Papicha

11/01/2019 01:25:00 AM |

Um filme duro, que envolve e emociona por transparecer não a falta de atitude, mas a falta de liberdade! Essa pode ser a maior definição de "Papicha", que consegue ser simbólico pela formatação em cima do que aconteceu na Argélia nos anos 90, mas que certamente conseguimos enxergar em diversos lugares próximos a nós na atualidade. Ou seja, um filme forte, cheio de boas desenvolturas por parte da protagonista, que consegue envolver pela simplicidade cênica e pela dinâmica bem coesa que nos entregam, mas que principalmente passa a mensagem de que devemos lutar pelo que acreditamos, mesmo que não seja fácil, e que certamente mesmo após muitos problemas saberemos ver nossos frutos. Diria que é um filme belo pelo estilo, mas que poderia ter ido muito além caso quisessem acusar mais.

O longa nos mostra que na Argélia, nos anos 1990, Nedjma, uma estudante de 18 anos apaixonada por design de moda, se recusa a deixar que os trágicos acontecimentos da Guerra Civil da Argélia a impeçam de experimentar uma vida normal e sair à noite com sua amiga Wassila. À medida que o clima social se torna mais conservador, ela rejeita as novas proibições impostas pelos radicais e decide lutar por sua liberdade e independência apresentando um desfile de moda.

É bem interessante ver atitude na estreia da russa Mounia Meddour à frente da direção, pois geralmente em primeiros filmes costumam ir com mais calma no pote, e aqui ela mostrou um longa baseado em fatos reais, com uma dramaticidade na medida sem precisar criar tensões soltas, mas principalmente sabendo aonde ir para encontrar seu ponto chave, claro que a cada cena mais de impacto ela preferiu mostrar e parar já na sequência, sem dar muito pano para a discussão, deixando que o público tirasse suas próprias conclusões e seguisse para o próximo baque, como nos casos em que os "amigos" descem do carro, ou então no acabar das luzes para que as outras mulheres saíssem, ou até mesmo na aparição de alguém para defender a moça de um ataque, pois normalmente um diretor mais preparado iria até os limites máximos para que seu filme entrasse com tudo, ou seja, a forma que a diretora escolheu é funcional, porém poderia ter ido muito além, e não digo que isso seja algo ruim, muito pelo contrário, pois abrimos os vértices ao invés de ir para algo forte como é a cena que precede a final aonde ela atacou com tudo, mas largou pontas demais, e isso não ficou bom como poderia. Sendo assim, diria que o acerto da diretora foi muito maior que seus erros, e assim seu filme ficou incrivelmente emocionante de ver, de discutir, e assim deve ser um bom drama.

Dentro das atuações, diria que todas as jovens se doaram por completo para seus papeis, incorporando trejeitos doces ao mesmo tempo que entregavam alguns olhares indignados, algumas posturas fortes e muita vontade para com cada ato, de modo que o acerto é iminente de boas cenas e o resultado impressiona. Claro que o destaque é da protagonista Lyna Khoudri com sua Nedjma que com muita vontade incorporada, trabalhando sempre com olhares fortes, e que com uma desenvoltura incrível para cada momento conseguiu chamar não só a atenção como fazer com que o filme fosse dela, e isso num filme artístico é algo quase que raro de ver, ou seja, a jovem se doou tanto que chegamos a sentir seu nervosismo nas cenas mais fortes, sua vontade de conseguir seu desfile, e principalmente sua paixão pela sua terra natal, de modo que quer ficar ali a qualquer custo, ou seja, perfeita. Dentre as demais, vale os bons momentos de Shirine Boutella como Wassila, principalmente no ato mais forte entre as duas, e as cenas finais emocionantes da protagonista junto de Amira Hilda Douaouda como Samira.

No conceito artístico o retrato de um país dissolvido entre os fanáticos religiosos e suas doutrinações tirando a liberdade de cada um, com o ambiente quase que fechado das jovens estudantes e pensantes contra o restante é algo muito forte de ver, com ambientes próprios bem encontrados para mostrar isso desde os banners divulgando a obrigatoriedade da roupa completamente fechada para as mulheres, indo bem contra a ideia de uma designer de moda, até as cenas no ônibus incrivelmente fortes, no carro, até chegarmos nas cenas truculentas na casa da protagonista e na escola, ou seja, a equipe de arte retratou bem cada momento com simplicidade, mas sendo eficiente para funcionar de um modo forte de ver, e sem precisar exagerar em tons, o que acaba chamando muita a atenção fotográfica, principalmente nas cenas de sangue.

Enfim, um filme muito bom, que nos faz refletir muito sobre a falta de pensamento de muitas pessoas, na famosa doutrinação religiosa que destrói culturas e pessoas, e principalmente consegue com atitudes fazer um longa simples se tornar algo muito bem feito e com um choque cênico incrível, afinal a cena do desfile sem dúvida alguma é um marco forte incrivelmente bem feito, juntamente com a cena das roupas destruídas, ou seja, um filme que vale muito a conferida, e que sendo a indicação da Argélia para o prêmio de filme estrangeiro em diversas premiações, pode ser que ainda iremos ouvir muito falar dele, então fica a dica de conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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