriz ainda está em excelente forma interpretativa. A primeira parte focou mais em Josh Hutcherson e aqui ele ficou mais de coadjuvante com seu Peeta, mas ainda assim, o jovem fez algumas caras e bocas tão bem pontuadas que voltamos a gostar de sua personificação e até torcer para ele, mas é engraçado que mesmo sendo filmado junto as duas partes, o ator parece outro, e não chama tanto a atenção como fez no ano passado. Fico com dó de Liam Hemsworth, pois vai continuar sendo sempre o irmão do Thor, pois seu Gale não convence, nem mesmo nas suas duas cenas expressivas, que o diretor falou vai e faz, ele titubeou frente aos outros dois jovens atores, então realmente fico com medo de quando lhe derem algum longa para protagonizar, pois ele vai falhar. Sam Claflin teve seu momento no segundo filme com Finnick, e aqui virou figurante de luxo com meia dúzia de frases para dizer e que não servem para quase nada, então poderiam ter podado mais, ou o jovem resolver chamar atenção, mas ele vem com tantos outros filmes para os próximos anos que quem sabe apague fácil isso. Julianne Moore é daquelas atrizes versáteis que sempre podemos apostar que vai sair bem no que lhe for entregue e sua presidente Coin é ao mesmo tempo forte e misteriosa, e certamente muitos vão torcer a favor e contra ela na trama, poderia ter mais cenas suas que não incomodaria ninguém, afinal suas expressões são sempre ótimas. Donald Sutherland vai ficar marcado como presidente Snow demais, pois mesmo tendo outros grandes papéis, suas sacadas interpretativas foram tão boas e cheias de expressão que vamos lembrar de cada fechamento de suas cenas, e se já havia dado show nos três filmes anteriores, aqui mesmo com poucas cenas, mandou bem demais novamente. Como bem sabemos (ou ao menos a maioria) Philip Seymour Hoffman morreu antes de acabar as filmagens das duas partes com seu personagem Plutarch, e também sabemos que era peça principal dos três filmes, então assim como tivemos em "Velozes e Furiosos" novamente a computação gráfica entrou em ação, e diferente do que aconteceu na primeira parte que não é possível notar, aqui ficou muito claro de ver todos os momentos, pois reduziram luzes, colocaram personagens em primeiro plano jogando o personagem sempre para trás, e principalmente na sua última cena que certamente não foi gravada deram um jeitinho de vir uma carta ao invés do personagem falando com a protagonista, ou seja, não podemos dizer em momento algum que ele esteve presente nesse filme, mas sua alma foi em paz com as boas intenções que foram colocadas na trama. Como disse antes, tivemos muitos personagens com ao menos duas cenas para chamar atenção, afinal temos 260 minutos divididos em dois filmes, então precisou de muita gente, e já vi que meu texto está enorme, então vale apenas citar bons momentos tanto de Woody Harrelson com seu Haymitch, Elizabeth voltando com a corda toda para sua Effie, e principalmente as boas cenas de Mahershala Ali com seu Boggs.

No conceito artístico, voltamos a ter boas invenções para dar dinâmica aos jogos insanos que os personagens precisaram passar para chegar até à mansão de Snow, e dessa maneira a equipe gráfica teve muito trabalho para criar cada cena, e principalmente desenvolver bem a Capital, pois diferente dos demais longas que tudo se passava mais em florestas e lugares estranhos, aqui temos uma cidade com tudo para ser mostrado, então as boas sacadas subterrâneas foram inteligentes e bem bacanas de ver, os bestantes ficaram bem legais, mas sem uma definição clara do que seriam, os figurinos novamente deram um show e souberam trabalhar muito bem com elementos chaves para cada cena, destacando o Holo, as flores em dois momentos, e até mesmo às filmagens que já haviam dominado no último filme. A equipe de fotografia trabalhou muito bem com cores mais escuras para dar o clima tenso que a trama pedia, e claro para resolver os problemas que a equipe de efeitos especiais necessitava, como já citei no caso de Hoffman e claro nos diversos momentos que a dinâmica fluía e necessitavam de explosões e tudo mais, então mais uma vez acertaram a mão. Falando mais especificamente dos efeitos, e juntando com a parte da conversão para 3D (que não será exibida em todos os países), tivemos grandes momentos que valem bem o ingresso mais caro, dando realce nas cenas com muitos personagens, ou principalmente na cena em que enfrentam diversas armadilhas, destaque na estação do metrô e na super metralhadora, então quem for conferir com a tecnologia pode até ser que reclame um pouco por serem cenas espaçadas, mas no geral funcionou melhor que muita conversão feita nos últimos anos, mas ainda longe dos longas que são realmente filmados na tecnologia.

Enfim, o texto ficou bem grande, mas o longa vale a pena dizer tudo sobre ele, pois vão ter os que vão reclamar com toda certeza, porém os fãs mesmo da saga irão chorar com o fechamento, vão ver diversas vezes, e dessa maneira volto com a frase que introduzi o primeiro longa no site, de uma forma modificada, mas com a mesma essência: "o longa foi feito para um determinado público, assim como muitos acabam sendo feitos, e certamente esse público ele vai atingir, que são os fãs dos livros e de longas de ação teen", e dessa maneira o resultado é de um bom fechamento que me agradou e vai agradar muitos também, portanto recomendo ele com certeza. E assim sendo é mais uma saga completada nos cinemas, o jeito agora é aguardar alguma que substitua ela na mesma altura, pois já temos duas outras rolando que até tem agradado, mas que não conquistou a mesma quantidade de fãs. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas nessa semana terei muitos posts no site, então abraços e até breve.


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O Reino Gelado 2 em 3D

11/14/2015 01:52:00 AM |

Até que podemos dizer que a nobre Rússia se engajou no ramo das animações, pois passados pouco mais de 2 anos já estamos com a continuação de um filme que falei bem quando vi em 2013, mas claro que assim como reclamamos da falta de criatividade para inovar no lado de cá do mundo, por lá não é muito diferente, e com bem menos emoções e como a tentativa de enriquecer o carisma do personagem secundário no primeiro filme, promovendo ele para protagonista no novo não deu muito certo, acredito que "O Reino Gelado 2" até tenha passado bem a mensagem de que mentir não é legal para as crianças, mas deixar aberto ele para o terceiro filme que já estão gravando foi exagero demais da equipe criativa, pois a história já ficou bem em segundo plano dessa vez. Mas tirando esse detalhe, o filme vai levar a criançada aos cinemas, pois os bichinhos até são bem chamativos, porém não espere que saiam empolgados da sessão.

O filme nos mostra que após a queda da Rainha da Neve, o troll Orm precisa refazer sua vida em meio aos seres de sua espécie. Para tanto, ele passa a trabalhar como mineiro e morar com a avó. Apesar da vida regrada que leva, sempre dentro da lei, ainda assim Orm enfrenta dificuldades em pagar as prestações da casa. Desta forma, resolve se candidatar a um torneio onde o vencedor terá a mão da princesa e o direito de morar no palácio real. Entretanto, Orm esconde o fato de já ter trabalhado para a Rainha da Neve e, aos poucos, fica tentado a dar vazão ao lado malvado que possuía quando era lacaio dela.

