Norm e Os Invencíveis (Norm of the North)

4/04/2016 11:18:00 PM |

Olha elaaaaaaaaa!!!! Não é que Bollywood também resolveu atacar nas animações!!! Claro que ainda de leve, e em parceria com os EUA, eis que nos entregaram o infantil e divertido "Norm e Os Invencíveis", e usando de recursos que costumam funcionar bem como personagens secundários carismáticos para divertir, boas canções e uma ideologia ambiental de pano de fundo para convencer "um pouco" os adultos, a trama conseguiu agradar. Ainda não posso dizer que seja algo perfeito para todas as idades, pois o apelo exagerado de piadas bobas demais é capaz de deixar os adolescentes irritados, mas para levar os pequenos é uma boa e interessante opção, pois funciona e mantém os pequenos bem ligados no colorido e nas danças dos personagens.

O longa nos apresenta Norm, um urso polar do Ártico que não tem a menor vocação para a vida selvagem. Além do mais, ele domina uma estranha habilidade: a capacidade de se comunicar com os seres humanos. Quando o ecossistema da região onde vive é ameaçado pela especulação imobiliária na figura de um ambicioso empresário, Norm decide embarcar para Nova York na companhia dos “invencíveis” lêmingues para tentar impedir que o plano siga adiante.

Com toda certeza vão falar que o filme é um misto de diversas outras produções hollywoodianas, e isso é inegável, pois para os pequenos estúdios de animação começarem a aparecer, eles precisam copiar se basear em outros filmes, e geralmente as ideologias se assemelham. Aqui o grande feito do diretor Trevor Wall foi conseguir que os personagens principais tivessem um grande carisma (principalmente os lêmingues) e com isso sua história com lição de moral ecológica até que funciona para mostrar que o Ártico precisa ser cuidado (ou seria não povoado?). Pois é, ficamos com essa dúvida, pois em momento algum é passado a ideologia de preservação, apenas falam que não devem construir casas por lá, e se as geleiras quebrando a todo momento não for um bom motivo para isso, não sei qual outro motivo melhor seria em contrapartida de não ser atacado por um urso. Mas deixando esse furo de lado, a história é bobinha, porém entretém a garotada, que acaba dançando ao ritmo das três ótimas canções escolhidas para manter todo o ritmo do filme (em destaque "Geronimo" do Sheppard e "Shut Up and Dance" do Walk The Moon).

A dublagem de Tom Cavalcanti ficou diríamos que estranha na personalidade de Norm, pois tudo bem que o urso é meio comediante, mas ficou uma voz velha demais para um urso "jovem", além de colocar algumas expressões que não são mais tão usadas ("meu padim padi cisso" é algo que só no Norte falam ainda isso - pode funcionar como piada a parte, já que o urso é do Norte). E o vilão é esquisito demais para a voz comum que lhe deram também. Porém olhando os dubladores originais, certamente o filme pode ter uma versão diferenciada por parte de Rob Schneider e Ken Jeong. Além de que as texturas ficaram forçadas demais para um desenho, já que os personagens se esticam inteiro, como se não tivessem ossos (tudo bem que vale a brincadeira com os "invencíveis" lêmingues, mas o vilão é humano e não ficaria se movimentando igual uma cobra esticada!

No conceito gráfico da trama, já falei sobre os personagens que ficaram com texturas estranhas, mas o visual foi bem desenhado e colorido com cores bem chamativas para prender a atenção da garotada, então temos casas com muitos detalhes, animais de cores diferentes para não serem confundidos e efeitos gráficos até bem interessantes de acompanhar, mas é tudo muito batido para ser relevado, então o filme acaba cansando quem não tiver pouca idade.

Um adendo interessante que podemos notar aqui e que a galera fala "dublado não muda nada no filme!", veja o filme em um bom cinema e note que para dublar é necessário remover alguns pedaços do áudio original para colocar as novas vozes, então as canções do filme ficam em segundo plano, parecendo nem fazer parte do filme, o que é algo bem estranho de escutar. Então ouça e pense quando for falar isso novamente!!

Enfim, é um filme que até mostra potencial gráfico, e quem sabe em breve vejamos novas animações indianas, porém esse só vai realmente funcionar para os mais pequenos e quem estiver bem disposto a gostar de algo simples e copiado, mas certamente poderia ser bem pior, pois ainda mesmo com todos esses defeitos é possível ter diversão com ele. Ou seja, recomendo o longa somente para levar os pequeninos, e ainda assim é capaz de que ele não segure tanto a criança. Bem é isso meus amigos, encerro essa semana cinematográfica aqui, mas volto em breve com novas estreias, então abraços e até breve.

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Visões do Passado (Backtrack)

4/03/2016 09:34:00 PM |

Uma coisa certa de se falar sobre o gênero suspense, é que os roteiristas não andam muito criativos para com suas histórias, usando de artifícios já vistos em diversos outros longas, e colocando um ou outro ponto para que sua trama se saia "original". Digo isso não por reclamação, mas já vimos tantos filmes com a mesma base de alguém que se comunica com mortos para tentar resolver algo do passado que só com brilhantes atuações e uma boa tensão para segurar o espectador. Felizmente "Visões do Passado" se encaixa nesse quesito, e a trama consegue, mesmo que repetindo diversas vezes a mesma cena somente mudando alguns elementos conforme o protagonista vai lembrando mais detalhes, nos segurar e ir conduzindo bem todo o desfecho criativo do caso. Claro que é um filme bem feito e interessante de assistir, mas bem longe de acreditar nas possibilidades mostradas, e mais ainda se conectar com algo passado, porém é possível sentir aqueles arrepios frente à todo suspense criado com os personagens secundários.

O psicólogo Peter Bower e sua esposa decidem retornar a Melbourne, na Austrália, lugar onde se conheceram, para tentar começar uma vida nova e deixar o evento traumático que marcou suas vidas para sempre no passado: a morte de sua filha de 12 anos em um trágico acidente. Uma vez instalados na cidade, Bower recebe a ajuda do Dr. Duncan, que realiza uma triagem de pacientes e os encaminha para o consultório do psicólogo como uma forma de Bower retornar ao trabalho mais facilmente. Quando tudo parecia se acertar, quando a vida parecia voltar aos trilhos, Bower descobre um terrível elo entre alguns de seus pacientes que o obriga a retornar a sua cidade natal e a confrontar um dilema que só ele pode solucionar.

Não digo que a ideia do diretor e roteirista Michael Petrino seja algo 100% sem criatividade, pois temos boas simbologias e timings interessantes dentro do desenvolvimento completo da trama, principalmente quando usou os trejeitos dos pacientes com o que ele tem de suas memórias, já que isso é algo que já foi bem provado por estudiosos, ao dizer que assemelhamos melhor aquilo que já vimos alguma vez na vida. A ideologia da trama é bem feita, e os sustos acabam vindo pela forma que o diretor opta em trabalhar sua câmera, então de suspense quase o longa vira um terror aliado também à boa maquiagem dos personagens secundários. Porém, assim como ocorre na maioria das traduções de nomes no Brasil, logo de cara conectamos tudo o que está acontecendo com o protagonista, juntamente claro com o que é dito lá pela quarta cena, pois originalmente a trama se chama "Backtrack", algo como retroceder, ou relembrar como numa sessão psiquiátrica mesmo, não sendo traduzido ao pé da letra, e aqui já colocaram de cara que eram visões do passado do cara, ou seja, já vamos esperando e sabendo que aquilo ocorreu em determinado momento da vida do protagonista. Não digo que é ruim saber isso, mas talvez o choque de algumas cenas, já que o diretor não foi tão omisso, seria mais impactante. Mas se deixarmos quieto essas considerações sobre o nome já revelar parte da história, o filme acaba saindo denso e bem interessante, principalmente com a revelação final da trama, que é bem fora de qualquer coisa que possamos ter imaginado.

Para um bom suspense funcionar é necessário que o protagonista nos convença de seus medos, de sua curiosidade e tudo mais, e Adrien Brody foi bem competente com essa missão, trabalhando por oras um semblante próximo do desespero máximo de não querer retomar seu passado, mas precisar disso para não ficar louco, claro que as pistas entregues foram bem superficiais, mas ele trabalhou bem expressões e virtudes dignas de um bom detetive e usando seu "dom" acabou sendo coeso com tudo e agradou bastante com seu Peter. As expressões de George Shevtsov como William deixaram um ar muito estranho desde a chegada do filho na cidade, não parecendo bem uma relação de pai e filho, e isso poderia ter sido melhor explorado, tanto pelo texto, quanto pelo ator que amarrou sua face e foi assim com ela até o final, ou melhor mudou na sua última cena um pouco, mas ainda assim manteve o contexto geral do personagem. Robin McLeavy até trabalhou bem sua Barbara, mas suas ligações foram tão mal forjadas quanto o momento que o envelope que está procurando se mexe sozinho, tudo bem que estamos falando de um filme com conteúdo espiritual, mas aquele momento foi piada demais, e sua saída da cena final também ficou falsa demais, ou seja, a atriz até poderia ter ido bem, mas o diretor não queria que ela agradasse, e só colocou cenas estranhas para seu lado. Quem não ligar os pontinhos do personagem Duncan de Sam Neil logo na sequência da revelação de toda a história, realmente não conhece os toques mágicos do gênero, pois na sua primeira aparição já é falado algo do estilo, e depois tudo se encaixa perfeitamente, ao ponto que o ator só precisou segurar o ar expressivo mais uma vez e jogar toda a cena para seu lado mais denso que agradou tanto como amigo, como bom elo de ligação. Chloe Bayliss falou pouco como Elizabeth, mas se expressou com tanta firmeza que conseguiu assustar o público em diversos momentos com suas aparições repentinas, além de trabalhar bem o visual e o semblante sempre desesperado para contar algo para o protagonista, de modo que posso dizer que a jovem tem futuro nesse gênero. Agora não sei se foram cortadas muitas cenas de Jenni Baird como Carol, pois receber cachê para dizer duas palavras e dormir o restante do tempo é algo muito fácil de fazer, e olha que a jovem é muito bonita e agradaria bem na produção.

