Netflix - Enola Holmes

9/23/2020 11:38:00 PM |

Olha, o ano de 2020 está quase acabando e ainda não tinha visto um filme que me fizesse ter diversos sentimentos em duas horas ao ponto de querer aplaudir no final, mas como estou em casa o fiz nessa noite conferindo "Enola Holmes" da Netflix, que certamente muitos amigos críticos irão tacar mais pedras do que elogiar, pois é fácil fazer isso com o filme, afinal ele traz essência feminista, atores famosos e mistério tudo em uma trama que não força nem brinca com o estilo, ou seja, tudo o que tanto adoram queimar, mas pelo contrário o público terminará a sessão assim como eu, apaixonado pela personagem e desejando que a Netflix compre os direitos dos outros cinco livros da personagem e comece sua adaptação para ontem fazendo mais filmes (pelo amor dos deuses do cinema não me venham com uma série!!). Ou seja, a personagem é maravilhosa, a trama conseguiu ser tudo o que um filme com o sobrenome Holmes merece cheio de mistérios, as sacadas e conversas com a câmera são brilhantes, e ainda por cima o ar doce foi bem montado para não criar um filme adulto (afinal a protagonista tem 16 anos, e para os anos da trama não era alguém com muita imponência), e assim sendo o resultado final é tão incrível que acabamos torcendo por tudo, desde um romance passando por uma vingança, até mesmo a resolução de um quase crime, que entrega bons momentos para diversos gêneros agradando na medida certa que um blockbuster deve fazer. Ou seja, perfeito mesmo com os leves defeitos que todo blockbuster acaba tendo.

O longa nos situa na Inglaterra de 1884, em um mundo à beira da mudança. Na manhã de seu aniversário de 16 anos, Enola Holmes acorda para descobrir que sua mãe desapareceu, deixando para trás uma estranha variedade de presentes, mas nenhuma pista aparente de para onde ela foi ou por quê. Depois de uma infância de espírito livre, Enola de repente se encontra sob os cuidados de seus irmãos Sherlock e Mycroft, ambos decididos a mandá-la para uma escola de formação para jovens "de verdade" damas. Recusando-se a seguir seus desejos, Enola foge para procurar sua mãe em Londres. Mas quando sua jornada a encontra enredada em um mistério em torno de um jovem Lorde fugitivo, Enola se torna uma super-detetive por si mesma, superando seu irmão famoso enquanto ela desvenda uma conspiração que ameaça atrasar o curso da história.

Em seu primeiro longa, após diversas séries, o diretor Harry Bradbeer foi certeiro na formatação da história que lhe foi entregue, pois sendo uma adaptação do primeiro livro de uma série de seis da escritora Nancy Springer, o roteirista Jack Thorne foi bem minucioso nos detalhes, dando uma característica deliciosa de quebra da quarta parede para que a protagonista conversasse quase a todo momento com o público, e brincando com mistérios sem precisar ficar forçando a barra, ao ponto que o filme flui tão rápido que nem vemos a hora passar, e ainda ficamos tão conectados com tudo que começamos já antes da cena final (talvez não necessária, mas bem válida) a torcer para continuações bem trabalhadas contando mais dos mistérios, e claro do crescimento da personagem como uma grande detetive. Ou seja, são raros os diretores que dão certo em filmes de estreia, mas aqui Bradbeer pegou toda sua expertise em séries premiadíssimas, e colocou em prática uma sintonia que até vemos muito em séries, de ir prendendo o espectador, dando corda para que ele queira sempre um pouco mais, até não se ver mais solto e nem perceber que a trama está lhe amarrando, e isso é ser preciso de movimentos. Claro que o filme tem alguns temas chaves que estão na moda como feminismo, personagens extremamente machistas, e toda uma desenvoltura para mostrar isso em primeiro plano, mas tudo acaba funcionando tão bem dentro da proposta que acabamos nem ligando para isso, e como a ideia toda funciona como um longa para toda família num estilo sessão da tarde de qualidade, o resultado é perfeito ao ponto de emocionarmos com algumas atitudes, assustarmos com outras, vibrarmos com algumas, e ao final aplaudir por merecimento.