Quem ler a sinopse e não tiver conferido o primeiro filme pode até achar que não vai entender nada da continuação, mas pode ir conferir tranquilamente, pois mesmo a história tendo um rumo bem semelhante e continuado, os protagonistas meio que mudaram e logo de cara no início é feito um resumão completo de praticamente tudo o que ocorreu no outro filme. Basicamente, a equipe completa foi substituída após o primeiro filme, sobrando apenas os produtores (claro afinal são pessoas que querem mais dinheiro do que história) que acabaram virando roteiristas também e novamente entregaram para um novato na direção trabalhar seu lado interpretativo de um bicho que não conseguimos identificar gênero nem nada que é o troll Orm e todos do seu gênero que são rapidamente apresentados antes do desenvolvimento da trama. Porém, o jovem Aleksey Tsitsilin não teve o mesmo currículo anterior que Vladen Barbe, de passar por desenvolvimentos artísticos e criativos antes de chegar a uma direção de animações, e isso fica claro no longa, pois o diretor quer mostrar tecnologia e ação e tudo na tela de uma vez só sem se preocupar com motivos, deixando apenas o mote da mentira flutuando a todo momento sendo repetido à exaustão e todos os demais personagens ficaram correndo em cena sem muito o que fazer, e isso não foi legal de ver.

Claro que de cara Orm é um personagem legal e que de certo modo teve um carisma bacana junto da gatinha, lontra ou sei lá o que é branco que corre junto com ele no primeiro filme, e aqui tentam ter a mesma química logo no começo, mas suas trapalhadas não se desenvolvem e nem ficam engraçadas para puxar o riso das crianças, então ficam apenas bem feitas visualmente e o resultado fica solto. João Côrtes até trabalhou bem sua dublagem impostando a voz e dando tons representativos para as diversas emoções do personagem, mas foi pouco perto da história toda que faltou, vamos ver o que ocorrerá no terceiro filme (que teoricamente já estreia no ano que vem) para ver se decola melhor. Gerda que foi dublada pela incansável Larissa Manoela apareceu bem pouco na trama, caindo de protagonista no primeiro filme, para quase figurante de luxo nesse novo longa, mas pela história do terceiro filme, volta a protagonizar a trama e deve trazer mais emoção para o filme, pois nesse não conseguiu fazer nem que a nossa jovem atriz suasse para a quantidade de falas que teve de gravar. Os demais trolls até que são engraçadinhos, destaque para o general e para a avó, os demais possuem até que boas simbologias para a trama, mas acabam no estilo dos Smurfs ficando mais como apoio dos grandes nomes.

A modelagem dos personagens praticamente se manteve intacta, não tendo muita evolução de texturas, mas cenograficamente conseguiram deixar a cidade dos trolls bem bacana de ver, com um colorido legal e que lembrou bastante jogos de videogame, aliás se fizerem o jogo do filme seria algo no estilo de Rayman com Donkey Kong, então acredito que seria bem vendável (fica a dica para os produtores). E junto com esse bom desenvolvimento, até foram colocadas boas cenas 3D na trama, nada que você saia falando que foi o melhor 3D que já viu, mas nos momentos em que valem a pena estar de óculos, pedras voam em sua direção e algumas perspectivas são bem exploradas, porém assim como no primeiro filme, a maioria do longa dá para ver sem óculos, então mais um daqueles que se quiser economizar é possível.

Enfim, posso até ser muito repetitivo com essa reclamação de animações não americanizadas, mas o pessoal precisa aprender que canções seguram a garotada, e que apenas lições de moral sem carisma e sem algo que acabe chamando para outros produtos, acabam passando e logo mais ninguém acaba lembrando do filme, mas ainda assim, na atual época de crise que não se tem nada para a garotada ver nos cinemas, essa é uma opção até que interessante. Portanto recomendo para levar os mais pequenos para que se divirtam com os bichos esquisitos, mas sem criar muita expectativa de que eles vão sair felizes e sorridentes da sessão. Bem é isso pessoal, fico por aqui nessa semana cinematográfica bem curta, mas volto na Quinta com mais textos no site, então abraços e até breve.


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Aliança do Crime (Black Mass)

11/13/2015 01:01:00 AM |

Realmente devo estar me tornando um daqueles velhos chatos que querem uma resolução rápida de uma história ou que um longa tenha dinâmica suficiente para que não durma assistindo à sua trama. Felizmente ainda não foi dessa vez que um filme me fez dormir, mas "Aliança do Crime" possui tanta história, tantos personagens que foram apenas apresentados sem muito desenvolvimento, tantos diálogos alongados, que sua classificação de 16 anos por violência extrema se resume à umas cinco a seis cenas mais fortes, que nem são tão fortes assim, já que novelas e jornais mostram coisas bem piores na TV. E todo esse alongamento verborrágico acabou transformando um longa que poderia ser um policial completamente forte e dinâmico, em um longa cansativo que fez parecer seus míseros 103 minutos ter quase 6 horas de duração, e certamente só quem for realmente fã de histórias biográficas com muita conversa vai acabar gostando do que é mostrado, o restante corre sérios riscos de dormir se for em uma sala VIP por exemplo.

A sinopse nos mostra que na região sul de Boston nos anos 1970, o agente do FBI John Connolly convence o Mafioso irlandês James “Whitey” Bulger a colaborar com o FBI e eliminar um inimigo comum: a máfia italiana. O drama conta a história verdadeira desta aliança inusitada, que saiu do controle, permitindo que Whitey descumprisse leis impunemente, consolidasse seu poder e se tornasse um dos gângsteres mais cruéis e poderosos da história de Boston.

Se você leu a sinopse e ficou todo empolgado para ver um novo "Poderoso Chefão", mais moderno e dinâmico, cheio de violência e tudo mais, baixe a bola e volte para a realidade atual de filmes criativos e interessantes versus filmes com cara de Oscar que esquecem que o público hoje está cansado de enrolação. Digo isso devido à sintetização dramática que o diretor Scott Cooper deixou de lado e certamente está bem presente no livro em que foi baseado para criar um filme aonde os filósofos dos sindicatos do cinema e velhinhos votantes da academia de cinema vão se esbaldar com a quantidade de história que é colocada na tela, e principalmente sem se desenvolver muito. Não digo que um filme cheio de história seja ruim, mas que ela tenha uma dinâmica compreensiva e gostosa de acompanhar, usando como base o longa que comparei, no outro longa mafioso antigo temos muita história sendo contada, mas tudo tem ritmo, e os personagens são poucos, o que aqui optaram por um elenco cheio de estrelas que precisaram de tempo de tela (provavelmente por contrato) e com isso nem os dois protagonistas maiores chegam a ter grande destaque nas mãos do diretor, muito menos qualquer outro personagem chama a responsabilidade para que a história flua para seu lado, e assim sendo temos um longa que em momento algum podemos falar que é ruim, mas também está bem longe de ser algo que vamos lembrar daqui um tempo.

