Dente Por Dente

1/29/2021 01:27:00 AM |

É bacana que quando vamos ver um longa de mistério geralmente ficamos tensos e/ou procurando desvendar o que aconteceu antes do protagonista, afinal todos temos um dedinho de detetive no nosso intelectual. E claro que não seria diferente com o longa nacional "Dente Por Dente", que felizmente mostra que o gênero também pode cair bem por aqui, pois inicialmente ficamos tentando entender os sonhos do protagonista, mas além de usar o dito popular que sonhar com dente caindo é morte de parente, o longa acaba fluindo para vértices mais tensos, e até denúncias de crimes contra a população mais carente. Ou seja, é um filme que tem uma essência misteriosa, e trabalha bem todo o conceito, porém houve um grande problema que ocorre em outros gêneros nacionais, o de conseguirem muitos artistas de renome, e tentar colocar todos eles em pauta para aparecer, e isso acaba fazendo com que o filme vire quase uma novela, aí entrou a sagacidade do diretor e quis cortar muitos momentos para que o filme fluísse rápido, e o que acabou acontecendo? Muitas coisas ficaram desconexas, e o resultado levemente confuso, mas ainda assim acaba sendo interessante e bem feito, valendo pela proposta completa, e talvez algumas leves mexidas faria dele um suspense perfeito.

A trama gira em torno de Ademar, sócio de uma empresa de segurança particular que presta serviço para uma grande construtora de São Paulo. Quando seu sócio Teixeira desaparece, Ademar começa uma investigação e, junto com Joana, mulher de Teixeira, percebe que o amigo estava envolvido em um esquema criminoso. A incansável busca de Ademar pela verdade é marcada por sonhos premonitórios assustadores.

Mas é sempre assim, estreias em longas geralmente fazem diretores desejarem mostrar um pouco de tudo o que acabou filmando, e aqui Pedro Arantes e Júlio Taubkin certamente desenharam um longa redondinho em cima do roteiro que receberam, e com isso o filme até tem boas nuances e cenas inteligentes para serem desvendadas, tem momentos com boas dinâmicas, e principalmente tem uma história bem contada, mas tudo acabou levemente mal montado exagerando nos sonhos e na narração do protagonista deles que acabaram se perdendo para onde deveriam ir, e como filmaram coisas demais, com atores bons demais, ficaram com medo de eliminar as cenas no fim, pois tanto Paolla Oliveira quanto Renata Sorrah entraram de enfeite no longa com o que sobrou da montagem final. Ou seja, não chegou a ficar ruim, mas o filme raspa a trave de não empolgar, e se olharmos a fundo o potencial dele era de ser daqueles filmes para ficar memoráveis, o que é uma pena não ter acontecido.

Sobre as atuações, sabemos muito bem o quanto o cinema nacional deve para Juliano Cazarré, pois tem feito excelentes longas, e sempre disposto a se soltar ao máximo faz de tudo um pouco para agradar e funciona bem em todo papel que lhe é dado, e aqui seu Ademar é imponente, tem estilo, fez cenas bem intensas com os dentes, mas tenho que reclamar de seu andar, pois ninguém anda parecendo que tá pisando nas nuvens de passinho em passinho, a cada cena que ele tinha um corredor para andar parecia estar em câmera lenta, ou seja, fez tudo bem, mas apelaram com ele para andar daquela forma. Aderbal Freire Filho de cara já entrega a personalidade de seu Valadares, então poderia ter segurado mais a onda, mas fez bons trejeitos ao menos. Paulo Tiefenthaler trabalhou bem as cenas de seu Teixeira, mostrando sempre alguns trejeitos culpados das cagadas que estava fazendo, mas ao final tudo fica bem mais claro, e agrada bem. Dentre as mulheres tivemos Paula Cohen fazendo uma Cristina interessante, mas que é usada muito pouco, tivemos Juliana Gerais como uma jovem de ocupação bem colocada, mas misteriosa demais que poderiam ter usado mais essa nuance, tivemos Paolla Oliveira apenas como elo de ligações, sendo a mulher do morto, filha do delegado e já sabendo o que poderia rolar no final sua Joana nem vai muito além, e claro Renata Sorrah que apareceu mais nos cartazes das obras do que como uma personagem mesmo, e assim sendo foi literalmente uma participação especial, ou seja, poderiam ter usado mais todas para criar algo a mais no filme.

Visualmente a trama foi bem densa, com locações marcantes em meio a prédios ocupados, contrastando bem com o luxo das obras das construções, tivemos boas cenas das mortes com a maquiagem forte da remoção dos dentes, sonhos bem intensos formatados do protagonista, mas meio estranho demais o bicho no final com um personagem magro meio bizarro demais (que até poderia ser o vingador de tudo, mas ficou parecendo um ser alienígena, e com isso não bateu muito, mas foi uma opção). Além disso o filme foi muito bem fotografado, com sombras em todos os momentos, muitos ambientes escuros para dar a tensão certa, e tendo até um ritmo meio diferenciado para tudo, o que acaba agradando bastante.

Enfim, é daqueles filmes que funcionam e ao mesmo tempo desandam, que tinha tudo para ser perfeito, mas que erraram demais em detalhes, e assim sendo até vemos uma boa densidade cênica, um mistério bem trabalhado, boas cenas de ação, mas tudo acaba não se encaixando da melhor forma possível, além de situações estranhas demais para agradar, e assim sendo até indico ele, mas com ressalvas demais, e talvez até diria que muitos vão mais reclamar do que ficar felizes com o resultado final, então fica a dica. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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