Netflix - Gente de Bem (The Land of Steady Habits)

5/19/2020 01:45:00 AM |


Quantas vezes você olhou a capa de um livro, leu a contracapa com a sinopse, deu uma rápida folheada e e achou interessante? Ou falando do nosso assunto, viu o pôster, leu a sinopse e passou rapidamente pelo trailer para não ver spoilers, e achou tudo bem interessante? E daí vai assistir ao filme e vê algo que não era bem o que você esperava ver! Pois bem, isso acontece inclusive com as pessoas, e no mundo hoje o que mais temos são pessoas-capas como costumamos chamar, que tem todo um visual chique, tem projetos de vida, faz ioga, anda de carrão, toma seu vinho, está em todas as festas, mas que por dentro é tão podre de ideias, não trata bem seus filhos, a vida está uma bagunça, mil contas atrasadas e tudo mais. E mais ou menos podemos interpretar o longa que a Netflix me indicou hoje, "Gente de Bem" dessa forma, pois vemos essa ideologia de pessoas aparentemente ricas estruturais, mas que sequer ligam para os filhos, para aonde vão, não ligam para os casamentos, não ligam para nada ao ponto do único homem que abandonou essa vida "certinha" da comunidade ser o errado. Dito isso sobre o filme, também posso dizer que ele me enganou, pois ao ouvir o trailer (não prestei atenção, pois estava fazendo outra coisa antes de começar a assistir, mas pareceu bacana) e ver a imagem dele, parecia que seria daqueles filmes que me fariam chorar e se emocionar, mas não, muito pelo contrário, é um filme para refletir, que causa raiva de pensar que existam tantas pessoas assim no mundo, mas toda a ideologia ao menos é boa, e quem for ver sabendo o que verá, diferente do louco do Coelho que clica e assiste primeiro e depois vê no que acabou caindo, talvez gostará mais de tudo.

A sinopse nos conta que Anders Hill se sente aprisionado na rica Westport, em Connecticut. Ele termina sua carreira em finanças e deixa sua esposa na esperança de recuperar o prazer de viver. Mas, logo é forçado a encarar a realidade alarmante de suas escolhas: ele passa os dias procurando por coisas para decorar suas prateleiras vazias, dorme com estranhas e se sente totalmente perdido.

A diretora e roteirista Nicole Holofcener é bem conhecida por seus roteiros reflexivos, daqueles que ficamos intrigados e pensando na vida, nas situações cotidianas, e que geralmente trabalham bem os personagens para todo o conteúdo dramático da trama, e aqui não foi nem um pouco diferente de ver, de modo que acabamos vendo muita realidade, muito contexto e até alguns pontos que alguns vão achar loucura ou superficialidade, mas existem e estão até mais próximos de nós do que imaginamos. E essa alegoria de capa que comecei o texto até é usada para brincar em determinado momento da trama, aonde o protagonista passa a ironizar as capas de livros que mulheres pegam para ler, ou que estão apenas servindo para enfeitar uma mesa ou uma prateleira, e isso pode ser jogado para o lado humano, de livros bonitos por fora, mas que servem apenas como peso de papel ou de enfeite de prateleira, pois nunca serão lidos ao todo pelos que estão ao seu redor. Sendo assim, a trama é pesada de conteúdo, e a diretora soube tratar de uma maneira leve e gostosa, mas que da mesma forma transformou seu filme em algo bonito de ver, mas que não entrega tanto quanto poderia.

Sobre as atuações, a trama tem gente de bem de todo o tipo, de forma que vemos Ben Mendelsohn com seu Anders já desgostoso da vida, não ligando mais para dinheiro, para a família chata em si, e que está tentando sair do molde enquanto já não se dá mais bem na cama, na vida, em nada, mas ainda é um bom ouvinte, e isso faz com que o outro protagonista se aproxime bem dele, ou seja, vemos o ator que sempre tem uma boa dinâmica de olhares se entregar frente a postura necessária e agradar bastante com isso, acertando na medida para que o personagem pedia. Charlie Tahan é daqueles jovens que tem personalidade, mas que geralmente caem num estilo marcado de personagens, de forma que seu Charlie é um rebelde meio que sem causas, que até tem motivos com uma família chata demais, mas que se deixa levar, e mesmo sendo irônico com o protagonista em diversos momentos, acaba tendo uma boa conexão com ele. Da mesma forma, o jovem Thomas Mann trabalhou seu Preston como outro filhinho de papai/mamãe que sempre teve tudo, e que quando perde o rumo acaba desandando e não batendo de frente com seus problemas/atos, de forma que vemos seu fundo ir deprimindo e ninguém lhe dá atenção. Quanto os demais personagens, vemos duas mães omissas, que só pensam em si e esqueceram completamente da vida dos filhos, e ambas Edie Falco com sua Helene e Elizabeth Marvel com sua Sophie dão show nos quesitos ironias, e acertam muito, enquanto os dois homens secundários apenas entregam atos de soberba para cima do protagonista, sem muito destaque, mas saindo bem no que fizeram.

No conceito visual a equipe arrumou ótimas locações na cidade de Westport, com casas riquíssimas, com bons detalhes, mostrando bem a preocupação fútil da maioria com decorações, com busca de presentes, com detalhes simples e bem colocados, mas que pouco acabam importando na essência geral da trama, apenas por mostrar a valorização de algumas coisas enquanto outras como a família em si acaba desgraçada, ou seja, é um filme com mais conteúdo de roteiro do que de produção, mas que ainda assim acaba sendo bonito visualmente de ver também.

Enfim, é um bom filme, que surpreende pela essência em si, mas que certamente muitos irão conferir esperando uma coisa mais emotiva, e cairá em algo bem mais dramático, ao ponto de que vai valer o tempo passado na frente da TV, afinal é uma trama curta de apenas 98 minutos, mas que certamente poderia ter ido além se escolhesse discutir um pouco mais todos os problemas mostrados, e não apenas a capa versus a essência. Sendo assim, até recomendo ele, mas confesso que com um pé atrás, pois sei que muitos não irão gostar muito do jeito que é a trama, ou até mesmo se ver nela. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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