Sobre as atuações, com toda certeza podemos falar que Johnny Depp se entregou para o personagem James "Whitey" Bulger, de uma maneira tão diferente, que mesmo sabendo que ele sempre usa muita maquiagem para não mostrar sua "verdadeira" face, acabamos não reconhecendo ele logo de cara, e sem fazer tanta micagem ele acaba agradando bastante, só poderia ser o longa mais focado em tudo que ele fez e não no que não fez como acabamos vendo em diversas partes do longa, mas é fato claro que muitas cenas foram deletadas da versão final, e isso pode ter prejudicado a dinâmica também, porém o ator mandou bem novamente e quem sabe voltem a lembrar dele nas premiações. Joel Edgerton caiu bem no estilo de John Connolly, pois usou tanto a malandragem característica como boa entonação de atitude para fazer com que o personagem quase roubasse o protagonismo para si da trama, o que infelizmente (ao menos na minha concepção) foi muito errado, pois o filme era sobre Bulger e acabou recaindo bem para o nome nacional da Aliança dos dois. Dos demais atores cada um teve seu momento chamativo na tela, que volto a repetir foi quase que enfeite, já que não desenvolveu o personagem nem serviu de muita conexão para a história, mas dentre todos temos que certamente destacar Benedict Cumberbatch que ao fazer o Senador Billy Bulger deu grandes jogadas interpretativas e expressivas e até tentou chamar a responsabilidade em alguns momentos, e Jesse Plemons nem tanto pela importância de seu Kevin, mas pela quantidade de cenas que o ator está presente fazendo apenas caretas e socando as pessoas. Do lado feminino, Dakota Johnson faz bem a mãe do filho de Bulger (em momento algum mostra se eram ou não casados, aparentemente não), mas somente sua última cena é que é determinante e bem feita, pois a anterior que já está no trailer é mais fraca do que os míseros minutos que já apareciam no trailer, e claro que temos de destacar Julianne Nicholson pela cena de sua Marianne junto do protagonista, que muitos tremeriam na base bem mais do que ela, e sua expressão disse tudo.

Embora a equipe artística tenha arrumado alguns carros de época e vários elementos cênicos para representar como eram as investigações do FBI naquela época, faltou mais impacto visual nas locações, pois o filme poderia estar acontecendo em qualquer data com o que foi mostrado, e devido à isso precisaram enfatizar colocando em caracteres na tela os anos que são mostrados, o que não é muito legal de ser feito, mas como foi, poderiam ter trabalhado mais nos penteados e figurinos, pois ficou bem fraco nesse quesito. A fotografia certamente poderia usar referências de outros longas do gênero policial/mafioso para se inspirar e criar nuances mais chamativas de cores e sombras, mas tudo é tão chapado sem vida, que fico me questionando para onde foram os grandes diretores de fotografia de Hollywood que aqui a simplicidade é tanta que junto do tom acinzentado que colocaram na maioria das cenas, o sono acaba sendo aumentado.

Enfim, nem a trilha de Junkie XL conseguiu salvar o ritmo do filme e com dois meses já em cartaz nos EUA praticamente só cobriu seu orçamento, e dessa maneira a produção já pode começar a considerar o prejuízo do filme se no mercado internacional a trama não decolar (o que pode talvez dar certo é que por ter muitos atores conhecidos acabe chamando público afora). Ou seja, volto a ser repetitivo, não é um filme ruim, mas está bem longe de agradar, e dessa maneira só recomendo ele para quem realmente estiver com muita vontade de ver e de preferência em sessões diurnas, pois a chance de cansar é alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta a última estreia da semana no interior para conferir, então abraços e até breve.


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Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (Scouts: Guide to the Zombie Apocalypse)

11/12/2015 01:39:00 AM |

Alguns longas já vamos assistir sabendo bem o que esperar, afinal você não vai à um suspense esperando rir, nem à um terror esperando romance, mas quando falamos em comédia as possibilidades se abrem para tantas vertentes que pode ser que você chegue na sessão esperando algo tão cômico e saia revoltado com o que viu, quanto ao ver um pôster como o que coloco acima e um trailer que está no final do post do longa "Como Sobreviver a um Ataque Zumbi" e já vai esperando uma tosquice em cima da outra e acaba se divertindo com tudo o que é apresentado, pois temos de tudo no longa, romance, comédia, suspense, sustos, muito sangue e efeitos especiais de primeira linha. Ou seja, não precisou nem ter um roteiro tão grandioso (diria que estamos num misto daqueles filmes de escoteiros que víamos na sessão da tarde quando éramos crianças com um "Walking Dead" sem atores fodões) para que o resultado divertisse a plateia, e como volto sempre a frisar, a missão de uma comédia é fazer rir/divertir, e aqui foi bem cumprido, fazendo valer o ingresso de quem criar coragem para conferir.

O longa nos mostra que três escoteiros foram bem treinados para se virarem sozinhos e toda essa preparação será essencial para o que vão enfrentar. Os garotos precisam provar o quanto são valentes quando a cidade onde vivem é tomada por uma horda de zumbis. Nesse embate, eles também precisam mostrar a força dessa amizade.

É interessante observar a carreira do diretor Christopher Landon, pois nos últimos quatro anos ficou bem conhecido por escrever as quatro continuações de "Atividade Paranormal" (2, 3, 4 e "Marcados Pelo Mal"), inclusive dirigindo esse último (o qual julgo bem melhor que o de 2015) e agora com sua segunda direção efetiva, conseguiu transformar a ideia original da história de Lona Williams que foi classificada como um dos melhores roteiros não filmados em 2010 (#deviamestarloucos) em  um filme simples, bem feito e com efeitos que agradam bastante, e claro que no momento atual aonde o público adora zumbis, não tem como dar errado, pois a comicidade é elevada a um nível de tosquice tão grande que você acaba deixando relevar e curte cada momento rindo do absurdo. E claro que ele não nos entrega uma cena simples da maneira tradicional, tudo é colocado à prova com muita dinâmica de câmeras, e até que com maquiagens convincentes (afinal depois de "Crepúsculo" quem errar fazendo qualquer morto-vivo brilhar irá direto para a cruz). Então no quesito direção e roteiro, temos um filme bem feito, não é algo que vamos lembrar para qualquer tipo de premiação, mas certamente foi tudo muito bem feito para ser lembrado como um filme cômico de escoteiros e zumbis, que pode passar qualquer dia numa sessão da tarde (claro que vão cortar algumas ceninhas mais quentes, mas que rola de boa).

