Globoplay - O Silêncio da Chuva

4/30/2022 12:54:00 AM |

Um tempo atrás falava que o Brasil entregava roteiros ruins de cinema para diretores bons de televisão, e eles acabavam fazendo milagres com algo que não tinha como ir além, e o resultado acabava virando uma novelona, porém ultimamente isso anda mudando e a culpa anda caindo para cima dos diretores (e olha que muitos ainda são grandões, e estão transformando em novelas ótimos roteiros). Digo isso hoje com um pesar imenso, pois gosto dos trabalhos de Daniel Filho, mas aqui no longa "O Silêncio da Chuva" ele tinha um roteiro daqueles para criar um clima de suspense imenso, desenvolver os personagens com muita tensão e criação, e ele transformou a trama numa novela com vários ares cômicos e sacadas tão simples que mesmo a revelação final sendo interessante e bem diferente do imaginado acabamos não ficando espantados como uma boa trama de suspense merece acontecer. Ou seja, é um filme que até funciona para passar o tempo, mas que tinha tudo para impressionar demais, e mudar a ideia de que o Brasil pode e deve fazer filmes de mais gêneros.

A sinopse nos conta que quando o executivo Ricardo é encontrado morto a tiros no banco de seu carro sem maiores suspeitas, o detetive Espinosa e a policial Daia são encarregados do caso e logo começam a investigar as pessoas mais próximas da vítima. Mas quando todos os envolvidos no caso começam a sumir misteriosamente, a situação toma proporções inesperadas.

Diria que o diretor Daniel Filho pegou um texto já adaptado do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza e abriu vértices demais para a trama, pois a base é policial, e o drama é uma incógnita que intrigaria demais a todos com tudo o que ocorre, com uma investigação direto e dura, mas que ao optar por dar um ar mais leve e livre soltou demais as pontas criando algo que acaba não sendo nem crível, nem fantasioso, e principalmente não convencendo como deveria. Porém não posso dizer que o resultado geral é ruim, pois os atos finais são interessantes, e ele não chega a cansar, então poucos cortes e um melhor desenvolvimento dos personagens principais fariam com que o filme impactasse da maneira correta e chamaria muito mais atenção para tudo. Ou seja, o diretor que é extremamente experiente conseguiria enxergar no corte final que dava para limpar alguns atos de uma forma melhor, e se duvidar até antes mesmo nas filmagens ele conseguiria ter mudado o ar do longa, mas como o conceito novelesco vende bem no país, optou em deixar dessa forma.

Sobre as atuações, Lázaro Ramos convence bem como policial, tem atitude e desenvoltura para o papel de seu Espinosa, e brinca bem em cena com os atos que é colocado, ao ponto que faltou um pouco mais de densidade para que seu papel fosse mais chamativo, porém agrada e se impõe, e isso faz funcionar bem. Muitos vão achar que a atriz cômica Thalita Carauta que estraga o longa por eu ter falado que exageraram um pouco na comicidade, mas o pior é que alguns atos de sua Daia são bem explosivos e acabam soando exatamente como devem funcionar na vida de muitas policiais, ou seja, ela até ousa usar um pouco da comicidade que sabe fazer bem, mas entrega bons atos e funciona também. Mayana Neiva conduziu sua Rose de uma forma inexpressiva demais, que em alguns atos pareceu abalada, em outros apenas fazendo caras e bocas, e finalizando surtada num ato forte, porém estranho pela intensidade do ato em si, mas fez a proposta funcionar dentro do que o papel pedia, e assim foi bem pelo menos. Diria que poderiam ter explorado mais o papel de Peter Brandão, pois seu Max tem boas situações, mostra o tradicional ladrão que se empanturra e quer mais, e acaba fazendo atos meio que soltos bem bacanas, mas quando precisou ir além cortaram tudo de suas cenas e praticamente já era, ou seja, o jovem tinha potencial para ir mais além. Quanto dos demais, vale o destaque para o personagem de Otávio Muller, pois seu Aurélio chega a incomodar em diversos momentos, porém serviu o que precisava, já o ator entregou praticamente os mesmos trejeitos que sempre fez em todos os filmes, e isso decepciona demais, pois aqui não era uma comédia, então precisava ir por outros rumos, e isso foi o que mais pesou nele, mas foi uma escolha, e assim fez o que lhe mandaram, já Claudia Abreu, Bruno Gissoni e Pedro Nercessian apenas apareceram, tiveram alguns atos imponentes, mas não explodiram em cena, e nesse estilo é necessário bem mais.

O longa tem uma boa pegada visual, mostrando que a equipe de arte ao menos quis trabalhar bem o conceito de suspense, iniciando claro com muita chuva e um crime em um lugar aonde praticamente não se vê nada com o ponto cego das câmeras, depois temos todo o passeio do ladrãozinho e suas boas jogadas com elementos cênicos roubados, trocados, escondidos, a clara nuance da favela com suas lajes (que serão muito utilizadas depois numa perseguição bem trabalhada), temos claro a mansão, uma delegacia simples, atos em hotéis clássicos e também abandonados, ou seja, o pacote completo e ainda mais, pois temos cenas com pessoas torturadas, com pedaços cortados e tudo mais que o gênero pede, ou seja, tinha tudo para ser incrível.

Enfim, como disse, tinha tudo para ser o longa perfeito do gênero, mas tiveram muitos pequenos erros que juntos acabaram decepcionando sem entregar nem uma paródia do gênero, nem algo intenso e impactante, ficando bem no meio do caminho, que vai agradar alguns, mas a maioria irá reclamar bastante, ainda mais se forem leitores do livro, que aí pelo que andei vendo só tem reclamações, ou seja, vale como um passatempo e nada mais. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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