Jackie

2/21/2017 01:20:00 AM |

Longas biográficos são os mais perigosos de se fazer, pois muitos já conhecem a história real, outros nem tanto, mas ao escolher um rumo a seguir o diretor podemos pecar exageros tão nocivos para com seu filme que ficamos cansados do que vemos em cena logo no começo, e em poucos momentos conseguimos conectar realmente com a essência que desejavam passar. Digo isso com um grande pesar, pois a história da morte de JFK é algo interessante de se trabalhar e Jacqueline Kennedy foi uma mulher que merece ter sua história contada, mas seu luto ficou monótono demais em "Jackie" de tal forma que acho que nem em um enterro de um desconhecido, aonde alguém vai nos contar detalhes de tudo será tão cansativo quanto o que é mostrado no filme. Longe disso ser um demérito da atriz, que muito pelo contrário está perfeita, mas a mudança de diretor provavelmente pesou e muito no estilo a ser seguido, e o resultado acabou sendo algo bem abaixo do que poderia ser.

O longa nos situa em Dallas, Texas, 22 de novembro, 1963. John Fitzgerald é assassinado enquanto desfila em carro aberto, chocando os EUA e o mundo. Para Jacqueline Bouvier Kennedy é o início de um tormento íntimo e abrasador, o qual ela tem de lidar sem esmorecer perante a família, a imprensa, os políticos e a nação. Conhecida por sua extraordinária dignidade e equilíbrio, se esforça para manter o legado da família e do mundo de “Camelot” que os identificava.

Como falei no começo do texto, provavelmente o grande erro da trama foi ter mudado de mãos, pois Darren Aronofsky certamente teria feito o mesmo longa de teor póstumo/fúnebre, mas com uma pegada mais incisiva do que a de Pablo Larrain, não que este tenha feito um filme ruim, mas ao trabalhar um tom mais intimista, que era o usual do diretor nas suas produções chilenas, em seu primeiro trabalho hollywoodiano não seria diferente. O diretor até dosou bons momentos num recorte mais quebrado para não ficar tão maçante, mas é impossível segurar a canseira que o longa acaba causando pelo tom que foi adotado, de tal maneira que o filme até flui bem, mas não consegue alçar voo em momento algum, ficando sempre na mesma toada, dependendo 100% da atuação da protagonista, que por sinal está esplêndida, mas que se caísse num filme mais bem trabalhado, já poderia pegar todos os prêmios e sair correndo fazendo festa. O texto de Noah Oppenheim também pode ser considerado o vilão do longa, pois por ser extremamente verborrágico acaba nem dando respiro para conseguirmos observar sentimentos, ações e tudo mais que o filme pode nos propiciar dentro da produção, deixando apenas diálogos em cima de diálogos sem um alívio cênico para que o espectador conclua seus pensamentos.

Quanto das atuações, volto a frisar que Natalie Portman está tão perfeita que nos momentos que colocam cenas de arquivo ficamos pensando se não é apenas um efeito em cenas gravadas com a atriz, pois ela literalmente incorporou a personagem de Jacqueline Kennedy com tanta força que chega a ser incrível sua perspectiva cênica, roubando completamente tudo para si, mas como disse chamando a responsabilidade demais com o excesso de diálogos em cima dela, não tendo um respiro para apenas incorporarmos seus momentos, tanto que a cena em que coloca para tocar o musical "Camelot" e vai arrumar suas coisas é a melhor para assimilarmos tudo e vermos apenas suas expressões, ou seja, perfeita. Embora todos os demais façam apenas leves participações, pois como falei a trama fica quase que 90% em cima da protagonista, Billy Crudup trabalhou bem as facetas interpretativas do jornalista/entrevistador que passa boa parte dialogando com Jacqueline e com boas sacadas expressivas, o ator até conseguiu sair bem em cena. Outro que teve bons momentos foi Peter Sarsgaard como Bobby Kennedy, sendo um parceiro bem colocado nas cenas que apareceu e mostrando bons momentos de dinâmica, mas como ficou pouco em cena não podemos falar que foi bem também. Agora um que apareceu pouco, mas que caiu bem demais no papel, foi John Hurt como o padre conselheiro de Jackie, que com um semblante bem velho e com uma doçura nas falas acaba envolvendo as cenas duras com uma serenidade tão gostosa que acabou adequando bem à proposta da trama.

A trama foi precisa em questões de figurinos e cenários de tal modo que nos sentimos realmente nos anos 60, fora que volto a frisar que ao misturar cenas reais com as filmadas, chega a ser difícil distinguir a transição de um momento para o outro, ou seja, um trabalho impecável da equipe de arte que ousou demais nas locações e nos elementos cênicos para que tudo ficasse perfeito e bem encaixado, tanto que provavelmente deva ser o vencedor do Oscar nessa categoria, pois o primor é algo que não tem como nem competir. Quanto da fotografia poderiam ter trabalhado menos com filtros, pois o tom seco e raspado que usaram para criar uma certa sujeira em cena e dar um clima de filme antigo ficou um pouco nostálgico demais e chega até a cansar a vista, mas nada que tenha atrapalhado no andamento que o diretor desejava, talvez um tom mais vivo desse uma vida maior para a trama, e não cansasse tanto, mas aí mudaria a proposta do longa.

Enfim, é um filme bem feito, e interessante de ver, mas que não vai agradar quem não seja apaixonado por biografias, e principalmente por dramas sem muita dinâmica, pois a chance de quem não se enquadrar nesse perfil acabar dormindo com o longa é bem alta. Portanto confira em casa com tempo, que vai ser mais agradável, já que nos cinemas não dá para dar aquela pausa e se espreguiçar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando essa semana cinematográfica que até rendeu bons textos, e já fico preparado para a próxima que além do Oscar para ver na TV virá bem recheada na programação. Então abraços e até breve meus amigos.

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