Netflix - Inimiga Perfeita (A Perfect Enemy)

1/25/2022 12:59:00 AM |

Já disse isso algumas vezes, e volto a frisar que amo filmes que tenham reviravoltas surpreendentes, daquelas que nos pegam desprevenidos sem pensar de forma alguma na possibilidade final, pois é o suprassumo do trabalho de um bom roteirista, e consequentemente de um diretor, conseguir surpreender o espectador com dinâmicas, com histórias e principalmente com atuações na medida certa. Porém eu diria mais, que o escritor do livro em que o filme "Inimiga Perfeita", que entrou em cartaz hoje na Netflix, tomou alguns alucinógenos bem fortes para conseguir imaginar uma história completa dessa, pois não tem outra forma de tudo rolar e ser intenso e estranho ao mesmo tempo com algo tão bem feito. Ou seja, é daquelas tramas que você fica meio que sem entender durante a maior parte do filme, acha tudo muito confuso e estranho, mas quando o longa dá aquele tapa na cara e muda tudo, o resultado completo se transforma em algo tão genial e interessante, que até ficamos querendo mais, mas aí seria aquele tipo de coisa de ficar repetindo demais para entender, e acabaria ficando ruim, e sendo assim veja tudo, preste muita atenção e depois refaça tudo na sua cabeça, que o exercício fica bem bacana.

A sinopse nos conta que o arquiteto de sucesso Jeremiasz Angust é abordado em sua viagem ao aeroporto de Paris por uma garota tagarela chamada Texel Textor. Ela é uma jovem estranha que parece estar procurando por vítimas cativas que ela força a ouvir suas histórias estranhas. Jeremy perde o voo por causa de Texel e, uma vez instalados na área do lounge, ele não poderá se livrar da estranha irritante. Embora o encontro pareça fortuito, em breve haverá uma reviravolta que transformará o caráter daquele encontro em algo muito mais sinistro e criminoso.

O diretor Kike Maíllo foi muito sagaz no desenvolvimento da trama baseada no livro de Amélie Nothomb, pois o filme facilmente poderia cair em contradição com várias cenas, poderia estar lotado de furos de roteiro, mas conseguiu manter o mistério completo até o final com tantas histórias secundárias bem moldadas que em momento algum imaginamos a realidade de tudo, só ficamos intrigados com toda a entrega dos personagens, os motivos e tudo mais esperando a explicação, e quando ela vem, explode de vez com tudo, pois a construção que o diretor fez é plausível e muito completa, tendo estilo, tendo força, e principalmente tendo seriedade por parte de todos, o que dá a convicção para entrarmos no clima e compreendermos a ideia completa. Ou seja, é daqueles filmes que o escritor reza para cair nas mãos de um bom diretor, pois poderia virar uma completa confusão inacreditável, e o resultado desanimaria demais, mas muito pelo contrário do que ocorre aqui, pois como o protagonista sempre buscou a perfeição em suas obras, o diretor fez o mesmo com o seu longa, e raspou a trave de conseguir, pois alguns atos soaram irreais, mas felizmente não atrapalharam em nada.

Sobre as atuações, que dinâmica incrível teve a dupla de atores, pois ambos se entregam do começo ao fim, criaram as devidas dinâmicas, olhares e impactaram com muita sutileza, ao ponto de ficarmos tensos com tudo o que fizeram em cena, ou seja, foram perfeitos e diretos. Dito isso Tomasz Kot foi bem sério com seu Jeremiasz Angust, mostrou segurança em todas as cenas que precisavam de mais personalidade, e demonstrou um envolvimento que poucos atores fazem em dramas desse estilo, não dando brecha para erros, e o melhor fazendo com que queiramos ver mais coisas dele, e olhando sua filmografia vi que elogiei bem ele no polonês "Guerra Fria" e nem lembrava, ou seja, é um tremendo ator e foi muito bem em tudo. Athena Strates já foi daquelas que chega a irritar com sua Texel Textor, criando as nuances, rindo com uma força que chega a dar medo e raiva ao mesmo tempo, e tendo um temperamento tão marcante que ficamos surpresos com tudo o que faz em cena, ou seja, mandou muito bem também, e vale destacar também sua versão criança com Felizia Trube. Ainda tivemos alguns atos meio calmos, meio sombrios de Marta Nieto com sua Isabelle, mas sua personagem acaba sendo muito importante no fim, então a atriz caiu bem pelas expressões que doou para o papel.

Visualmente nas vezes que fui para alguns aeroportos me irritou um pouco o ar de nada, e aqui esse lounge aonde os protagonistas vivenciam todos os momentos é tão clean que chega a ser irritante também, mas como ali é apenas o ambiente para os protagonistas contarem as histórias, aonde vamos depois para casas, trailers, salas de balés, cemitérios, boates e tudo mais de uma forma bem simbólica, o aeroporto passa a ser apenas representativo, e acaba sendo muito show toda a movimentação dos bonequinhos na maquete, com as devidas marcas no chão e toda a encenação simbólica, ou seja, usaram e ousaram bem todos os elementos e arquétipos, para no final ainda voltarmos em algumas cenas e pensarmos em outras para que tudo se conecte de uma forma melhor ainda. 

Enfim, é um filme que nem esperava nada dele e parecia ser apenas mais um que eu tinha colocado aleatoriamente na minha lista pelas estreias que viriam, mas foi algo tão bom e surpreendente que vou indicar para muitos com toda certeza, pois faz valer o tempo de tela, e quem gosta de reviravoltas vai ficar bem chocado com tudo. E assim eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais pessoal.

PS: Até pensei em dar uma nota maior, mas algumas situações foram forçadas demais e não fluíram tão bem no miolo, mas é algo que facilmente beira a perfeição.


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