Amazon Prime Video - Uma Noite em Miami... (One Night In Miami)

1/18/2021 01:08:00 AM |

Sei que já reclamei no site muitas vezes de peças de teatro adaptadas para o cinema, já reclame muito também de primeiras direções de atores, e principalmente já reclamei muito de filmes que tentam passar uma mensagem como uma liderança deve agir, mas a junção das três coisas em um único filme foi algo tão imponente e gostoso de conferir, que a trama da Amazon Prime Video, "Uma Noite em Miami..." acaba sendo algo incrível, cheio de boas atitudes, e que trabalhando algo que nunca aconteceu, mas imaginado de uma maneira carismática e direta nos faz pensar como uma voz, uma pessoa, ou melhor o conjunto de bons elementos podem passar mensagens tão importantes para um grupo, que se todos usassem isso a um favor maior e benéfico não estaríamos nessa bagunça completa que é o mundo atualmente. Ou seja, é daquelas tramas que entregam algo até que bem simples, que de cara parece que irá mais cansar do que envolver, que não tem tanta movimentação e dinâmica, mas que resulta em algo tão bom de ser conferido, que as quase duas horas de duração do longa passam voando, e agrada demais, valendo tanto pela mensagem, quanto pelo conteúdo desenvolvido, que com atuações fortes junto de uma direção simples e certeira certamente fará com que as premiações, e até mesmo o público releve qualquer mero deslize e ao final tenha a vontade de aplaudir tudo de pé.

O longa nos situa na noite de 25 de fevereiro de 1964, e segue um jovem e impetuoso Cassius Clay quando ele sai do Miami Beach Convention Center como o novo campeão mundial de boxe peso-pesado. Contra todas as probabilidades, ele derrotou Sonny Liston e chocou o mundo dos esportes. Enquanto multidões se aglomeram em Miami Beach para comemorar a partida, Clay - incapaz de ficar na ilha por causa das leis de segregação da era Jim Crow - passa a noite no Hampton House Motel no bairro afro-americano de Overtown de Miami, comemorando com três de seus amigos mais próximos: Malcolm X, Sam Cooke e Jim Brown. Durante esta noite histórica, esses ícones, que eram cada um a própria representação do Movimento Pre-Black Power e sentiram a pressão social que sua celebridade cruzada trazia, compartilharam seus pensamentos sobre suas responsabilidades como influenciadores, levantando-se, defendendo seus direitos e movendo o país para a igualdade e empoderamento para todos os negros. Na manhã seguinte, os quatro homens emergem determinados a definir um novo mundo para eles e sua comunidade.

Diria que a estreia da atriz Regina King no posto de direção foi algo que passou acima de tudo, pois usando da simplicidade ela conseguiu abrir uma trama básica de uma peça teatral, e a ampliou com mais momentos bem encaixados, criou toda a ambientação possível, e ao criar uma boa movimentação dinâmica conseguiu levar a voz dos atores para algo mais brilhante e menos travado, pois vemos as lutas de Cassius, vemos os shows de Sam, e até vemos um pouco do ambiente pesado que Jim Brown e Malcolm X viveram em seus momentos, trabalhando cada ato sem precisar desesperar nem ir com algo lento demais. Ou seja, vemos dinâmicas precisas e eficientes, vemos cada ator podendo se expressar e aparecer sem desfocar o outro, e principalmente vemos toda a história funcionar apontando o racismo da época, a segregação, as perseguições, e claro a importância de cada um para o funcionamento do movimento, e isso mostrou não só a segurança da diretora, como também a eficiência dos protagonistas em seguir a linha que ela desejava mostrar, pois costumo dizer que ao mesmo tempo que uma mão de um estreante pode falhar, podemos ver também grandes atores saírem demais do rumo e atrapalhar a mão do diretor, e aqui a cumplicidade de todos foi colocada à prova, e o acerto foi completo para todos.