Sobre o contexto visual da trama, o que posso dizer logo de cara é que as escolhas foram extremamente precisas, com trens passando a todo momento no consultório, o que vai servir bem para as cenas seguintes, consultórios estranhos e sujos, aparentando até ser uma época fora da linha do tempo atual, uma cidadela simples, e tudo bem colocado para se referenciar ao acontecido, ou seja, a equipe se prezou em segurar bem as pontas para que a amarração cênica ficasse toda dentro do contexto do filme, evitando elementos cênicos simples na segunda parte da trama, mas jogando bem com números e letras na primeira parte para que o público descobrisse junto do protagonista o que toda aquela ligação significava. A equipe de maquiagem também trabalhou muito bem para criar os fantasmas, e principalmente uma excelente cena de catástrofe junto com a equipe de efeitos especiais, de modo que o longa não decepciona nenhum grande blockbuster do gênero, mostrando que a Austrália também pode agradar nesse estilo. E claro, como temos muitas cenas no escuro, principalmente dentro da floresta, a equipe de fotografia soube dosar a tensão certa com pouca iluminação, usando bem os efeitos necessários para dar realce somente aonde desejavam mostrar, e criando assim o clima certo.

Enfim, é um filme muito bem feito, que agrada na medida certa, mas que certamente poderia ser daqueles de sairmos da sessão aflitos com o conteúdo total, se não fossem simplórios demais em alguns momentos e também deixassem a criatividade fluir um pouco mais nas conexões, mas de modo geral o resultado é bem interessante e envolve o público, criando uma boa tensão, e só por isso já vale ser bem citado dentro do gênero, então com toda certeza recomendo ele para quem gosta do estilo, que não irá se decepcionar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda falta uma estreia dessa semana para conferir, então abraços e até breve.

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Casamento Grego 2 (My Big Fat Greek Wedding 2)

4/03/2016 02:13:00 AM |

Muita gente costuma não gostar de continuações, principalmente quando o original aconteceu há muito tempo. Mas quando conseguem pegar todos os atores originais e claro dar sentido para uma continuidade, acho até que bem válido, e geralmente o resultado costuma agradar bastante. E é isso que nos é mostrado em "Casamento Grego 2", pois apenas inserindo alguns novos personagens, o filme seguiu a mesma linha, os mesmos estilos de piadas, as mesmas conversas, e assim sendo, quem gostou do primeiro filme, irá gostar desse segundo, já que não temos praticamente novidade alguma para contar. E essa falta de pegada que era "o dilema" do primeiro filme acabou sendo deixado de lado aqui, o que pode acabar deixando alguns reclamando do que irão ver.

A história nos mostra que Toula e Ian continuam juntos e passam bastante tempo tentando compreender a problemática filha adolescente. Quando o casal descobre que uma união de sua família nunca foi oficializada pela religião, todos os Portokalos se reúnem para mais um grande casamento grego.

Em hipótese alguma, caso me perguntem se é um filme ruim, vou responder que é, pois o filme é gostoso de acompanhar, mas retrucaria com a seguinte indagação: é um filme que mereceria uma continuação? E aí com certeza a resposta seria outra, mas como produtores são bichos que só pensam em dinheiro, e o primeiro filme ainda continua sendo uma das comédias românticas de maior bilheteria mundial, é claro que algum dia dariam sequência para a trama. O que ficou parecendo é que Nia Vardalos não teve uma inspiração muito criativa para o papel que lhe estourou nos cinemas, e reescreveu a história mudando apenas o foco de personagem, claro que sem ter a quebra da barreira enfrentada por ter uma pessoa diferente da família sendo introduzida, mas alguém de lá de dentro quebrando as regras da família. E junto de um roteiro simples, Kirk Jones não teve ousadia para criar uma comédia romântica mais efervescente e entregou o básico para que as pessoas que forem assistir riam de determinados momentos, suspirem em outros, mas que vão sair da sala falando "nossa, é só isso mesmo?". Não sei se existe a ideia de fechar a trama com algum estilo de quebra para uma trilogia com o casamento da garota com alguém bem diferente (seria bacana aparecer com um africano, para ver se como os Portokalos reagiriam), mas se não houver, poderia dizer que apenas fraquejaram demais, deixando extremamente leve a continuação depois de 14 anos.

Sobre as atuações, o que é completamente notável é que em 14 anos, muitos personagens mudaram completamente seu estilo de atuar, outros parecem que dormiram no formol, mas todos possuem ainda a mesma química gostosa familiar de se ver, e só isso já valeria um grande reencontro, mas como disse acima, uma criatividade melhor chamaria muita atenção. Nia Vardalos além de voltar assinando o roteiro, retorna com sua Toula, e se em 2002 fez um papel de uma "jovem" com 40 anos de idade real, agora com 54, o papel de mãe lhe caiu melhor e mais maduro (embora na trama tente passar ter menos idade), porém aparentou um pouco perdida na trama, o que é algo estranho de se ver, já que ela própria criou a personagem, mas pode ter sido algo da edição, ou algum estilo de mudança que desconectou o personagem dos holofotes principais da trama. Se no primeiro filme, John Corbett era o protagonista diferentão, aqui ficou apenas como um secundário jogado como diretor da escola da filha e que até faz bons trejeitos com seu Ian, mas sofreu do mesmo mal que Nia, e o papel dele nem chegou a ser explorado para que pudesse chamar atenção. Agora sem dúvida alguma o charme claro da trama ficou por conta de Michael Constantine com seus 89 anos e Lainie Kazan com seus 76, abrilhantando os ressentimentos do casal Gus e Maria ao descobrirem não serem casados oficialmente, pois ambos mostraram que após um longo tempo o casamento pode até perder o charme, mas é nos detalhes que um mostra o quanto ama o outro, e ambos souberam transmitir ótimas expressões de carinho e convivência. A jovem Elena Kampouris trabalhou bem, mas sua Paris mereceria um destaque maior na trama já que ela seria o novo dilema da familia, como disse acima pode ser que inventem um terceiro filme para que ela seja o destaque (vão ter de correr caso isso ocorra, pois Constantine já está certamente no fim da carreira, e seria um agrado e tanto na trama), porém a garota mostrou que tem dinâmica e bons trejeitos para quando necessitou mostrar serviço, o jeito é aguardar um papel melhor. Dos demais, cada um teve leves participações, sem destacar quase nada de cada um, afinal são gregos demais para falar, e dar voz a todos é algo que nem numa grande série conseguiriam, mas outro ponto que acabou jogado demais foi o relacionamento homossexual na família que até agora estou me perguntando o porquê de terem colocado algo que daria para falar mais apenas como um relance.

Sobre o visual da trama, basicamente tiveram de refazer ao menos as fachadas originais do primeiro longa, e só, pois usaram rapidamente algumas cenas na escola, duas cenas de festa, bem trabalhadas (uma num quintal, e outra na escola, porém ambas bem fechadas nos enquadramentos para não gastar muito com elementos cênicos), alguns passeios em diversos lugares clássicos de casamentos, para pegar detalhes de como é caro fazer um casamento, e uma igreja cheia de figurantes, ou seja, novamente economizaram bem nos custos artísticos, e certamente vão obter um bom lucro com isso. Porém poderiam ter abusado mais de cenografias em algumas locações para mostrar mais da vida dos protagonistas. A fotografia também não quis ousar em nada, trabalhando apenas algumas nuances mais simples para dar o tom leve de boas comédias românticas e assim agradar sem abusar do espectador, mas nas cenas mais simbólicas poderiam ter esquentado um pouco o clima que agradaria mais com certeza.

Enfim, não é um filme ruim, tão pouco algo que valha realmente a pena ser visto, ficando um pouquinho acima do mediano, por ter uma produção bem feita e digna de uma continuação, mas por ser leve demais, vai ser daqueles que vemos melhor numa sessão da tarde comendo um bolo do que sentado na poltrona de um cinema. Então só recomendo ele para quem realmente gostou muito do primeiro e gosta de filmes bem levinhos, senão a chance de achar que não viu nada a mais vai pesar mais do que o comum. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais estreias, então abraços e até breve.

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Zoom

4/02/2016 02:38:00 AM |

Como é gostoso quando saímos da sessão de um filme vibrando com o que acabamos de ver! E melhor ainda quando podemos dizer que o filme que vimos é algo feito por pessoas de nosso país, com um elenco internacional perfeito que conseguiu trabalhar a essência completa da obra e ainda nos envolver de tal forma para que pudéssemos colocar o longa no topo de nossas opiniões sobre longas nacionais. Digo isso com todas as palavras, pois "Zoom" é daqueles filmes que nos conectam cena a cena, interligando a história com uma maestria única tanto de roteiro quanto de direção que não parece que estamos vendo algo comum, mas tudo é simples, bem feito, e claro, muito diferenciado do óbvio, o que revigora o estilo e mesmo parecendo que já vimos diversos outros longas do estilo, acabamos abismados com tudo e impressionados com a possibilidade de que sozinhas as histórias já funcionam bem e juntas acabam sendo melhores ainda.

O filme conta simultaneamente três histórias: Emma decide investir suas economias em um implante de silicone, que dá errado. Sem dinheiro para remover os implantes, ela vai achar um meio – mesmo que ilegal – para voltar atrás. Edward, vaidoso cineasta canadense, precisa refilmar o final de seu filme de arte e, inexplicavelmente, começa a ter graves problemas sexuais. E Michelle, modelo brasileira que vive no Canadá, volta ao Brasil para escrever um livro e quebrar seu bloqueio criativo, mas sem querer, fica presa entre seus dois mundos.

Já havia elogiado o trabalho de Pedro Morelli no seu longa "Entre Nós" , e aqui ele voltou a mostrar ser um dos grandes diretores alternativos da atualidade, digo isso, pois a maioria dos grandes nomes andam fazendo somente comédias por aqui, e um ou outro drama espaçado que não procura trabalhar frentes diferenciadas, e aqui o diretor soube misturar os estilos tanto de interpretações, quanto de situações e ainda inseriu uma animação em rotoscopia no meio, ou seja, algo genial de se ver e se já teve dois grandes acertos em dois longas, com toda certeza ficarei bem curioso para o que apresentar daqui para frente. O trabalho que Pedro faz é algo muito sutil de se ver, pois ele trabalhou bem a ótima amarração do roteiro do estreante Matt Hansen e foi consolidando cada situação, de modo que até poderíamos querer ver mais conflito entre as três histórias, mas longe dessa perspectiva que ocorre bem rapidamente no último ato (em algo muito bem feito e coeso de se ver), as tramas se desenvolveram tão bem sozinhas que até poderíamos dizer que o filme é um composto de três médias-metragem, mas que se interligando entre si, e principalmente, ao notarmos que um está contando a história do outro, acabamos nos prendendo tanto no contexto completo da história única que esquecemos de tudo o que possa estar acontecendo ao redor, não nos incomodamos com o estilo um pouco sujo de envolver de certo modo o mundo erótico atual, e finalizamos a trama com a grande vontade de aplaudir tudo o que vimos, ou seja, uma perfeição completa de história, forma de dirigir, e boa sintonia de montagem com interpretação dos artistas.