No quesito atuação tenho quase certeza de que a economia foi alta da produção, pois tirando o chefe dos escoteiros que está em quase todas as comédias, e a velhinha que já foi ganhadora do Oscar de 71, não me lembro de sequer ter visto algum dos atores. Vai, Tye Sheridan com 15 anos fez "Árvore da Vida", mas como foi um filme que atores não foram importantes para nada, vou continuar dizendo que não lembro de ninguém, mas tirando esse detalhe, o jovem até que conseguiu comandar bem o protagonismo de seu Ben, e já mostra que vamos ter o que olhar no novo "X-Men" já que também estará bem a frente como Ciclope, ou seja, aqui ele mostrou garra, dinâmica e bons trejeitos, quem sabe ano que vem decola, vamos aguardar. Logan Miller foi responsável pelas cenas mais engraçadas do filme, afinal com o desespero gritante de seu Carter, conseguiu ao mesmo tempo apagar o jeito mulherengo frente à gritaria que teve com cada zumbi que chegou perto dele, o jovem também trabalhou bem na ação e tem futuro. Joey Morgan é o nerd fofo que acaba fazendo gordices em todo filme do estilo, que acabamos torcendo pra que consiga fazer as coisas e não atrapalhe muito todo o andamento, e seu Augie caiu como uma luva no estilo de atuar do garoto, e sempre que aparecia em cena era preparar para ver alguma coisa inacreditável de acontecer, ou seja, fez tudo certo para o papel que foi solicitado. Sarah Dumont já foi figurante em diversos longas românticos, e a jovem é bem bonita, tanto que muita gente vai acabar torcendo para que sua Denise encaixe como par romântico do protagonista, mas o que vai mais impressionar é seu jeito durão para enfrentar os zumbis, e quem sabe isso não lhe vá valer para papéis de heroínas mais para a frente, pois expressão e atitude a jovem tem, então só falta um bom roteiro e um diretor que a jogue para os holofotes. Certamente você já viu David Koechner em qualquer filme/série cômica tosca que pensar, pois ele encara tudo o que lhe for proposto (seria ele um Nicolas Cage da comédia??? E faz tudo por estar devendo até o rim de tanto imposto! Não sei para responder, se souber, os comentários estão abertos) mas seu chefe Rogers ficou interessante tanto nos vídeos introdutórios de escotismo logo no início, quanto na persistência do seu modo zumbi(embora bem abobado), e claro grande destaque para a cena na sua casa pela devoção artística que tem. Cloris Leachman realmente tem um pique de dar inveja à qualquer jovem atriz, pois aos 45 anos ganhou seu Oscar de Atriz Coadjuvante e agora com quase 90 anos ainda mandou ver em cenas rápidas como zumbi junto dos jovens, inclusive protagonizando uma das cenas mais nojentas da produção, ou seja, tá no gás total, e olhando sua ficha na internet já tem mais 3 longas para ser lançados, mostrando pique mesmo para atuar.

Sobre a parte cênica claro que vamos ter muita escatologia, sangue e tudo isso em dobro com foco duplo nos objetos inusitados, afinal é um filme de comédia zumbi, e quem não quiser ver isso não vai assistir ao longa. Dito isso, a equipe trabalhou muito bem com o pouco dinheiro que tinham em mãos, criando até que símbolos bem trabalhados, claro que procurando sempre cenas mais fechadas para minimizar o impacto de criar grandes sets, mas ao menos umas 3 cenas foram bem grandes tanto na quantidade de figurantes maquiados correndo como na ambiência completa do cenário, ou seja, deram um trabalho bem grande para a equipe cênica, que não decepcionou e mostrou apta para grandes projetos. Claro que todos foram companheiros do diretor nas suas outras produções, então já conheciam bem o que queriam fazer, e por trabalhar com longas de terror, a simbologia é quase a mesma, e funcionou. Felizmente o diretor de fotografia soube usar bem a luz artificial e não quis fazer graça de termos um filme de "terror" noturno com cenas escuras, pois isso acabaria totalmente com a comicidade da trama, então usando de boas cores nas roupas de todo o elenco e falseando com iluminações das locações, ele nos entregou um longa alegre e ainda deu toda liberdade para a equipe de efeitos especiais caprichar no sangue voando para todos os lados. Dito isso, a equipe de efeitos fez um trabalho realmente primoroso, pois é possível ver que usaram efeitos computacionais somente na explosão maior, deixando todo o restante para efeitos mecânicos que certamente deixaram os atores bem sujos de sangue cênico, o que deu um ar mais bacana para a trama.

A trilha sonora contou com grandes clássicos do rock e pop mundial de várias décadas, ou seja, temos Britney Spears, Scorpions, Iggy Azalea e Rita Ora, e claro que muitas trilhas instrumentais originais, que deram um ritmo bem legal para a trama, e isso é algo que não poderia ficar de fora, já que o longa também se classifica como ação, então sem dinâmica musical o resultado certamente seria outro.

Enfim, não é o melhor filme do planeta de zumbis e nem de comédia, mas juntando as duas coisas, e aliado com muitas cenas toscas, o resultado acabou divertindo bastante e cumprindo sua missão nos gêneros que é classificado comédia/ação/zumbis(ou terror), e dessa maneira vai valer o ingresso de quem gostar de coisas cômicas forçadas. Dito isso, acabo recomendando ele para uma sessão descontraída no cinema ou em casa. Mais uma vez agradeço meus parceiros da Difusora FM 91,3Mhz daqui de Ribeirão Preto pela ótima pré-estreia organizada e estamos juntos sempre pro que precisar. Fico por aqui agora, mas ainda é só o começo da semana cinematográfica, então abraços e até breve.

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Cidade de Deus: 10 Anos Depois

11/08/2015 10:02:00 PM |

Documentar os fatos é algo que poucos conseguem fazer bem, e normalmente o gênero documentário não é tão bem visto pelo público que acha cansativo e acaba ficando jornalístico demais. Mas sempre temos alguns que conseguem transparecer as entrevistas de maneira bem diversificada e acaba agradando mais do que o normal, afinal quem não gostaria de saber o que virou dos jovens escolhidos nas comunidades para ter sua primeira interpretação em um dos maiores filmes que o cinema nacional já teve? Então com o lançamento de "Cidade de Deus: 10 Anos Depois" pudemos tirar essa curiosidade e ver quais continuaram com a carreira de ator, quais abandonaram de vez, mas fizeram bom uso dos cachês de R$1000,00 a R$10000,00 que receberam, ou até mesmo aqueles que acabaram transformando a ficção em realidade e entraram para o mundo do crime como os personagens que fizeram. E com uma dinâmica bem humorada e trabalhando bem nos cortes para que nenhum ficasse falando por muito tempo sem colocar imagens de fundo ou até mesmo outro ator falando junto, o longa passa bem depressa e agrada quem for conferir.

O documentário mostra os dez anos que se passaram desde o lançamento de "Cidade de Deus"(2002), filme dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund que recebeu quatro indicações ao Oscar. O documentário procura mostrar as transformações vividas pelos atores na última década.

A ideologia em si, como é mostrada na sinopse é bem simples e com uma direção criativa de Cavi Borges e Luciano Vidigal, eles buscaram com pouco apoio e simplicidade mostrar um pouco de cada um, pegar como foi trabalhar na produção e o que andou fazendo nesses últimos anos, mostrando se a grana ajudou em algo, se a vida tem sido propícia e por aí vai. Uma coisa bacana de ver também foi quanto cada um ganhou, afinal muitos por serem crianças acabaram ganhando dinheiro que ficou com os pais e acabaram brigando com as famílias, outros souberam aproveitar melhor e por aí vai. Mas o mais interessante realmente é ver as mudanças visuais, pois alguns que continuaram na vida de atuação, mudaram tanto que sequer imaginávamos que tinham participado da produção (dois exemplos claros disso é Thiago Martins e Alice Braga). E dessa maneira o documentário funcionou bem como um revival do filme para alguns, e principalmente para o público que for conferir, e deve ir, pois o diretor necessitou de muita força e dinheiro para finalizar o longa, então vale a ajuda conferindo o trabalho bacana que fez.

