Persona Non Grata

12/01/2020 01:35:00 AM |

Quando saiu em 2001, o nacional "O Invasor" de Beto Brant surpreendeu muitos com uma história insana e cheia de pitadas sarcásticas que mantinham o tom de mistério e suspense, mas trabalhando bem as dinâmicas entre os protagonistas e deixando claro a intenção do assassino em extorquir bem os clientes que encomendaram a morte do sócio. Aí quase 20 anos depois, eis que temos uma refilmagem francesa, com uma ideologia bem semelhante, porém exagerada demais na carga dramática, ao ponto que "Persona Non Grata" até entrega bons momentos, cria uma certa tensão, porém não flui com uma precisão cênica mais impecável, de modo que o surto do protagonista nos atos finais até é bem bacana de ver, mas toda a romantização do assassino acaba sendo forçada demais pelo diretor que atua também no papel, parecendo que queria mais aparecer do que envolver realmente o suspense do filme todo. Ou seja, não é um filme ruim de forma alguma, mas certamente não chega nem aos pés do clássico nacional em que foi baseado.

A trama nos conta que após quinze anos de serviço leal, José e Maxime - bons amigos, colegas na mesma companhia - não suportam mais Eddy, o chefe. Cansados da rotina de manipulação, trapaças e humilhação, tomam uma decisão radical e decidem contratar um assassino profissional para eliminar a causa das misérias da dupla. A morte de Eddy, porém, não traz a paz desejada. Principalmente porque o assassino ressurge, infernalmente disposto a reclamar sua parte no espólio. 

Diria que o diretor Roschdy Zem até teve estilo com sua trama, de modo que deu um ar mais desesperador para o protagonista José, e brincou bem com seu personagem Moïse, mas deixou Maxine meio que de lado, não usando muito o lado picareta dele também, ao ponto que próximo ao fechamento até acabamos sabendo um pouco mais do que já imaginávamos (ou quem lembrasse bem do original também conectaria), porém ficou muito canastrona a trama ao ponto de não conseguirmos nem se conectar com o desespero dos protagonistas em estarem sendo manipulados por ter cometido um crime, nem o criminoso querer se destacar demais, ao ponto que tudo acaba soando falso demais. Ou seja, o diretor não imprimiu um ritmo mais propício para o suspense, e com isso seu filme acabou estranho demais, mas isso não chega a ser ruim, pois acaba sendo um vértice diferente até que interessante de ver, mas bem mais enrolado do que direto ao ponto que poderia agradar bem mais.

Sobre as atuações, é fácil notar que ao focar tanto em Nicholas Duvauchelle com seu José, o filme mostra a famosa loucura que ocorre com o lado pecador, de que quem acaba fazendo algo errado acaba vindo tudo na mente achando que tudo está contra ele, e o ator foi bem no estilo, conseguiu passar bem a mensagem, e fez cenas bem intensas, porém seu casamento quase some de cena, ao ponto que esqueceram a mulher dele passeando em outro filme. Raphaël Personnaz trouxe uma certa personalidade de faço qualquer coisa por dinheiro e crescimento com seu Maxime, ao ponto que é notável de cara seus atos, e mesmo o ator desaparecendo cenicamente na maior parte da trama, sabemos que virá com algo no escuro, ou seja, até foi bem, mas poderia ser menos explícito nos olhares para o filme ter um mistério maior. Já o diretor Roschdy Zem trabalhou seu Moïse com um ar canastrão exagerado demais, ao ponto que nem o trambiqueiro maior do mundo acreditaria no que faz, quanto mais uma moça riquíssima cair na sua lábia, ao ponto que soa falso demais a romantização de seu personagem, ao ponto que o filme chega a ficar bizarro com algumas cenas suas, ou seja, poderia ter ameaçado ou até mesmo forçado para cima da garota rica, mas não ao ponto de uma paixonite como acaba sendo mostrado. E falando de paixonite, tanto Nadia Tereszkiewicz com sua Anaïs quanto Hafsia Herzi com sua Iris fizeram papeis meio bobos e avoados demais de personalidade, ao ponto que não dá para acreditar em nada do que fizeram.

Visualmente chega a ser até engraçado o longa, pois tirando algumas construções e escritórios dentro delas mesmo, o filme não chega a ter nenhuma locação imponente com personagens tão ricos, e mesmo a casa da garota só é mostrada imponente nas cenas finais, ou seja, a equipe economizou ao máximo ficando em cenas bem fechadas, com praias, alguns prédios abandonados, festas, restaurantes, mas tudo sem muita abertura para não necessitar ter grandiosas criações, nem muitos elementos cênicos, ao ponto que o filme se condensa mais para o lado do roteiro do que o ambiente em si, aliás com uma cena de um cantor completamente desnecessária, ou seja, pecaram um pouco na criatividade, e acabaram economizando bem com a dinâmica cênica.

Enfim, é um filme com estilo próprio que até agrada por ser rápido, direto no que desejava mostrar, e até funcionar no que se propôs, mas certamente poderiam ter ido bem longe com algo mais forte e realista, que envolveria e criaria um mistério/drama mais contundente. Ou seja, até recomendo ele, mas garanto que não vai ser nada que surpreenda muito, valendo talvez ver mais o original nacional de 2001 que esse francês (e olha que isso é algo bem raro de eu dizer!). Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...