Amazon Prime Video - Pequena Mamãe (Petite Maman) (Little Mom)

4/06/2022 01:05:00 AM |

É até engraçado ver o quanto os franceses conseguem passar simbolismos e envolvimentos maternos nas suas produções com tanto sentimento, pois acabam entregando dramaticidade sem precisar pesar a mão, colocam sentimento em expressões marcantes simples, e geralmente conseguem emocionar demais nas obras entregues até mesmo com ares fantasiosos, e dessa forma o longa "Pequena Mamãe" acabou sendo destaque na maioria dos festivais que passou, sendo inclusive indicado ao BAFTA como Melhor Produção em Língua Não Inglesa, e agora todos podem conferir na Amazon Prime Video, e se deliciar numa trama gostosa de conhecimento e reconhecimento, de conexão com o passado e futuro, de uma forma rápida e bem direta. Ou seja, é daqueles filmes que se você piscar já acaba, mas que também dá para se perder completamente em diversas análises gostosas e reflexivas, que certamente atingirão mais as mulheres com filhas, mas que dá para se emocionar não sendo desse grupo também.

O longa nos conta que depois que sua avó falece, Nelly vai conhecer a casa onde sua mãe cresceu e morou por muitos anos. Ao chegar lá, Nelly explora o local enquanto seus pais arrumam a casa. No bosque onde sua mãe, Marion, costumava brincar e construiu uma casa na árvore sobre a qual ela ouviu muitas histórias, Nelly conhece uma garota de sua idade construindo uma cabana. Surpreendentemente, o nome da criança é Marion. ​As duas meninas, com a mesma idade, e extremamente parecidas, se tornam melhores amigas, construindo uma tenda juntas, dividindo lanches e conversando sobre as transições de vida e corpo que estão prestes a ter. Ao passar dos dias, as similaridades entre as garotas começam a ficar mais evidentes, e passado e presente se misturam. E afetada pela recente morte da avó, a menina percebe os ciclos da vida, marcados pelos crescimentos, e pela inevitável morte.

Diria que a diretora Céline Sciamma gosta muito e entende muito sobre o feminino em si, as aflições, os problemas e principalmente os sentimentos das mulheres, afinal seu longa anterior "Retrato de Uma Jovem em Chamas" é bem ousado no sentido de uma época e desenvolve bem a mente feminina em revolta, e aqui ela optou mais pelo ar lúdico e doce, diria até fantasioso, do luto, do saber que a morte virá em algum momento, dos medos de que terá de lidar na vida toda, e por aí vai, brincando bastante com todo tipo de alegoria da infância feminina, do aprender a interpretar outras personalidades, de fazer uma comida brincando, de vivenciar os momentos, e tudo mais. Ou seja, é daqueles filmes que você olha para ele e pensa de cara que será daqueles reflexivos, chatos, monótonos e tudo mais que muitos odeiam ver fora de festivais, mas não, ela entrega algo simbólico de fácil aceitação, e o principal: bem rápido com apenas 73 minutos, que quase foi encaixado como um média-metragem, mas que nesse período deu para brincar bastante literalmente quase como uma brincadeira de garotas, o que resultou em algo bonito, leve e bem interessante de ser conferido.

Sobre as atuações, as duas garotas Joséphine Sanz e Gabrielle Sanz parecem ser uma só, ao ponto que se você não se ligar que uma está com uma faixa no cabelo e a outra não, acabará se confundindo diversas vezes de quem é quem, pois até o temperamento expressivo delas são muito semelhantes, então o resultado que desejavam atingir de passar a memória e o conhecimento de uma para a outra foi perfeito nesse sentido, ao ponto que Joséphine deu um ar mais curioso para sua Nelly, afinal a jovem que foi em busca de conhecer mais a vida da mãe quando era jovem, pouco antes de uma cirurgia, enquanto Gabrielle já ficou um pouco mais retraída para tentar entender quem é essa pessoa tão parecida com sua Marion, ou seja, ambas tem um potencial artístico incrível que se for trabalhado vão ser grandes atrizes futuramente. Quanto aos adultos, todos foram pouco usados, mas foram mais simbólicos para dar nuances aos devidos atos, a mãe vivida por Nina Meurisse passando o ar triste do luto, mas também sendo triste como a garota sempre a viu, a avó vivida por Margot Abascal mostrando já a doença na perna, a bengala, e também todo o carinho que sempre passou, e o pai vivido por Stéphane Varupenne transmitindo segurança, o estar presente com ela e fazendo as vontades da garotinha, todos com ares simples, mas bem feitos, o que daria para nem ter em cena, mas que funcionam bem e agradam como o fazem.

Visualmente a trama tem todo o sentimento amplo da casa, de cada elemento presente ali, do armário escondido com objetos que remeteram a infância da mãe, os jogos, todo o processo de brincar de atuação, e principalmente tudo na casa, a cabana, e muitos outros detalhes que a equipe de arte quis trabalhar com dupla síntese tanto para a garotinha, quanto para a mãe, e as mudanças entre as casas do passado e do presente são tão fortes que impressionam demais, mostrando que quiseram dar as nuances para ambos os momentos, e funcionou demais.

Enfim, é um filme bem curto, direto na proposta, que emociona e envolve demais, e que muitas mães e filhas irão se conectar tanto pelo diálogo passado, sobre saber o que vai acontecer, sobre o vivenciar e tudo mais, ou seja, não é um longa brilhante de ideias, mas funciona demais dentro da proposta, e isso é fazer valer o tempo do espectador, sendo então uma ótima dica para todos conferir. E é isso, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais. 


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