Sobre as atuações, o elenco estava tão afiado quanto as suas cenas que chega a ser até engraçado ver toda a interação entre eles, num misto de briga de amigos, com movimentações nervosas pelo apartamento, até chegarem a discussões amplas com olhares fixos mesmo sem estarem diretos, e assim vemos um resultado incrível de elenco, que agrada demais, e ajudaram o filme a fluir maravilhosamente bem. Dito isso, Kingsley Ben-Adir entregou para seu Malcolm X cenas com muito discernimento e persuasão, fazendo com que seus atos fossem ao mesmo tempo bem sérios, mas com personalidade, e isso é algo que engrandece qualquer atuação, e o resultado acaba sendo visto na tela. Da mesma forma Leslie Odom Jr. não só se entregou bem nos diálogos, como botou sua voz para jogo cantando todas as músicas que seu Sam Cooke faz no filme, que de início até pensamos que estava dublando, mas na sequência já vemos seus trejeitos funcionando, e ao final nos créditos vemos seu nome em todas as canções, ou seja, o jovem ator foi imponente do começo ao fim com uma personalidade marcante, mostrando a importância de sua voz, e claro seu jeito aonde o dinheiro falava mais com ele do que a mobilização, mas ao final vemos algo bem bonito, e o resultado funcionando. Eli Goree entregou um agitado e jovem Cassius Clay que chega a ser até divertido a forma dinâmica que faz, de forma que alguns até podem criticar e falar que chegou a soar exagerado demais, mas certamente lhe passaram como era ficar com a adrenalina a mil após vencer sua principal luta, e o ator foi coerente no que fez ao menos. E pra finalizar Aldis Hodge foi mais contido com seu Jim Brown, trabalhando mais um ar centrado, uma personalidade mais forte e serena, mas sem dúvida alguma sua principal cena ocorreu antes do encontro com os amigos, numa fazenda aonde o cara diz dar todo o apoio e falar que ele pode pedir o que quiser, mas ao se prontificar para ajudar a carregar um móvel, o mesmo apoiador fala que negros não podem entrar em sua casa... isso foi a ironia da hipocrisia de nível máximo, e o acerto no olhar do ator foi preciso demais. Quanto aos demais, foram bem encaixados, tivemos cada um dando seu auxílio para cada ato, com leves destaques para Joaquina Kalukango com sua Betty X cheia de preocupações com as declarações do marido, e Christian Magby pelo ar de fã que precisava ser contido como segurança.

Outro ponto que merece um bom destaque vai para o trabalho da equipe de arte que não foi preguiçosa como acaba acontecendo na maioria dos filmes vindos de peças teatrais, pois ao invés de se manter em um único cenário, tivemos cenas em shows, tivemos cenas nos ringues, tivemos cenas em três hotéis bem diferenciados para mostrar as várias possibilidades que os negros tinham de acordo com seus bens materiais, tivemos cenas numa casa de fazenda, na casa do protagonista, num show de TV, num baile no Copacabana Pallace, e claro a maior parte do filme em um quarto Hampton House Motel, com os protagonistas discutindo e fazendo suas reflexões, com uma saída para o terraço, mas praticamente tudo girando ali naquele ambiente com os elementos cênicos disponíveis, ou seja, embora tenhamos o palco montado para tudo em um único local, foram buscar diversos atos em outros locais, mostrando um bom trabalho de pesquisa, e que resultou em algo preciso e bem feito.

Como disse, um dos protagonistas botou sua voz para jogo e entregou ótimas canções de Sam Cooke interpretadas na trama, mas além dele, tivemos outras boas canções que deram um ritmo incrível para o filme, e claro que deixo o link aqui para todos curtirem depois de ver o filme.

Enfim, é um tremendo filme, com uma história muito boa, que muitos talvez não entrem no clima ou que não goste de um drama mais trabalhado acabem reclamando de algo, mas certamente é daqueles que valem demais a recomendação de conferida pelo tema, pelos personagens, e principalmente por ainda ser algo tão atual, e que mesmo não tendo sido real o encontro, a ideia geral com certeza foi bem usada por todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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