Netflix - Mudo (Mute)

5/10/2020 02:13:00 AM |


É interessante que mesmo passando quase 40 anos, ainda fazem a maioria dos filmes futuristas com o estilo e visual de "Blade Runner", e isso não é ruim, muito pelo contrário, pois o clássico definiu um molde que não aconteceu 100% como as pessoas imaginavam o futuro que seria a época que estamos vivendo, mas quem sabe mais para a frente! Dito isso, o longa da Netflix, "Mudo" tem todo um conceito visual abstrato, cheio de nuances bem trabalhadas num futuro violento na Alemanha, que consegue desenvolver bem os elos românticos do protagonista só se expressando com olhares, até seus atos violentos em busca da amada, e a grande sacada ficou bem para o final, pois o longa acaba trabalhando tantos personagens que achamos desconectados, mas que ao final tudo se encaixa e agrada bastante. Claro que sendo um filme conceitual, a velocidade da trama é meio arrastada, mas de certo modo acaba envolvendo bastante, e o resultado acaba impressionando. Não diria que é um filme incrível, mas a trama consegue ser bem amarrada e interessante de conferir, ao ponto que vamos meio que até ficando confusos com todas as situações, com os diversos temas polêmicos que acabam jogando na tela, e o resultado final funciona muito bem resumindo a ideia toda, ou seja, promete bastante durante todo o desenvolvimento, e finaliza cumprindo com a essência, mas que certamente alguns irão esperar outro final.

O longa nos situa em Berlim, no ano de 2056, aonde Leo é um bartender mudo e completamente apaixonado pela namorada, Naadirah. Quando ela desaparece, Leo parte em uma jornada pelo submundo que o leva a lidar com cafetões, um médico desertor do Exército e seu melhor amigo, que possui uma forte tendência à pedofilia.

O diretor e roteirista Duncan Jones tem um estilo forte e cheio de criatividade que imprime sempre em seus filmes, tanto que mesmo em filmes com potencial baixo, ele acaba fluindo para nuances imponentes, temas para se refletir, e acaba saindo de sua caixinha para ir bem além em tudo o que faz, e aqui não foi diferente, pois só de ler a sinopse você já pode ver todo o ambiente "amigável" que ele nos situa, e que o protagonista irá percorrer. Claro que o filme não é daqueles que você entra sorrindo e continua até o fim, pois com temas fortes, e uma estrutura bem pegada, o diretor acabou desenvolvendo seu filme com uma desenvoltura clara para mostrar o desespero de um homem em saber o paradeiro de sua paixão, através de seus meios pouco comuns, afinal não pode falar, não sabe lidar com tecnologias, mas tem força de vontade e força nas mãos, e vai até o fim das consequências para conseguir. Ou seja, a trama é boa, o estilo de direção é bem bom, a produção é cheia de detalhes tecnológicos, as reviravoltas são bem montadas, porém temos um leve problema, o ritmo é meio devagar, e tem uma formatação meio que seriada, de forma que o filme se fosse capitulado, com mais quebras como é uma série ou minissérie, resultaria em algo bem mais interessante, mas como não foi essa a proposta, ao menos o resultado final funcionou para todo o restante.

