Amazon Prime Video - O Espião Inglês (The Courier)

10/03/2021 06:34:00 PM |

A Guerra Fria sempre permeou bons longas de espionagem, afinal foi mais definida nos bastidores do que realmente com armas pelo que bem sabemos, sempre tendo ameaças fortes de ambos os lados, muitos documentos, muita tensão e se os verdadeiros nomes foram bons atores para desempenhar suas falcatruas para conseguir o que precisavam, nas mãos e expressões de verdadeiros grandes atores o resultado acaba sempre impactando com as boas desenvolturas criadas pelos roteiristas. E no lançamento da Amazon Prime Video, "O Espião Inglês", vemos toda essa interação forte, todas as negociações ocultas da época, e mais do que isso vemos um empresário/vendedor que é jogado no meio do conflito ao negociar com um dos principais traidores da URSS, passando diversas informações para os escritórios de espionagem como se estivessem enviando simples papéis de negociações de peças entre os dois, e que claro por serem homens comuns e não espiões realmente acabaram fazendo muita amizade e vivendo também suas vidas durante a produção. Não diria que é daqueles filmes fortes que nos chocam por alguma reviravolta surpreendente, afinal é uma produção baseada em algo real que não pode ser de grandes firulas, mas justamente por esse motivo acaba sendo emocionante ver o desespero e o temperamento de cada um no meio de tudo acontecendo, o que passa a ser um bom filme de época.

O longa nos conta que durante a Guerra Fria, diversos civis atuaram como espiões para impedir o avanço soviético no mundo. Greville Wynne, um engenheiro elétrico britânico, foi um desses homens recrutados pelo Serviço de Inteligência Militar Britânico, O MI6. Através de informações cruciais obtidas por uma de suas fontes, Wynne conseguiu determinar o fim da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.

Diria que o diretor Dominic Cooke teve uma boa percepção de ambiente para fazer com que seu filme ficasse bem preso à época, retratasse todo o envolvimento dos protagonistas seja nos passeios pelos clássicos e maravilhosos balés ou por noitadas em bares regados à muita bebida, mas principalmente nas devidas trocas de informações sobre os projetos dos mísseis da URSS, e que com uma sagacidade bem marcante vemos seu estilo de segurar cada ato com a intensidade certeira de entonações e momentos, não criando aberturas para elementos surpresas ou reviravoltas marcantes, mas sim desenvolvendo cada momento como algo único e bem pautado no ambiente e nos diálogos ali presentes, ao ponto que o roteiro de Tom O'Connor acaba fluindo de uma maneira bem fácil nas mãos do diretor e no estilo dos protagonistas, pois como bem sabemos filmes de espionagem sempre tem cartas abertas e tramas densas e amarradas, mas aqui ao optarem por algo mais direto a interação fica fácil e o resultado gostoso de ver.

Já que comecei a falar dos protagonistas, mais uma vez Benedict Cumberbatch entrega uma personalidade tão marcante ao ponto que seu Greville pode nem ter sido um empresário/vendedor tão carismático de forma a conquistar as pessoas tão facilmente e estar disposto para uma desenvoltura tão maluca quanto a que acabou se metendo, mas vemos uma boa intensidade cênica, vemos o ator se entregando bem nos atos mais tensos, fazendo trejeitos fortes e bem marcados, e claro se colocando 100% à disposição para a equipe de caracterização, tanto que no final vemos a primeira entrevista do verdadeiro Greville ao voltar para casa, e o ator está idêntico, até na magreza visual, ou seja, se doou ao máximo como sempre faz bem. Merab Ninidze fez um Oleg extremamente sério, com uma personalidade até dura frente aos medos que está sentindo por estar num posto de alto comando na URSS e estar passando informações para os governos inimigos, e o ator soube dominar cada momento desse com expressões marcantes e intensas, ao ponto de conseguir convencer bem e agradar com estilo, ou seja, fez uma atuação digna de envolver mesmo que de uma forma estranha. Rachel Brosnahan e Angus Wright trabalharam muito bem seus Emily e Dickie, pois desenvolveram um ar de influência muito forte para convencer o protagonista do que deveria fazer, entregaram coerências e dinâmicas marcantes, e claro sofreram também com os erros de percurso, ao ponto que facilmente deram atos e olhares tensos mesmo que não passassem isso num primeiro momento para o protagonista, e assim o acerto foi muito bom de ver. E quanto aos demais vale destacar apenas Jessie Buckley, pois fazendo uma esposa totalmente enganada por não saber que o marido está trabalhando com espionagem se vê em dilemas fortíssimos, afinal o marido já deu uma escapadela no passado e isso pode fazer desabar o casamento, e ela conseguiu dosar os olhares decepcionados num primeiro momento, mas ao saber da história toda passa a emoção nata no reencontro, mostrando uma atuação bem certeira.

Quanto do visual, o longa claro passeia por muitos restaurantes para as negociações, diversos atos em ruas vazias que até dão um certo tom de suspense/terror para o filme, tem claro todo o envolvimento em armazéns cheios de caixas de arquivos aonde o personagem vai tirando as fotos e levando para o protagonista entregar em Londres, temos toda a representação intensa de cada momento possível de alguém estar espiando eles conversando, e nessa jogada entre cenas na Inglaterra, nos EUA e na URSS, vemos ainda atos de balé, todo o ambiente das ruas britânicas com seus painéis luminosos, vários atos em ambientes mais fechados e bem representativos, e claro os gulags (as famosas prisões soviéticas) com muita intensidade nos depoimentos e torturas, que chamaram bem o filme em seu fechamento. Ou seja, a equipe de arte teve um trabalho imenso de reconstrução de época e foi muito bem no que fez.

Enfim, é um longa bem desenvolvido, que trabalhou bem a história real ao ponto de ser algo interessante de ser visto, e que consegue envolver bastante quem gosta do estilo da trama, sendo que tem defeitos de ritmo e poderia ser mais surpreendente em alguns atos, mas o resultado completo funciona bastante e faz valer a conferida. Bem é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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