Netflix - Entre Frestas (Hiacynt) (Operation Hyacinth)

10/14/2021 12:44:00 AM |

O gênero policial quando embasado em casos reais costuma trabalhar temas que casualmente geram controversas e duras ideias pela forma de condução na época, e isso é algo bem bacana de ver quando um diretor se propõe a discutir quem estava certo, se a política da época funcionava de uma forma correta, e/ou até mesmo denunciar e mostrar que coisas erradas que aconteciam no passado ainda se refletem de forma casual no mundo atual. E com o lançamento de hoje da Netflix, o longa polonês "Entre Frestas", vemos o caso de um assassinato na comunidade LGBT numa Polônia comunista dos anos 80, aonde a polícia encerra o caso sem provas ou sem um culpado realmente, enquanto está catalogando todos os homens gays da época fichando criminalmente apenas por serem gays, mas quando o caso cai para um jovem sargento, ele não segue a linha e vai até o fim para tentar encontrar o mandante de tudo. Claro que podemos juntar muitas peças, pensar em muitas situações, e até ir contra toda a ideologia da trama, mas é notável a intensidade do roteiro, a formatação de tudo, e principalmente o estilo de condução da investigação, aonde vamos entrando cada vez mais no clima e o resultado é bem trabalhado pelos atores, e claro, para onde vai o filme. Não diria ser algo que vai explodir de audiência e que muitos irão se impressionar com o que é mostrado (tirando as cenas mais intensas!), mas é um filme-denúncia muito bem feito e que vale ver pela reflexão completa, e também pelo estilo diferente das produções usuais que tanto vemos.

O longa nos mostra um pouco da Operação Jacinto que aconteceu nos anos 80 na Polônia comunista para catalogar homens gays da época, e segue Robert, um jovem policial insatisfeito com a conclusão de uma busca por um serial killer que mata, especificamente, membros da comunidade LGBTQIAP+ na cidade de Varsóvia. Por conta disso, Robert começa a investigar sozinho, até que ele conhece Arek e usa o usa apenas como informante. Mas mal sabe ele que sua relação com o homem pode não só afetar seu trabalho como policial, mas também sua vida pessoal.

O diretor Piotr Domalewski foi bem coerente no clima de sua trama, pois daria fácil para o filme ser mais ágil e intenso de ações, porém cairia nos trejeitos clássicos de tramas investigativas e não pesaria tanto a situação, ao ponto que indo pelos cantos, criando possibilidades (mesmo que não as conclua) e desenvolvendo cada ato com muita personalidade, o resultado passa a ser bem marcado e envolvente, e claro que usou bem as cenas de nudez sem precisar ser jogado, e com isso todo o filme flui sem apelos, o que é algo muito bom, pois em alguns países certamente colocariam muito mais apelo no cunho sexual e o filme desandaria. Ou seja, a obra literária certamente foi mais densa de detalhes, provavelmente acusou mais nomes fortes do país, mas o diretor conseguiu passar bem quem era quem, e como tudo foi desenvolvido, ao menos do modo fictício, e com isso criou algo que pode até causar problemas para ele, mas que ousou e acertou no estilo com o que fez.

Sobre as atuações, cada ator trabalhou suas nuances de formas bem fechadas, alguns puxando mais para o lado policial, outros mais para o drama em si, e claro que o foco ficou bem mais em Tomasz Zietek com seu Robert bem cheio de nuances, com ações dimensionadas, e principalmente demonstrando sempre indignação por não irem a fundo nas investigações, mas nesse entremeio conhecendo um pouco mais do mundo que estava analisando, e claro recaindo para algo inesperado, ou seja, foi bem nos atos e se entregou completamente para envolver com personalidade e agradar bastante. Hubert Milkowski fez um Arek mais jovial, meio sem impacto, mas colocou bons olhares nos seus atos, conseguiu ser efetivo nas intenções que o longa precisava, e foi bem direto nas emoções, acertando com estilo. A jovem Adrianna Chlebicka fez sua Halincka com boas dinâmicas, também se soltou bem para os atos mais intensos da trama colocando o corpo para jogo, e quando precisou entregar olhares para o protagonista, sejam eles românticos ou desapontados, não economizou e saiu-se muito bem em tudo. Quanto dos demais vale o destaque para Marek Kalita como o pai do protagonista, que fez nuances fortes e bem marcadas, mas como todo homem de nível alto, em filmes desse estilo, é só procurar bem que acha sujeira embaixo do tapete.

Visualmente o longa trabalhou bem duas estéticas, primeiro o clima noir mais escuro de filmes policiais investigativos, cheio de nuances em delegacias, salas de interrogatórios, arquivos, montagem de quadro de suspeitos, lugares frequentados por grupos rebeldes e tudo mais, e também um estilo mais antigo, marcado por uma granulação bem interessante na imagem, tons e cores mais amareladas, muitos elementos de época como VHS e câmeras polaroides, carros da época e tudo muito bem simbolizado, mostrando que a equipe de arte pesquisou bastante, e que junto da direção de fotografia implementou técnicas interessantes para dar as nuances que o diretor desejava.

Enfim, é um filme que até poderia ter ido mais além, pois contou com uma temática bem potente, com nuances e estilos bem feitos e intrigantes, mas que acabou faltando um pouco mais de intensidade nas situações para empolgar realmente, valendo claro pela denúncia em si, pela boa síntese proposta, e assim sendo o resultado completo faz ser a indicação algo que muitos que curtem esse estilo entrem completamente na ideia e saiam felizes após o término dele. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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