Um ponto bem interessante do filme é que o elenco tem atores bem conhecidos, mas que estão tão diferentes do que fazem naturalmente em outros longas, que até acaba sendo estranho ver eles na tela, e claro começamos com Alexander Skarsgård que foi imponente com seu Leo sem falar, só fazendo trejeitos corporais e com olhares precisos, com uma maquiagem de olheiras fortíssima nas cenas que ficou acordado por um bom tempo lendo a lista telefônica (já que o rapaz em pleno 2056 não curte tecnologias), e mesmo ficando sumido em alguns atos para que o filme desse destaque para outros personagens, ele conseguiu chamar a atenção e ser bem correto em tudo. Paul Rudd que acostumamos a ver como Homem-Formiga nos últimos anos, mas que costumeiramente cai sempre bem em comédias, aqui até trabalhou bem o humor negro de seu Cactus Bill, ao ponto de em alguns atos torcermos para ele, em outros querer que soquem sua cara, e que de certo modo foi forte na medida certa para que o personagem não desandasse e ainda chamasse a atenção, ou seja, em diversos momentos ficamos pensando o motivo de mostrar tanto ele e seu amigo, quase sumindo completamente o protagonista da história, mas depois que ele entra pra jogo vemos que foi bem necessário seus atos. Da mesma forma, Justin Theroux trabalhou seu Duck com estilo, fazendo algumas coisas bem loucas no miolo junto de Cactus, que falamos meio que nada a ver, mas quando chega nos atos finais tudo é tão denso para cima de seu personagem, que sequer pensamos naquilo, então vem o ato no quarto, e meus amigos é tenso, mostrando que o ator foi muito bem trabalhado para executar a precisão. Seyneb Saleh foi bem com seu cabelo azul, seus olhares apaixonados, até teve uma dinâmica bem coesa nas cenas que aparece com sua Naadirah, mas depois some, e vira o motivo da caça do protagonista, então nem teve muito tempo para chamar atenção, e assim seu resultado foi simples demais. Já um personagem completamente secundário, que no roteiro certamente ninguém nem notaria ele, mas que o ator acabou dando ótimos trejeitos e ensejos foi Robert Sheehan com seu Luba, que brincou com os vários lados, trabalhou nuances, e agradou bastante. Além desse, o filme tem muitos outros personagens que acabaram tendo boas conexões, mas não vou ficar entrando em detalhes, e apenas digo que a escolha foi bem acertada para todos.

Quanto do visual do filme, já disse no começo e o visual futurista cyberpunk lembrou muito "Blade Runner", mas claro que com devidas proporções orçamentárias, aqui temos elementos menos funcionais dramáticos, e mais condições fechadas, aonde o filme acaba se passando mais dentro dos ambientes, claro que tirando a cena de perseguição de um carro antigão por alguém que nem sabe dirigir direito atrás de uma nave voadora (absurdo monstruoso que nem em sonho aconteceria, quanto mais funcionaria!!), além de objetos sexuais bizarros nas casas de cafetões, muita simbologia nos elementos cenográficos para cada ato importar algo a mais, e com isso vemos casas com ambientes de tortura, clubes/boates com robôs dançarinos e mulheres com visuais exóticos, bairros com classes e pessoas diferentes, e tudo se conectando num macro maior, ou seja, um filme que a equipe de arte teve de pensar muito para criar, e que a equipe de computação gráfica sofreu bastante para executar, mas que funcionou tanto como uma grande produção, como com uma fotografia tecnológica interessante com muitas cores vibrantes, muitos tons escuros para dar dramaticidade, e que resultou em algo marcado pelo tempo certinho de execução.

Enfim, é um filme que tem uma proposta bem interessante, que chama a atenção, que tem atos fortes, mas que peca em diversos momentos, que acabam fazendo até com que o público desista de conferir a trama na metade, ou que não se envolva completamente com tudo o que passa, tanto que como falei no começo, talvez o filme sendo quebrado em três partes e virando uma minissérie teria mais resultado, pois poderiam desenvolver mais os personagens, criar seus momentos marcantes, e o resultado seria bem melhor, mas nem sempre tudo ocorre da melhor forma, e sendo assim, ainda digo que vale a conferida, mais pela produção em si, do que pela história na complexidade que queriam passar, e assim sendo fica a dica. Bem é isso pessoal, paro por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

2 comentários:

RMBS Rock disse...

O impacto de Blade Runner é profundo e reverbera até os dias de hoje sim e ainda vai longe isso... Esse filme também me lembra vagamente o filme Immortel Ad Vitam 2004 de Enki Bilal. Então uma mix de Blade Runner com Immortel kkk...

Fernando Coelho disse...

Pois é Marcos... Blade Runner vai ser eterno para sempre, aliás na faculdade tivemos quase um semestre inteiro só estudando o filme, então é coisa a rodo para pensar... agora esse outro que você falou não lembro de ter visto, vou procurar depois... abraços!!

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