Eduardo e Mônica

1/20/2022 10:21:00 PM |

Costumo dizer que para um romance ficar gostoso de ser conferido a base necessária é que nada seja muito comum entre os protagonistas, pois se possuem muitas coisas comuns a trama acaba ficando melosa demais e acaba não tendo conflito para que o filme deslanche, então a sacada da música de Renato Russo é tão bem trabalhada nessa síntese que já veio com o roteiro praticamente pronto para ser filmado, ao ponto do resultado de "Eduardo e Mônica" acabar sendo tão bem trabalhado pelas diferenças entre os personagens, pelas confusões de idade, de ideias, de família e tudo mais que conseguiram colocar na trama, fazendo com que o público não apenas veja a música impressa na tela, mas sim aquele algo a mais, aquele desenvolvimento amoroso, todas as interações comuns em paixões diferentes, e assim tudo passa a funcionar muito bem. Ou seja, o longa passa longe de ser algo que impressione, mas acaba sendo daqueles que entramos esperando algo simples, e saímos felizes mesmo não sendo apaixonados pelo gênero, tendo momentos que exageraram um pouco no estilo novelesco, mas que passa tão rápido e de uma forma tão funcional que agrada mais do que cansa.

A sinopse nos conta que em um dia atípico, situado em Brasília na década de 1980, uma série de coincidências leva Eduardo (Gabriel Leone) a conhecer Mônica (Alice Braga), tendo como pano de fundo uma festa estranha com gente esquisita. Uma curiosidade é despertada nos dois e, apesar de não serem parecidos, eles se apaixonam perdidamente. Ambos são completamente diferentes. Além da discrepância de idade entre os dois, signos diferentes e cores de cabelo diferentes, eles também têm gostos que, aos olhos de outras pessoas, são incompatíveis. Parece que o amor entre os dois nunca passará apenas de alguns meses. Depois de começarem um namoro, esse amor precisará amadurecer e aprender a superar as diferenças. Eduardo e Mônica terão também que superar o preconceito de outros que tentarão acabar com o relacionamento. Mas é aquilo: "Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração".

Quando estava finalizando "Faroeste Caboclo" lá em 2013, o diretor René Sampaio disse que gostaria de fazer um universo maior com junções de filmes das músicas de Renato Russo, e com isso muitos já jogaram que logo ele faria "Eduardo e Mônica", e até que não demorou muito para já estarem com a ideia nos projetos futuros e lá em 2018 filmaram o longa, mas como bem sabemos, datas no Brasil, pandemia e tudo mais, agora que o longa está sendo lançado, e pudemos ver que diferente do primeiro que continha praticamente tudo (afinal a canção tem é imensa), a trama aqui teve sim a base da música, mas colocaram tantas coisas bacanas acontecendo que acabamos entrando completamente no clima com muito mais detalhes do que apenas com o que acontece lá, e esse envolvimento funciona bem, tem carisma por parte dos protagonistas, e já que falamos de um Universo compartilhado, usaram até a sacada de ter em determinada cena Fabricio Boliveira com uma participação rápida, porém bem semelhante com seu João de Santo Cristo, ou seja, além de brincarem bem com a ideia, ousaram em algo não muito comum no Brasil, então quem sabe o que veremos mais para frente do diretor, pois canções com temas para filmagens é o que mais Renato Russo fez em vida.

Já que já falei sobre uma participação no filme, vamos falar um pouco mais sobre as atuações, pois a escolha do elenco foi impecável, afinal quando escutei a música mais novo nunca pensei em Alice Braga como Mônica, mas a atriz pegou o papel com uma vontade, com um estilo próprio e ousado, criando uma mulher cheia de vida, de vontades, de voos como diz o seu parceiro de cena, que a forma que ela deseja tudo é a cara completa da atriz, ou seja, a personagem foi aumentada com sucesso pela ideia que lhe foi entregue, e isso ficou muito bom de ver, sendo um grandioso acerto. Da mesma forma Gabriel Leone conseguiu ser tão representativo com seu Eduardo que precisei procurar mais fotos do ator que não lembrava dele nos outros filmes e novelas que fez, pois a equipe de maquiagem mudou tanto seu visual para parecer ter 16 anos que o ator virou outra pessoa, e como um bom ator achou muita personalidade e desenvoltura para divertir e cair bem no papel, agradando com sutilezas até meio bobinhas, mas muito bem encaixadas, dando show em cena. Ainda tivemos algumas cenas tensas provenientes de Otavio Augusto com seu Bira, colocando todo o ar turrão dos fanáticos pela época militar do país, que caiu muito bem na sacada do filme, e assim o ator foi bem no que fez. E claro tenho de falar de Victor Lamoglia que tem caído perfeitamente em todos os filmes que é colocado seja de protagonista ou de coadjuvante, e aqui seu Inácio é um misto de personalidades tão bem trabalhadas que diverte e agrada demais, sendo daqueles amigos que te levam pra lugares fora de base, mas que também são sua base para dar apoio em tudo, ou seja, saiu muito bem em cena.

Visualmente o longa também foi bem sacado, mostrando uma Brasília mais ampla do que apenas vemos, passando claro pela praça dos poderes, mas não ficando só ali, tendo festas claro com muita gente esquisita e performances estranhas, mostrando manifestações, tendo vários atos no atelier do pai da garota aonde ela mora agora com coisas bem diferentes, tendo claro os passeios de moto, de bicicleta (camelo como é chamada na cidade), alguns acampamentos na chapada, alguns elementos simbólicos no quarto do garoto como o futebol de botão, vários playmobil, e muito mais dando o tom jovial do garoto, o lance da faculdade, de trotes e tudo mais, entre muitos outros detalhes cênicos que conseguiram montar, mas o grande feitio foi a forma de fechamento do longa que criou um ambiente completo muito bonito e representativo para a canção completa, e para a vivência demonstrada na trama inteira, ou seja, a equipe de arte trabalhou muito bem e agradou demais.

O longa conta com uma trilha sonora de primeiríssima linha, contando claro com a música tema do filme em diversas versões instrumentais e cantada no final do filme, mas ainda tendo outras ótimas escolhas que entram nos mais diversos momentos, então vale deixar aqui o link de uma playlist que está quase completa para ouvirem depois. 

Enfim, é um filme que foi muito esperado, e que foi tão bem montado que acaba surpreendendo bastante por toda a ideia, e por não ficar um romance simples e bobinho demais, indo além da canção e funcionando bastante. Como disse não é algo completamente memorável, mas tem estilo, tem graciosidade e envolve bastante, funcionando tanto para rir, quanto para se emocionar com alguns atos, tendo sim defeitos, mas com muito mais qualidade do que tudo. Ou seja, recomendo a conferida com toda certeza para todos, e fico por aqui hoje, então abraços e até breve com mais textos.


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