O Fim do Mundo

9/03/2020 11:42:00 PM |

Um dos gêneros que costumo dizer que tem de ser um apaixonado pelo estilo para gostar do resultado final é o tal do cinema marginal, que praticamente vemos muito no Brasil, mas que também os portugueses costumam trabalhar bastante, e geralmente para que o estilo funcione bem é necessário que a história nos conecte com os personagens, e que tudo funcione dentro de uma proposta maior, ou seja, o contexto precisa ser maior e passar algum tipo de mensagem. Dito isso, o longa do suíço-português Basil da Cunha, "O Fim do Mundo", não entrega motivos para agradar sem ser a premiadíssima fotografia da trama que tem todo um charme, e com isso acabou ganhando diversos festivais, porém a história não diz nada, mesmo lendo a sinopse você não consegue enxergar nada na trama ao ponto de falar que viu realmente um filme, e principalmente os atos em si não empolgam ao ponto de querermos ir além da história dos personagens, de modo que acaba parecendo um episódio de alguma novela que vamos conhecer um pouco da vida dos jovens da favela, que tem seu grupinho, um está interessado na garota que vai ser despejada, o outro quer se tornar o rei do tráfico, e o outro não sabe o que quer da vida, ou seja, quase uma "Malhação" versão favela portuguesa, e assim sendo não tem como dizer que o filme funciona, pois não funciona.

A sinopse nos conta que Spira tem 18 anos e passou os últimos oito anos na prisão preventiva e agora volta para a Reboleira, uma favela de Lisboa. Seus amigos Giovani e Chandi ainda estão lá, assim como os locais, negócios e festas. Mas algumas pessoas, como o chefe da gangue, Kikas, não estão muito satisfeitas por ele ter voltado. Spira percebe que as coisas estão mudando. Conforme as escavadeiras começam a demolir o bairro, todos tentam manter seus sonhos, como Iara, por quem Spira se apaixona, ou Giovani, que fará de tudo para ser um dos maiores traficantes.

O diretor Basil da Cunha até trabalhou bem os atos com jovens da comunidade, sem ter atores reais, e isso é um ponto positivo, pois todos até trabalham caras e bocas, fazem seus textos com dinâmicas e tudo mais, porém o filme não tem um mote principal, não tem nada que você olhe e fale: "nossa, o filme é sobre isso", e nem a sinopse nos diz o que a trama deseja passar, sendo apenas o dia a dia numa comunidade que está sendo demolida, tirando as pessoas que o jovem conheceu ali, a mudança de dono do tráfico e talvez se aprofundarmos muito sobre sonhos, mas nada que seja algo marcado realmente. Ou seja, o maior erro do filme, e por consequência do diretor, foi não definir um tema maior para sua trama, e deixar que tudo fosse acontecendo, e assim ele apenas apresentou técnicas, trabalhou junto com o diretor de fotografia iluminações lindíssimas, mas que nada dizem, e assim sendo, é um filme nulo.

Sobre as atuações, diria que todos fizeram bem seus papeis dentro da comunidade, trabalharam olhares e semblantes precisos, de forma que mesmo não sabendo se todos são moradores dali, diria até que se forem fizeram suas atividades corriqueiras com um pouco mais de empolgação para chamar a atenção, de forma que o diretor soube tirar de todos um algo a mais para cada ato, e funcionar bem todos os secundários, já no caso dos principais, os garotos até que fizeram seus rolês de maneira bem imponente, com a clássica desenvoltura de gangues, deram seus textos sem ficar artificial, e de certa forma mostraram que podem seguir bem no que quisessem que eles fizessem, mas volto no tom que o diretor não tinha uma história para contar, então é melhor nem dar destaque para ninguém.

Visualmente diria que souberam retratar bem a favela, os diversos ambientes num único lugar, mostrando os famosos personagens que podem ser vistos num rápido passeio, desde as pessoas que ficam sentadas na rua fofocando sobre os outros, aqueles que estão arrumando briga por qualquer coisa, os fiscais da prefeitura autuando ou demolindo algo, os traficantes nos seus devidos cantinhos, e claro os esconderijos, as festanças dos líderes e tudo mais, que o diretor soube ser bem representativo, e claro alguns elementos a mais como o cavalo do sonho da garota, as explosões e tudo mais, que até deram uma quebra no estilo da trama, mas funcionaram para algo a mais fora do cotidiano. E claro que falando do ponto alto do filme, que ganhou até diversos prêmios, a fotografia do longa é linda, com cores avermelhadas, ângulos precisos, e toda uma ambientação lúdica para realçar os personagens, mas que não serviu para nada além de dar um tom bonito para a trama, e assim sendo para o público comum, não vai agregar em nada

Enfim, é um filme que não posso recomendar de forma alguma, pois vou ser enfático, não enxerguei nada demais na trama, aliás não vi a trama acontecer, sendo apenas um filme que passa, e que certamente amanhã nem lembrarei de ter visto ele. Ele segue gratuito na plataforma do SESC Digital até o dia 05/09, mas certamente lá estará outros longas bem melhores para todos conferirem. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.

PS: A nota foi composta 2 pela fotografia bonita + 1 pelas boas interpretações da comunidade, e mais nada salva.


2 comentários:

Luis Fernando disse...

boa noite,quando sai crítica Mulan? vc pretende assistir ao filme como,baixando no alugando no disney+?

Fernando Coelho disse...

Quando sair para locação digital via VOD ou no Disney+ se já tiver por aqui ou nos cinemas... sou contra pirataria!

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