Emily

1/06/2023 01:12:00 AM |

Gosto quando diretores trabalham um ar ficcional em cima de uma biografia para que ela flua para outros rumos e ganhe emoções mais interessantes do que apenas uma vida pacata familiar, mas geralmente esse ato frutífero da imaginação de alguns roteiristas acabam funcionando para dar dinamicidade e desenvoltura para que a trama crie novas ideias, que brinque com o público e que ousando de certa forma não bagunce tanto com tudo. Pois bem, o que a ex-atriz e agora diretora e roteirista de primeira viagem Frances O'Connor fez foi brincar com a ideia de uma família de escritoras e trabalhar de onde a mente de Emily Bronthë tirou tudo para conseguir escrever o clássico literário "O Morro dos Ventos Uivantes", que já conta com mais de 50 adaptações para o cinema, dando algumas dinâmicas do livro na vida própria da garota, mostrando sua timidez e os diversos atos conflitivos. Porém, fazer esse estilo de brincadeira é algo para pessoas bem experientes, o que não é o caso de O'Connor, então a trama ficou além de bagunçada, presa em dinâmicas que não fluíram bem, ao ponto que me vi olhando para a hora duas vezes durante a sessão de 130 minutos, ou seja, ficou algo alongado que cansa um pouco o espectador. Sendo assim, não diria que é algo ruim de ver, mas que acabou faltando um peso maior na mão dela para que o filme tivesse mais vida, e impactasse tanto quanto na cena da máscara, pois aí sim tendo algo desse estilo seria perfeito.

A sinopse nos conta que o mundo quer que ela seja quieta e obediente, mas Emily Brontë tem uma imaginação forte e uma voz que anseia por ser ouvida. Enquanto se recusa a fazer o que esperam dela, Emily vive um amor doloroso e proibido com Weightman e mostra que pode até ser estranha e rebelde, mas é também genial.

Já disse aqui que não sou contra atores virarem diretores e roteiristas, apenas tem de saber pegar algo mais simples para começar e não inventar muita coisa, e aqui Frances O'Connor até tinha grandes chances de ir além, bastava entregar a história real da vida de Emily Bronthë que já seria algo bem gigantesco e cheio de reviravoltas, mas quis enfeitar, quis colocar um pároco no meio de tudo, trabalhar drogas e rebeldias, criar conflitos entre familiares e tudo mais, o que acabou virando mais algo novelesco do que um filme com uma proposta mais marcada. Claro volto a frisar que não é algo ruim, e nem que a diretora/roteirista falhou, pois a ideia em si foi bem elaborada, o que acabou faltando foi dinamizar tudo para que o resultado convencesse mais, e isso é algo que com experiência ela irá pegar mais para frente.

Sobre as atuações, diria que Emma Mackey deu uma pegada bem interessante para sua Emily, de forma que a jovem tem olhares contundentes, tem dinâmicas bem trabalhadas, soube dosar o envolvimento com cada personagem ao seu redor, e fluiu muito bem com tudo o que o papel pedia, porém faltou o principal que não é culpa dela, a escritora é famosa por seu livro, então isso deveria ter sido usado ao máximo, e não apenas em três ou quatro ceninhas jogadas, e isso pesou bastante, mas no que dependia da atriz, foi bem feito. Oliver Jackson-Cohen trabalhou bem seu Weightman criando boas desenvolturas e sendo bem direto nos atos junto da protagonista, não deixando o ar ficar nebuloso e chamando a responsabilidade para si, de modo que embora seja um personagem que aparentemente não existiu na biografia real da protagonista, conseguiu chamar muita atenção e envolver com o que fez. O estilão de Fionn Whitehead caiu muito bem no papel de Branwell, pois conseguiu dar ares de bêbado que o irmão da protagonista tinha sem recair para algo fora de si, e assim mostrou muito envolvimento para o papel, fez olhares bem ciumentos e até apaixonados, agradando e fluindo bem. Quanto os demais, acredito que a diretora viu que viraria uma novela realmente se trabalhasse mais eles, então ficaram bem em segundo plano tanto o pai vivido por Adrian Dunbar, quanto as irmãs vividas por Alexandra Dowling e Amelia Gething, mas não decepcionaram nos atos que precisaram dar um algo a mais, então ficaram como figurantes de luxo para a trama.

Visualmente o longa que trabalha o começo dos anos 1800 na Inglaterra, mais precisamente em Thornton, tem um ar rural clássico, tem figurinos pesados (chega a ser até engraçado o tanto de roupa que os personagens precisam tirar numa cena mais quente!), e muitos ambientes bem trabalhados nesse meio, desde as bisbilhotadas dos jovens nas casas alheias, a escola para onde as garotas vão para estudar a licenciatura e lecionar, muitos atos na igreja, em cabanas e tudo mais do estilo de vilas, que chama a atenção com bons elementos cênicos, mas que como já disse faltou trabalhar mais o feitio do livro em si, as doenças da família e assim o resultado cairia melhor, mas a equipe de arte trabalhou bem para um filme digamos simples.

Enfim, é um filme interessante e bem atuado, mas que se alongou mais do que deveria em alguns atos e correu demais aonde deveria ter trabalhado mais, o que acabou cansando um pouco, mas ainda assim vale a recomendação para imaginarmos um pouco a mente das mulheres mais rebeldes dos anos 1800, aonde sempre vemos algo mais fechado e tradicional, então fica a dica. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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