Netflix - Pieces of a Woman

1/09/2021 02:26:00 AM |

Diria que o lançamento da semana da Netflix, "Pieces of a Woman", traz sentimentos diferentes com a formatação da trama, com o estilo de atuação dos protagonistas, e até mesmo com a história que nos é mostrada, pois ao mesmo tempo que sentimos o peso de tudo o que está acontecendo com a protagonista, temos de pensar também em tudo o que está rolando ao seu redor, e isso é algo que não é simples já que envolve desde o sentimento de perda, quanto o de julgamento familiar, da sociedade, e principalmente um julgamento criminal rolando por algo que ela nem sabe se quer que aconteça, além de todo o conflito com o cônjuge que acaba rolando. Ou seja, como a tradução literal acabaria rolando, vemos vários pedaços da protagonista nos sendo entregues sem sabermos o que fazer para consolar ela ao menos no nosso pensamento, e isso é maravilhoso de ver principalmente pelas boas atuações que alguns nos presenteiam em diversos momentos, como é o caso da protagonista e de sua mãe na trama, fazendo com que o filme tenha um apelo dramático até que exagerado, e que certamente causará muito mais em algumas pessoas, porém extremamente funcional, e que agrada demais quem gosta do estilo.

O longa conta a jornada emocional de uma mãe que acaba de perder seu bebê. Diante dessa perda, ela terá que lidar com as consequências que seu luto tem nas relações com o marido e a mãe, lutando para que seu mundo não desabe por completo.

O premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó conseguiu imprimir sua marca de intensidade na trama da roteirista Kata Wéber, pois é inegável que é uma trama feminina, com um olhar bem feminino, e que o diretor felizmente soube enxergar isso e passar toda a dinâmica focada no luto da protagonista, e na sua forma de lidar com isso, mesmo estando no meio de um furacão de problemas, e com isso em mente ele até tentou abrir o filme para mostrar um pouco do sentimento do marido, da mãe da protagonista, e até outros envolvimentos secundários, e tirando a grandiosa cena em que a mãe da uma tremenda lição de moral na jovem protagonista, diria que o restante mesmo funcionando poderia ser eliminado para focar somente nela. Ou seja, vemos grandes cenas de introspecção, vemos cenas de conflitos de humor e de vivência, e até a dúvida de como seguir, como pensar na criança e em tudo mais, ao ponto que não precisamos ver a necessidade do marido como homem e suas traições e voltas com vícios, não necessitamos ver a mãe tratando a vida da filha como um comércio, e nem precisamos saber as opiniões secundárias para entender tudo o que está acontecendo, a forma que a jovem está sendo tratada e tudo mais, mas para dar um recheio optaram por mostrar tudo isso, e por incrível que pareça, tudo funciona bem. Sendo assim, não diria que veria facilmente o diretor levando tantos prêmios pela sua direção, pois ele abriu algo que não era necessário, mas já levou Veneza, e aparentemente está sendo citado por outras premiações, então é ver o que vai acontecer, e claro, conferir o filme, pois vale entrar na perspectiva dele (um homem) enxergando tudo isso de uma maneira bem crua e bela de ver.

Sobre as atuações eu diria que veremos com outros olhos todos os próximos filmes de Vanessa Kirby, pois já a vimos em diversos outros longas como apenas uma boa atriz, mas aqui ela se entregou de tamanha forma que sentimos o que a sua personagem Martha está sentindo, vemos através de seus olhares a agonia de mil pensamentos, e quando o marido lhe oferece uma moeda pelo seu pensamento nem dá para pensar em qual ela poderia dar já que está um turbilhão em sua mente, ou seja, com estilo, com precisão cênica e com uma desenvoltura perfeita ela se mostrou incrível, e não por menos também levou o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza, e agora é esperar as demais premiações, pois virão com certeza. Da mesma forma, diria que num primeiro momento pensamos que Ellen Burstyn está na trama como mero enfeite exagerado de homenagem que o diretor quis dar a ela com sua Elizabeth, afinal a experiente atriz já esteve indicada a 6 Oscar e levou um, além de diversas outras premiações, e aqui vamos seguindo ela meio que desacreditado de tudo o que está fazendo, mas em sua reunião familiar quando deslancha a falar sua história de vida como uma lição de moral precisa e direta, ela se mostra uma monstruosidade perfeita, e não bastando tudo o que fala para a filha, ainda vai e quebra toda a moral com o que faz com o genro, ou seja, perfeita demais para ainda ter um ótimo fechamento. É engraçado como um visual muda completamente um ator, e não reconheci numa primeira olhada Shia LaBeouf com uma vasta barba e touca no cabelo, e não apenas isso, pois seu Sean está com uma personalidade muito mais madura, ao ponto que o ator consegue chamar a atenção mesmo não indo tão profundamente no que o personagem precisava, e claro que seus atos são bem secundários para com a trama toda, mas tudo acaba sendo tão bem funcional que o resultado geral acaba agradando bastante. Quanto aos demais, foram todas apenas conexões e entregas para o roteiro, com leve destaque claro para Molly Parker como a parteira Eva que acaba indo a julgamento pela morte do bebê, e acaba levantando a polêmica discussão dos partos fora de hospitais, mas nem a atriz, nem a personagem acabam soando imponentes no contexto completo, ao ponto que poderiam ter trabalhado mais as cenas dela pós parto também para que o filme ficasse mais forte em outros sentidos.

Visualmente o longa também tem bons momentos com cenas em locações mais íntimas como a casa do casal simples, mas bem detalhada tanto para o antes do luto, como o que acaba virando durante todo o conflito, a casa da mãe da protagonista bem rica e com detalhes precisos para mostrar essa riqueza dela, mas principalmente o filme mostra o desenvolvimento da construção de uma ponte durante os vários meses que o filme se passa, colocando algo simbólico como o trabalha de se conhecer interiormente, há um momento de explicação sobre redundância das vibrações ao redor de uma ponte que acaba servindo também para reflexão de tudo o que está rolando ali, além claro da belíssima paisagem de inverno para dar todo o sentimento do frio, mas com o corpo da protagonista fervendo de dúvidas e sentimentos, ou seja, pode até parecer meio bobo toda hora mostrando os vários períodos da ponte, mas por trás disso além do trabalho do protagonista, vemos algo a mais de fundo para se pensar. E além disso ainda temos algumas cenas de tribunal, e de uma faculdade de medicina, ou seja, algo bem completo que a equipe de arte precisou trabalhar bem para encontrar as locações e montar tudo muito bem detalhado.

Enfim, é um filme longo, com partes que até poderiam ser eliminadas, e outras até mais desenvolvidas como é o caso da macieira ao final que até entendemos como um ato de construção, de uma boa germinação e de tudo mais, mas que acabam sendo corridos, enquanto outros que acabaram sendo usados como a traição, a festa do emprego, e as diversas cenas de nudez apenas serviram para encher um pouco a trama. Claro que muitos irão odiar o longa, por não ser algo tão direto e popular, mas é um filme reflexivo, com toda a pompa de festivais, e que envolve muito, e sendo assim vale demais a conferida, e recomendo com muita certeza para todos, mas principalmente para as mulheres, afinal o ato de botar alguém no mundo é mais sentimental para elas, e assim o filme vai trazer um pouco mais de sentimento nelas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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