Netflix - Dívida Perigosa (The Outsider)

3/27/2021 10:04:00 PM |

Sempre que a Netflix brinca com os algoritmos dela e me vem com alguma indicação diferente chega a ser engraçado, pois geralmente vem uns filmes tão diferentes que nem consigo entender como é feita a conta, mas como sou teimoso vejo, e depois acaba aparecendo algo mais maluco ainda. Dito isso hoje a sugestão dela foi que eu visse um filme que entrou em cartaz por lá já tem três anos, mas como tem Jared Leto e lutas imaginei que fosse ser algo interessante, e até que "Dívida Perigosa" tem cenas intensas e bem feitas, mas ficou parecendo que apenas quiseram mostrar alguém que vai pagar a dívida de terem lhe tirado da cadeia e ficou no meio de uma família da máfia japonesa, e acaba gostando dessa nova vida, esquecendo completamente quem já foi. Ou seja, a trama acaba acontecendo, mas sem deslanchar realmente como poderia, ficando amarrada aos personagens sem ter uma história realmente sendo desenvolvida, ao ponto que ficamos esperando algo mais dos personagens, alguma desenvoltura, alguma morte mais clara, pois tudo acontece minuciosamente como imaginamos que vai acontecer, com as pausas acontecendo nos atos claros, e isso não é legal de ver. Ou seja, é um filme de máfia que alguns até podem gostar mais, mas certamente faltou aquele algo a mais que chamaria a atenção totalmente.

A sinopse nos conta que preso durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado americano consegue a liberdade ao fim do conflito tornando-se integrante da máfia Yakuza por intermédio de um colega de cela. No perigoso submundo do crime japonês ele tenta impor respeito e conquistar a confiança dos membros do grupo.

Diria que o diretor Martin Zandvliet desejava criar algo mais tenso, com uma vertente marcada de negociações entre famílias criminosas, e claro misturando forasteiros em seu meio como algo diferente do usual, mas também queria impor a violência tradicional da máfia na sua trama, e com isso ficou um pouco perdido de onde atacar realmente para que tudo funcionasse e ficasse marcado. E nessa dúvida que ele acabou criando, os protagonistas se entregaram em conflitos bem demonstrados, trabalharam as densidades, e até criaram um tipo de estilo meio que novelesco, com subtramas ocorrendo sem os devidos fechamentos, ao ponto que em determinado momento ficamos pensando qual a necessidade de alguns diálogos, qual a necessidade de todo um processo de marcação, e por aí vai, fazendo com que o filme ficasse sem um rumo bem definido, e quando vai acabar realmente ficamos deslocados. Ou seja, pode até ser que tudo o que foi mostrado estivesse no roteiro, fosse ainda maior pela quantidade de tempo que talvez tenha sido cortado na edição, mas de certa forma o resultado nem surpreende, nem fica tenso na medida que deveria, acabando soando estranho de ver, mas não ruim por tudo o que acaba sendo entregue, como boas cenas violentas, e principalmente uma produção grandiosa.

Sobre as atuações é interessante observar como Jared Leto se integra aos mais diferentes papeis, e sempre consegue chamar atenção por ser de fácil adaptação, ao ponto que aqui seu Nick parece quase um objeto deslocado no meio de tantos japoneses, mas consegue dar voz ao personagem meio quieto demais, consegue trabalhar expressões fáceis, e principalmente manter o curso sem sair gritando e explodindo como habitualmente faz em muitos filmes, e isso fez dele um bom personagem, que até poderia ter ido além, mas não era o caso que o diretor desejava, então fez bem em ser mais contido. Tadanobu Asano trabalhou bem o seu Kiyoshi, bem sério, cheio de nuances reflexivas, e colocando em frente amizade a frente da família que é algo raro de ver em filmes do estilo, e o ator caiu bem para o personagem, mas sem grandes explosões também. Agora um que acabou chamando muita atenção foi o patriarca da família, o grande chefe da máfia toda, Min Tanaka, que fez cenas marcantes com seu Akihiro, se impôs nos momentos mais fortes, e até seu momento final deu tudo que poderia de expressividade e bons diálogos. Kippei Shîna trouxe para seu Orochi aquele estilo clássico de homem de negócios que sabemos que não devemos confiar, e de cara já dá para saber que irá trair algum dos dois lados que está jogando, e o mais engraçado é que o ator não tenta esconder isso, o que acaba sendo uma falha, mas foi bem na maioria dos atos. Quanto aos demais, vale apenas um destaque para o estilo entregue por Shioli Kutsuna com sua Miyu com muita sensualidade e ao mesmo tempo centralidade na personificação, que acaba chamando bastante atenção, e merecia um pouco mais de história.

Visualmente a trama foi muito bem trabalhada, com diversos carrões clássicos, com todos os personagens com figurinos imponentes com ternos alinhadíssimos, vários ambientes cheios de elementos simbólicos da época, e principalmente a equipe de maquiagem gastou muita tinta para fazer as diversas tatuagens corporais incríveis cheias de significado também para a máfia, além de uma prisão gigantesca no começo cheia de ambientes escuros e bem marcados, ou seja, uma produção grandiosa, com muitos ambientes de época, vários figurantes espalhados, e o resultado no contexto completo acaba chamando a atenção.

Enfim, é um filme com uma proposta interessante e um visual bem bacana, que acaba agradando em certos momentos, mas que não vai muito além na história, ao ponto que muitos irão conferir tudo e sair sem entender aonde desejavam chegar, mas que não é de todo ruim de forma que vale a conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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