Outro ponto que me deixou muito feliz com o filme é que quando estamos com os personagens brasileiros no Brasil, eles falam o português, nossa língua, o diretor é latino e fala inglês com sotaque, e os demais personagens que são americanos/canadenses falam inglês, como se deve ser em qualquer cultura, ou seja, o filme é uma mistura de diferentes línguas e que funcionam perfeitamente, mesmo tendo sido filmado boa parte aqui na nossa terra. Vou começar falando pela atuação mais difícil, a de Gael García Bernal, pois além de fazer com que seu personagem Edward fosse expressivo, ele teve de ampliar todos os seus trejeitos para que a câmera especial captasse bem seus traços e depois convertesse para animação através da técnica de rotoscopia, e ficou muito interessante a forma que trabalhou, colocando em tese toda a simbologia que ocorre com grandes diretores de filmes de sucesso, quando resolvem fazer um longa mais alternativo, e acabam broxando fronte aos grandes executivos que esperam mais deles, e com isso em mente, o ator fez ótimas nuances que agradaram muito visualmente, e mesmo sendo um desenho, todos o reconhecerão frente ao talento que passou para o personagem. Mariana Ximenes além de linda é uma atriz talentosíssima, e sua Michelle conseguiu mostrar tanto ambiguidade quanto destreza em estar determinada a fazer seu livro, e ao desconstruir seu estilo, a atriz soube dosar naturalidade para com a forma de vida escolhida pela personagem, o que mais para o fim do filme vamos entender tudo, e ficar mais feliz ainda com suas escolhas. Alison Pill trabalhou semblantes ao mesmo tempo confusos e contraditórios para com sua Emma, de modo que sua conivência frente a ideologia de tanto querer peitos grandes e logo em seguida não querer mais ficou diria que um pouco jogada, mas volto a dizer que tudo é entendível após o fechamento da história, e dessa maneira também acabamos gostando do jeito duvidoso da atriz interpretar, e acabamos até ficando com certa pena de Emma ter esse jeito abobalhado. Falei dos três protagonistas, mas de modo algum posso esquecer dos três atores secundários de cada história, que fizeram grandes conexões com os protagonistas, principalmente Tyler Labine que inicialmente seu Bob possui uma personalidade bem clara e com a mudança de ideia da autora de sua história passa a ficar muito diferente e consegue quase que chamar a atenção de sua frente completamente para si, ou seja, mostrou uma ótima dinâmica interpretativa frente à responsabilidade que ganhou. Também é bacana falar que mesmo com poucas cenas, Jason Priestley, entregou para seu Dale algumas nuances claras frente ao intuito de criar referência em cenas de ação, e mostrando trejeitos fortes na face conseguiu trabalhar a ideologia que o personagem pedia. E quem conhece bem como co-diretores agem na ausência dos diretores, vai se divertir muito com tudo o que Don McKellar faz com seu Horowitz, pois o ator está hilário nas situações que faz, mesmo também aparecendo bem pouco. Os personagens terciários foram pouco usados, mas agradaram também, então valem ao menos a menção honrosa para Cláudia Ohana, Michael Eklund e Jennifer Irwin.

Sobre o contexto visual da trama, desde a fábrica de bonecas sexuais realistas, aonde elementos daquela trama foram bem colocados, juntamente com a escolha por como arrumar dinheiro "fácil" foi bem criada dentro do que desejavam conseguir transmitir. No outro plano, o visual afrodisíaco de um paraíso natural, concebido com toda a ideia do pecado junto do incentivo criativo para a criação de um livro recaiu bem na história de Michelle. E usando de cores fortes e traços incríveis, deram uma simbologia tão bem feita para a animação em rotoscopia (que falei tanto no texto, mas não expliquei o que é, então vamos lá: é o processo de filmar pessoas e depois usando softwares de computação converter as imagens para desenhos, aonde artistas colorem manualmente cada detalhe dando novas perspectivas digitais) que cada elemento do cenário passa a ser incrível visto pelo ângulo tanto das pessoas que estão ali vivendo, quanto para cada momento da trama, usando também diversos elementos cênicos sexuais para criar a história, o que deu um charme diferenciado para uma animação. E tudo isso foi concebido com uma direção de fotografia completamente pautada nas sombras e contornos de cada ato, tanto para dar realce na animação (criando traços firmes e bem bonitos de ver), quanto nos planos reais, aonde os personagens principais saltavam quase do ambiente para que vivêssemos junto suas histórias. E aliado à tudo isso, usaram bem os efeitos especiais para mixar as três histórias, dando criatividade contextual para mudar de desenho para texto e de texto para real e de real para desenho, ou seja, um luxo que poucas equipes parariam para criar.

Não bastasse todo o trabalho bem feito pela técnica e artistas, a equipe sonora ainda criou bons ruídos e trilhas para que juntas formassem uma sonoridade de ambiente viva e bem dinâmica para o filme, ou seja, tudo encaixando e rodando com fluidez, para que ninguém cansasse com o que estava vendo, e ainda combinasse com cada momento.

Enfim, confesso que fui preparado para ver algo diferenciado, mas não imaginava o quanto esse diferenciado iria me agradar, ao ponto de falar que tenho um novo filme para chamar de preferido dentre os nacionais, e com isso ir criando uma pequena lista do hall dos melhores que já vi dentro de nosso cinema. Portanto, deixe qualquer preconceito em casa, e vá conferir essa ótima produção Brasil/Canadá que mais do que recomendo, desejando uma excelente diversão para todos que forem conferir e que assim, de boca em boca, o longa tenha uma grande bilheteria, pois merece muita atenção. Claro que é um filme não muito comum, e vai causar uma certa estranheza em alguns que preferem comédias mais leves ou suspenses mais tramados, mas se dê ao luxo de conferir algo diferente do usual e prepare-se para conhecer um lado novo que é bem interessante. Bem é isso, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais uma estreia, então abraços e até breve.

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Voando Alto (Eddie, The Eagle)

4/01/2016 01:07:00 AM |

Olha, se você for algum diretor e roteirista e quer agradar o Coelho, faça filmes sobre esportistas, pois vai ser difícil (só se destruírem tudo mesmo) não gostar do que irei ver na tela, se arrepiar com os momentos finais (mesmo sendo sempre clichês ao extremo), e vibrar/emocionar com o acerto (ou até mesmo o erro) que o protagonista conseguir fazer na tela. E "Voando Alto" além de conseguir trabalhar bem o âmbito motivacional que todo filme do gênero deve fazer, baseou-se a história real de um atleta disposto à competir uma Olimpíada num dos esportes mais malucos que é o salto de esqui, pois vamos falar sério, só malucos realmente saltam de uma plataforma de 90m de altura à mais de 110km/h voando no ar por vários segundos até ter seu belo pouso na neve! E trabalhando bem a personalidade persistente do protagonista, e mostrando ângulos bem interessantes de ver (usando o recurso que usam realmente nas Olimpíadas hoje), o filme cria tensão, tem boa dose de comicidade e agrada bastante. Claro que muitos vão reclamar do excesso de clichês, mas isso só vai incomodar mesmo quem não for fã de longas esportivos, pois o restante vai vibrar na maioria das cenas.

O longa nos mostra que com o sonho de participar dos Jogos Olímpicos, Eddie Edwards contava com poucas chances e muitos problemas: não tinha ninguém que o financiasse e, principalmente, enfrentava um problema na visão que o obrigava a usar óculos de grau por baixo dos óculos de proteção. Além disto, passou boa parte da infância tendo que lidar com problemas no joelho. Ainda assim, a paixão pelas Olimpíadas fez com que ele tentasse todo tipo de esporte. Eddie não queria ganhar uma medalha, mas simplesmente participar do evento. Até que, após ser dispensado da equipe de esqui, percebeu que teria uma chance na categoria de salto sobre esqui, já que a Grã-Bretanha não possuía uma equipe no esporte há décadas. Para conseguir a tão sonhada vaga nos Jogos Olímpicos de 1988, ele conta com a ajuda de Bronson Peary, um ex-esportista que enfrentou problemas de disciplina em sua época de atleta.

O ator inglês Dexter Fletcher não é muito conhecido, afinal geralmente faz papéis secundários em diversas produções, e até possui outros dois longas como diretor, mas agora com um filme mais dinâmico e com foco claro no que desejava passar (que é toda a questão motivacional de nunca desistir, e persistir para alcançar seus sonhos/metas), ele provavelmente passe a ser mais notado, pois soube trabalhar bem com sua câmera, colocando ângulos pouco usuais e que deram uma perspectiva maior para o roteiro dos estreantes Sean Macaulay e Simon Kelton, pois a história em si, embora seja bem focada e desenvolvida, possui poucos momentos marcantes na trajetória, porém ao ser dinamizada pelas ótima cenas de ação que o diretor optou por trabalhar (muito usada agora com os novos recursos de câmeras potentes leves e que os esportistas andam usando para gravar melhor as expressões de seus saltos), o filme simplesmente decolou e arrepiou a cada nova descida do protagonista pela rampa. Claro que poderia reclamar demais da falta de elos mais fortes na trama, para que tivessem reviravoltas, pontas para refletirmos e tudo mais, mas aqui o diretor e a equipe de roteiristas foram coesos no único fato que importava: a alta vontade de Eddie competir em uma Olimpíada, não precisando ganhar nem nada, mas querendo estar lá fosse até para uma partida de par ou ímpar, e isso foi completamente bem passado e agrada demais.

