Netflix - O Tigre Branco (The White Tiger)

1/23/2021 02:25:00 AM |

A grande sacada do longa indiano da Netflix, "O Tigre Branco", é ele não parecer um filme que crie expectativas no público, parecendo entregar tudo de uma forma jogada, quase que em sua integralidade narrado pelo protagonista contando seu "case" de sucesso, e principalmente brincando com toda a ideia possível do que iríamos ver desde o começo, afinal já nos é entregue bem no comecinho algo impactante que quando voltamos no tempo já imaginamos o problema que vai dar, mas já deixo um leve sopro que não é o pior que irá acontecer, e assim vamos pensando nas possibilidades, em tudo o que o protagonista viveu, como ele nos mostra a cultura indiana, como tudo vai ocorrendo, e assim acontecendo, o resultado vai nos pegando e tudo vira de uma maneira brilhantemente sacada (embora bem errada de se pensar) que fecha com estilo tudo o que vimos durante toda a exibição. Ou seja, é daqueles filmes que conseguem nos cativar sem ser brilhante, sem ter uma tremenda história, mas sim pela coerência indigesta que é ver os fatos acontecerem, e principalmente por nos familiarizarmos tanto com o personagem principal e sua saga de puxa-saco imensa, que só não ficamos com dó dele por saber que como ele está contando a história em algum momento ele irá se dar bem. Além disso, o filme questiona muito a sujeira dos ricos e da política, então é algo que sabemos bem como funciona as coisas, e uma das últimas frases do longa é incrível: "O pobre só tem duas maneiras de chegar ao topo: pelo crime ou pela política", ou seja, veja e se inspire.

A sinopse é bem simples e nos conta a história de um ambicioso motorista indiano que usa toda a sua astúcia e sagacidade para escapar da pobreza e se libertar de sua vida de servidão a patrões ricos.

O diretor Ramin Bahrani foi bem esperto e dinâmico para adaptar perfeitamente a história de um livro de sucesso, e ainda incorporar uma dinâmica forte e persuasiva sem precisar ser nenhum pouco original, ou seja, ele usou de artimanhas clássicas do cinema para envolver e criar carisma com algo sujo e impactante, que acaba sendo preciso para o público, pois muitos se veem jogados as traças e não pensam, mas mostrar como alguém não fazendo bem o certo, mas sendo ousado consegue sair de sua casta ruim e crescer. Ou seja, o diretor usou artimanhas clássicas, brincou com o ambiente da história, e foi ousado o suficiente para que o filme tivesse quebras corretas de velocidade para nem ir direto ao ponto, nem ficar enrolando demais em cada ato, mostrando bem como é a vida de um serviçal na Índia, vendo os trambiques que pode fazer, conhecendo um pouco da política suja do país, e claro chegando ao final por meios imponentes que você até pensa que não irá rolar, mas como o jovem se autodenomina, ele é o único de sua linhagem, aquele que nasceu para ser diferente, o tigre branco, e aí acontece. 

Sobre as atuações é fácil dizer que o jovem Adarsh Gourav em breve será daqueles que veremos em uma tonelada de filmes despontando, pois ele tem carisma, tem bons trejeitos, e principalmente soube ser sutil nos atos de seu Balram, não sendo daqueles que saem se jogando no personagem, mas sim criando a postura e indo, fazendo tudo na medida correta, e isso acabou chamando muita atenção, mostrando uma boa personalidade tanto para o personagem, quanto dando uma versatilidade bem coerente nas cenas, e isso é o que todo bom ator sabe fazer com qualquer personagem, então guardem esse nome. Priyanka Chopra Jonas já está quase como a maioria das atrizes indianas com mil títulos por ano, sendo que em menos de um mês já estrelou dois filmes só na Netflix, e aqui sua Pinky pode não parecer importante dentro do ambiente fechado de mestres do protagonista, mas sua forma doce de tratar ele, e seu jeito de dizer conseguiu fazer mudar o jogo, e claro que a atriz sempre bem disposta chama a atenção com trejeitos e estilos, funcionando bem para o papel. Como fujo de muitos filmes indianos não conhecia Rajkummar Rao, mas pelo estilão dele deve fazer uma tonelada de filmes como galã, e aqui ele se pôs bem no meio do caminho entre ser o patrão bonzinho ou estragar tudo, de modo que o jovem ator trouxe para seu Ashok olhares secos e bem marcados e jogando sempre com estilo suas falas parecia estar em um teatro, o que poderia ser minimizado um pouco, mas não foi ruim de ver. Quanto dos demais atores, diria que combinaram bem com os personagens, e todos fazendo atos duros para com o protagonista acabaram chamando atenção nos seus devidos atos, desde a avó vivida por Kamlesh Gill, passando pelo patrão-mor Cegonha que Mahesh Manjrekar trouxe com muita personalidade, até chegar no capataz irritante Mangusto que Vijay Maurya fez bem, ou seja, não tivemos grandes destaques nos secundários, mas todos azucrinaram bem a vida do protagonista, e isso é o que importa para ele se tornar o que se tornou, ou melhor, para tentar ser diferente com as lições que aprendeu.

Visualmente a trama é uma grandiosa produção indiana-americana, que trabalhou bem as locações em Deli para os passeios nas ruas, mas que teve muitas cenas dentro de apartamentos e estacionamentos, então pode ser muito de estúdio, e o acerto visual foi bacana por ter bons elementos cênicos para cada ato ser representativo, além de irmos criando afinco com a vida que o jovem vai vivendo, desde a pobreza na pacata cidade interiorana das trevas como o protagonista a define, até os lugares mais luxuosos do país, tendo diversos contrapontos bem marcados, e claro que sempre o destaque com o carrão do patrão andando para todos os lados já que o protagonista é um motorista. Outra boa sacada foi na intensidade que a fotografia trabalhou todos os momentos felizes do jovem com iluminações claras, figurinos e ambientes bonitos, e nos mais tensos sempre diminuindo bem a luz, deixando quase escuro todos os tons e criando algo mais seco e bem montado.

Enfim, é um filme que vale bastante a conferida, que traz algumas lições não tão morais de serem seguidas, mas que consegue envolver e ser direto no ponto que era preciso para tudo funcionar, que certamente no livro deve ser algo mais surpreendente em alguns atos, mas que na dinâmica escolhida para retratar tudo no filme o resultado acaba funcionando bastante, e que mesmo tendo muitas falhas acaba sendo daqueles filmes que certamente lembraremos quando nos perguntarem um bom longa indiano para indicar, e que talvez apareça em algumas premiações, pois tem características que os votantes gostam de ver. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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