Star+ - Suncoast

2/17/2024 06:33:00 PM |

Costumo dizer que quando um diretor e/ou roteirista deseja homenagear algum ente querido que morreu, deve escrever a base e entregar nas mãos de outra pessoa para que seja feito com primor, pois a chance de recair para algo depressivo é bem grande, e foi exatamente o que acabou acontecendo com o longa "Suncoast", que pode ser conferido na Star+, e só ao final ficamos sabendo disso quando vemos que a trama foi em homenagem à Max Chinn, irmão da diretora/roteirista. Pois a mensagem em si, é bonita de mostrar todo o desespero de não ter o tempo devido para falar para a pessoa que a ama, sobre seus momentos e tudo mais que costuma se deixar para um momento especial, mas muitas vezes esse momento nem ocorre e acabamos não falando isso para a pessoa antes dela se desligar desse plano, e facilmente o longa dava para ter uma pegada mais emocional e envolvente sem precisar pesar tanto a mão, pois acabamos assistindo ao filme esperando sempre aquele algo a mais, que não ocorre, e assim fica apenas as mensagens bonitas no ar, o que é uma pena, já que dava para ter trabalhado muito mais coisas na tela.

O longa segue uma adolescente que mora com sua obstinada mãe, que deve levar seu irmão para morar em um estabelecimento especializado. Lá, ela inicia uma amizade improvável com um ativista excêntrico em meio a protestos em torno de um dos casos médicos mais marcantes de todos os tempos.

Por ser uma trama semi-biográfica, a diretora e roteirista Laura Chinn soube passar a mensagem que desejava na tela, isso é um fato claro e inegável de ver e sentir, talvez por não ter conseguido fazer o mesmo que gostaria com seu irmão ainda vivo, e/ou outras situações, mas como sua experiência maior é a de roteirizar séries, aqui em sua estreia dirigindo acabou faltando um pouco mais de personalidade e intenção direcional, pois seus personagens acabaram bem soltos, vivendo algo digamos egocêntrico demais em suas cabeças, como a garota querendo ser uma adolescente normal, o ativista em sua plena e cativa luta por alguém que ele nem conhece, e até a própria mãe que esquece que tem outra filha além do que está doente em determinados momentos, e isso dita bem a falta de conexão com o seu redor, ou não, mas cada um pensa de uma forma que se bem conectado poderia soar brilhante na tela, e talvez tenha faltado o que falei no começo, que é escolher um diretor mais apto para o trabalho que pegaria o lindo texto de Chinn e faria uma homenagem mais bonita ainda para o irmão dela, mas se ela cumpriu com o que desejava no seu âmago, já fez por valer.

Quanto das atuações, a jovem Nico Parker trabalhou sua Doris com olhares tão tristes e desanimados, que mesmo nas festas e brincadeiras junto das amigas parecia não estar 100% ali, mas quem conseguiu tirar um pouco mais dela foi o personagem de Woody Harrelson, pois seu Paul teve uma pegada mais ampla de querer dar para os demais algo que ele não pôde ter com sua esposa, ou seja, vemos dois personagens em processos semelhantes de desconexão com o presente, mas que conseguem se doar de forma melhor na tela, e acredito que essa deva ser até uma homenagem maior da diretora para alguém que lhe ajudou a superar todo o processo de luto como algo maior, e o mais bacana é ver Harrelson que costumeiramente entrega personagens bobos, fazendo algo mais cativo e emocional na tela, pois soube segurar bem a bronca mesmo não sendo o protagonista, enquanto Parker foi graciosa, mas dava para se abrir mais em alguns momentos. Ainda tivemos claro Laura Linney com um processo depressivo de desilusão, de tal forma que por algumas vezes sua Kristine se perde entre trabalhar muito e passar os últimos momentos com o filho, o que acaba sendo sentido na tela pelos seus olhares, mas também soube dosar emoção em alguns atos, o que mostra que tentou sair do plano da trama para ter algo a mais. Ainda tivemos alguns atos bem colocados com os jovens da escola, mas sem grandes chamarizes cênicos para destacar.

Visualmente a trama focou bem na casa da protagonista bem simples e bagunçada, afinal vivendo ali com um jovem doente acabam esquecendo de limpezas básicas que ficam difíceis de acontecer, vemos a rampa da cadeira, muitos remédios e tudo mais para o uso, contrapondo os momentos que levou os amigos para festas lá, aonde escondia tudo em um quarto e rolavam muita bebida, fumo e tudo mais, também tivemos o lado da clínica de acompanhamento de morte, aonde tudo era bem básico por dentro, mas com muitos ativistas do lado de fora com cartazes, faixas, adesivos nas bocas e tudo mais, representando bem o caso que é mostrado em segundo plano, ainda tivemos alguns atos na escola católica aonde a jovem estudava, com aulas justamente sobre a morte com data determinada, entre outras ideologias trabalhadas contra as leis naturais, e algumas saídas da protagonista desse mundo também em festas, boates, bares e lanchonetes, ou seja, a equipe trabalhou bem muitas locações, sendo simbólicos aonde precisavam, e isso acabou funcionando.

Enfim, é um filme de mensagens e ideais interessantes de ver, que dava para ter ido muito mais além, mas como não ocorreu, o resultado pode desanimar alguns que forem dar o play, principalmente pelo excesso depressivo de estilo que é sentido em cada ato. E é isso meus amigos, fica assim sendo uma dica com algumas ressalvas, e eu fico por aqui agora, mas ainda vou conferir mais um longa hoje, então abraços e até breve.


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