Wolv... ops, digo Hugh Jackman está desesperado para tirar o mutante de suas interpretações, e tendo mais um longa para cumprir de seu contrato, vai tentar mixar diversas produções completamente diferentes em seu currículo para que o público pare de chamá-lo pelo nome do mutante, e aqui seu Peary, embora ainda mantenha todo o estilo canastrão que estamos acostumado a ver ele interpretar, conseguiu mostrar uma tentativa simpática de fluidez e garra para o seu personagem, claro ainda foi algo muito próximo e ele fez bem, mas queremos ver logo uma performance que realmente pudéssemos chamar de diferenciada, afinal ele é um bom ator, e certamente sabe fazer outro tipo de personagem. Taron Egerton é daqueles atores bem interessantes que sempre temos de estar atentos à tudo que venha fazer, pois consegue unir personalidade nos trejeitos e criatividade para não cair sempre no usual, e seu Eddie é único, com expressividade determinante e vontade própria para agradar mesmo que para isso caia quantas vezes forem preciso, além de que aceitou se "enfeiar" para ficar idêntico ao verdadeiro Eddie na época da Olimpíada, de modo que ao mostrar as fotos no final da época que o jovem competiu, fica difícil saber se não foram fotos produzidas ou se são reais mesmo devida a alta semelhança, e sendo assim ele já detonou em "Kingsman" no ano passado, começou bem esse ano, e vamos aguardar o que vem nos seus próximos trabalhos que não são poucos. A dupla formada por Jo Hartley e Keith Allen funcionou bem como os pais de Eddie, Janette e Terry, sempre mostrando doçura e robustez se contrapondo para que o jovem ficasse preso e ao mesmo tempo focado com o que desejava, ambos usaram bem de expressões tradicionais e agradaram. Iris Berben também soube ser charmosa nas poucas cenas de sua Petra, e certamente foi uma mulher marcante na vida do jovem, para que fosse inserido tantas cenas suas no filme, pois o foco da trama certamente não era de sua vida como empregado do bar, mas a atriz agradou e fez a personagem ter um simbolismo bem interessante. Embora cada um tenha apenas duas cenas marcantes, Edvin Endre e Christopher Walken conseguiram marcar elas de forma bem crucial com seus Finlandês Voador e Warren Sharp, e sendo assim valem o destaque juntamente com Jim Broadbend sendo tão impactante como um narrador esportivo que tantas vezes vimos em programas esportivos, ou seja, um elenco determinado a agradar, mesmo que em poucas cenas.

Sobre o visual, tenho que certamente dar os parabéns para a equipe técnica para reconstruir as cenas de um campeonato de 1988, aonde tínhamos figurinos de inverno bem determinados com diversas cores chamativas, pistas olímpicas bem enfeitadas igualmente realmente acontecem, e ao escolher bem a locação de treinamento em um lugar marcante a equipe acertou pelo ótimo visual, ou seja, tudo tinha pequenos detalhes para chamar atenção e agradar, mas há também alguns furos, já que na época muitos elementos não eram daquela forma, mas que são tão leves que nem chegam a atrapalhar. Ou seja, um trabalho minucioso para que quando fosse unido à imagens reais da época nas gravações não ficasse algo feio e desconexo de ver. Além claro do bom uso da fotografia para que o branco da neve não estourasse a imagem e cansasse nossa vista, já que 80% do filme é ao ar livre.

Outro grandioso acerto fica por conta da trilha sonora, com grandes clássicos da época, mas sem dúvida alguma o ponto alto ficou pela ligação de "Jump" do Van Halen para uma das cenas mais fortes da trama, e claro que como sou um bom Coelho, deixo aqui o link para ouvir todas.

Enfim, esperava que fosse um bom filme pelo trailer (apesar de ter visto ele apenas uma vez, já que a campanha de marketing do longa foi bem fraca), e saí bem feliz com o resultado do que vi. Como é um esporte que pouca gente costuma assistir, dificilmente alguém irá ao cinema sabendo o que verá na tela, o que difere bem de outras biografias, e sendo assim, o acerto é ainda maior. Ou seja, recomendo com muita certeza o filme para todos, e principalmente para amantes de esportes e longas motivacionais de persistência. Claro que vai ter os chatos que vão reclamar de tudo, e também aquela galera que conversa com o filme na sessão, mas releve e tenha uma boa diversão no cinema mais próximo de você. Fico por aqui agora, mas volto em breve com mais uma estreia da semana. Então abraços e até mais.

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O Jovem Messias (The Young Messiah)

3/25/2016 02:14:00 AM |

Já falei aqui várias vezes que se existe um estilo que vai sempre ter público nos cinemas é o gênero de filmes religiosos, pois independente de qual leva ele seguir, sempre haverá milhares de fiéis para assistir e querer ver (assim como os fãs de HQs) se o que foi contado bate com o que leram em grandes livros. E tivemos diversos longas contando o nascimento de Jesus, mais ainda contando a época de sua morte, mas que eu me lembre nenhum contando sua infância, então agora baseado num livro de Anne Rice, que já teve diversas obras adaptadas para a telona, resolveram nos mostrar em "O Jovem Messias", como o pequeno Jesus convive com a descoberta de seus dons sem que lhe seja dada as repostas que tanto busca. E segurando sempre essa temática, com um tom bem leve e singelo, a trama se desenrola de uma forma bem bonita, e sem forçar a barra para ideais, o resultado acaba sendo bem agradável, mesmo para quem não é tão religioso e foi apenas conferir mais um longa no cinema.

O longa nos mostra que aos sete anos, Jesus vive com sua família em Alexandria, Egito, onde eles fugiram para evitar o massacre de crianças pelo Rei Herodes de Israel. Jesus sabe que seus pais, José e Maria, mantêm segredos sobre seu nascimento e o tratamento que o faz diferente de outros garotos. Seus pais, porém, acreditam que ainda é cedo para lhe contar a verdade de seu milagroso nascimento e seu propósito. Com a morte do Rei, eles resolvem voltar para sua terra natal, Nazaré, sem saber que o herdeiro do trono, o novo rei, é como seu pai e está determinado a matar Jesus, ao mesmo tempo em que ele descobre a verdade sobre a sua vida.

Mesmo quando sabemos uma história, se contada de uma forma diferente, sempre consegue prender nossa atenção, mas claro que para isso, necessitam colocar pontos questionadores no conteúdo, para que o público pare e reflita também sobre o que está vendo, e aqui o conteúdo da história é bem bonito de se ver, mas a forma exageradamente leve que acabaram dando para todas as situações acabou transformando o filme quase em um daqueles filmes para meditar, e certamente não era essa a intenção da equipe. E de quem seria a culpa principal do filme ter essa forma? O roteiro criado pelo diretor Cyrus Nowrasteh juntamente com Betty Giffen Nowrasteh é baseado no livro de Anne Rice, que certamente não criou uma história sem pontos de reflexão para o público que desejava atingir, então talvez tenha faltado um pouco mais de ousadia do diretor para que a trama emocionasse mais, não ficando tão dependente apenas da linha histórica, e assim talvez embarcássemos mais junto com as dúvidas do pequeno Jesus, e refletíssemos mais sobre cada situação que ele passou nessa sua jornada de volta para sua terra natal. Isso é apenas uma hipótese que talvez melhoraria o longa, não que ele seja algo ruim, mas ficou leve demais, e quem não estiver bem preparado para tudo o que vai ver, pode acabar dando uns cochilos durante as quase duas horas de projeção.

Tirando a ousada loucura de Mel Gibson em 2004 quando gravou seu "Paixão de Cristo", inteiro falado em aramaico clássico, todos os demais longas sobre Jesus foram falados na língua do país de produção ou em inglês (claro que por conveniência) e de tantos filmes que já vi, estou quase acreditando que Jesus era americano por sempre falar inglês, e agora ainda mais, pois vi que desde garotinho já sabia a língua "mundial"!! Brincadeiras à parte com o idioma do longa, o jovem Adam Graves-Neal trabalhou bem os semblantes questionadores de seu Jesus, mostrando a todo momento que desejava respostas só com a carinha que fazia, sem precisar dizer quase que nenhuma palavra, e quando tinha de dialogar com alguém lhe foi pedido para trabalhar sempre num tom sereno, que acabou ficando muito bonito de ver, e assim sendo, podemos dizer que é um futuro talento para se aproveitar, veremos se decola! Sean Bean é aquele ator clássico que sempre sabemos o que vai nos entregar, e seu centurião romano Severus até trabalhar algumas vertentes diferenciadas, mas sempre sabemos o ponto de virada para sua atuação em cada cena premeditada, o que acaba ficando monótono de ver, e acabamos nem mais querendo ver o personagem. Um personagem que poderiam ter trabalhado mais, e que daria uma excelente história é o demônio vivido por Rory Keenan, pois inicialmente nos deixa com a pulga atrás da orelha se é realmente aquilo que achamos ser, mas quando entra pro embate mesmo, acabam deixando de lado o personagem para nem mais aparecer no filme, e tanto o ator que estava fazendo ótimos trejeitos, quanto o personagem que era interessante, mereciam mais tempo de tela. Sarah Lazzaro e Vincent Walsh foram simples demais para com seus personagens Maria e José, de modo que a família ficou bem contextualizada no ponto histórico de serem humildes, mas faltou mostrar que também sabem ser desesperados frente às situações que acabam passando, e em momento algum vimos isso na trama. Ficaram certamente na dúvida de entregar a Jonathan Bailey um personagem tendencioso à loucuras e ritos sexuais como foi Herodes, mas o ator fez o máximo que lhe foi permitido para que o longa não destoasse do seu conteúdo, e isso fica nítido nos cortes que acabaram fazendo em suas cenas, pois nenhuma é finalizada completamente, o que acabou ficando bem estranho. E para fechar tentaram dar um alivio cômico para o personagem Cleopas de Christian McKay, e o resultado foi temebroso, pois o ator não sabia se puxada sua doença para o lado mais religioso, se brincava com o texto ou se realmente interpretava o que tinha de fazer, ou seja, uma bagunça completa nas suas cenas.

Sobre o visual da trama, mesmo trabalhando bem a simplicidade que sempre foi mote da vida familiar de Jesus, o longa contou até que com alguns adereços mais ricos nas cenas de Herodes, mas sempre nas cenas aonde mostrava a família principal, o lema foi figurino simples básico, quase nenhuma cenografia pomposa, de modo que certamente complicou demais na escolha das locações, e principalmente, raríssimos elementos cênicos para dar algum contexto mais chamativo. E certamente toda essa economia cênica fez com que o longa tivesse um orçamento bem simples também, o que poderia talvez dar mais nuances nas cenas com mais personagens, para envolver mais, mas não era essa a ideia original. A fotografia procurou já que tinha elementos de cores neutras demais, contrapor com tons azuis do céu, verdes de algumas paisagens e quando não tinham esse recurso sempre puxando para o marrom mais forte para que o filme tivesse algum balanço, mas por ser muito cru, a trama chega a ter alguns pontos de cansar o público com o visual, e isso é um alto fator de quando visto em casa fazer com que a pessoa mude de canal, e o resultado final não agrade tanto monetariamente.

