Sabe aqueles filmes que seu queixo não para de cair de tanta sacada em cima de sacada, aonde você acha que tudo pode ficar muito louco e dar errado, e consegue ficar tudo ainda pior do que você imaginava, numa loucura completa que surpreende, faz você torcer por alguém e que ao mesmo tempo pira nas reviravoltas inimagináveis? Pois bem, a partir de hoje o filme que fizer tudo isso você pode chamar de "Parasita", pois essa certamente é a melhor definição para esse filme sul-coreano incrível, que não tem como não se surpreender a cada ato, fazendo dele não só candidato a diversos prêmios de filme internacional/estrangeiro, mas em muitas categorias possíveis, pois é daqueles filmes que funcionam bem comercialmente, tem estilo artístico e passa mensagens fortes para todos os lados, sendo completo de essência, forte de atuações, com um roteiro preciso e bem trabalhado para que as reviravoltas não criem furos, sendo um acerto em cima do outro, e de uma forma tão engraçada, que você passa a conversar com os personagens, ou seja, nos vemos reclamando com os doidos para conseguirem se safar, e isso é genial.
O longa nos mostra que toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.
É muito interessante ver o estilo do diretor Joon-ho Bong, pois sempre consegue pegar histórias contundentes e transformar elas em filmes ainda mais envolventes para que ninguém procure furos, mas sim se divirta e entre em diversas contradições com o certo e o errado, fazendo com que cada momento em seus filmes sejam únicos, que cada envolvimento fique maior e tudo mais role num clima incrivelmente forte para mudanças, foi assim com o excelente "Expresso do Amanhã", que raspou a trave de eu dar uma nota máxima, e aqui ele foi muito além, não brincando tanto com a ficção que fez sucesso em seus últimos filmes, mas indo para o lado mais cru da sociedade, daqueles que não tem medo de um golpe bem dado para se dar bem, criticando as hierarquias, as diversas classes sociais, e trabalhando com muita simbologia para que cada ato fosse incrementando o próximo, num ritmo tão bem moldado que chega a parecer que estamos vendo até mais do que um filme só na telona, e o melhor, sem cansar nada, divertindo, sendo criativo, trabalhando a tensão, e principalmente, sendo violento na medida certa para realçar que o mundo não é um mar de rosas, ou seja, perfeito na história, perfeito na direção, perfeito em tudo.
É engraçado ver como aqui os atores também tiveram uma precisão incrível de desenvoltura, parecendo estarem soltos para criação, trabalhando expressividades bem caricatas e precisas, de modo que se encaixaram perfeitamente em cada ato, fazendo com que o filme tivesse um volume maior. E dessa forma Kang-ho Song entrega para o seu Ki-taek algo duro de ver sua liberdade jogada para diversos lados, e ouvir certos atos chegaram duros demais para ele, de forma que vemos em seus olhares a mudança nítida de amor para desconfiança, para em seguida se tornar um ódio bem trabalhado, ou seja, ele consegue acertar oscilando, algo que é raríssimo de ver. Já Woo-sik Choi deu para seu Ki-woo (ou Kevin) um ar de enganador tão perfeito que ficamos extremamente intrigados como irá fazer seu plano andar, e ele faz com uma astúcia única de estilo, trejeitos e muitas boas sacadas, que junto de So-dam Park com sua Ki-jung (ou Jéssica) com um brilhantismo irônico e cínico nos olhares, o resultado da dupla foi muito bem sacado, e o resultado incrível de ver. Hye-jin Jang trabalhou sua Chung-sook bem centrada, cheia de estilos, e realmente se compararmos as cenas, no momento em que Jeong-eun Lee se coloca como sua irmã, mais pela classe social do que realmente algo consanguíneo, vemos muitas semelhanças de estilos de interpretação, o que é bem bacana de ver. Pelo lado da família Park, o bacana de ver é o ar de rico de todos, que chega a ser algo que vemos em qualquer país, e aqui na trama foi algo bem nítido de ver a forma esnobe que mesmo eles transparecendo simpatia, mantinham dentro de si, e todos os atores entregaram isso com muita sabedoria, desde Sun-kyun Lee como o pai, passando pelos dois filhos meio estranhos vividos por Joi-so Jung e Hyun-jun Jung, até chegar na caricata e madame ao extremo Yeo-jeong Jo. E para finalizar, sem dar spoiler, a loucura de Seo-joon Park com seu Min ao final é algo inesperado de ver, mas loucamente bizarro e incrível, ou seja, o ator deu show.
Agora no conceito cênico sei que muitos irão amar a arquitetura da casa dos ricos, outros irão se envolver com o porão da família pobre, alguns irão se surpreender com o bunker, mas sem dúvida alguma todos irão se emocionar com a cena da chuva no bairro pobre, que muitos vão falar como gravaram isso, esperaram chover uma tremenda tempestade para conseguir o resultado? E a resposta é não, construíram praticamente um bairro inteiro, com escadarias cenográficas, diversas estruturas e casas próximas, para o resultado ficar incrivelmente perfeito, ou seja, algo que merece e muito ser mencionado em todas as premiações de arte também, pois o filme tem elementos cênicos perfeitos, e ambientes tão bem montados que chega a ser difícil não se imaginar no meio de todo o conflito dramático da trama. E além disso souberam trabalhar tons para cada momento, com muitas cores para os atos coloridos, tons sujos para representar o ar da favela ou dos mais simples, cores brilhantes para os ricos, e densidades escuras para os atos mais tensos, inclusive indo para algo bem amarelado estranho para os atos de conflito, o que é algo bem incomum, mas que funcionou muito, ou seja, um estudo de cena completo.
Enfim, é um filmaço que muitos vão colocar ele como sendo apenas artístico por estar estourando em festivais mundo afora, pelos críticos terem se apaixonado por tudo que a trama permeia, mas ele é incrivelmente comercial, funcionando para divertir, para entregar motes morais, e principalmente serve também para muitas discussões, ou seja, é perfeito e certamente quem for conferir irá gostar muito do resultado final, valendo a recomendação para todos. Ou seja, se em sua cidade estiver passando o longa vá conferir rapidamente, pois pode ser que saia de cartaz muito rápido também, afinal um filme sul-coreano ser mantido por muitas semanas no interior é algo que nem com muito milagre dá para acreditar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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