Netflix - O Rei (The King)

11/12/2019 01:19:00 AM |

O longa "O Rei" que a Netflix colocou em seu catálogo de produções originais é nada mais que um clássico filme de batalha épica que entrega uma história bem densa, atuações impecáveis, que possui estilo, figurinos fortes, e que certamente mereceria passar nos cinemas ao invés de ser lançado diretamente no streaming, porém seu ritmo lento certamente deve ter pesado para os produtores venderem ele mais facilmente para as exibidoras, e o resultado está aí, Netflix comprou os direitos, e certamente deve jogar o filme em diversas premiações, afinal a trama é muito boa, e a densidade histórica é na medida certa que um longa do estilo deve ter, de modo que mesmo não conhecendo muito da história dessa época, vemos bons momentos, situações fortes bem encenadas, e principalmente o tradicional jogo de interesses que esses filmes sempre nos mostram, trabalhando com minúcias técnicas, e envolvendo com toda a tensão proposta. Ou seja, um filme com todas as características clássicas que o gênero pede, que funciona dentro do que desejavam entregar, e que se tivessem conseguido criar um ritmo com uma cadência melhor certamente seria daqueles longas que iríamos vibrar muito, e já poderia abrir as prateleiras para muitos prêmios, pois seria perfeito.

A sinopse nos conta que descontente com a realeza, o príncipe herdeiro Hal decide viver entre os plebeus. Mas, com a morte de seu pai tirano e coroado Rei Henrique V da Inglaterra, ele é forçado a retornar para o mundo que havia deixado para trás. Agora, o jovem rei precisará lidar com as pressões políticas e o legado de guerra deixado por seu pai ao mesmo tempo em que enfrenta suas próprias questões emocionais, como a relação com seu amigo e mentor, o cavaleiro alcoólatra John Falstaff.

É interessante ver tanto o trabalho de pesquisa de Joel Edgerton para escrever o texto bem criativo, com muitas nuances reais do período (pelo pouco que pesquisei sobre os personagens reais), como a desenvoltura que o diretor David Michôd encontrou para que seu filme ficasse bem trabalhado com muitas virtudes, encontrasse nas formas da estrutura toda a temática medieval, e ainda brincasse bastante com o tema de intrigas na monarquia, as famosas sucessões, e ainda ousasse mais nas rixas entre os príncipes, pois geralmente vemos a estrutura mais em cima dos reis batalhando, mas como bem sabemos a maioria já era bem velho e não iam muito para os campos de batalha, e aqui a trama mostrou bem isso, com os generais, a igreja e até mesmo os conselhos opinando bem na cabeça dos jovens reis/príncipes para que as intrigas funcionassem e criassem batalhas. Ou seja, a dupla Edgerton/Michôd foi bem coesa na estrutura que desenvolveram, de modo que o filme em si é uma grandiosa produção digna de telas bem grandes, com uma história bem pautada, atuações fortes, e batalhas bem imponentes, só pecando um pouco em ritmo, aliás se olharmos a filmografia de ambos veremos filmes que pecam sempre nesse quesito, ou seja, é uma falha costumeira deles, e sendo assim, para quem não for muito acostumado com o estilo é capaz de cansar antes da metade dos longos 140 minutos de duração da trama, e nem chegar ao final, o que é ruim de acontecer em um filme, mas como foi lançado direto para streaming, essa possibilidade existe demais, ou seja, poderiam ter melhorado mais a dinâmica de algumas cenas (pois não vejo quase nenhuma que desse para ser eliminada!) para que o filme empolgasse mais nas batalhas, e assim o resultado pegasse mais a fundo.

Sobre as atuações, é fato que Timothée Chalamet possui um estilo forte de atuação e sabe chamar a responsabilidade cênica para si na maioria dos papéis que faz, de modo que seu Hal é imponente, consegue dominar cada ato, e principalmente movimenta a história com suas dúvidas e olhares meio que fora de eixo, mas se eu fosse seu diretor por um dia, colocaria um aparelho de choque nele, pois em todos os filmes que faz parece estar com sono, sem ritmo, e isso é algo que se ele melhorasse só um pouco já seria incrível de ver, ou seja, ele vai melhorar ainda muito, mas já tem potencial demais, e aqui ele mostrou que como grande protagonista de um filme de grandes proporções ele sabe dominar e chamar a atenção para si, ou seja, vai explodir ainda mais. Sean Harris conseguiu ficar tão diferente no longa com seu William que ficamos até espantados ao vê-lo velho e meio que de lado como um conselheiro imponente e cheio de indagações, de modo que agrada bastante com o que faz, e facilmente intriga o público, mostrando uma boa faceta de desvios de trejeitos, o que agrada bastante até o final da trama. O próprio roteirista Joel Edgerton conseguiu entregar uma personalidade bem gostosa de ver com seu John, brincando bastante em cena com trejeitos levemente engraçados, mas muito bem pontuados dentro da personalidade que o filme pedia, ou seja, chama a atenção. Robert Pattinson ficou levemente caricato com seu Delfin, de forma que seus trejeitos soaram meio estranhos de ver, mas com muita imponência chama a responsabilidade para suas cenas e desenvolve bons momentos na trama. Quanto aos demais, diria que chega a ser difícil destacar poucos personagens, pois todos os atores saíram muito bem em suas cenas, encaixando bons elos com os protagonistas, chamando a atenção sem desviar o foco, e principalmente conseguindo entregar seus personagens com algo uma história rápida bem passada, de modo que vemos um Ben Mendelsohn marcante como Henrique IV, vemos Lily Rose-Depp marcante mesmo aparecendo pouco com sua Catarina, temos no começo Dean-Charles Chapman e Tom Glynn-Carney como dois jovens de muita força e personalidade vivendo os príncipes Thomas e Hotspur, ou seja, um elenco muito bem coeso para uma trama forte.

Filmes de época medieval sempre entregam figurinos e cenários incríveis, de modo que sempre ficamos nos perguntando onde foram filmados, como conseguiram tantos apetrechos, e o brilho no nosso olhar só flutua na tela com tantas coisas para serem olhadas, tantos detalhes nas roupas, nas armas e armaduras, nas máquinas de guerra, cavalos, castelos, e tudo mais que certamente faz a equipe de arte remover cada fio de cabelo pensando aonde mais pode explorar para que o filme fique incrível, e aqui sem tirar nem pôr, temos detalhes por todos os lados, que juntamente com uma fotografia densa bem puxada para o cinza, brincando muito com o barro nas cenas finais, e entregando ambientes precisos juntamente com uma iluminação forte, aonde mesmo nas cenas mais escuras conseguiram abrilhantar, o resultado é um só, um show cenográfico da melhor estirpe possível.

Enfim, é um filme incrível, cheio de nuances, com uma pegada épica de primeira linha, que conta também com uma trilha sonora orquestrada imponente e deliciosa de acompanhar, que volto a frisar, só não é melhor pela lentidão cênica que a trama nos é apresentada, faltando um ritmo melhor para fazer com que o público se envolvesse sem precisar dormir (pois conheço muitos que irão dormir assistindo, outros vão mudar de filme, e alguns vão parar e ver em pequenos pedaços para tentar conseguir ver inteiro, afinal a Netflix dá essa possibilidade), ou seja, é uma trama precisa de detalhes, que mistura bem a ficção com o realismo que foi a época, e que certamente chamará a atenção em algumas premiações, afinal tem estilo para isso. Sendo assim, recomendo o longa para todos, e fico por aqui hoje, afinal esse foi bem longo, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até lá.

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