Enfim, é um bom filme, bem feitinho, mas com defeitos demais para recomendar ele para quem não seja cristão assistir. Mas a distribuidora foi esperta o suficiente de lançar ele numa semana religiosa, e sendo assim talvez a bilheteria acabe tendo um resultado mais expressivo no país, veremos!! Portanto, se você é religioso e gostaria de ver um pouco mais sobre a infância de Jesus, esse é uma boa dica de programa para o fim de semana, mas se não for, vá somente se tiver muita certeza de que gosta de filmes extremamente calmos, senão a chance de reclamar de tudo e dormir é alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando praticamente a semana cinematográfica, mas tentarei ver a pré que veio para o interior, então abraços e até breve.

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Batman Vs Superman - A Origem da Justiça em 3D (Batman Vs Superman - Dawn of Justice)

3/24/2016 02:22:00 AM |

Acho que nunca na história de um filme, um subtítulo fez tanto sentido como em "Batman Vs Superman - A Origem da Justiça", pois vamos fazer justiça com o nome e dizer que esse foi apenas o começo de algo que a DC tenta há anos consolidar que é a ligação de todos os seus personagens no cinema, e aqui finalmente isso funcionou com todo louvor, explicando cada detalhe do que virá pela frente nos próximos longas, mas claro que não ficaria só nisso, afinal temos de ter motivo para o título, e diferentemente do que costuma acontecer em longas que envolvem super-heróis, aqui o colorido é deixado completamente de lado, entrando numa esfera tão densa (pra não dizer tensa), que o nível dramático do roteiro certamente, se exibido na época certa das nomeações, seria lembrado nas indicações dos sindicatos à premiações. E se temos um filme bem roteirizado, um diretor que sabe trabalhar bem com grandes orçamentos, produtores que não gostam de perder 1 dólar, e bons atores, como algo poderia dar errado? Pra quem gosta de um excelente drama, a felicidade vai ser monstruosa, e a resposta vai ser não tem como dar errado, agora para quem for esperando só pancadaria, ação e muita dinâmica, a chance de decepção pode ser significativa. Mas como sou do primeiro time, posso dizer com todas as letras, que superou minhas expectativas, e agora é esperar que não estraguem o bom começo que fizeram desse "novo" universo que fomos apresentados, e vou falar mais sobre cada ponto (sem spoilers) mais para baixo.

O longa nos mostra que O confronto entre Superman e Zod em Metrópolis fez com que a população mundial se dividisse acerca da existência de extra-terrestres na Terra. Enquanto muitos consideram o Superman como um novo deus, há aqueles que consideram extremamente perigoso que haja um ser tão poderoso sem qualquer tipo de controle. Bruce Wayne é um dos que acreditam nesta segunda hipótese. Sob o manto de um Batman violento e obcecado, ele investiga o laboratório de Lex Luthor, que descobriu uma pedra verde que consegue eliminar e enfraquecer os filhos de Krypton.

Antes de mais nada, a trama é daquelas que possui tanta dramaticidade envolvida, com referências cruzadas à histórias de deuses, simbologias pesadas e contextuais para trabalhar e mostrar a personalidade de cada personagem, que David S. Goyer e Chris Terrio devem ter entregue para Zack Snyder um roteiro maior que muito livro épico conhecido por aí, e com uma habilidade ímpar, o diretor conseguiu manter a mesma essência densa do começo ao fim, trabalhando cada parte com um começo/meio/fim, sem que "muitas" pontas ficassem abertas para serem resolvidas depois (tá os novos personagens só aparecem em mini-vídeos, mas estão no momento certo, e usados para o contexto certo, afinal ainda não é o filme da Liga da Justiça), e esse bom timing que o diretor soube usar deu nuances para que os fãs (e até não fãs) vissem os prós e os contras de torcer para cada lado da história e, junto de câmeras mais proximais, criar vínculos com cada um, o que é algo pouco usual em longas de muita ação e que funcionam sempre bem em dramas (que é o gênero, aonde o filme se encaixa melhor). Agora se tenho de citar defeitos, fica aqui meu protesto contra o ponto de virada, pois foi a coisa mais fraca que já vi em anos (tudo bem que a cena é linda, mistura flashback, slow-motion, e diversos tipos de linguagem), mas nem se fossem "meio' amigos virariam amigos tão facilmente, ainda mais com toda a rixa que estava rolando, então arrumem isso nos próximos filmes, senão vai ficar feio. Porém tirando esse detalhe, o restante posso dizer com toda certeza que foi um dos maiores acertos que Zack Snyder já teve na carreira, pois consolidou a parte artística boa que fez em alguns filmes menores, com uma mega produção correta que certamente lhe vai render muito.

Sobre as atuações, vou começar dessa vez diferente, pelo vilão Lex Luthor, brilhantemente interpretado por Jesse Eisenberg, que se o povo está brigando por #TeamBatman ou #TeamSuperman, o meu é #TeamLex, pois o ator mostrou que não brinca em serviço, e papel dado, é papel cumprido, colocando todas as características necessárias para que o público o ame (pela ótima interpretação) e o odeie (por tudo o que faz), juntando delírios, loucura, expressões fortes em cada cena que seu personagem aparecesse, mas se tenho de destacar uma fica a dica para a que faz junto de Superman em cima do prédio, ali a vontade que temos é de aplaudir o ator e o personagem, mas ainda vamos aplaudir mais ele em outros longas, e isso é o que importa. Inicialmente, essa era para ser a continuação de Superman, mas como o primeiro filme já não foi bem das pernas e o ator também não seja algo que valesse mais um filme, resolveram já atacar algo diferente, e embora Henry Cavill mostre que manteve um corpo de Superman, ele falha demais em trejeitos e parece falso em tudo o que faz (tudo bem que pode ser uma alta implicância que tenho com o personagem de apenas um óculos diferenciar Clark Kent de Superman para todos ao redor de onde trabalha), e o ator mesmo trabalhando o impacto forte de ser um extraterrestre considerado deus por muitos, não expressa um ar superior nem se rebaixa para mostrar indiferença, ou seja, ele acha que é normal suas atitudes e tudo bem, e isso é errado de se fazer, pois o personagem acaba sendo maior do que o ator consegue atingir, e infelizmente agora não dá para mudar mais. Uma coisa certa sobre o filme é que muitos estavam curiosos para ver se Ben Affleck iria estragar mais um super-herói, principalmente após Christian Bale ter mostrado um dos melhores Batman de todos os tempos, mas o ator que é conhecido por se dar muito bem com personagens que exijam um conteúdo mais dramático, acabou acertando a mão e dando uma personalidade bem interessante para o estilo de vida de um Wayne mais velho e disposto a mostrar que vai lá e faz com muita luta e equipamentos, e trabalhando feições mais fortes e uma voz mais seca, acabou agradando bastante. Muito se falou sobre Gal Gadot não ter o porte físico que uma Mulher Maravilha precisava, mas a atriz mostrou que tem postura e classe para se passar como uma dama da sociedade quando não está de uniforme, e quando vai partir para a pancadaria mesmo, arrumaram um traje que acabou lhe dando curvas sensuais bem interessantes, claro sem decepcionar nas coreografias para que a ação não ficasse falsa, ou seja, teve uma boa introdução bem introspectiva (de maneira bem leve para ser semi-apresentada), que vamos ver melhor no ano que vem em seu filme solo. Agora outro grande acerto ficou a cargo de Jeremy Irons, caindo como uma luva na personalidade de um Alfred mais disposto a ser um grande amigo/conselheiro/técnico do que um simples mordomo da mansão, e o ator trabalhou bem os momentos mais cômicos da trama, sempre dando induções contraditórias à vida amorosa de Wayne, de modo que foram poucos, mas ótimos momentos. Embora Amy Adams e Diane Lane com suas Louis e Martha estejam bem encaixadas na trama, dessa vez ficaram tão em segundo plano que não posso nem falar se vi qualquer trejeito expressivo nelas, e isso é ruim, pois elas são bem usadas, mas se removerem todas as cenas delas, é capaz que o filme passe o entendimento completo apenas com a subjetividade de suas personagens, e assim sendo, é um erro delas de não chamarem atenção. Como disse acima, Ezra Miller, Jason Momoa e Ray Fisher, apenas dão o gostinho bem rápido de seus personagens Flash, Aquaman e Cyborg, então não esperem ver nada além de um "oi" na tela.

Quem certamente teve muito trabalho no longa foi a equipe de arte, pois se em filmes de heróis que possuem muita ação, já necessitam criar diversos elementos alegóricos para representar cada momento, imagina então em um mais calmo e dramático!!! E aqui, não nos decepcionaram em nada, colocando detalhes e mais detalhes nos acessórios, carro e nave do Batman, além claro de uma batcaverna bem estilosa e lotada de adereços que juntos formam tanto a personalidade do novo Batman, quanto mostra coisas a serem usadas em outros filmes (volto a dizer que teremos muitos outros filmes nos próximos anos que serão em linha cronológica, antes que os acontecimentos desse de hoje). Além disso tivemos ótimas cenas nos ambientes da LexCorp também repleta de elementos, e claro as dentro da nave de Zod, que mesmo destruída ainda dá para o gasto. Mas o visual mesmo denso é mostrado quando todos estão nas ruas mesmo, com um céu sempre chuvoso e fechado, dando a ambientação correta que o filme deseja, e claro mais espaço para que a equipe de efeitos especiais pudesse brincar e colocar tudo o que desejasse na tela, desde o monstrão Apocalipse, passando por diversos raios e explosões, e claro os voos do Superman (que ainda me incomoda o barulho de decolagem). E usando e abusando de tons escuros, a fotografia teve o cuidado de não forçar demais o preto e esmaecer demais as cenas de forma que detalhes não fossem vistos, e isso é um ótimo ponto positivo para a equipe, pois costumam colocar detalhes em locais tão escuros que só por milagre se vê tudo, e aqui, está tudo ao nossos olhos, mesmo que de forma mais sombria e densa, que tanto desejavam fazer. Sobre os efeitos visuais, posso dizer que foram em quantidades leves, mas muito bem feitos, porém deixaram bastante a desejar com o 3D, colocando uma ou outra cena em perspectiva, mas que facilmente seria vista sem óculos, e fica notável as cenas que foram filmadas com câmeras Imax, mesmo que não se assista numa sala com a tecnologia, pois o efeito visual é o único que funciona a tridimensionalidade, ou seja, repito o que digo em diversos filmes, se quiser economizar pode ver tranquilamente nas salas comuns (apenas procure uma com um som bem potente, afinal o longa pede isso).

