Stillwater

12/19/2021 10:39:00 PM |

Costumo dizer que para um bom drama funcionar os atores precisam acreditar muito no roteiro e encarar todos os momentos da trama com uma identidade própria de seus personagens, e a história de "Stillwater" é bem trabalhada, tem as devidas nuances fortes e marcantes, mas tem muita mais história de vida envolvida do que propriamente uma trama de um filme, sendo daqueles que acabamos encarando tudo, ficando bem presos com tudo o que ocorre, torcendo para o protagonista ir além, mas de cara já dá para saber que vai fazer besteira, e essa essência toda poderia ser melhor moldada para outros lados que não fossem tão calmos. Ou seja, é um bom filme, mas nem o protagonista parece com o estilo que o personagem pede, nem a trama é forte como poderia, ficando bem no meio do caminho das duas escolas dramáticas: a francesa e a americana, nas quais o filme se apoia.

A sinopse nos conta que Bill Baker, funcionário de uma plataforma de petróleo em Oklahoma, viaja para Marseille para visitar sua filha com quem não fala há muito tempo. Ela está presa por um homicídio que diz não ter cometido. Mesmo com as dificuldades culturais e sem falar a língua local, Bill decide ficar permanentemente na França e lutar para provar a inocência da filha.

Se com "Spotlight - Segredos Revelados" o diretor e roteirista Tom McCarthy ganhou diversos prêmios por ir direto em algo investigativo e intrigante, aqui ele tentou brincar de investigador com uma pessoa comum, meio que fora dos eixos e que tenta uma nova vida na França, mas como bem sabemos, o passado de uma pessoa surtada sempre será negro e com nuances prontas para apertar o gatilho, então ele faz toda uma rodada cheia de carinho, cheio de envolvimento, mas em seguida já mexe com nosso interior, e isso o filme rola o tempo inteiro, tendo várias quebras e desenvolvimentos bem abertos, trabalhando da vida de todos, o que é bem dramático, mas também bem aberto, e usando do artifício dramático do teatro, da captura da verdade, o diretor brinca com essa ideia, e assim o filme tem sua identidade. Ou seja, o trabalho de McCarthy é bem visto, mas se lá muitos acharam que ele amarrou as ideias e não as utilizou, aqui ele fez isso ainda de maneira mais presa, o que não impacta como deveria, nem explode como poderia, ficando bem no meio do caminho.

Sobre as atuações, sabemos bem do potencial que Matt Damon tem para qualquer tipo de papel, porém ainda acho que ele é muito novo para o estilo que seu personagem Bill Baker necessitava, ao ponto que o personagem é um pai velho, já duro pelos acontecimentos, com um tom mais pegado, e Matt é muito mais singelo em sua estrutura, de forma que ele até consegue transparecer algumas boas nuances, mas não impacta como alguém mais velho e carregado em trejeitos passaria, ou seja, não fez algo ruim, mas não chegou aonde o papel precisava. Camille Cottin trabalhou bem sua Virginie, desenvolvendo seus atos com personalidade, mostrando suas imposições e cadenciando cada momento com muito estilo, ao ponto que mesmo fazendo uma atriz de teatro, doou trejeitos para sua personagem com muita força e verdade, o que acaba sendo bacana de ver na tela. A garotinha Lilou Siauvaud deu boas nuances também para sua Maya, transparecendo carisma e muita desenvoltura junto do protagonista, formando quase uma dupla dinâmica de correspondência em francês-inglês, sendo bem legal e bonita a interação entre eles, e mostrando que a jovem tem futuro pela expressividade. Senti Abigail Breslin meio presa demais em sua Allison, ao ponto que a atriz tem um estilo bem dinâmico, mas aqui fez nuances mais secas e sem muita abertura durante quase todo o filme, meio que escondendo sua verdade até o ato final, e assim explodindo ali na conversa com o pai, ou seja, talvez isso um pouco antes mudaria o filme, e chamaria muito mais atenção para tudo. Quanto aos demais, a maioria fez apenas conexões, sem grandes chamarizes interpretativos, desde a avó vivida por Deanna Dunagan, passando pelo garoto Akim vivido por Idir Azougli, até mesmo a promotora vivida por Anne Le Ny e o ex-policial vivido por Moussa Maaskri, mas apareceram e se doaram bem nos seus atos pelo menos.

Diria que o visual mais rústico do ambiente que a equipe de arte escolheu até deu um tom bem marcado para o filme, tanto que ficamos mais nas construções, na periferia e até recaindo para uma casa simples com um porão bem tradicional na França aonde tudo parece ser até meio como algo jogado, e essas nuances foram boas para simbolizar tudo e ambientar bem a proposta mais seca do filme, ao ponto que até a cadeia não foi tão pesada no ambiente mostrado, e assim funciona bem e mostra outro lado da França para mundo afora, afinal Marselha é belíssima por sua costa, e isso também é mostrado numa abertura mais lúdica dos momentos calmos do filme, até incorporando um jogo no Estádio Velódromo do time da cidade, e assim tudo se conecta bem e marca até o estilo da trama, até mesmo nos atos nos EUA, já em algo mais duro também.

Enfim, é um bom filme, mas parecia ser muito melhor pela ideia, pelo diretor, pelos protagonistas e tudo mais, parecendo ser daqueles que ficamos impactados com algumas respostas/diálogos, mas que enrolaram demais para isso acontecer ao ponto de já nem estarmos mais querendo essas situações. Ou seja, é daqueles filmes que até dá para indicar, mas que muitos irão se cansar e nem terminarão de ver, pois o miolo esfria demais toda a ideia original. Bem é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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