40 Dias - O Milagre da Vida (Unplanned)

10/18/2020 01:44:00 AM |

É até interessante pararmos um pouco para analisar a proposta de alguns filmes religiosos, pois muitos não tem o vértice de fazer você ser pró ou contra a ideia passada, mas sim lhe apresentar algo que talvez você não conheça e quem sabe queira se aprofundar depois, e isso é algo bonito de ver, pois quando vemos um drama, romance, comédia ou até mesmo um terror, já vamos esperando algo que queremos ver, enquanto na proposta religiosa geralmente a abertura acaba sendo um pouco maior nos sentidos passados. Dito isso, o longa "40 Dias - O Milagre da Vida" acaba sendo diferente de todo o conceito religioso por não pregar exatamente uma religião como costumamos ver, mas sim uma ideologia anti-abortista, que claro é defendida pelos famosos grupos pró-vida, e claro pelas religiões em si, mas mais do que mostrar que o aborto é uma escolha da mulher, o filme acaba indo além para mostrar que em muitos países o aborto se tornou um produto aonde empresas tem até metas mensais para bater, ou seja, ao invés de aconselhar o que seria melhor para uma mulher que está na dúvida se faz ou não, as clínicas passaram a ser um lugar aonde a pessoa vai e os "conselheiros" ou melhor vendedores de aborto, acabam convencendo a mulher que deva fazer ali naquele exato momento. Ou seja, é um filme polêmico, com uma questão bem polêmica para ser discutida, e isso vai muito além do que penso, e nesse momento não convém opinar, pois outro ponto que o filme fez questão de mostrar é o quão forte são as cenas de abortos, mostradas de várias maneiras, e de forma duríssima, e sendo assim, chega a chocar ao ponto de se pensar muito, e que certamente o longa poderá futuramente servir como exemplo de decisão para as mulheres que pensarem no assunto (seja por ideologias religiosas ou não!).

A trama nos conta que como uma das mais jovens diretoras de clínicas de Paternidade Planejada do país, Abby Johnson se envolveu em mais de 22.000 abortos e aconselhou inúmeras mulheres em suas escolhas reprodutivas. Sua paixão em torno do direito de escolha da mulher a levou a se tornar uma porta-voz da Paternidade Planejada, lutando para promulgar uma legislação pela causa na qual ela acreditava profundamente. Porém, quando ela é chamada para dar assistência ao aborto de uma gestação de 13 semanas, o que ela vê a muda para sempre e ela se torna uma ativista pró-vida.

Depois de roteirizarem todos os filmes da série "Deus Não Está Morto", a dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon agora além de roteirizar se baseando no livro de Abby Johnson, também resolveram dirigir sua trama, e mostraram uma segurança bem potente em cima de uma trama que não é tão simples, ou seja, souberam dominar o tema sem que ele ficasse apelativo demais, que passasse a mensagem, e que principalmente tudo soasse realista, pois muitos poderiam acusar o filme de tentar fazer campanha contra, ir por lados políticos exagerados, e tudo mais, mas não o filme mostra com atitudes, e acerta na campanha de ir contra a indústria e não na apelação de desejo de corpo da mulher e tudo mais. Ou seja, os diretores foram condizentes com a ideia, fizeram um filme bonito, forte e bem feito, e principalmente não quiseram fazer firulas demais, ao ponto que mesmo quem defende a vontade de uma mulher em não querer ter um bebê, poderá ver a trama e concordar com a mensagem contra a indústria do aborto.

Agora tirando o lado da mensagem, e falando mais no lado cinematográfico em si, acertaram bem nos atores não tão famosos, que deram bastante conta do recado, e fizeram a trama fluir bem com boas expressões e passando um carisma fácil de acompanhar, de modo que a protagonista Ashley Bratcher, que já fez diversos outros filmes religiosos, acabou entregando uma Abby imponente de atitudes, forte de caráter, e muito expressiva, tanto que conseguimos ver suas cenas com dinâmicas bem presentes, e chamando sempre a responsabilidade cênica para si, ou seja, ela incorporou o que o filme precisava passar e fez bem, de maneira que certamente se encontrou com a verdadeira Abby, e pode tirar muito proveito de tudo, saindo perfeita. Robia Scott entregou uma Cheryl totalmente persuasiva, determinada em suas metas e planos, e até exagerou um pouco no ar de vilã que quiseram passar, ao ponto que poderia ter sido mais realista como uma empresária forte, sem precisar apelar tanto, pois o filme não lhe pedia esse ar mortal. Jared Lotz transformou seu Shaw em um personagem calmo demais, daqueles que pregam a palavra bem e quase flutuam com isso, mas sempre com muita atitude o personagem foi bem representativo e acabou agradando bastante. Quanto aos demais, a maioria deu conexões para os protagonistas, e foram bem no que fizeram, alguns aparecendo mais como é o caso do marido vivido por Brooks Ryan, e a outra moça da cerca vivida por Emma Elle Roberts, mas que não valem destacar tanto.

No conceito visual aí sim a equipe foi ousada, pois mostrar as cenas fortes de abortos, como a drenagem do feto em detalhes, um sangramento quase matando a pessoa e não podendo ligar para um hospital, ou até mesmo o da protagonista através de química em sua casa quase morrendo no banheiro, foram bem imponentes e detalhadas ao máximo para chocar mesmo, de modo que nem lembramos das cenas da protagonista na casa dela, dos passeios de carro, do ambiente bonito e chique da clínica, e até mesmo das reuniões na sede da empresa, que foram muito bem feitos, mas que por saírem do foco tenso de dentro das salas de procedimentos, mostraram que a equipe foi capaz, e direta de fazer tudo muito bem feito, inclusive com uma saleta de partes de bebês que foi intensa.

Um ponto sempre bem positivo nos longas religiosos são as canções escolhidas, e aqui todas bem legendadas passando exatamente a mensagem que o filme conta em cada cena mostraram um bom apreço de seleção, e o resultado vale ouvir bastante desde as principais já existentes de diversos cantores, até a de fechamento escrita especialmente para o filme, e claro que deixo aqui o link para todos ouvirem.

Enfim, é um filme que nem tinha ouvido falar nada sobre, que acabei indo conferir e me surpreendeu muito, pois já vi algumas palestras religiosas sobre o tema, e geralmente não conseguem passar toda a impressão forte que o filme conseguiu mostrar, de modo que quem trabalha com essas palavras certamente tem de conferir o longa, e usá-lo da melhor forma possível, pois volto a frisar que o aborto deve ser uma escolha da mulher, mas que tem de ser muito bem pensada e refletida, afinal é sim uma ou mais vidas em jogo, incluindo a da própria mulher. E considerando o lado cinematográfico, temos uma boa técnica, tivemos bons atos, tivemos alguns exageros, e até muitas falhas comuns do gênero religioso em si, mas que não atrapalharam em nada, e que o público alvo então nem irá perceber, ou seja, é um bom resultado visual. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.


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