Como falei que o som deve ser visto em salas potentes, tenho de falar mesmo que um pouco sobre a parte sonora da trama, pois o longa está cheio de explosões, assovios, trombadas e tiros, e essa sonoridade toda faz parte do contexto do filme, e claro que junto da trilha sonora mista de dois gênios das composições: Hans Zimmer e Junkie XL, é quase possível viajar pelo longa somente vendo o longa sem falas, ouvindo apenas a sonoridade.

Enfim, é um ótimo filme que possui certos defeitos, os quais pontuei acima, mas ainda assim supera qualquer expectativa que tivesse sido criada, e sendo assim vale o ingresso. Claro que vamos ter aqueles que estavam desesperados demais e são extremamente fãs, que ficarão decepcionados com algumas coisas, além claro dos Marvel-fãs que terão de falar somente coisas ruins para enaltecer o outro lado da briga, mas se você não faz parte desses dois times, e colocando um adendo, gosta de bons dramas pesados, pode ir conferir tranquilamente o longa que a certeza de gostar é alta. Detalhe que vale a pena ser dito, por não ser um filme da Marvel, não possui cenas pós-créditos, então pode ir embora da sala tranquilamente quando começar a subir as letrinhas sem culpa alguma. E um segundo detalhe, que acaba sendo uma opinião pessoal apenas, colocaria mais 2 segundos na cena final, pois quem não reparar direito não verá o que acontece. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com a outra estreia dessa semana, então abraços e até logo.

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Zootopia em 3D

3/19/2016 09:15:00 PM |

Bem meus amigos de "Zootopia", mais uma vez a Disney acertou em cheio, ao fazer uma animação divertida para todos, comovente para os adultos e lotada de referências a outros filmes, séries e programas, de modo que é impossível não se emocionar e vivenciar a aventura da coelha Hopps com olhos rodando para todos os lados, sentindo cada elemento e presenciando algo que pode ser novamente colocado como uma marca do estúdio, que é não pecar por falta de algo, mas sim pelo excesso. Porém, por mais que qualquer um queira reclamar de algo do filme, vai ser impossível, já que cada momento é tão único e bem feito que nos deixamos levar para o lado criança que há dentro de cada um, e por bem pouco você não vai querer estar dançando junto com as crianças no final no show da Shakira/Gazelle. Ou seja, se existe uma palavra que possa definir o longa é: DETALHES! Já que a cada olhar podemos ver um filme diferente, sentir uma proposta diferenciada, e se envolver com um personagem diferente dentre a tantos que nos é mostrado, pois souberam trabalhar as emoções em paralelo, colocando as virtudes de cada animal juntamente com boas lições de vida para que todos pudessem seguir.

O longa nos mostra que Judy Hopps é a pequena coelha de uma fazenda isolada, filha de agricultores que plantam cenouras há décadas. Mas ela tem sonhos maiores: pretende se mudar para a cidade grande, Zootopia, onde todas as espécies de animais convivem em harmonia, na intenção de se tornar a primeira coelha policial. Judy enfrenta o preconceito e as manipulações dos outros animais, mas conta com a ajuda inesperada da raposa Nick Wilde, conhecida por sua malícia e suas infrações. A inesperada dupla se dedica à busca de um animal desaparecido, descobrindo uma conspiração que afeta toda a cidade.

Seria difícil que uma equipe a equipe excelentes diretores de animação não fizesse algo magistral, e aqui Byron Howard("Enrolados", "Bolt"), Rich Moore("Detona Ralph") e Jared Bush foram icônicos tanto na concepção do roteiro que foi muito bem elaborado para trabalhar a situação completa, quanto ao ter uma ambição gigantesca de colocar uma cidade inteira no estilo de uma grande metrópole recheada de animais de todos os tipos possíveis. Poderia falar todos com letras maiúsculas, pois ao mostrar que a cidade possui todos os ecossistemas possíveis, certamente se explorado cada lugar separadamente você irá conhecer e reconhecer diversos animais não apresentados (será que deixaram algumas brechas para um segundo filme??? Mas também servirá para algum grande jogo do filme, caso façam!). E usando dessa grande empolgação que os diretores e roteiristas tiveram, cada momento do longa acaba tendo um estilo de conexão diferenciado com o público, desde a saída do filho da calma cidade interiorana rumo a um lugar gigantesco cheio de perigos para trabalhar com algo difícil para seu tamanho, depois somos jogados à realidade de que nem tudo o que sonhamos acaba sendo feito como queríamos, juntam-se aos medos e lições que podem ser aprendidas, e claro impregnações de amizades/corrupções, ou seja, tudo foi colocado na trama pela equipe. E volto a frisar, que mesmo com esse bombardeio de informações e temas, não conseguiram deixar o longa chato de maneira alguma, ficando ainda mais divertido, pois para representar tudo isso sem cansar, utilizaram de tantas referências, que passaram desde nomes famosos como "Poderoso Chefão" e "Breaking Bad", junto de outros filmes da Disney que foram dando o tom cômico incrível para agradar e chamar atenção, e claro divertir os adultos também que conseguirem se conectar com tudo, ao dar a desculpa de estar vendo a animação apenas para levar os pequenos.

Claro que o ponto máximo além do grande roteiro, ficou a cargo da equipe dar excelentes personalidades para cada personagem, enchendo eles de carisma (mesmo os mais durões) e acertando na escolha dos dubladores, pois é difícil não se divertir com o sotaque interiorano que Monica Iozzi deu para a coelhinha Judd Hopps, e o tom calmo e sagaz que Rodrigo Lombardi deu para a raposa Nick Wilde, além claro de diversos outros dubladores profissionais que souberam trabalhar as piadas e ditados para o nosso idioma sem que o longa saísse da essência original. Além da personificação de cada animal dentro de seus estilos de trabalho, ou seja, temos os pequeninos como administrativos, os fortes como policiais, e cada um vivendo como desejar na grande cidade, que digo mais, a equipe se preocupou em colocar também os escritos em português para vender melhor seu peixe aqui no país e além disso, servindo de curiosidade, cada país teve um animal próprio seu, ou seja, a galera que baixa filmes provavelmente vai ver outro animal na bancada do jornal diferente da onça Boi Chá, que é dublada claro por Ricardo Boechat. Não sei que tipo de roedor é o mafioso Sr. Big, mas ficou tão bem caracterizado e com falas exatamente iguais ao clássico Poderoso Chefão, que não tenho como não dar um ótimo destaque para o personagem. Outro que merece destaque e já nos foi brilhantemente apresentado no trailer é Flecha, nossa querida preguiça funcionária pública (que ou em todo mundo funcionalismo público é lerdo, ou o pessoal da criação veio passar umas férias no Brasil e aprendeu muito bem). E certamente tivemos diversos outros bons personagens, mas como a maioria passa tão rapidamente por nossos olhos, acabamos focando mais nos protagonistas, mas vai ter os apaixonados pelos uivos dos lobos, pelo prefeito Leãonardo, e claro que não poderia esquecer de forma alguma a cantora pop de Zootopia, Gazelle, que é praticamente um clone animal de Shakira, dançando rebolante igual e cantando a música tema, interpretada também pela cantora.

E já que entrei no quesito musical, vamos falar um pouco sobre as nuances da ótima trilha do filme, que além de contar com "Try Everything" composta por Sia e interpretada por Shakira, o longa contou com diversas outras grandes canções (destaque para a cena que a coelhinha está pra baixo e assim como qualquer um que procura alguma música no rádio só acha músicas depressivas). Além das canções orquestradas apenas simbolizando cada momento do filme, dando um bom ritmo e criando um contexto mais abrangente dentro do que o texto tentou passar.

Embora o filme não conte com muitas coisas saindo da tela, o 3D imersivo foi muito bem aproveitado, pois como temos em todas as cenas muitos animais, se o efeito não fosse bem trabalhado acabaríamos vendo só os de primeiro plano, e isso não ocorre em momento algum, funcionando bem tanto com os pequeninos roedores quanto com as grandes girafas, ou seja, conseguiram trabalhar com as diversas camadas do cenário para realmente envolver o público e praticamente nos colocar junto da coelhinha e da raposa.

E como costumo falar também da direção de arte nos filmes de "humanos", nessa animação é um fator que merece ganhar um certo destaque, pois tiveram uma ideologia maravilhosa ao compôr os cenários da trama, cada um trabalhando um ecossistema próprio, com vegetações próprias, elementos cênicos próprios e até mesmo bairros minúsculos para os animais menores, trabalhando cada "locação" como algo incorporado e desenvolvido para que a cena ficasse gravada na memória de quem assistir, trabalhando luzes mais densas para criar tensão, visuais coloridos para envolver a criançada, e tudo mais, mas sempre de modo que nada ficasse jogado em cena apenas para criar uma perspectiva, mas sim bem pensado para o contexto real mesmo.

Enfim, é um filmaço que recomendo para toda família com muita certeza, e que vale muito a pena ver e rever, se apaixonando por cada detalhe. E utilizando da minha técnica milenar para saber se uma animação vale a pena para as crianças, todas ficaram quietinhas assistindo, pouquíssimas ficaram saindo para banheiro, e pedindo aos pais para sair, ou seja, agradou os pequenos também, e para os adultos a emoção come solta. Se você estava com receio de ir assistir e ver uma animação infantilizada, pode ir tranquilamente, pois é daqueles filmes que você não necessita arrumar desculpas para levar a criançada, podendo ir sozinho tranquilamente. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas volto mais cedo na próxima, já que teremos prés já na quarta-feira, então abraços e até breve.

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Mundo Cão

3/19/2016 01:47:00 AM |

Se tem uma coisa que gosto de descobrir num filme nacional é quem é o dono da arte que me comove ou me irrita, pois diferente de blockbusters que dão tanta ênfase no diretor, no Brasil os marqueteiros acabam deixando meio de lado o destaque que alguns diretores merecem ter. E se tem um nome que você que gosta de filmes intrigantes com boas surpresas deve anotar para conferir é Marcos Jorge. Claro que no ano passado acabou queimando um pouco ao sair do seu estilo, mas ao voltar para sua praia com "Mundo Cão", o diretor conseguiu fazer um daqueles filmes que você fica abismado a cada nova surpresa, e principalmente ao fazer jus à ambiguidade do título, a trama acaba nos mostrando o quanto tudo anda de uma forma cruel aonde as pessoas querem cada dia mais fazer vingança com as próprias mãos, independente do pior que pode acontecer. Ou seja, um filme com uma proposta diferenciada, com estilos bem pautados, mas que não força ninguém a pensar demais, servindo ao mesmo tempo como denúncia de como estamos tratando nossas vidas e simbolizando bem que o estilo dramático pode agradar também no mercado nacional.