Um pequeno defeito que pontuaria, mas que não chega a incomodar, é a falta de padrão nas entrevistas, pois claro que é difícil levar todos os entrevistados para um lugar e filmar, mas ao menos poderiam ter trabalhado com o mesmo estilo de ângulo e enquadramento, pois de repente estamos com um ator grudado na tela, na outra temos um plano conjunto mostrando toda a comunidade, na outra cena temos a pessoa de pé. Sei que isso é chatice de quem apanhou muito nas reclamações de um documentário que dirigi, mas olhando pelo lado do público fica meio disforme mesmo, e acaba deixando o filme não tão agradável visualmente, mas tirando esse detalhe, tudo foi perfeito. Aliás uma das perfeições ficou a cargo do depoimento de Roberta Rodrigues e foi complementada depois por Seu Jorge, ao mostrar que nesses 10 anos todo mundo tem ganhado mais direitos, as mulheres, os gays e tudo mais, menos os negros, pois quando vão fazer um papel na TV já colocam advogado negro, médica negra e não apenas advogado ou médica e escolhem um ator negro para o papel, e isso em plena véspera do Dia da Consciência Negra, é algo que realmente vale ser pensado.

Enfim, é um bom filme que com apenas 70 minutos e portanto não vai cansar ninguém que for conferir, pois passa até que bem rápido. Então quem gostar do estilo documental certamente vai gostar do que é mostrado, e até mesmo quem não for muito fã do gênero vai acabar se conectando com a trama, afinal "Cidade de Deus" ainda é um dos melhores filmes que o país já produziu, e rever trechos junto com depoimentos sempre vale a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até breve.

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A Floresta Que Se Move

11/07/2015 08:02:00 PM |

Tem filmes que fazem um barulhão de divulgação, passam trailer milhões de vezes nos cinemas, lançam campanhas na TV, daí você chega no cinema a sessão está abarrotada de pessoas, e o filme vai lá e decepciona. Outros sequer passam trailer nos cinemas, nem ficamos sabendo de sua existência, estreiam no cinema, o Coelho como vê tudo o que está em cartaz, entra na sala solitário e o que vê? Um filme interessantíssimo, bem atuado, dirigido e com um texto que poucos longas nacionais já nos entregaram, ou seja, um filme que deve ser recomendado e muito para todos que gostam do bom cinema, e esse filme se chama "A Floresta Que Se Move", e já adianto que quem for amante de teatro vai se sentir como se estivesse na plateia de uma peça, pois a dramaticidade cênica dos atores transparece completamente o ambiente cênico que estão inseridos, agradando demais em tudo.

O longa nos mostra que Elias é um bem sucedido empresário do segundo maior banco do Brasil. Seu destino muda no momento em que ele encontra uma misteriosa flautista que se diz vidente. Ela afirma que, naquele dia, ele se tornará vice-presidente e que, no dia seguinte, o homem seria presidente do banco. Quando ele conta a história para sua esposa, a ambiciosa Clara, ela sugere que o casal convide o presidente do banco para jantar em casa naquela noite, para que o marido suba de posição na empresa. Só que o plano arquitetado por Clara culminará em uma série de assassinatos, em uma busca desenfreada por poder.

Logo de cara ao iniciar a abertura do longa somos surpreendidos com os escritos tão mais fortes que "Baseado numa história real" ao aparecer "Baseado livremente na obra Macbeth", pois quem já leu ou conhece ao menos um pouco da história sabe que é um dos textos mais fortes e interessantes de Shakespeare, e algo baseado nesse contexto transposto para o mundo dos negócios bancários (que é um covil tão maior quanto uma monarquia) certamente não teria como dar errado, e não deu! Sabendo que o diretor e roteirista Vinicius Coimbra é um grande diretor de novelas, o maior medo na sequência era de que ele fizesse algo exageradamente novelesco, mas felizmente a forma que ele acabou adaptando o texto junto de Manuela Dias, lhe deu perspectivas maiores de condução da trama para que o filme ficasse envolvente e agradasse principalmente pelas interpretações dramáticas. E como ele também aparentou deixar que o filme virasse um longa de atores, o resultado do excesso comedido pelo elenco principal nos levou quase que para frente do palco de um teatro, afinal cada cena pareciam atos isolados aonde os personagens interagiam e a cortina caia para um novo ato e assim sucessivamente até o final, o qual poderiam ter feito de outra maneira, afinal o efeito especial ficou muito ruim e não agrada, mas esse é apenas o único problema da trama, então a nota que darei todos já até sabem, mas vou falar de mais coisas antes.

Como disse acima, o longa se desenvolveu bem nas interpretações criadas para cada personagem, de modo que cada ator deu para seu personagem vida própria e impactante. O grande destaque de expressões é claro que é de Ana Paula Arósio, que trabalhou a face de sua Clara para ficar praticamente possuída pela gana por mais poder e com isso cada cena sua é algo muito forte de ver, o que mostra o que todos já sabíamos há muito tempo: que é uma excelente atriz, que agora após as devidas férias longe das telinhas, telonas e palcos, vai voltar com tudo. Gabriel Braga Nunes também arrasa em suas cenas como Elias, principalmente nas finais, aonde trabalhou de uma maneira muito irônica, e essa desenvoltura chamou muita atenção, um único detalhe foi o exagero nas cenas introspectivas que ficaram bonitas de ver, mas quase todas foram tão demoradas que se fosse num teatro o público acabaria achando que ele esqueceu as falas, mas tirando esse detalhe o rapaz mandou bem demais. Ângelo Antônio trabalhou bem seu César, mas cada cena sua era tão bem dominada pelos demais ao seu redor que acabava sumindo, mas isso não o impediu de agradar no papel e chamar a responsabilidade nas suas duas cenas individuais e claro na reunião dos acionistas, aonde foi incrível suas expressões. Não menos importante Nelson Xavier mostra que ainda agrada bastante nos papéis que faz, e seu Heitor foi dinâmico e carismático nas poucas cenas que teve, claro que poderiam ter dado a ele mais história, mas como não era o caso, fez bem enquanto pode. Fernando Alves Pinto meio que pareceu deslocado com seu Pedro, mas como necessitavam colocar alguém como filho do Heitor e esse daria as notícias de quem seria o presidente com a morte de seu pai, ele fez o que foi pedido, mas faltou mostrar mais abatimento pela morte de um ente querido.

A internet realmente é um lugar maravilhoso, pois ao chegar para escrever estava muito curioso para saber aonde no Brasil a equipe de produção tinha arrumado as locações para fazer a sede do banco e a casa do casal, pois são dois grandes palácios praticamente, mas como citaram como lugares de filmagem Escócia, Uruguai e Berlim, certamente nenhuma das duas locações foi por aqui, e isso diz muito do retorno interessante que o visual acabou causando. Além claro de que a equipe artística trabalhou bastante nos elementos cênicos para que cada momento fosse bem representado e agradasse na devida proporção, ou seja, um show a parte, principalmente devo destacar a cena da cama com goteiras, que além de uma ótima escolha de ângulo, ficou muito bonita de ver por todo o contexto mostrado. Desse modo tivemos uma fotografia também bem interessante de ver, com ângulos bem escolhidos, câmera segura do que queriam mostrar, usando e abusando do foco e desfoque, iluminações apropriadas para cada cena e com isso o resultado foi impecável de ver.