Sobre as atuações, muitos conhecem e amam Millie Bobby Brown por sua Eleven, mas como esse Coelho que vos digita foge de séries só a conhecia pelo péssimo papel no longa do Godzilla, então vamos apagar o passado, e dizer que esse sim foi seu primeiro filme (aliás como produtora bancando a grana toda!), pois ela simplesmente foi incrível com sua Enola Holmes na medida certa, cheia de bons trejeitos e expressões para todos os momentos, não estragando cenas sutis com exageros, nem forçando a barra para aparecer muito (mesmo sendo a protagonista), e dessa forma seu resultado flui demais, mostrando tanto sua força expressiva, quanto sua sinceridade cênica, criando uma personagem desconhecida por muitos, e principalmente, fazendo com que todos quisessem conhecer mais, ou seja, perfeita. Louis Partridge deu um tom cheio de boas sacadas e estilos para seu Tewksbury, ao ponto que logo de cara já vemos tudo o que vai rolar, de forma que a química entre ele e a protagonista combinaram demais, fazendo sentido para a trama funcionar bem, e o personagem fluir bem, de modo que até torceremos para algo a mais nos demais filmes, pois vai valer a pena. Nossa querida maluquinha Helena Bonham Carter deu seu estilo tradicionalmente louco para a matriarca da família Holmes, e mesmo aparecendo mais nas memórias da protagonista, seus atos foram precisos, insanos e cheios de carisma, ao ponto que o acerto é iminente. Henry Cavill até que caiu bem para o papel de Sherlock Holmes, trabalhando bem seu ar pensativo e direto nas indagações, fazendo bons atos, mas talvez ficando muito atrás no estilo que o personagem pede e já vimos em outros longas, de modo que não quiseram fazer com que o detetive aparecesse mais que a protagonista, e assim o ator foi bem contido, mas agradando no que fez. Agora Sam Claffin fez seu Mycroft Holmes daqueles que pegamos raiva de tudo o que faz num ponto que só mostra a qualidade expressiva do ator, com uma sagacidade perfeita para todos os seus momentos, agradando com estilo. Burn Gorman veio completamente imponente com seu Linthorn seguindo os protagonistas do começo ao fim, lutando muito com todos e praticamente não dizendo nada, mas expressando muito ao ponto de mesmo com raiva de seus atos gostarmos dele. Quanto aos demais, tivemos boas participações chamando bastante atenção, desde Fiona Shaw como a diretora de um internato para garotas bem marcada pelos interesses em Mycroft (que no livro deve ser até mais bem mostrado), tivemos uma Susan Wokoma imponente como uma professora de lutas marciais, tivemos a grandiosa Frances de la Tour fazendo a avó do Lorde de uma maneira bem centrada e interessante de ver, e claro tivemos Adeel Akhtar como o famoso chefe da polícia londrina Lestrade que tanto ouvimos falar nas histórias de Sherlock Holmes, ou seja, aqui com um personagem meio bobo não chamou tanta atenção, mas é daqueles que conhecemos o potencial e pode ir muito além.

Visualmente o longa é uma grandiosa produção recheada de camadas, com uma Londres bem movimentada, com cenários imponentes e bem detalhados, cheio de elementos cênicos precisos para uma boa investigação, muita cenografia para representar bem tanto a época como para nos envolvermos bem dentro de uma obra literária funcional, e principalmente figurinos variadíssimos que a protagonista até brinca bastante com a facilidade de se camuflar das pessoas que estão lhe seguindo, comprando as roupas de diversos personagens aleatórios e virando uma daquelas que ninguém reconhece, o que acaba agradando demais. O tom que a fotografia brincou de cores fortes e marcantes não indo para o tradicional mais apagado de época foi algo bacana demais para dar ritmo e envolvimento no longa, de modo que não vemos um filme calmo e isso é muito bom.

Enfim, é um tremendo filme, que funciona demais dentro do que se propõe, que até tem alguns momentos falhos e exagerados, mas que principalmente empolga e transmite sentimentos de todos os estilos, ao ponto que ficamos querendo muito mais, e torcendo para termos continuações. Ou seja, pode até que no final do ano eu nem julgue ele como o melhor longa do ano, mas é o que foi mais completo até o momento dentro de um contexto, funcionando para toda a família se divertir, que agrada, diverte, emociona e tudo mais, e sendo assim irei dar nota máxima para ele (sei que muitos irão discordar, e talvez até eu discorde mais para frente, mas nesse momento vai ser assim), e dessa forma recomendo demais a trama para todos. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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