MUBI - A Garota Da Agulha (Pigen Med Nålen) (The Girl With The Needle)

1/28/2025 12:59:00 AM |

Eis que estava no final de semana montando minha planilha com as datas dos filmes que faltam ver entre os concorrentes do Oscar, e vejo que um dos "inimigos" do nosso longa brasileiro entrou diretamente em cartaz no MUBI, então já programei para conferir hoje e meus amigos... que filmão tenso é esse dinamarquês, "A Garota da Agulha", de modo que estou vendo que só vamos enfrentar pedreiras bem intensas que vai depender do gosto dos votantes para escolher, pois aqui temos mais uma obra baseada em fatos reais, aonde no pós-guerra uma jovem engravida de seu patrão, só que ao a família do moço não aceitar ela, acaba levando o bebê para adoção numa agência clandestina, que para pagar resolve trabalhar lá como ama de leite, vivenciando coisas densas e horrores que você acaba nem pensando em ser capaz de ver, mas que o longa entrega. Ou seja, é daqueles filmes tão marcantes com o ponto de virada, que junto de uma fotografia em preto e branco muito bem dosada (dava para fazer colorido, mas acabou tendo um charme de época) acabamos mergulhando na vida da protagonista, e o resultado que no começo achei que cansaria, acaba tendo um ritmo bem pontuado que agrada bastante até o fechamento, valendo com certeza o play.

O longa se passa em Copenhague após a Primeira Guerra Mundial, aonde vemos que a jovem e trabalhadora Karoline é uma operária que perde seu emprego por conta da sua gravidez, fruto de um caso amoroso com seu abastado chefe. Com o desaparecimento de seu marido em combate e o relacionamento fracassado entre ela e seu patrão, Karoline se vê abandonada e sozinha, caindo numa situação miserável cada vez maior. Um dia, a garota encontra consolo e uma forma diferente de sobreviver com Dagmar, uma carismática mulher mais velha, diretora de uma agência de adoção clandestina que vive sob o disfarce de uma loja de doces. Karoline e Dagmar criam uma conexão e um vínculo intensos, mas o mundo da jovem desaba quando ela percebe o peso do trabalho de Dagmar, no qual já estava envolvida involuntariamente. Uma descoberta chocante coloca Karoline de novo diante de um horror insuportável.

Diria que o diretor e roteirista Magnus von Horn foi bem incisivo no estilo que desejava para sua produção, pois o longa facilmente poderia ser um drama de época bem pautado, com as devidas nuances e desenvolturas, mas optou por colocar uma pitada de horror junto com as diretivas que até hoje ainda marcam a população, como mudanças faciais após cirurgias de guerra, adoções e abortos, aonde dentro do contexto dos anos aonde o longa se passa tudo se intensifica, e a grande sacada foi ele fazer o filme como algo que realmente fosse feito naquela época, ao ponto do clima noir e preto e branco não ter sido apenas uma escolha técnica, e assim sendo o resultado teve uma fluência intensa e bem chamativa que eu que vivo reclamando de pessoas usarem por usarem o preto e branco fiquei feliz, e nem um pouco cansado com a entrega na tela. Ou seja, o diretor soube usar o estilo e a história ao seu favor, e acabou funcionando com várias indicações a prêmios e claro ao Oscar de Filme Internacional.

Quanto das atuações, Vic Carmen Sonne num primeiro momento pareceu meio que insegura para sua Karoline, mas depois vai se desenvolvendo melhor e entrega olhares marcantes e sentimentos bem expressivos para que cada ato seu fosse intenso e bem colocado, e isso mostrou uma evolução do roteiro para se rodear melhor dela, ao ponto de no final estarmos totalmente conectados e até assustados com o que acontece. Trígono Dyrholm trabalhou sua Dagmar inicialmente como uma senhora bem encaixada, aparentemente boazinha e bem dinâmica, mas vai se vertendo completamente desde a entrada da protagonista no seu meio, que conforme vamos conhecendo mais dela vemos que a atriz soube brincar com seus atos de forma leve porém cruel e bem seca, ou seja, precisou de uma bela preparação e o acerto foi marcante. Besir Zeciri trouxe para seu Peter um estilo bem mais fechado e até estranho, pois ao não vermos suas expressões faciais, tudo acaba ficando meio seco, mas é algo tão assustador o que ocorre com ele que suas cenas acabam passando até do limite do aceitável, e isso é bom de ver, pois o ator soube se expressar sem precisar mostrar sua real face. Ainda tivemos alguns atos para mostrar um dono de fábrica completamente frouxo, mandado pela mãe, e que não conseguiu ser imponente na tela no papel que Joachim Fjelstrup trabalhou, e também a garotinha bem colocada que Ava Knox Martin trabalhou alguns atos simples, mas bem marcantes e intensos, aonde seu final acaba sendo bem bonito pelo sorriso que entrega.

Visualmente a fotografia em preto e branco acaba perdendo detalhes cênicos, de modo que os apartamentos da jovem acabam parecendo bem sujos, simples e abandonados, e acredito que tenha sido essa a intenção do diretor, pois assim economizou na cenografia, da mesma forma que o clube de banho também teve essa mesma perspectiva, com banheiras estranhas e tudo meio que bagunçado, mas que funciona para a proposta, a fábrica de uniformes e depois de tecidos também foi bem singela, com planos mais fechados para não precisar criar algo grandioso, mas na cena da celebração colocou uma grande quantidade de figurantes e o resultado funcionou, além claro dos vários atos de entrada e saída de lá e de outras empresas aonde a protagonista vai, isso sem falar é claro da loja de doces da senhora que no fundo é uma agência de adoção meio estranha, e tudo o que acaba ocorrendo nas ruas também. Ou seja, economizaram em detalhes, mas ampliaram o leque de ambientes, e o resultado ficou bem presente na tela.

Enfim, é um filme forte, com uma pegada marcante e cheia de nuances diferentes do padrão, aonde acaba não sendo uma trama que o público comum irá ver e entrar no clima, mas para festivais é a cara perfeita, e o resultado surpreende, ao ponto que vale a conferida e o envolvimento com os personagens. Sendo assim fica a dica para dar play nele, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.


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