Enfim, um excelente filme que infelizmente não vai ser visto por muitos, já que sem divulgação alguma o público chega no cinema e vê um pôster diferente, com um nome não muito atrativo e acaba indo para outro longa, mas volto a repetir, é um grande filme que merece ser visto por todos. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto ainda nessa semana com mais filmes que estrearam por aqui, então abraços e até breve.


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Depois de Tudo

11/07/2015 02:09:00 AM |

Se tem uma coisa que acho interessante no cinema é a capacidade que o pessoal tem de achar que se algo é bom, seja um livro, uma peça ou até mesmo uma música, podem transformar em um filme que vai acabar ficando bom também. Essa retórica infelizmente não é verdadeira, e muitas vezes a introspecção que um texto dramático causa no público numa mídia mais versada ou até mesmo que crie uma certa tensão na audiência, ao virar longa-metragem acaba perdendo um pouco da essência e não agradando tanto. Com "Depois de Tudo", antes denominado "No Retrovisor" é baseado numa peça que fez grande sucesso no país inteiro, interpretada pelos dois protagonistas também, mas que por não ser cheia de firulas como é o filme, acaba comovendo o público e chamando muito a atenção de quem a confere no teatro, enquanto no cinema, o filme até foi bem dirigido e tem anseios mais visuais, porém acabou perdendo a dramaticidade do texto e não encaixa todo o sentimentalismo dramático que deveria atingir. Portanto, podemos dizer que é um longa alternativo, visto que foge completamente do tradicional longa comercial que domina o país, mas que por focar mais em símbolos do que num texto mais visceral, vai acabar deixando o público nas mãos, e isso, infelizmente faz com que um longa não seja tão bem falado por aí, mas ainda assim é bem melhor que muitos outros lançados ultimamente.

O filme nos mostra que os jovens Ney e Marcos são muito mais que melhores amigos. Eles são quase irmãos, que dividem apartamento, trabalho, sonhos, a paixão pela música e por Bebel, uma garota linda e destemida que desperta nos dois diferentes desejos. Quando ela se muda para o apartamento vizinho ao deles, os três se tornam inseparáveis. Mas o tempo os distancia. Em vez de músico e parceiro de César no bar que abriram e pretendiam tocar juntos, Ney acaba se tornando um astro da música pop romântica. Enquanto isso, Marcos passa de garoto rebelde e cheio de atitude a um conformado funcionário público. Já Bebel, nunca deixou o imaginário dos dois. Vinte anos depois uma inesperada notícia reaproxima Ney e Marcos, levando-os a rever suas atitudes, emoções e lembranças. Neste reencontro pode estar também a chance que Ney e Marcos têm de resgatar os laços de amizade e amor que o tempo havia ajudado a romper

De maneira alguma posso dizer que o roteiro e a direção foram ineficientes, muito pelo contrário, temos um filme bem desenvolvido e interessante, porém um dos maiores problemas da trama foi não conseguir transmitir, ao menos no meu ver, uma essência mais forte do elo de amizade, da quebra da amizade e principalmente da motivação por um retorno de amizade. E isso podemos atribuir talvez pelo alongamento da trama e a quebra de cenas na edição. Claro que não sou contra o longa não ser linear, oscilando entre o passado e o presente, mas o longa teria uma vida mais saborosa se não fosse tão estilhaçado e certamente tudo agradaria mais, mas como optaram por esse estilo, uma boa ideia seria trabalhar melhor cada ato focando exatamente no que queriam passar, pois ficou meio que sem apresentação, miolo e final, tendo apenas uma passagem genérica para todo o conteúdo. Mas se temos de elogiar algo na trama, certamente foi a concisão que o diretor João Araujo deu nas escolhas de planos do filme para que ficasse o mais distante possível de uma novela, e isso é algo que sempre vemos muitas reclamações dos longas nacionais, então por bem pouco, se a edição tivesse empolgado mais o público, teríamos certamente um longa perfeito.

Sobre as atuações, uma coisa é fato, Otavio Müller certamente cai melhor em comédias ou cenas de ação do que como ator de drama, claro que faz bem suas cenas, é um ator e tanto, mas é visivelmente estranho ver suas cenas sem esperar que ele faça alguma graça, e seu Marcos mais velho não é um personagem que nos empolgue, muito pelo contrário ele já é alguém cansado da vida que teve, e o ator acabou deixando o personagem mais apagado ainda. Sua versão jovem interpretada por César Cardadeiro já demonstra completamente o contrário, cheia de vida, disposição e com expressões mais fortes, o ator caiu bem na dinâmica que o personagem tanto precisava ter, e dessa maneira mostrou a que veio trabalhando estilos e agradando bastante. Que Marcelo Serrado é um dos melhores atores que temos no país, isso não temos dúvida alguma, pois oscila bem dentro de dramas, comédias e tudo mais que lhe for solicitado para fazer, mas seu Ney ficou simples demais perante tudo o que poderia fazer, claro que não teve oportunidade de trabalhar muitas expressões faciais devido o seu personagem ser cego, mas o semblante poderia ter chamado mais atenção do que apenas palavras dialogadas para mostrar tudo o que sabe fazer bem. E claro que sua versão jovem interpretada por Romulo Estrela foi bem trabalhada, mas o jovem aparentou estar com um pé atrás sempre do que poderia mostrar, e suas cenas sempre foram deixadas com terminações simples, o que é algo que atrapalha muito o andamento cênico para enaltecer um ator, mas felizmente conseguimos ver futuro para o jovem, pois quando precisou mostrar serviço, incorporou todas as expressões que sabia fazer e fez bem. Maria Casadevall se dispôs a tudo, fazendo muitas cenas com nudez e regadas a drogas, para mostrar como começou a virar a ligação da trama, e dessa maneira a jovem caiu bem dentro do que sua personagem pedia, mas embora tenha duas ou três cenas aonde mostre bem a inquietação de uma relação triangular com os protagonistas, faltou ter mais química emocional para criar o ciúmes, ficando mais como um surto de drogas/bebidas do que algo mais emotivo mesmo, mas no contexto geral a jovem mandou bem demais.

Como é um longa de baixo orçamento, a equipe de arte tentou maquiar a cenografia para não ficar tão falso o retrato passado dos anos 80, trabalhando bem nos ângulos de câmera em conjunto com o diretor ao invés de se preocupar bem no contexto dos objetos cênicos. Claro que isso não é algo errado de se fazer, mas podiam mostrar mais elementos para situar o espectador e até agradaria mais do que deixar de lado a simbologia de uma época, mas volto a frisar, direção de arte é algo que encarece uma produção, e se necessita marcar época então, fica mais complicado ainda. A fotografia certamente teve muito trabalho, afinal a maior parte da trama se passa em interiores e que necessitavam iluminações específicas para cada momento, e felizmente acertaram bastante sem deixar falso e muito menos amador ao ponto dos erros que costumeiramente acuso em novelas e filmes que não se preocupam com sombras, então o resultado nesse quesito é bem satisfatório, mesmo que não tenham trabalhado tanto paletas de cores mais densas que poderia agradar e chamar o tom para a época ajudando a equipe de arte.

