A Cor Púrpura (The Color Purple)

2/10/2024 02:02:00 AM |

Esse ano de 2024 será o ano dar refilmagens em formatos musicais, aonde grandes clássicos que já foram filmes dramáticos, cômicos e até fantasiosos, que acabaram caindo na Broadway depois, agora voltaram reformulados para as telonas com uma pegada mais fechada cheia de nuances que quem gosta acaba se envolvendo e divertindo com o resultado. E confesso que lembro bem pouco do clássico de 1985, "A Cor Púrpura", que se não me engano vi uma vez só na TV dublado e acredito que mereceria uma revisitada, mas o que me lembro era de ser pesadíssimo, com uma pegada tensa demais, aonde tudo o que acontecia era até chato de ver (eu era um garoto ou no máximo um adolescente quando vi!) que hoje talvez eu entenda bem mais tudo, mas aqui a versão musical ainda trabalhou os temas densos, mas com uma desenvoltura tão bem trabalhada, tão marcante de ideais e dinâmicas, que praticamente nos conectamos na protagonista e vivenciamos tudo o que sofreu até chegar no seu final, e posso dizer que foi apenas o começo de Fantasia Barrino nas telonas, pois a cantora pegou o filme para si e explodiu com tantos trejeitos e entonações vocais que se eu sou diretor de qualquer musical já falaria direto com o agente dela, pois não tem como não a ter na tela. Ou seja, é daqueles filmes que quem ama musicais se envolverá com tudo, se emocionará com os atos mais intensos e marcantes, e ao final sairá bem satisfeito com o resultado, pois mesmo sendo quase que 90% cantado, as canções deram vida para a trama, e isso é maravilhoso de ver.

A história é contada a partir das cartas escritas por uma jovem à Deus. Celie é uma mulher afro-americana que vive no sul dos Estados Unidos no começo do século XX. Ela tenta superar os traumas deixados pelos abusos do pai e do marido ao longo dos anos e, para isso, contará com o apoio e a força de um grupo de mulheres que constrói uma irmandade.

Diria que o diretor Blitz Bazawule quis trazer um tom mais leve para a produção sem perder o teor forte da história do clássico, e felizmente ele conseguiu isso, pois sua trama é densa, tem atos marcantes e intensos, mas com o brilho das canções, danças e desenvolturas de todos os protagonistas, a trama acaba fluindo bem por todo o ambiente, de tal maneira que assim como o clássico que tem 154 minutos, aqui o musical tem 141, e não cansa em nenhum ato ao ponto que sempre ficamos esperando mais, e nos é entregue muito mais. Ou seja, sabemos que em filmes musicais a direção de coreografia e de canto tem muito mais valor do que o diretor de cena propriamente dito, mas por incrível que pareça a história é bem desenvolvida, tem seus atos de expressões que quebram a parede cênica, mas flui, e isso é o que mostra o trabalho de um bom diretor e de um editor de qualidade, pois dava para dar muito errado, e claro que a produtora master da produção que foi uma das protagonistas do clássico, Oprah Winfrey não iria deixar que estragassem algo que ficou marcado.

Quanto das atuações já falei no começo do texto, e a ganhadora do "American Idol" de 2004, Fantasia Barrino, que fez Celie também na Broadway entre 2007 e 2010, se apoderou com tanta intensidade da personagem na telona que não consigo nem imaginar Whoopi Goldberg no papel em 1985, pois a atriz conseguiu dar muita personalidade para cada ato seu na tela, fazendo trejeitos fortes e bem seguros, e se na época do teatro ela incorporou bem o papel com 23 anos, agora beirando os 40 conseguiu trazer um ar mais de senhora para muitos atos, cadenciando como uma mulher que envelheceu pelos abusos, mas que está disposta a sonhar e ir além, isso falando apenas como atuação, pois quanto de sua cantoria é algo que nem dá para falar. Agora quem também conseguiu chamar muita atenção e tem um dos atos mais fortes é Danielle Brooks com sua Sofia, que inclusive fez o papel na Broadway de 2015 a 2017, e aqui deu muita densidade para o papel que foi iniciado em 1985 por Oprah, de tal forma que chamou para si e conseguiu ganhar até a indicação para o Oscar de Atriz Coadjuvante, afinal a personalidade em seus trejeitos é algo que arrepia. Ainda tivemos Taraji P. Henson que não é tinha ainda feito o papel entregando uma Shug Avery sensual, destemida e muito marcante na tela, trabalhando todo o ambiente e conseguindo muito destaque cênico em todos seus atos. As garotas jovens também tiveram seus bons momentos iniciais, mostrando que Phylicia Pearl Mpasi e Halle Bailey entregaram boas químicas e emoções para suas Celie e Nettie. E quanto dos homens é claro que o filme é de Colman Domingo que deu tanta personalidade e imposição para seu Mister que chama tudo para si em seus atos, trabalha trejeitos como ninguém e se joga por completo para agradar bastante dentro de uma trama mais puxada para o lado feminino, aliás o ator está indicado à vários prêmios, inclusive ao Oscar por outro longa nesse ano, ou seja, é o seu momento realmente.

Visualmente o longa tem alguns atos lindíssimos que acabam sendo formatados quase como clipes soltos em alguns momentos, mas sem se desgrudarem do ritmo nem da história, de forma que vemos atos dançantes com prisioneiros, com lavadeiras, indo para o culto recheados de personagens, vemos bares e mercearias da época, casas simples no começo do século XX, ainda puxado para um lado quase rural e depois vamos vendo as formações mais próximas das cidades, e claro dos problemas envolvendo tudo, tivemos atos em cadeia, numa loja de roupas e muito mais, tudo bem formatado, simples de cativar, porém luxuoso de detalhes para representar bem cada momento do filme.

Os timbres vocais e as emoções foram um show a parte na tela, mostrando que todos os artistas estavam extremamente bem preparados para tudo e conseguiram ir bem além, não tendo canções clássicas tão conhecidas, num formato que acabam mais contando a história através da canções do que tendo uma valorização para fora de tudo, então irei compartilhar aqui o link delas, mas não recomendaria ouvir sem ver o filme, pois acabará ficando meio que estranho como um todo.

Enfim, não é um filme perfeito, pois o clássico coloca o nível lá na estratosfera já que é uma direção de Steven Spielberg, mas o musical entrega para quem não foi ver a peça na Broadway algo muito emocional, visual e envolvente, que acaba valendo demais o ingresso, principalmente para quem curte o estilo. Então fica a dica e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais com muitos outros textos.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...