Maria Callas (Maria)

1/18/2025 01:20:00 AM |

Costumo dizer que os filmes de Pablo Larraín são obras com tanta classe que você fica sem saber como se portar na sessão, da mesma forma que entrar em um restaurante chique, pois tem estilo, tem cenografia e geralmente tem atrizes tão bem encaixadas nos papeis principais que é raro não as vermos nas premiações, afinal ele faz algo próprio para que a protagonista desponte na tela. Dito isso, o longa "Maria Callas" trabalha os últimos dias da cantora com uma sensibilidade estética tão bem montada, quase que fazendo um filme dentro de outro filme colocando sua reclusão, sua voz já não tão explosiva e também o convívio com seus empregados, meio como loucuras que já não sabe o que é real ou não, que nem temos como saber realmente se rolou tudo dessa forma, mas que abrilhantado pelo porte de Angelina Jolie com uma elegância tão marcante, o resultado acaba envolvendo demais, só tendo um grande aquém, de não assistir cansado, afinal óperas são densas e o filme também trabalha da mesma forma, o que acaba pesando um pouco com a entrega na tela.

O longa retrata o período em que a soprano greco-americana se refugia em Paris, após uma vida pública marcada pelo glamour e pela turbulência, revisitando os últimos dias da lendária artista, destacando o momento em que ela reflete sobre sua trajetória e identidade na Paris dos anos 1970. Depois de se dedicar ao público e à sua arte, Maria decide encontrar consigo mesma e encontrar sua própria voz e identidade. Esse é um retrato e uma investigação psicológica de uma mulher que teve o mundo aos seus pés e marcada pelos holofotes da fama.

Com esse longa, o diretor Pablo Larraín encerra sua trilogia das mulheres do século XX, aonde tivemos "Spencer" e "Jackie", e mais do que apenas trabalhar a personagem, ele conseguiu colocar a ópera como um elemento presente na trama, ao ponto que seu filme fica quase como a construção de uma cadência entre os momentos icônicos bem divididos na tela, que talvez incomode alguns que não pegarem a referência, além de um grande detalhe de trabalhar apenas um período bem fechado de dias, e não a vida completa da mulher, que claro temos alguns flashbacks, mas sem ir muito além. Claro que é um filme que tem uma pegada bem densa, afinal óperas são densas, e mesmo tendo um período curto da vida da personagem mostrado na tela, o diretor conseguiu extrair muito da protagonista para que o longa não dependesse praticamente de mais ninguém, pois mesmo vendo eles ao redor e tendo suas devidas participações bem conectadas, o filme é dele e de Jolie, aonde até parece que está realmente cantando, mas seria impossível alcançar o timbre da cantora, então apenas dublou.

E já que comecei a falar das atuações, não sei como Angelina Jolie se inspirou para chegar na personificação de Maria Callas, mas vemos na tela uma imponente mulher, com postura firme e desenvolta, tendo as devidas nuances expressivas durante o canto, mas também sendo fina e marcante, e falando em finura, como bem sabemos a cantora morreu ultra-magra, e a atriz ficou seca para o papel, impressionando em tudo o que fez, além de ser densa e chamativa, ou seja, fez o que precisava para lembrarem dela no papel. Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher entregaram dois papeis lindos e marcantes com seus Ferrucio e Bruna, que acompanharam os últimos momentos com a cantora quase como uma cela, vivendo reclusos, fazendo as vontades dela, e os atores souberam ser singelos para se destacar sem sobrepor a protagonista, dando carinho e emoção com desenvoltura e simbolismo cênico, ou seja, foram além do que precisavam fazer. Agora quem caprichou na maquiagem e visual ficando praticamente idêntico foi Haluk Bilginer que praticamente reencarnou Aristóteles Onassis, de tal forma que valeria o diretor ter trabalhado mais seu personagem na tela, pois foi perfeito no pouco que entregou, e principalmente marcou a vida da cantora. Outro ator que teve atos interessantes foi Kodi Smith-McPhee com seu Mandrax, mas aí o erro foi do roteiro e não do ator, pois não deveria se apresentar logo de cara pelo nome, mas ir fazendo o filme e ao final soltar o nome para que tudo ficasse mais claro e brilhante, mas o jovem já disse ter futuro e soube ser simples e bem colocado na trama.

Visualmente o longa caprichou em cenas no apartamento imponente, com as diversas mudanças de lugar do piano gigante, algumas cenas na cozinha, outras no quarto/camarim com uma penteadeira tradicional cheia de luzes e muitas roupas, tivemos a cena icônica de queima das roupas, meio que jogada, mas bem feita para ser um marco, várias cenas em teatros com interpretações de algumas das óperas com banda e tudo mais, e alguns bons passeios por cafés e ruas clássicas de Paris, com uma fotografia bonita de se ver, e também tendo alguns atos em preto e branco, de modo que o diretor soube brincar com o pouco que tinha em suas mãos.

Enfim, é um filme interessante pela proposta, e claro para conhecermos a voz marcante de muitas óperas que já ouvimos e sequer sabíamos quem tinha dado um show com elas, que talvez pudesse ter sido mais trabalhado para mostrar realmente a vida inteira, mesmo que de forma rápida para conhecermos mais da personagem, mas ainda assim é um bom resultado na tela, que volto a frisar ser meio lento e denso com as canções marcantes, que quem estiver com sono ou não for acostumado vai acabar dormindo na sala, e assim sendo fica a ressalva. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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