Um Intruso No Porão (L'homme de la Cave) (The Man In Basement)

11/27/2021 08:48:00 PM |

É interessante observar os rumos que uma trama acaba tomando e toda a reflexão que conseguimos extrair da ideia toda, mesmo em um filme com tantas ideias como "Um Intruso No Porão" que acaba entrando no conflito antisemita e casos negacionistas, mas basicamente a intensidade do conflito acaba mostrando que enquanto a ideia toda é jogada para cima das pessoas, quem acaba saindo como errado é quem perde a cabeça primeiro, e é bem isso que essas pessoas acabam tentando conflitar. Diria que o filme é pesado, mas acaba trabalhando bem toda a ideia e o resultado impacta bem e flui melhor ainda, sendo simples, porém efetivo.

A sinopse nos conta que em Paris, Simon e Helen decidem vender um porão no imóvel onde vivem. Um homem com um passado conturbado o compra e instala-se lá sem aviso prévio. Pouco a pouco, a sua presença vai mudar a vida do casal.

O diretor e roteirista Philippe Le Guay conseguiu envolver bem a ideia original a um ponto tão forte que acabamos entrando de cabeça no tema, passamos a pensar nas possibilidades do protagonista conseguir se livrar do incômodo, mas mais do que isso o filme acaba sendo dirigido completamente para o rumo da invasão de ideias, do impacto que um tema pode destruir uma família, de uma pessoa perder a cabeça e tudo mais, de forma que o diretor planta bem essa semente de pessoas que invadem não o seu espaço, mas sim sua vida, seu modo de ser, e que acabamos caindo em suas mãos pelas ideias plantadas de ódio que acabam crescendo bastante. Ou seja, é um filme que aparentemente parecia singelo, mas que tem uma explosão no interior tão grande que tudo acaba fechando com uma tensão máxima, e isso mostra o potencial do diretor, mesmo que o filme não vá diretamente ao ponto.

Sobre as atuações, Jérémie Renier foi bem direto com seu Simon, trabalhando intensamente os trejeitos e dinâmicas, mas principalmente tendo a explosão de ideias entrando na sua cabeça como um pai de família tendo de defender seu espaço e suas ideias, e o ator segurou bem os ares que o filme precisava, agradando bem em tudo. Bérénice Bejo ficou meio em segundo plano com sua Helene, mas passou a questionar ideias e a atriz soube passar bem os ares de interrogação, criou bem trejeitos de medo e desespero, e claro explodiu antes que marido, sendo bem intensa na formatação de sua personagem. Agora sem dúvida alguma a serenidade de François Cluzet com seu Jacques foi o ponto mais marcante da trama, pois seu personagem é exatamente a foto desses que jogam o fogo no celeiro e veem tudo explodir, e o ator foi preciso de intensidade e marcante em todos os diálogos e trejeitos, agradando bastante em tudo, e fazendo com que ficássemos com raiva dele. Quanto aos demais, vale uma rápida menção para o irmão do protagonista vivido por Jonathan Zaccaï pela sua disposição em querer ir para a briga, mas principalmente para a garota Victoria Eber por enfrentar todos os problemas e ser bem direta nos atos de sua Justine.

Visualmente o longa trabalha bem elementos do judaísmo, e faz até a dinâmica inversa do processo de se esconder em porões, com toda uma desenvoltura própria bem alocada, tendo toda a menção e representação de uma câmara de gás, todo o ato de lutas, e até colocando em síntese as vidas de cada personagem, nos devidos ambientes.

Enfim, é um longa bem intenso e interessante que permeia bem as ideias em nossas mentes, serve para uma reflexão bem simbólica sobre os temas, e que consegue ser marcante. Diria que o filme poderia ter ido mais além, mas foi bem funcional na ideia completa e impacta bem, valendo a recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho mais um hoje do Festival Varilux de Cinema Francês, então abraços e até logo mais.


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