Águas Selvagens (Água dos Porcos)

5/15/2022 08:10:00 PM |

Existem filmes que possuem tantos elementos interessantes no roteiro que os diretores se sentem pressionados a utilizar tudo, porém precisam olhar ao redor e eliminar sem pesar algum na mão para que tudo o que vai parar na tela seja funcional e bem colocado, para que não fique cansativo, e principalmente não perca o interesse do público no que vai rolar. Comecei o texto da produção argentina-brasileira "Águas Selvagens" dessa forma por acontecer exatamente isso com o longa, pois daria fácil para removendo uns 20 minutos da trama com sobras e atos que não impactaria em nada no resultado final, muito pelo contrário, daria para colocar até mais elementos do caso para que o filme impactasse mais no público, afinal logo nas primeiras cenas já dá para notar que existem situações de tráfico infantil para envolvimentos sexuais na cidade, e que o investigador está sendo usado apenas para apagar o envolvimento real dos seus contratadores, mas aí acabaram colocando envolvimento pessoal do investigador, do porteiro do hotel, de putas e tudo mais, que quase apagaram toda a síntese forte do filme, e isso é algo perigosíssimo, mas que como sabemos bem, diretores gostam de enfeitar seus trabalhos, e aqui o pavão quase perdeu as penas e o pescoço. Ou seja, não é um filme ruim, mas como você pega a ideia logo no começo, a enrolação para o fechamento acaba cansando demais, e com isso o interesse acaba indo embora também, ao ponto que nem impacta mais todo o processo final, o que é uma pena.

No longa acompanhamos Lucio Gualtieri, um ex-policial argentino que trabalha agora como investigador. Cheio de problemas em sua vida pessoal, ele aceita um trabalho para solucionar um crime cometido na tríplice fronteira, entre a Argentina, Brasil e Uruguai. O crime em questão, trata-se do cadáver de uma figura importante, encontrado castrado nesse território hostil. Porém, chegando lá, entre o farejo de uma pista e outra, ele dá de cara com personagens controversas, como a prostituta Debora e a jovem Blanca, além de toda uma organização criminosa complexa. O investigador acaba se metendo em uma trama de assassinatos, prostituição e tráfico de menores, que faz com que ele seja perseguido e se comprometa mais do que imaginava - enquanto ainda administra seus próprios conflitos internos. O maior desafio para o ex-policial, será conseguir sobreviver a esse espaço.

Embora seja um longa nacional, a direção é do argentino Roly Santos usando um roteiro do também argentino Óscar Tabernise, baseado no seu próprio livro "Ele Muertito", acaba sendo daqueles que tem todo um processo possível para diversas reviravoltas, e com isso, talvez nas mãos de um diretor mais experiente o resultado fosse outro, mas com o que foi apresentado quase virou uma novela fraca que se perde no miolo sem saber quais rumos tomar para ter um fechamento decente, e isso pesa ainda mais por ter algo que facilmente viraria daqueles filmes ficcionais,as com pontas de denúncias tão interessantes de ver que ficamos esperando o choque acontecer. Ou seja, dessa vez tenho de jogar totalmente a culpa em Roly, uma vez que a falha foi em não parar para pensar o que era importante trabalhar, e o que poderia ser eliminado do livro, afinal quando estamos lendo, queremos mais detalhes, mais tramas, e mais densidade, porém num filme, isso já se pega com uma cena simples do garotinho servindo suco com as mãos machucadas, e a partir daí já daria para eliminar quase 50% das cenas seguintes. Sendo assim, quem for conferir, a principal dica que dou é que pense menos e deixe se levar, senão tudo vai incomodar, e esse é o maior problema do filme.

Sobre as atuações, o ator uruguaio Roberto Birindelli já fez tantas produções nacionais que já podemos quase considerar ele um brasileiro, e aqui na trama oseu Lucio tem uma pegada até que interessante de investigador particular, mas em determinados momentos parece meio que perdido em cena, e isso se deve principal a uma direção ruim, ou seja, faltou usar mais ele em ação do que no quarto do hotel, e isso pesou demais para que sua expressividade não aparecesse tanto. Mayana Neiva tem aparecido bastante nas últimas produções nacionais, e aqui sua Rita em alguns momentos parece a vilã, em outros parece desinteressada em tudo, e até o final acaba sendo uma vítima de todo o processo, ou seja, a personagem acabou se perdendo na trama toda. Leona Cavalli com sua Debora e Allana Lopes com sua Blanca até entregam boas personagens, mas talvez precisassem desenvolver melhor elas, e não jogar tanto com a piedade do público para o que fazem, e assim certamente iriam mais além, mas fizeram bons traquejos, e assim ao menos foram bem usadas. Juan Manuel Tellategui ficou até que bem misterioso com seu Fabian, porém faltou aquele algo a mais para chamar atenção no seu personagem, e isso fez com que ficasse até mais estranho do que intrigante de acompanhar. Luiz Guilherme até tentou disfarçar no começo com seu Quiroga, mas o diretor acabou usando um efeito em sua cena de apresentação que já dá para pegar tudo ali, e isso é um dos erros mais ingênuos que um diretor pode fazer. Quanto os demais, praticamente nenhum apareceu de forma chamativa realmente, e assim acabam sendo até menos importantes do que poderiam ser, ao ponto que o policial corrupto vivido por Daniel Valenzuela e o ex policial amigo do protagonista vivido por Néstor Nuñez apenas tentaram ser algo que o filme nem precisava ter.

Visualmente acredito que os produtores pagaram bem caro nas locações dos dois hotéis, e com isso ficaram mais tempo nos quartos do que passeando pela ótima floresta ao redor que causaria muito mais tensão do que o que foi apresentado, e assim vemos algumas cenas meio que jogadas rapidamente como a ida na empresa do morto duas vezes com tudo escuro para não detalhar nada, a ida num puteiro duas vezes também para algumas cenas avulsas, e até a ida três vezes na casa da garota apenas para levar e buscar ela, ou seja, a equipe de arte nem precisou quase criar nada, apenas com idas e vindas, para chegar em alguns tiroteios que precisaram de sangue, pois sem ela poderia dizer que dormiram o tempo todo enquanto filmavam o longa.

Enfim, friso que não é um longa ruim, afinal dá até para criar algumas expectativas com o suspende proposto, porém falharam em pontos tão precisos que o resultado final acaba sendo decepcionante, e eram coisas bem fáceis de serem arrumadas, ou seja, é daqueles com grande potencial, mas que acabam ficando medianos com as escolhas feitas. E é isso meus amigos, fica assim sendo a indicação, para que relevem muita coisa ao ir conferir a trama, mas apoiem o cinema nacional, afinal sair das comédias bobas é preciso, e ousar para o suspense é um bom passo. Eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...