Netflix - Abaixo de Zero (Bajocero) (Below Zero)

1/30/2021 01:39:00 AM |

O bom do cinema espanhol é que ele não se vê preso em poucos gêneros e gosta de sair misturando um pouco de tudo em suas tramas, ao ponto que vamos ver um filme de ação na neve, já colocam um drama, senão puxam alguma pitada cômica, encaixam algumas cenas de terror, e saem felizes e sorridentes com o resultado completo, e isso é bacana de ver por conseguirem esse feitio sem se perderem tanto, pois já vimos outros países que tentam essas loucuras e saímos da sessão sem entender nada do que vimos, o que raramente acontece com os espanhóis, pois isso é quase uma obrigação que você entenda tudo o que queriam mostrar, nem que tenham que desenhar no final. Dito isso, o lançamento da semana da Netflix, "Abaixo de Zero" é imponente pela desenvoltura de mistério colocado do começo ao fim, que quase que morre todo mundo e não ficamos sabendo o real motivo do personagem fora do caminhão da polícia querer matar todo mundo (ou alguém que esteja lá dentro), e que usando de tensão com muita ação, além de um frio tremendo, o resultado vai causando toda uma reviravolta tremenda, que ao final já estamos até com raiva de todo o jeito certinho do protagonista (até ele resolver a parada!). Ou seja, é um filme intenso e bem marcante, que até poderia ter ido mais além em alguns traquejos do percurso, pois em determinado momento o filme amorna demais, mas o resultado final agrada e faz valer todo o restante, mesmo que não seja daqueles filmes que a surpresa fizesse nosso queixo cair no chão.

A sinopse nos conta que no meio da noite, durante uma transferência de presos, um caminhão da prisão que transportava condenados é assaltado. O motorista então (Javier Gutiérrez) terá de se defender de quem está dentro e fora se quiser sair vivo.

Diria que o roteiro de Fernando Navarro tinha até mais nuances para serem trabalhadas do que o diretor Lluís Quílez acabou desenvolvendo, pois o filme começa com algo que nem chega a ser usado sobre a família do protagonista, pois do nada na cena seguinte ele já chega na delegacia e a família desaparece da história, e além disso, no miolo da trama tudo poderia ser mais intenso, as cenas causaram uma dramaticidade maior, vermos talvez cenas do passado para chamar atenção com tudo o que aconteceu, ver um pouco mais de brigas entre os detentos e o motorista, pois tudo acaba ficando intenso, e parece que desliga, para somente após a corrida entre os carros esquentar novamente, ou seja, o diretor não soube segurar a tensão necessária para que o filme convencesse completamente, e mesmo o resultado final tendo sido bem interessante, pareceu que faltou muita coisa na execução final. 

Sobre as atuações, já estamos acostumados com o estilão meio sério de Javier Gutiérrez, e aqui ele trabalha bem, mas não se impõe como poderia, e sendo o protagonista da trama acaba ficando em segundo plano em diversos momentos, o que é ruim de ver, mas seu Martin ao menos demonstrou um estilo de policiais centrados, que defendem até o último momento o correto das leis, e se talvez o diretor trabalhasse um pouco melhor seu personagem até apareceria mais, mas acabou ficando estranho. Já Karra Elejalde é daqueles atores que podem aparecer 10 minutos em um filme que já faz tudo se voltar para ele, e aqui seu Miguel é daqueles que querem vingança a qualquer preço, e que vai fazer de tudo para descobrir o que quer, ao ponto que vemos o ator se destacando demais em todas as suas cenas, e com poucos trejeitos marcando o território totalmente. Isak Férriz já puxou para o lado do policial que arruma tretas e brigas com seu Montesinos, fazendo cenas irregulares, dando nuances fortes e briguentas, e até se destacando em vários momentos, porém sua volta a cena após o roubo do caminhão foi meio jogada demais, mas como estamos acostumados com essas gafes em filmes de ação, está valendo tudo mesmo. Quanto dos presidiários, todos tentaram aparecer um pouco, alguns com poucas cenas e desenvolvimentos, cada um com sua história própria, mas acabam se destacando Luis Callejo com seu Ramis cheio de artimanhas, que fala demais e até se impõe bem, quase superando até o protagonista, e Patrick Criado com seu Nano por ser o objetivo do vingador, e assim o jovem acaba fazendo muitas loucuras, se desespera em diversos atos, e entrega boas cenas, valendo se mostrar com vontade de atuar.

Visualmente o longa é quase um road-movie se visto de fora do caminhão que vai passando por florestas cheias de névoas, estradas bem vazias, tendo um carro apenas passando entre a viatura e o caminhão, um animal no meio da floresta, e claro o lago e a cidadela destruída no final, mas se visto por dentro do caminhão vemos pequenas celas, vários elementos cênicos que serão utilizados na tentativa de fuga, e claro o ambiente prisional, aonde vemos o processo de revista e tudo mais, ou seja, é um filme que provavelmente nem foi filmado realmente dentro de um caminhão, mas conseguiram ambientar tudo muito bem para que todas as cenas fossem dinâmicas e funcionais, agradando tanto pelo ambiente em si, quanto pelos atos feitos. Além disso, tivemos bons figurinos de inverno, muitas cenas que passaram bem a sensação de frio, e claro que isso ajudou a dar o clima da trama junto de uma boa fotografia sob neblina e no escuro da floresta.

Enfim, é um filme interessante, mas que teve algumas falhas graves no desenrolar, pois amornou demais no miolo, e faltou um pouco mais de história para que tudo o que ocorre convencesse melhor, mas vale pela boa ação e claro pelas boas dinâmicas que o cinema espanhol sempre nos permeia, então quem gostar do estilo pode dar o play tranquilamente que vai ser um bom passatempo, e até vai dar uma certa tensão em alguns momentos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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