Adeus, Idiotas (Adieu Les Cons) (Bye Bye Morons)

11/28/2021 02:04:00 AM |

Se tem uma coisa que os franceses sabem fazer muito bem no cinema é a tal da comédia dramática, pois fazem os dois gêneros caminhar na dosagem certa entre as estruturas, caminhando a emoção com a segurança clássica e divertindo com sutilezas bem encaixas sem precisar apelar exageradamente. E com a trama de "Adeus, Idiotas" temos algo que vai ainda mais além para simbolizar o fim da vida seja morrendo ou fazendo o bem, afinal quando já se desistiu de tudo as situações podem soar desesperadoras, mas bem funcionais, e o filme brinca com essa ideia, usa de bons artifícios para uma busca do passado, mas principalmente ousa em mostrar que não é necessário ser bizarro para fazer rir, e que com boas sacadas também é possível emocionar. Diria que a trama usa boas dinâmicas no uso da memória afetiva, trabalha bem a personalidade dos protagonistas, e acaba fazendo com que o filme seja leve, mesmo tendo tiroteio, batidas e vários acontecimentos de miolo, que souberam usar ao favor da trama, e assim todos conseguem entrar bem no clima dela com precisão.

A sinopse nos conta que quando a cabeleireira Suze Trappet, de 43 anos, descobre que está gravemente doente, ela decide procurar uma criança que foi forçada a abandonar quando tinha apenas 15 anos. Em sua louca jornada burocrática, ela cruza com JB, de 50 anos - velho no meio de um esgotamento psicológico, e o Sr. Blin, um arquivista cego com tendência a exagerar no entusiasmo. O improvável trio partiu em uma jornada hilariante e pungente pela cidade em busca do filho há muito perdido de Suze.

O diretor e roteirista Albert Dupontel que fez os excelentes "Uma Juíza Sem Juízo" e "Nos Vemos No Paraíso" trouxe aqui algo que já vimos bem em seus outros filmes que é usar de sutilezas para encantar o público, e ir brincando com o tema sem precisar soar sério, pois o filme tinha tudo para ser pesadíssimo logo de cara mostrando uma doença na vida da protagonista, um caso de desvalorização no emprego, e claro as consequências diretas disso, mas que logo em seguida consegue ir desenvolvendo tudo para que os motes funcionem, e envolvam completamente o público. Claro que na minha visão não foi o melhor filme francês do ano, pois mesmo sendo bem bacana poderia ter alguns momentos menos bobos, mas acabou sendo indicado a 12 Cesar (Oscar Francês) e ganhou 6 (Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Produção, Melhor Ator Coadjuvante), e assim sendo para eles o longa foi o melhor do ano.

Sobre as atuações, Virginie Efira fez com que sua Suze fosse simples, porém cheia de carisma, trabalhando quase que de uma forma desesperadora para seus objetivos, e entregando assim olhares bem marcados, situações bem sucedidas, e principalmente mostrando a doença de sua personagem sem soar apelativa para o tema, que conforme vai indo além no filme vamos entendendo seus atos e agradando com o que vamos vendo, não sendo algo que vamos lembrar dela efetivamente, mas que tem muito estilo e agradou bem. Agora falando do diretor como ator, Albert Dupontel com seu JB ou melhor Cuchas deu boas nuances para os técnicos de informática que até tem ares românticos, mas são exageradamente tímidos, e acabam não se entregando facilmente, e ele foi bem encaixado, fez suas situações serem engraçadas e trabalhou bem, coisa rara de se ver em um diretor de comédias atuando. Nicolas Marié levou prêmio com seu Serge Blin, mas diria ser apenas pela cena do carro aonde vai descrevendo a cidade com suas lembranças antes de ser cego, e pela loucura que faz ao pensar na polícia dirigindo o carro, pois é um personagem que não acrescenta muito para o tema do filme, mas soube segurar bem seus momentos e envolver, e isso conta muito nas premiações por lá. Jackie Berroyer foi bem simbólico com seu Dr. Lint, pois ao dar as nuances de letras horríveis de médicos, e fazer todos se emocionarem com seu Alzheimer sendo ofuscado pelas lembranças acabou envolvendo bastante e marcando em seus atos, o que é algo bem bom de ver em um personagem bem secundário. Quanto aos demais, tivemos ainda atos bonitos de Bastien Ughetto e Marilou Aussiloux no elevador final, e tenho de pontuar os bons trejeitos de Joséphine Hélin como a protagonista na versão adolescente, pois foi bem demais em alguns atos.

Visualmente o longa é cheio de bons atos, muitas câmeras passeando por cenários grandiosos como a sala de atendimento da saúde cheia de personagens, depois o escritório imenso do filho da protagonista também com muitos figurantes correndo (arrisco dizer que usaram até os mesmos nas duas cenas), todo um hospital cheio de personalidade no andar do médico principal, a casa dele cheio de memórias afetivas, e claro a sala do protagonista sendo detonada com o rifle, a sala do arquivo de um cego, além da simbologia da protagonista "matando" seus vilões no começo, ou seja, a equipe de arte teve grandiosidade nos elementos e foi usando cada ato para servir o espectador, ao ponto que tudo se encaixa, tudo é bem marcante e funciona com muitas cores e detalhes, que não vai muito longe, mas é seguro para o tema.

Enfim, é um filme muito gostoso de conferir, que tem atitude por parte dos protagonistas e uma direção segura do que desejava passar com o roteiro, sendo daqueles que podemos ver mais vezes tranquilamente, e que agradará bastante quem gosta do estilo mesmo tendo alguns defeitinhos leves. E é isso meus amigos, recomendo ele com certeza, e fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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