Enfim, é um filme que foge dos padrões atuais do nosso cinema, o que é algo muito satisfatório de ver, mas que falhou em alguns pontos precisos que poderia agradar tanto o público que gosta de coisas diferenciadas quanto o pessoal que quer ver algo mais comercial. Então, minha recomendação é que tentem ver o longa, mas tentando montar as situações de amizades como citei no começo do texto, que certamente vai acabar agradando bem mais, e quem quiser ir ver pensando se tratar de algo comum, talvez reclame mais do que o normal por tudo que é mostrado. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda faltam mais alguns longas nacionais que surgiram aqui para conferir, então abraços e até breve.


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007 Contra Spectre

11/06/2015 02:24:00 AM |

É engraçado que muitos filmes falamos que pertencem a um determinado gênero, outros associamos à franquia por misturar diversos estilos, mas que às vezes nos surpreendem por ousar mais ou menos, porém se tem uma franquia que sabemos exatamente o que esperar, indo ao cinema sem sequer expressar algum sinal de espanto com qualquer novidade (afinal raramente vemos algo diferente) é a tal 007, e agora com o novo filme "007 Contra Spectre" até que tentaram colocar personagens de outros filmes, adequaram algumas situações para dar mais ritmo, mas o diretor Sam Mendes não conseguiu fazer novamente um longa tão interessante quanto fez com "Skyfall", pois mesmo com grandiosas cenas de ação (as quais na sala Imax fez as poltronas tremerem bastante), o miolo foi regado à cenas tão mornas que quem estiver com um pouco mais de sono vai fazer igual o senhor do meu lado, que chegou a roncar e depois pulou assustado com o barulho da cena seguinte. Então exageraram nas histórias deixando de lado toda a investigação característica com envolvimento que muitos esperavam, mas ainda assim cumpre com o papel da franquia e diverte bem quem suportar as oscilações mornas do miolo.

O longa nos mostra que uma mensagem codificada coloca o agente secreto James Bond no caminho para desmascarar uma organização criminosa, conhecida como SPECTRE (Special Executive for Counter-intelligence, Terrorism, Revenge and Extortion). Enquanto Bond tenta descobrir a terrível verdade por trás da organização, M luta contra as forças políticas para manter o serviço secreto britânico ativo.

Que a franquia é extremamente rentável, isso não temos dúvida alguma, e que já estão procurando um meio de "matar" Daniel Craig (que já está começando a ficar caro também) para começar uma nova leva com um novo Bond, também já estamos cientes, mas acredito que apostaram fichas demais na continuação de mãos do diretor Sam Mendes e sua equipe para esse novo episódio, pois se pegarmos 90% dos outros longas da franquia, são pouquíssimos momentos que tentam conexões externas ao do próprio filme em questão, e aqui quase que colocaram como uma continuação direta tendo muitas referências e símbolos que nos foram apresentados em "Skyfall", e até mesmo em "Quantum of Sollace" e dessa maneira ao ficar enrolando histórias para não dar muita criatividade, o roteiro acabou ficando até um pouco cansativo, com diversos pontos de pausa, e isso era algo que raramente acontecia nos outros filmes. Claro que o diretor ousou e muito em diversas cenas, pois temos muitas explosões, cenas aéreas e até mesmo alguns planos-sequência incríveis de ver (a cena de abertura sem parar com a quantidade de figurantes é algo para tirar o chapéu diversas vezes para ele), mas poderiam ter evitado tanta história e focado mais na ação envolvente como aconteceu no filme anterior, e assim agradar novamente à todos que fossem assistir ao filme, mas não dá para acertar todas as vezes, então se a bilheteria não decolar o rumor de que Sam dirigiria o Bond 25 pode ir por água abaixo.

No quesito atuação, Craig tem o estilo Bond de ser, mas deixaram ele livre demais nesse e completamente forçado em diversas cenas (luta no trem com o imenso lutador e furos na cara com a maquininha de dentista sem que o cara saísse ao menos machucado foram abusos demais para relevar), o que já diferenciou demais do longa anterior, onde aparentava mais abatido com as cenas, claro que já está se achando melhor que diversos outros atores que interpretaram o espião, pedindo cada vez um cachê mais alto, então acredito que sua temporada esteja chegando ao fim. Pena que Christoph Waltz não esteja presente no longa inteiro, pois seus momentos foram simplesmente fantásticos, com uma expressão doentia e bem característica dos vilões da franquia, claro que não chegou nem aos pés do que fez Javier Barden em Skyfall, mas ainda assim caiu muito bem nas cenas e como é de seu estilo, chamou a responsabilidade de cena para si e agradou demais. Léa Seydoux caiu bem como a bondgirl Madeleine, mas inicialmente aparentou que seria mais dinâmica e impactante, de modo que marcaria sua passagem pelo filme, o que acabou não acontecendo tanto, claro que ela é sexy e linda demais, mas poderia ser mais do que isso como boa atriz que é. Ralph Fiennes até teve grandes cenas como sendo o novo M, e usou de expressividade para controlar as cenas mais ágeis sem perder a seriedade que o personagem pedia, e dessa maneira caiu bem para agradar e certamente voltar nos demais longas. Ben Whisaw novamente veio com uma proposta bem humorada para o seu Q e nas cenas que apareceu mais dominou o ambiente para que seu personagem tivesse destaque frente aos demais, ainda torço para que um dia desenvolvam longas paralelos aos 007 para que mostrem mais sobre os outros personagens da franquia, pois este é um que mereceria destaque e divertiria demais. Naomie Harris também voltou agora com um papel mais importante, porém ficou muito de segundo plano na trama com sua Moneypenny, de modo que apareceu, fez duas boas cenas, e depois praticamente esquecemos de sua existência no filme, e a atriz tinha potencial para agradar mais. Ainda bem que tivemos poucas cenas com Andrew Scott, pois o seu C ficou cansativo e quase sem carisma algum para ser um sub-vilão da trama, e se olharmos para a sinopse, certamente o personagem dele teria bem mais impacto do que o ator conseguiu transparecer, e assim notavelmente cortaram cenas suas. Apenas para pontuar, o longa contou com uma segunda bondgirl e Monica Bellucci chamou bastante a atenção mais pelo seu corpaço do que por sua atuação, de modo que se a trama se alongasse pela Itália, o filme seria elevado para classificação 18 anos.

Sobre o conceito visual, é óbvio que com todo o orçamento monstruoso que o longa possuía não tinha como nada dar errado, então sendo filmado na Inglaterra, Marrocos, México, Áustria e Itália, o resultado foi um longa cheio de locações marcantes, muitos detalhes cênicos para representar cada lugar e claro carrões para chamar atenção, mas se tem uma coisa que faltou foi objetos mirabolantes de espionagem, pois somente um mísero relógio não faz dele um mega-espião com armas especiais, e assim o resultado artístico até agrada bastante e com certeza vai chamar muita atenção de quem gosta de ver boas escolhas de cenários, e só por isso já vale a produção em si. Além disso, a equipe teve muito trabalho com o excesso de cenas dinâmicas com aviões, helicópteros e carros correndo por toda a parte, explodindo e tudo mais, que ficaram bem realistas e agradaram em todos os momentos que foram colocados na trama, ou seja, esse sim é o grande motivo para conferir a trama. Aliado à esses bons momentos e junto das boas locações, a equipe de fotografia só teve o trabalho de escolher bons ângulos e iluminar com classe para que tudo ficasse dentro dos padrões, só poderiam ter ousado mais se não ficassem com tanto foco e desfoque de personagens, pois esse clichê já deu o que tinha de dar.