O longa nos mostra que em 2007, antes de ser sancionada a lei que proíbe o sacrifício de animais abandonados, Santana é um funcionário do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo que trabalha recolhendo cães de rua. Certo dia ele captura um enorme cachorro raivoso cujo dono só aparece para recuperá-lo dias depois, quando já é tarde demais. Irado, o homem culpa Santana pelo ocorrido e trama uma cruel vingança.

Sempre é interessante ver quando procuram mudar um estilo no Brasil, pois chega até ser engraçado o público na sala hoje certamente esperava ver algum outro filme, mas felizmente a maioria saiu satisfeito com o que viu, pois o longa até possui uma cara semi-novelesca, mas ao jogar fora toda a ideologia de subtramas, deixando claro somente quem são os protagonistas e como eles vão desenvolver a história, o diretor e roteirista Marcos Jorge, junto de Lusa Silvestre, conseguiram transformar algo simples como uma vingança em uma trama envolvente cheia de reviravoltas. O longa até possui alguns defeitos que facilmente poderiam ser amenizados, mas todo o teor passado, juntamente com o estilo desenvolvido facilmente me remeteu ao estilo que alguns diretores europeus costumam desenvolver em seus longas de vingança. E digo isso com muito orgulho, pois geralmente longas nacionais que o diretor quer se destacar demais, acabam fazendo filmes confusos somente para enaltecer o próprio umbigo, e aqui Marcos fez um filme que pode chocar em alguns momentos, mas é tão bem trabalhado, tanto na história quanto no desenvolvimento, que saímos da sessão pensativos, mas sem dúvidas do que realmente nos foi mostrado, o que ao meu ver é um acerto imenso.

Um fator marcante do sucesso do longa também se dá pela escolha de dois excelentes atores para comandar a trama, de um lado Lázaro Ramos encarando um dos seus primeiros vilões, dando personalidade e até um certo carisma para seu Nenê (ou Babyface na sinopse em inglês), trabalhando a postura, a entonação dos diálogos e mostrando o quão bom é também para papéis dramáticos, ou seja, encaixou como uma luva dentro do que desejavam. E no outro lado temos Babu Santana, que vem já há algum tempo conquistando um espaço dentro do cinema nacional, colocando bons personagens e trabalhando seu estilo próprio, e aqui seu Santana foi do clássico funcionário bobão, passando por pai desesperado até impor seu estilo mais rígido, mostrando diversas facetas para um único ator, e isso é bem interessante de ver dentro do nosso cinema. Adriana Esteves é uma atriz que se dá bem sempre, mas se sobressai melhor quando é a protagonista, e como aqui sua Dilza fica meio de lado em boa parte da trama, não teve tanta oportunidade de mostrar suas expressões, mas claro que nos momentos mais dramáticos mostrou que não brinca em serviço e envolveu à todos na sala. Milhem Cortaz certamente é um dos maiores nomes do nosso cinema, e certamente merecia um papel melhor do que algo secundário do secundário, com frases jogadas e expressões quase nulas de seu Cebola, e isso é quase um pecado o que fizeram com ele, principalmente por não aproveitar sua capacidade artística, mas nem sempre dá para encher o filme de muitos protagonistas, então aqui ele fez apenas o que estava no seu texto, sem chamar atenção em momento algum. Thainá Duarte trabalhou muito suas expressões, afinal com o problema de sua Isaura, o jeito foi mostrar tudo com olhares e facetas expressivas, e a jovem deu show, principalmente nas cenas finais. O jovem garotinho Vini Carvalho até tentou ser expressivo nas cenas que pediram para demonstrar medo, desespero e tristeza, mas ainda é muito jovem para conhecer realmente os problemas da vida e impactar de modo que lembrássemos sempre de seu João, mas infelizmente não encaixou, sendo apenas simples demais para o que a situação realmente necessitava de expressividade.

O trabalho da direção de arte não foi algo que se diga primoroso, mas certamente foi coeso com o que a situação necessitava e envolveu bem nas cenas internas, trabalhando com poucos, mas bons elementos. Além disso as escolhas das locações, como uma casa bem popular, um canil velho para representar o caos que sempre foram os centros de zoonoses, e até belas panorâmicas no Estádio Pacaembu, deram representatividade para a trama e simbolizaram bem cada momento em que foram encaixadas, não exagerando para que o filme ficasse forte, mas que a ambientação simbolizasse a força do roteiro, e claro que o IML para dar o momento mais duro do filme, aonde com toda certeza, o trabalho de gravação foi maior, e o resultado ficou incrível. Embora queiram mostrar que a família possui muita fé, vive nos cultos e tal, e nos salões de beleza vendendo o trabalho manual das mulheres, se fosse o diretor, teria cortado as 4 cenas, pois não incrementaram em nada e apenas ficaram jogadas, gastando tempo, e claro, dinheiro da produção. A fotografia também trabalhou muito bem colocando sombras certas para dar preenchimento, e usando muita luz amarela para dar peso nas cenas, além claro da ótima cena aonde a luminária balança criando o jogo para cena seguinte, ou seja, um trabalho focado mais em segurar o tom da trama, não querendo realçar nenhuma cena, e principalmente não ser maior que a história em si.

A trilha sonora bem cadenciada, misturando a bateria tocada pelo protagonista em diversos momentos, com algumas trilhas para dar o tom de mistério na trama, resultaram em um filme com um ritmo gostoso e que passa rapidamente agradando os ouvidos sem abusar de firulas.

Enfim, é um ótimo filme que até possui defeitos que citei acima, mas que não desmereceram em momento algum todo o trabalho do restante, e dessa maneira recomendo ele demais para todos que gostem de um bom filme de vingança, e mais do que isso, por se tratar de um produto nacional bem feito, temos de valorizar mais ainda. Sendo assim, se o filme estiver passando em sua cidade, confira, pois foge bem das comédias novelescas que nos são jogadas diariamente nos cinemas, e principalmente mostra em que pé anda os ânimos das pessoas, pois vingança com as próprias mãos geralmente não funciona. Fico por aqui agora, mas volto em breve com a última estreia dessa semana nos cinemas do interior, então abraços e até breve.

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Ressurreição (Risen)

3/18/2016 01:27:00 AM |

Quando falamos em um filme religioso, já julgamos o público que ele pretende atingir, os que vão ficar questionando se devem ir ou não ver, e os que já fogem direto sendo contrários à qualquer coisa que possa ser mostrada. Mas como costumo falar, temos de ver de tudo para saber se vamos ou não gostar, e a parte da Bíblia aonde mostra a morte e a ressurreição de Jesus já foi mostrada por diversos ângulos e possibilidades, resultando em filmes fortes e também em alguns mais simples, e agora com a vertente sendo mostrada pelos olhares de um cético em "Ressurreição", acabamos vendo algo um pouco incomum, pois nem todos acreditam nas histórias contadas lá, e assim como o soldado romano Clavius vamos vendo aos poucos ele crer no que é mostrado e seguir mudando suas ideologias. Claro que por ter o vértice religioso, não podemos esperar algo diferente do usual, mas o filme consegue ter uma boa dinâmica e agradar dentro de um bom parâmetro, com uma cenografia bem montada, cenas de ação bem feitas e um roteiro bem trabalhado, e de um modo bem singelo acaba agradando com tudo o que é mostrado.

O filme nos mostra que às vésperas de um levante em Jerusalém, surgem rumores de que o Messias judeu ressuscitou. Um centurião romano agnóstico e cético é enviado por Pôncio Pilatos para investigar a ressurreição e localizar o corpo desaparecido do já falecido e crucificado Jesus de Nazaré, a fim de subjugar a revolta eminente. Conforme ele apura os fatos e ouve depoimentos, suas dúvidas sobre o evento milagroso começam a sumir.

Após um longuíssimo hiato de 10 anos, Kevin Reynolds("Robin Hood", "Waterworld", "O Conde de Monte Cristo") volta a colocar suas mãos em uma câmera para dirigir um filme e mostrar que ainda sabe fazer tomadas bem amplas para mostrar o bom trabalho tanto dos atores, quanto da equipe técnica envolvida, e até mesmo nas cenas mais velozes, o diretor conseguiu dar boas nuances controlando o enquadramento para que o filme (que não possui um orçamento monstruoso) não mostrasse falhas e ainda conseguisse agradar dentro da proposta. Ao pegar para desenvolver a história do roteirista estreante Paul Aiello, o diretor soube colocar a trama tanto dentro do cunho religioso que era a proposta original, quanto para fazer um filme de descobertas em meio à um vértice de suspense histórico, e assim acabou conseguindo não ficar preso à somente o público tradicional que iria ver um filme bíblico. Talvez o erro mais forte da trama tenha sido o de Clavius mudar completamente muito fácil, pois sendo um guerreiro, a ideologia mais comum seria de não acreditar no que está vendo, mas ainda assim manter-se mais tempo na dúvida do que estaria vendo, o que não acaba ocorrendo, mas isso não atrapalhou em demasia o resultado final, que acaba passando uma boa mensagem.

Sobre a atuação de Joseph Fiennes, um fato claro é que o ator soube apresentar um ar expressivo bem rígido durante a maior parte da trama, mostrando como alguns romanos eram duros e dispostos à tudo, e também deu um tom firme na voz de seu Clavius para que nos momentos de interrogatório, seu teor fosse levado à sério, talvez tenham sido brando demais em alguns momentos como disse no ponto de virada muito simplório e em algumas cenas que ele aliviou demais o estilo, mas no contexto geral agradou mais do que decepcionou. Agora um ator que anda perdido desde que acabou a saga "Harry Potter" e não consegue acertar a mão em personagem algum é Tom Felton, pois aqui seu Lucius foi claramente um personagem jogado na trama, quase sem importância alguma (tirando uma única cena mais dramatizada), e ainda por cima o ator fez diversas caras e bocas completamente fora do contexto da trama, ou seja, além do personagem não ser bom, o ator conseguiu piorar. Peter Firth caiu bem na personalidade de Pilatos e sempre pronto para dar ordens e mais ordens acabou sendo daqueles personagens que aparecem quase que o filme inteiro, mas acaba não sendo nem protagonista nem alguém que vá ser importante para a trama, talvez se o personagem fosse mais de ação do que ditatorial agradaria mais seus trejeitos, mas aí estaríamos mudando a história. Cliff Curtis fez um Jesus/Yeshua diferente, sem muitas palavras, trabalhando mais a expressividade do olhar e agradou bastante, e como o filme mesmo trabalhando a ideologia da ressurreição, o personagem ficou bem em segundo plano, trabalhado mais nos ideais do que exigindo do ator, e sendo assim ele fez bem quando precisou trabalhar mesmo. Dos demais atores, cada um teve seu momento expressivo bem rápido, e daria para destacar somente algumas cenas comoventes de Maria Botto fazendo Maria Madalena e Stewart Scudamore dando à Pedro uma personalidade bem amigável e bonita de ver.

