Netflix - Até o Céu (Hasta el Cielo) (Sky High)

4/04/2021 08:54:00 PM |

Já disse outras vezes aqui no site que gosto muito do que o cinema espanhol costuma entregar, e eles tem acertado bastante em diversos gêneros, o que faz com que você possa dar o play em qualquer um e a chance de não curtir é bem pequena. Dito isso, a história que o lançamento da Netflix "Até o Céu" nos entrega é bem bacana, cheia de boas nuances, com uma trama bem amarrada de bons assaltos, só tendo um único ponto que fraquejou bastante: o protagonista, pois ele não tem perfil de imponência, nem tipo de pessoa que comandaria uma rede criminosa, e sim daqueles que na primeira vez preso já denunciaria o grupo todo e viraria comida de peixe pelos grandes nomes do crime. Ou seja, é um bom filme pelo contexto geral, mas certamente com um nome mais forte no papel principal (por exemplo Mario Casas), o resultado além de agradar bastante, seria daqueles memoráveis que todos se surpreenderiam do começo ao fim, mas como já disse o que temos aqui não é ruim, e assim sendo quem curte o estilo irá ter bons momentos de passatempo.

A sinopse nos conta que Ángel é um jovem dos subúrbios de Madrid cuja vida mudará para sempre no dia em que conhecer Estrella em uma boate. Após uma briga com Poli, o namorado possessivo da garota, ele descobre que Ángel tem talento para se meter em encrencas e, o mais importante, para sair delas. Por isso, ele o incentiva a se juntar à sua gangue de ladrões, que tem toda a polícia de Madrid sob controle. A ambição de Ángel o fará mergulhar em uma pirâmide de roubos, dinheiro fácil e negócios duvidosos, que o levará de Madrid a Ibiza. Sua habilidade também fará dele o protegido de Rogelio, um capo que controla o mercado negro da capital, e de Sole, sua filha, que ficará apaixonada por ele. A escalada de Angel será imparável e ele logo se tornará um dos ladrões mais procurados do país. E conforme o cerco policial se intensifica, ele terá que decidir entre Sole ou o amor de sua vida, Estrella. Uma viagem que começou no mais humilde dos subúrbios e que visa o ponto mais alto: o céu.

Diria que aqui o diretor Daniel Calparsoro melhorou um pouco do que fez com seu último filme "O Aviso", ao ponto que deu mais nuances para os personagens e conseguiu trabalhar o roteiro de Jorge Guerrichaechevarría de uma maneira bem equilibrada, fazendo com que os crimes fossem cheios de interações bem feitas, e principalmente com uma montagem dinâmica que fizesse o público conferir as quase duas horas diretas com uma boa pegada e estilo. Claro que o filme tem seus exageros, afinal esse estilo pede isso, mas como a trama é baseada em acontecimentos reais, o que acabamos vendo é cheio de momentos bem encontrados, e traz principalmente o exagero que muitos que acabam entrando para o crime perdem os limites, fazendo transações insanas, enfrentando tudo e todos, e em certo momento já achando que são imbatíveis, e assim caindo no que acabaram desenvolvendo. Ou seja, tudo é muito bem feito, e como disse no começo se tivesse um ator mais imponente como protagonista, o resultado seria incrível, pois não que o escolhido seja um ator ruim, muito pelo contrário, ele fez bons trejeitos e atos, mas não nos convence de ser o fodão como o personagem pedia.

Já que falei um pouco da minha reclamação em cima do ator Miguel Herrán, posso dizer que ele foi até sincero dentro da personalidade de seu Ángel, porém o ator não entregou a malemolência que o papel exigia, não deu nuances de olhares fortes, e principalmente não conduziu o filme como um ladrão realmente conduziria, ao ponto que vemos um jovem bem armado de ideias fazendo trambiques bem montados para roubar as coisas, e não alguém imponente e cheio de astúcias como é costumeiramente interpretado esses papeis, ou seja, faltou força para o papel, e não que ele seja um ator ruim, mas não é o tipo de papel que lhe caísse bem. É até engraçado ver Carolina Yuste retratada como um mulherão tão desejado com sua Estrella, pois ela tem uma pegada de barraqueira e um estilo que certamente o protagonista escolheria a outra opção para ficar, mas a atriz soube trabalhar bem os olhares, e cadenciar seus momentos para chamar bastante atenção e isso funcionou bem no que a personagem pedia. Já Asia Ortega deu nuances mais soltas para sua Sole, com uma personalidade centrada que acabou caindo bem na lábia do protagonista, passando por cima até de seu pai que era o grande arquiteto de todos os crimes na cidade, e ela ainda teve olhares e um visual bem bonito de se cativar, não pela personalidade do protagonista, mas de um mulherão que valia a investida. Já que falei do pai, Luis Tosar apareceu pouco com seu Rogelio, mas sempre bem trabalhado, e com dinâmicas diretas ao ponto nas suas falas, acertando bem, e chamando a atenção para seus atos e rupturas, agradando bem em tudo. Embora seja a estreia de Richard Holmes com seu Poli, o jovem ator até foi bem no papel, teve alguns atos com imposições, e acabou chamando até mais atenção do que o protagonista, ao ponto que talvez com papeis invertidos o filme até tivesse um algo a mais, mas não rolou, e assim sendo vamos ver se ele ganha chances com outros papeis. Dentre os demais, cada um apareceu pouco e deu as devidas conexões para com os protagonistas, seja pelos demais elementos do bando como Ramón Sánchez com seu Nando, ou Dollar Selmouni com seu Gitano, passando pela advogada trambiqueira Mercedes vivida muito bem por Patricia Vico, até chegarmos no policial exagerado vivido por Fernando Cayo, ao ponto que cada um foi bem no que precisava, mas sem grandes destaques.

Visualmente o longa foi interessante com algumas festas em boates, alguns assaltos imponentes a joalherias e concessionárias de carros de luxo, um grandioso assalto em uma balsa/navio gigantesca, várias cenas em delegacias e presídios, além de uma boa armação em um hotel de luxo, e claro muitas cenas nas periferias no começo mostrando de onde saiu o protagonista, ou seja, a equipe de arte teve um bom trabalho na construção dos diversos elementos da trama, e o resultado visual ao menos acaba surpreendendo bastante com muitos carros de pompa, e vários elementos alegóricos bem trabalhados para dar as nuances que o diretor precisava.

Enfim, está bem longe de ser um filme perfeito, mas tem boas cenas e boas dinâmicas, que acabam fazendo valer a conferida e até se empolgar em alguns momentos, ao ponto que volto a frisar que talvez o maior erro tenha sido a escolha do protagonista, e o diretor exagerar um pouco demais em algo que foi baseado em fatos reais, mas isso é uma opinião apenas, e sendo assim, digo que quem quiser um passatempo sem muita coisa para reclamar acaba valendo o tempo na frente da TV. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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