No quesito sonoro, a trilha ficou bem fraca comparada aos últimos dois filmes, e dessa maneira optaram mais pelos barulhos das explosões para fazer com que o público balançasse nas poltronas (quem for ver nas salas Imax se prepare para chacoalhar muito, pois o estrondo é imenso nas últimas cenas, fazendo o cinema inteiro vibrar). Mas sem boas canções e trilhas instrumentais, o filme ficou como disse em diversos momentos, sem ritmo, e isso faz quem não curtir realmente a trama, ficar com sono durante boa parte do filme.

Enfim, é uma grandiosa produção que possui bons momentos, mas não preencheu todos os requisitos que tanto agradaram nos últimos filmes da franquia, então diferentemente do que ocorreu nos outros, aonde muitos que nem eram fãs do espião passaram a curtir e assistir aos filmes, esse vai levar aos cinemas somente quem for realmente fã e suportar um longa mais alongado e cansativo em diversas partes. E dessa maneira recomendo ele somente para quem gostar muito do estilo, e estiver disposto a misturar lentas cenas de conversas com grandiosas cenas de explosões. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda teremos muitos filmes que vieram para o interior nessa semana, então abraços e até breve.

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Homem Irracional (Irrational Man)

11/02/2015 08:43:00 PM |

O diretor Woody Allen sempre consegue trabalhar seus filmes de modo que mesmo a história mais romântica ou o drama mais simples se entrelacem e criem uma perspectiva diferenciada, e com "Homem Irracional", que demorou um pouco para aparecer pelo interior, ele praticamente juntou dentro de um romance uma história investigativa tão repetitiva que a cada vez que um personagem recontava ela, íamos trabalhando completamente o sentido do nome do filme, e de uma maneira gostosa, acabamos refletindo sobre a ideologia filosófica do conceito de moral ou imoral dentro de uma situação de culpado ou inocente, ou até mesmo até que ponto vale fazer algo errado para que tudo dê certo. E quem lê isso pode até achar que o longa é daqueles de difícil aceitação ou compreensão, mas muito pelo contrário, tudo acontece de forma tão leve que acaba nos agradando e encantando mesmo com uma trilha repetidamente chatinha.

O longa acompanha a história de Abe, um professor de filosofia em meio uma crise existencial e que descobre novamente a vontade de viver. Depois de voltar a dar aulas em uma pequena cidade, ele se envolve com duas mulheres. Uma delas é Rita, uma colega de trabalho; e Jill, sua melhor aluna. Mesmo quando Abe mostra sinais de desequilíbrio mental, a fascinação de Jill por ele só cresce. No entanto, quando decide abraçar novamente a vida, Abe desencadeia uma série de eventos que afetará também Jill e Rita para sempre.

É claro que conhecemos bem o estilo de Woody dirigir e por prezar sempre longas bem dramatizados aonde os protagonistas realmente protagonizem, e não que o ambiente ou toda uma produção seja mais importante que eles, já vamos ao cinema acompanhar um longa seu sabendo que seremos bombardeados de longos textos e que eles sempre irão nos dizer algo do seu momento em que está vivendo, e dito isso, com esse novo longa podemos observar que o diretor (o qual sempre trabalhou bons conceitos filosóficos) resolveu agora entrar num dos pontos que muitos sempre pararam para pensar: se matarmos alguém que só tem feito coisas erradas e estragando o mundo, seremos culpados ou heróis? Calma pessoal, não precisam sair correndo após a sessão para matar a nossa presidenta, pois certamente você será culpado! Mas com essa ideologia, o filme leva um longa que poderia ser totalmente romantizado para outro patamar, e com pitadas cômicas bem interessantes de ver, e planos em movimento agradáveis, o diretor trabalhou seu lado pensante junto dos personagens sem descaracterizar seu estilo, e principalmente agradando todo estilo de público que for assistir, ou seja, um longa gostoso de ver, mas que faz você sair da sessão pensando em tudo que foi mostrado, ou seja, um legítimo filme de Woody Allen.

O longa até possui grandes atores como coadjuvantes, mas que por não conectarem tanto com as histórias dos protagonistas, acabam sumindo tanto que nem se for pergunta de prova vamos lembrar deles no longa, então vamos focar no que Woody tanto deseja que á nos três protagonistas. Que Joaquin Phoenix é um dos melhores atores no momento isso certamente não temos dúvida, mas a personalidade que deu para seu Abe é algo que vai muito além do que poderíamos esperar, desenvolvendo diversas características próprias de outros personagens seus junto de um homem com problemas e criando um misto de idealizador com facilitador de ideias que vão muito além do que um ser humano comum acabaria pensando, e ao atuar tão bem no filme, o ator mostra que está em plena forma para desenvolver qualquer tipo de papel que possam lhe entregar. Emma Stone sempre cai com personagens agradáveis e gostosos de acompanhar, mas quando insiste na repetição (mesmo que seja culpa do roteiro e da direção), passamos a ficar com uma certa raiva do que está fazendo, e dessa maneira, seus primeiros atos são gostosos de ver, mas ao aprofundar da história, acabamos num misto de querermos junto com o protagonista dar um fim na sua Jill também. Parker Pousey tentou recair sobre a perspectiva de femme fatale, mas ao mesmo tempo subjetivou demais sua Rita, e dessa maneira passou a ser mais inconveniente do que sedutora, e certamente não era bem isso que o diretor esperava de suas cenas, mas ainda assim a atriz trabalhou bem e agrada em diversos momentos, só poderia ter entregue mais personalidade nos momentos sem Phoenix.

No conceito artístico acho que a equipe de arte adora trabalhar com Woody Allen, pois seus filmes sempre são bem simples de elementos cênicos, não temos muita exuberância de cenários (tirem dessa lista "Meia Noite em Paris") e por trabalhar com coisas mais cotidianas, basta arrumar boas locações, que o restante se desenvolve de maneira bem fácil, e é isso que quem for conferir o longa verá, uma pacata cidadezinha em meio a um campus universitário, aonde toda a história se desenrola e assim sendo, acaba sendo bem agradável de ver e gostar dos elementos simples, mas bem colocados em cada cena, destaque claro para o mirabolante plano de matar o juiz, junto com toda a execução, e também a bela cena do parque de diversões que dando um mísero spoiler, será usada na finalização da trama.

Enfim, é um longa bem gostoso de assistir e que vai agradar a todos que forem ver sem desejar algo de proporções imensas, pois aí não seria um longa do Woody Allen, e dessa forma, o filme passa rápido e mostra tudo de uma maneira ampla que dá para filosofar e curtir sem que nada saia dos parâmetros. Sendo assim, com toda certeza acabo recomendando o longa e só reclamaria de alguns trejeitos óbvios, mas que não atrapalham em nada o resultado, e vale a pena ser conferido por todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais longas, então abraços e até breve.


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