Sobre a cenografia do longa, é notável que por ser um filme de baixo orçamento que conta uma história de época, a trama foi mais enxuta no desenvolvimento dos ambientes aonde se passa a história, mas nem por isso a equipe de arte ficou em segundo plano, trabalhando bem nos locais principais como o palácio de Pilatos, e o casebre aonde estão todos os seguidores de Jesus, além claro do túmulo e da cena da crucificação muito bem trabalhada nos elementos. Porém o ponto forte ficou a cargo das grandes escolhas de locações para os momentos rumo à Galiléia, com um visual desértico, mas muito bem trabalhado em ranhuras e erosões para dar camadas ao filme, ou seja, um trabalho de escolha bem feito pela equipe. A fotografia se baseou bem nas sombras e dando sempre contrastes em tons alaranjados/amarelos para dar um semblante mais vivo para a trama, não deixando que o filme ficasse pesado em momento algum.

Enfim, é um filme simples, mas bem feito e que de ponto principal acertou em não ficar tão em cima da religiosidade, embora a história seja religiosa, de modo que foi possível colocar um pouco de ficção para dar um ânimo maior e agradar quem não for tão fervoroso. As principais falhas ficam em cima das atuações que poderiam ser mais desenvolvidas, mas nada que tenha atrapalhado demais. E sendo assim recomendo o longa para todos que gostem de uma história simples, mas bem contada, afinal é não é sempre que algum trecho religioso é bem contado por outro ângulo, e nessa semana que é tão religiosa, acaba sendo uma boa dica nos cinemas. Fico por aqui agora, mas ainda faltam outras estreias para conferir, então abraços e até breve.

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Trumbo: Lista Negra

3/15/2016 01:20:00 AM |

Demorou, mas eis que apareceu por aqui "Trumbo: Lista Negra" por aqui, e embora seja um ótimo filme, é fácil descobrir o motivo de não terem colocado mais salas no seu lançamento, pois o filme é feito somente para os amantes de cinema, que gostam de saber mais histórias de bastidores, e com um adendo para que gostem de filmes verborrágicos, afinal o longa é daqueles que não há sequer 5 minutos sem que alguém esteja falando com outro alguém sem parar, não há um alívio respiratório, e muito menos um momento daqueles que você possa sequer parar para beber um gole de sua água sem perder algum diálogo. Não acho isso algo ruim, muito pelo contrário, tenho total respeito pelos roteiristas que são capazes de conduzir uma história inteira pautada nos diálogos, só que friso que não é toda pessoa que aguenta um longa desse estilo sem cansar, e isso acaba atrapalhando na bilheteira, e por consequência fazendo com que as distribuidoras lancem um filme em circuito reduzidíssimo. Agora se você se encaixa nesses dois pré-requisitos, dê um jeito de ver o filme, pois é algo muito bem feito, que envolve de uma maneira, e com muita certeza vai deixar você com raiva das imposições que muitos autores, e até pessoas de bem sofreram por serem colocadas na lista negra dos governo americano.

O longa nos mostra que o roteirista Dalton Trumbo tem uma história singular em Hollywood: apesar de ter escrito algumas das histórias de maior sucesso da época, como A Princesa e o Plebeu (1953), ele se recusou a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso e acabou preso e proibido de trabalhar. Mesmo quando saiu da prisão, Trumbo demorou anos para vencer o boicote do governo, sofrendo com uma série de problemas envolvendo familiares e amigos próximos.

Em suma, posso falar que é um filme que um roteirista fez para roteiristas sofrerem vendo a vida dura de um roteirista famoso. Claro que nem todos verão com esses olhos, mas baseado em fatos reais narrados no livro de Bruce Cook, o roteirista John McNamara trabalhou enfaticamente para mostrar o quanto diálogos são importantes para marcar sua história, e o diretor Jay Roach optou por um estilo mais fechado das situações, trabalhando bem a desenvoltura do personagem principal, mas deixando claro sempre para os atores mostrarem mais o impacto dos tons de voz com os diálogos do que uma cena mais sutil aonde todo o contexto cênico nos inserisse num contexto maior. E dessa maneira, o resultado do filme é algo até bem feito, mas demora tanto a cativar a atenção do espectador, que posso confessar o sono vindo em minha direção monstruosamente na primeira metade dele, mas assim que Trumbo sai da cadeia que a decolagem começa a ficar bem interessante e faz com que o público comece a conhecer mais sobre seus belos trabalhos. Portanto, alguns podem até dizer que há erros na forma de direção, mas não vejo isso como algo errado, e sim como uma proposta a ser seguida, que talvez se fosse um longa de algum personagem mais conhecido do público em geral, acabaria empolgando, mas como Trumbo só é algo que quem é do meio mesmo conhece, o resultado acaba demorando demais para conquistar alguém, e isso pode causar altos problemas para quem for mais desesperado.

De cara se perguntarem quem é Bryan Cranston, alguns não vão saber, mas basta citar "Breaking Bad" que qualquer um liga todos os pontinhos, mas claro que o ator já trabalhou e muito em sua longa carreira, boa parte na TV, mas também com bons filmes no currículo, mas agora em definitivo parece ter ficado mais amigo dos produtores de cinema e está com vários projetos em desenvolvimento, que certamente fará com grande classe, afinal é um ótimo ator que trabalha bem a personalidade dos papeis que lhe é entregue, e aqui seu Dalton Trumbo não foi diferente, de modo que incorporou a alma do roteirista e em diversos momentos usou de um estilo forte e bem fechado, enrijecendo bem a face e colocando toda o diálogo aonde deveria estar, no topo máximo da trama, para agradar e convencer de tudo o que desejavam passar, ou seja, perfeito numa atuação de magistral desempenho. Diane Lane mostrou também personalidade ao mostrar que a paciência de Celo Trumbo era algo além dos limites conhecidos pela ciência, e claro também muito amor para aguentar tudo, pois com o gênio de Dalton qualquer mulher teria pegado os filhos e sumido de casa com muita facilidade (não muito naquela época, mas hoje não pensariam duas vezes), e a atriz foi serena e agradou bem nos seus devidos momentos. Helen Mirren saiu da serenidade da realeza para fazer uma mulher marcante (para não falar irritante) e de muito impacto que foi Hedda Hopper, e abusando de olhares pomposos e poses chamativas, a atriz trabalhou de uma maneira bem diferente da forma que estamos acostumados, mas ainda agradando demais dentro da ideologia da personagem. Elle Fanning mostrou que já está chegando no momento de pegar grandes personagens para dar vida, pois não é mais aquela garota singela que todos atacavam no começo da carreira, já tendo personalidade suficiente para bater de frente com grandes nomes e segurar seu texto com a mesma tonalidade de como se estivesse soltando ele solo, e sendo assim sua Niki acaba chamando até uma certa atenção nas cenas em que aparece. Grandes nomes também estiveram presentes na trama, e cada um no seu momento junto do protagonista soube chamar a devida atenção e mostrar uma parte da História desse grande nome, destaque para a época que o roteirista apenas pagou contas entregando diversos roteiros para Frank King, bem interpretado pelo sempre ótimo John Goodman e seu estilo caricato; também tenho de citar o ótimo Christian Berkel colocando Otto Preminger como um diretor insuportável na cabeça dos roteiristas, impregnando até as datas mais familiares no aguardo de um bom texto; e Dean O'Gorman mostrando que sua época de anão já era, fazendo um papel icônico na sua vida, dando ar para Kirk Douglas, que foi sem dúvida um dos grandes nomes do cinema tanto como ator quanto como produtor da maioria de seus grandes filmes.

Sobre o conceito visual da trama, até nos é apresentado bons elementos de época, mas foram simplistas demais com tudo, desde o figurino dos personagens que ou estavam sem criatividade nenhuma, ou as pessoas só andavam de terno e vestido por aí, passando por casas e bares sem quase objetos decorativos para retratar o estilo de vida de cada personagem. Claro que as cenas na banheira foram icônicas e claro também os diversos momentos grudados na máquina de escrever junto de passarinhos, o que certamente é mostrado ao máximo nos livros e documentários já feitos sobre o personagem, mas não custava nada aflorar a criatividade com relação à outros momentos, deixando assim a arte mais valorizada também. Agora se no quesito artístico falharam bem, no conceito fotográfico a equipe mostrou o que um bom jogo de sombras é possível de causar em dramas também, pois sendo algo mais contextualizado em suspenses, aqui o diretor de fotografia caprichou em todas as cenas para sempre com uma luz de preenchimento por trás dos personagens, suas sombras fossem marcantes e dessem uma imposição maior para cada cena, e isso é algo que deu uma força maior para cada um quando impunham seus diálogos, ou seja, um trabalho diferente de ser visto, e que agrada chamando atenção.

Enfim, é um bom filme, mas volto a frisar, para quem não está acostumado com algo praticamente feito apenas de diálogos, sem muita ação para ser desenvolvido, pode acabar saindo da sessão bem cansado com o que será mostrado, porém a trama toda em si, funciona bem para conhecer mais do personagem e de como a época foi marcada por pessoas tentando calar quem não fosse a favor das ideias do governo. Poderiam também ter focado mais nisso, mas aí sairia da ideologia do personagem forte que Trumbo foi, então quem sabe façam mais algum filme em cima dessa época para aproveitar o contexto e trabalhar mais isso. Portanto, recomendo ele com ressalvas, deixando mais determinado para quem realmente gosta do estilo, pois o restante vai sair comentando que tudo foi chato demais, isso se conseguir sobreviver à primeira metade. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na Quinta com mais estreias, então abraços e até breve.

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