Está Tudo Bem (Tout S'est Bien Passé) (Everything Went Fine)

11/26/2021 01:35:00 AM |

É até engraçado ir conferir um filme do diretor François Ozon, pois você já vai ao cinema armado para situações fortes, de alto impacto e que costumam chocar por alguma nuance específica, mas aqui em "Está Tudo Bem", o seu longa desse ano (já que está presente quase que todos os anos no Festival Varilux) ele conseguiu nos comover e emocionar com uma história bonita, que é forte pela essência da desistência da vida e de todo o processo da eutanásia na Suíça versus a polícia francesa, e que com percalços até engraçados no miolo acaba funcionando muito bem e divertindo e envolvendo na medida certa tanto pelas atuações funcionais quanto pelo tema bem representado, afinal é a história real de que a escritora do livro em que o longa foi baseado contou sobre o que aconteceu em sua vida, e assim sendo vemos um Ozon menos duro e chocante. Ou seja, certamente muitos irão se emocionar nem tanto pela história em si, mas sim por lembrar algum parente em seus dias finais, outros vão sentir raiva da ideia do senhorzinho, mas de uma forma geral todos vão se conectar com a trama bem feita, pois o filme é bom.

O longa conta a história de um senhor com a saúde cada vez mais debilitada, decide que não quer mais continuar a viver. A partir dessa decisão, ele inicia uma mobilização para conseguir o direito à uma morte assistida numa clínica na Suíça, e precisará enfrentar suas duas filhas relutantes. O filme, além de abordar a questão da eutanásia, conta a história de uma família em busca de entendimento acerca da vida e da morte.

Confesso que fiquei muito surpreso por ir conferir um longa do diretor e roteirista François Ozon sem sair da sessão com o queixo no chão ou sem saber exatamente o que pensar do filme, pois seu estilo é de longas difíceis, duros, fortes, com muita reflexão ou loucuras, e aqui ele foi extremamente coeso no estilo, trabalhando toda a dramaticidade forte do tema eutanásia, mas deixando que os protagonistas fluíssem na história, e dando envolvimento claro para o dilema da filha que sofreu bastante com o pai na infância, mas que o ama e agora terá de decidir se o ajuda ou não na sua última vontade em vida, ou seja, ele trabalhou os arcos dramáticos de uma maneira simples, porém bem efetiva já que sendo a adaptação do romance da escritora Emmanuèle Bernheim de algo real que aconteceu com ela, ele não pode ousar muito, mas ainda assim o filme funciona bastante e vai agradar quem gosta de um bom drama.

Sobre as atuações, Sophie Marceau é daquelas atrizes que conseguem extrair tanto de suas personagens, criando carisma e emoções próprias tão boas, que não sei se ela teve um contato maior com a verdadeira Emmanuèle, mas ao final de tudo o que fez parecia ser alguém que conhecemos já há muito tempo, que tem traquejos e olhares conhecidos, e que facilmente a veríamos na rua, ou seja, foi perfeita no que fez, e passou muita emoção nos atos que foram precisos. André Dussollier também trouxe para seu André tanta personalidade e força que só não tive a certeza dele estar realmente com sequelas de um AVC por ter visto ele no trailer de outro longa do Festival, mas do contrário a maquiagem e os trejeitos que o ator conseguiu entregar foram tão impactantes e marcantes que merecia uma salva de palmas, pois encaixou demais em tudo, e claro que seus atos com a filha chegam a dar raiva, mas é o papel. Géraldine Pailhas fez bem sua Pascale, porém como é a filha menos direta com o pai, acabou ficando meio que de segundo plano, mas ainda assim teve atos que chamaram atenção e foi bem interessante toda a conexão dela com a irmã. Quanto aos demais, a maioria acabou sendo de conexões, tendo um pouco mais de presença com a mãe já bem debilitada vivida por Charlotte Rampling e Grégory Gadebois (que está no outro filme que já vi do Festival - "Delicioso - Da Cozinha Para o Mundo) fazendo um papel meio que de canalha aqui, mas amado pelo protagonista e assim tendo um ato bem bonito na essência do longa.

Visualmente o destaque fica a cargo da maquiagem do protagonista que foi muito representativa para quem já conviveu com avós que tiveram AVCs graves, e assim o filme se passa entre vários hospitais e clínicas de readequação, sendo simbólicos com o situações constrangedoras que rolam com as pessoas (como desarranjo intestinal, falta de movimentos, alimentos não descendo na boca e tudo mais), e também vendo a protagonista em seus atos para tentar aliviar a mente (fazendo academia, boxe, indo a galerias e exposições), juntando com lembranças de sua infância com o pai, que dão um pouco do norte de sua conexão, ou seja, tudo bem simples e simbólico como a ida a um restaurante que o pai gosta pelo garçom e por aí vai. Além disso temos toda a explicação da eutanásia pela senhorinha num hotel, numa jogada meio estranha até de ver, e os perrengues que as moças precisaram passar por o pai não parar de falar disso num país aonde é proibida a prática, que acaba sendo bem engraçado tudo o que rola na delegacia e na ida para a Suíça.

Enfim, é daqueles filmes que certamente marcarão muitos por tudo o que é visto, e claro também pela forma que o filme é entregue, pois poderia ser muito mais impactante, mas que o diretor quis trabalhar a emoção vivida pela real personagem em seu livro, e assim o filme agrada bastante e recomendo a todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais filmes do Festival Varilux de Cinema Francês, e claro também com as estreias da semana, então abraços e até logo mais.


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