Diria que a diretora e roteirista Lone Scherfig soube brincar com seu filme, e principalmente sendo uma produção de diversos países (Dinamarca, Canadá, Suécia, Alemanha, Reino Unido e EUA) trabalhou aqui para que o conceito completo fosse universal, e claro que para isso usou do artifício que tanto conhecemos e falamos que é o clichê, que nada mais é do que algo comum que vemos em todos os filmes do gênero, e isso não é algo totalmente ruim, pois tem pessoas que gostam de ver o mesmo filme só por uma ou outra cena, então qual o problema de ver o mesmo estilo de cena repaginado? E ela fez bom uso do estilo, procurando emocionar com algumas coisas que até soam abusivas, afinal no mundo moderno completamente insano onde cada um olha mais para o próprio umbigo do que para a pessoa na sua frente é difícil imaginar que existam pessoas tão boas como vemos no filme, que vão deixar uma pessoa desconhecida dentro de um restaurante chique que você administra, ou no escritório da igreja que você tem a chave, ou até mesmo em uma enfermeira que dá a alta para uma criança levando ela embora. Ou seja, chega a ser um fruto de uma imaginação exagerada demais que acabamos falando que só em filme mesmo para ocorrer isso, mas que justamente por ser em filme que gostamos tanto de ver isso acontecer, e sendo assim o resultado que a diretora conseguiu repassar em sua trama é gostoso e dá um certo afeto no coração, que quem gostar do estilo não irá reclamar, pois gosta de ver isso, mas aqueles que procuram uma certa originalidade em algo só encontrarão defeitos, e por isso que falei no começo, que escolheram o lugar errado para estrear o filme, pois em um festival tão badalado e original como o de Berlim, os críticos acabaram não aceitando ver o comum, e assim queimaram a trama demais, mas que se fosse visto numa cabine de imprensa certamente veriam mais beleza em tudo, pois é sim um filme bonito de se ver.
Sobre as atuações certamente poderiam ter pedido um pouco mais de emoção para Zoe Kazan com sua Clara, pois a atriz até passou sinceridade nos atos com os filhos, mostrou que uma mãe está disposta a tudo para conseguir comida e abrigo para os seus, mas sempre trabalhou olhares diretos demais, faltando aquela cara tradicional de pessoa sofrendo com algo, ou seja, ela foi bem no que fez, mas certamente poderia ter ido bem além. Já Andrea Riseborough colocou toda a vivência de uma enfermeira disposta a ser aquela alma boa para tudo, trabalhando praticamente em dois empregos, ouvindo os problemas dos outros, salvando vidas e ainda chorando sem ter alguém para amar com sua Alice, que de maneira bem imponente ainda faz atos graciosos não tão chamativos, mas bem encaixados com o momento da trama. Tahar Rahim acabou entregando o galã clássico da trama com seu Marc, ao ponto que vemos as nuances acontecendo e já sabemos aonde vai chegar, e o jovem ator fez bem o papel, trabalhando seus atos com estilo, fazendo do restaurante um sucesso novamente, e principalmente criando os olhares apaixonados característicos do estilo. O jovem Caleb Landry Jones tem um estilo meio de bobalhão, e aqui seu Jeff fez o clássico do estilo, se atrapalhando em diversos empregos, vivendo de ajuda, até chegar no ápice de ajudar os outros também, e entregando um bom carisma acabou funcionando. Quanto aos demais diria que faltou um pouco mais de imponência para Esben Smed com seu Richard, pois tirando a cena dele com o pai, nem vemos o cara malvado que tanto retrataram, mas é bem assim que acaba acontecendo realmente, as crianças Jack Fulton e Finlay Wojtak-Hissong foram muito bem com seus olhares tristes e desesperados ao mesmo tempo, mas sem grandes destaques, e até mesmo Bill Nighy tentou aparecer um pouco como o dono do restaurante, mas não foi expressivo como costuma ser.
Visualmente o longa foi bem arquitetado entre uma igreja, uma biblioteca, um restaurante russo e um hospital, sem grandes nuances, nem detalhes muito chamativos, ao ponto que a equipe de arte praticamente só precisou locar os ambientes e gravar suas cenas, pois nada aparentemente precisou ser construído ou decorado (o que muitas vezes é subjetivo, pois pode dar até mais trabalho), com cenas mais aconchegantes e desesperadoras nos atos mais frios do momento, o calor das ajudas fizeram a diferença e chamaram o filme para si, ou seja, é um filme sem muito chamariz técnico, mas que foi sincero nos atos, e ao menos no ambiente mais montado que foi o restaurante russo vemos detalhes do ambiente antigo que vai sendo modificado pelo novo gerente, mas ainda assim tendo seu passado conservado, o que dá o charme para o local.
Enfim, é um filme que está bem longe da perfeição, que analisando friamente daria para reclamar muito mais de tudo, mas que vendo como algo sem muitas esperanças acaba resultando em um momento gostoso e envolvente, que faz valer a conferida para quem gosta do estilo, porém se você não vai bem com a ideia nem dê play, pois a chance de odiar tudo é altíssima. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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