Garoto dos Céus (Walad Min Al Janna) (ولد من أل جنة) (Boy From Heaven) (Cairo Conspiracy)

1/14/2023 02:17:00 PM |

Sabe quando você tem uma lembrança de muito tempo atrás e não sabe de onde é, hoje conferindo o longa "Garoto dos Céus" aconteceu comigo, e só depois que fui ler o material do filme que consegui entender de onde era, pois a trama trabalha algo que dificilmente vemos em filmes por aqui, que é uma faculdade de religião islâmica, que nos mostra o conflito entre religião e o Estado, usando pessoas pobres como influenciadores para algo maior que desejam, e isso é algo que acontece naturalmente em diversos lugares, mas me vinha toda hora a lembrança de algum filme que tinha toda essa pegada, mas de uma forma bem diferente, e eis que ao conferir o material nos é falado que o diretor tirou as ideias do romance "O Nome da Rosa", que é um filme de 1986 e por incrível que pareça estreou essa semana na HBO Max, ou seja, tudo se conectando no melhor estilo conspiracional. Mas vamos ao que interessa que é falar sobre o longa que está indicado pela Suécia ao Oscar de Melhor Filme Internacional ou Não Falado em Inglês, que ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes e tem uma pegada até que bem intrigante, com algo meio que de espionagem, meio que de intrigas e tudo mais que rola dentro dos bastidores de uma grande faculdade religiosa, e isso sempre consegue causar muito envolvimento para quem vai conferir, esperando saber como alguém vai fazer tal coisa, e funciona muito bem dentro do estilo, porém é algo que é muito diferente da nossa cultura, de forma que em alguns momentos você fica pensando nossa que estranho isso, mas é a vida deles e isso é algo que acho mágico no cinema, você poder conhecer mais culturas, mesmo que seja ficcional em partes.

A sinopse nos conta que Adam, filho de um pescador, recebe o privilégio de estudar na Universidade Al-Azhar do Cairo, o epicentro do poder do islamismo sunita. Pouco após sua chegada na cidade, a maior liderança religiosa da universidade, o Grande Imã, morre repentinamente. Adam logo se torna uma peça nesse jogo brutal pelo poder entre os religiosos egípcios e a elite política.

O diretor e roteirista Tarik Saleh já é figurinha carimbada por aqui, já tendo feito longas mais "normais" para o público do ocidente, como por exemplo o filme "Contrato Perigoso", e aqui ele desenvolveu algo mais fechado que muitos podem ser que nem entendam toda a dinâmica que a trama entrega, afinal é um país com praticamente dois governos: o religioso e o presidencial, então tudo envolve o poder que querem ter, envolve os militares, e claro que como toda briga por poder envolve que os pobres se lasquem, são colocados no meio das conspirações de maneira tão bem colocada que não percebam como estão sendo usados, e o diretor soube muito bem usar isso, soube dimensionar o tamanho de sua obra para que ela não ficasse caríssima nem falsa demais, e tudo é bem convincente dentro do que é passado, então diria que o motivo dele ter ganho o prêmio de roteiro em Cannes foi mais por conseguir passar toda essa mensagem conspiracional bem feita em um lugar que quase ninguém conhece do que pela história em si, pois se olharmos bem a fundo o roteiro é simples e já foi usado diversas vezes em outros filmes, mas essa novidade caiu muito bem no mundo moderno, e ao falar de suas inspirações fica nítido que soube colocar o passado e o futuro em algo que está acontecendo agora.

Sobre as atuações aí já entramos em algo meio complexo, pois tivemos alguns trejeitos, caras e bocas meio que estranhas de ver, e isso não é muito interessante, mas posso dizer que os protagonistas ao menos se esforçaram para chamar atenção, tendo claro o destaque para Tawfeek Barhom que fez de seu Adam um jovem simples e bem colocado, disposto a se entregar em todos os envolvimentos e conseguindo trabalhar bem a síntese da trama para o seu personagem, fazendo algumas caras sofridas demais, mas acertando de certa forma. Outro que foi bem usado foi Fares Fares com seu Ibrahim, entregando boas dinâmicas com o protagonista, sendo investigativo e bem direcionado nos atos mais densos, e conseguindo convencer no quê precisava, só soando estranho como um papel militar não tão rigoroso, mas não tem como saber como é isso por lá. Quanto aos demais, cada um apareceu um pouco dentro das devidas conexões, não indo muito além, mas sendo bem trabalhados ao menos, com leves destaques para Meudi Dehbi com seu Zizo, Ahmed Laissaoui com seu Raed, e Sherwan Haji como Soliman.

Visualmente o longa foi bem marcante ao mostrar uma faculdade islâmica, não sei dizer se gravaram lá dentro da  Al-Azhar que é toda cheia de regras, mas que ficou bem convincente, com as aulas bem imponentes em rodas sentados como se fossem orações mesmo, os diversos ambientes de rezas, uma boate cheia de homens dançando, um café aonde rolam as conversas de investigador e seus infiltrados, além de um quartel da secretaria de Estado meio artificial demais, mas que no contexto completo da trama tudo funciona bem, além de algumas cenas do protagonista pescando com seu pai e a casa simples deles.

Enfim, é um filme bem interessante que chama atenção por ser de uma cultura tão diferente da nossa, mas que tem boas conexões no quesito da briga pelo poder, então fica a dica para todos conferirem a partir do dia 19 em cinemas selecionados, e eu fico por aqui agora deixando meus abraços e até breve.


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