Quer viver alguns anos da máfia versus o sindicato dos caminhoneiros dos EUA em apenas 209 minutos? Se sua resposta for sim, vá com toda vontade conferir "O Irlandês" que estreou hoje na Netflix, pois felizmente Martin Scorsese conseguiu trabalhar bem a história do trio principal com muito envolvimento, muita veracidade nas atitudes de cada um, e principalmente usando artifícios da computação digital, trabalhar com um trio fantástico de atores fazendo todas as épocas do longa, criando vértices interpretativos tão bons, que mesmo nos momentos em que o filme acaba cansando um pouco, ficamos com a vontade de continuar assistindo para ver até onde vai a história. Claro que a essência da trama é pesada, afinal estamos falando de pessoas que resolviam seus problemas pintando as paredes das casas de seus inimigos de vermelho, mas sabiamente vemos o envolvimento afetivo entre o trio ser desenrolado de uma maneira tão bem trabalhada, que acabamos quase virando amigos deles nessas longuíssimas três horas e meia, mas se você acha que paramos depois, a resposta é não, pois a Netflix também soltou na sequência mais 30 minutos com o trio principal debatendo a história e as filmagens com o diretor, e acaba sendo mais uma delícia conferir e se assustar com como eles estão velhos! Ou seja, é o famoso candidato a levar muitos prêmios nas premiações principais do ano, e só por isso já vale a conferida, mas é um filme bem trabalhado, e felizmente não decepciona como muitos.
Contado através da perspectiva do veterano da Segunda Guerra Mundial Frank Sheeran, um assassino profissional que trabalhou ao lado de algumas das personalidades mais marcantes do século 20, o filme aborda um dos grandes mistérios da história americana – o desaparecimento do lendário líder sindical Jimmy Hoffa – e se transforma em uma jornada monumental pelos corredores do crime organizado: seus mecanismos, rivalidades e associações políticas.
Todos sabemos de como o diretor Martin Scorsese é incrível nas suas produções, e aqui ele não apenas usou toda sua experiência em filmes de gangsteres, como juntou tudo da carreira, conhecimentos tecnológicos que teve nos últimos filmes, e junto de grandes amigos ainda conseguiu pegar um elenco de primeira linha para fazer algo que saísse da caixinha, pois já vimos diversos filmes de máfia, já vimos diversas possibilidades de séries politizadas, mas fazer um filme de quase 4 horas, que não ficasse monótono, não necessitasse de capítulos, e principalmente não amarrasse num estilo novelesco é algo completamente inédito, e aqui além de tudo isso, graças aos recursos computacionais atuais, ele pode contar com os mesmos atores em todas as épocas, não precisando treinar trejeitos de cada um dos atores para que se conhecessem, ou pegar jovens completamente despreparados para os diversos papeis, mas sim pegar três monstros da atuação, falar para que eles atuassem para 15 lentes de 5 câmeras diferentes, e depois fazer a mágica acontecer, e posso dizer que é estranhíssimo ver os três em cena, e depois ver eles no bate papo com o diretor ao final dos créditos, parecendo realmente que o diretor voltou no tempo para filmar eles nas suas juventudes, e que aqui entregassem com personalidade na montagem de uma história densa, cheia de problemas fortes entre quem mandava mais nos EUA na época, e que resultou em um crime bem forte e diferente. Ou seja, a trama tem conceitos politizados, tem dinâmicas criminais bem trabalhadas, tem muitas cenas de julgamento, tem envolvimento afetivo familiar, e tudo mais que você pense, afinal é mais do que um simples longa metragem, são quase quatro horas incríveis, que sim, cansam bem no miolo, mas que não nos deixa desconectar, e que sentado em uma boa poltrona ou sofá vai ser uma bela passagem de tempo.
Sobre as atuações, é até interessante pararmos para analisar a quantidade de personagens tem no filme, pois como trabalhou com personagens que existiram realmente, já que o filme é baseado em um livro que conta uma possível versão da história, a todo momento vemos fulano morreu no ano tal com tantos tiros na cabeça, ciclano morreu disso, então o filme em si se formos parar para falar de cada personagem passaríamos a noite aqui, e o filme nem faz tanta questão da maioria, o que é ótima, mas sim do trio protagonista, então vamos focar neles. E para começar temos falar claro de Robert De Niro com seus 76 anos, mas entregando desde um jovem recruta, passando pelos 30/40 no miolo até chegarmos numa velhice bem maior do que está hoje com seu Frank, trabalhando com uma sensibilidade para o personagem, envolvendo seus diálogos com tons fortes e imponentes em diversos momentos, e em outros com muito envolvimento e boas colocações, o que faz dele perfeito para o papel sem dúvida alguma, só colocando um adendo para a lente de contato azul que em diversos momentos ficou meio que estranha de ver, mas isso não é um problema seu, e sim da filmagem. Na outra ponta tivemos também Joe Pesci com a mesma idade, mas que já estava bem sumido das produções, entregando um Russell tão imponente, cheio de virtudes interpretativas com olhares, com trejeitos nas mãos (clássicas de italianos) que ainda velhinho fez gestuais tão bem colocados que mesmo sendo um tremendo mafioso do mal mesmo, acabamos nos afeiçoando demais com o que faz, ou seja, perfeito também. E claro, temos de falar de Al Pacino até mais velho que os dois, porém irreconhecível como Jimmy Hoffa, entregando todas as características imponentes que vemos nos diversos presidentes sindicais, mas também com uma gana marcante em cada movimento, em cada símbolo que faz em cena, ou seja, muito perfeito também. Quanto aos demais, vale dizer que foram bem interessantes nos devidos momentos, sem destacar ninguém, afinal serviram de base para o trio apenas, mas valendo frisar que todos da terceira idade se saíram muito melhor que os jovens em cena, que aparentavam estar até com medo dos monstros sagrados do cinema.
O mais engraçado de ver no filme é que estamos falando de um longa de época, e foram bem sagazes em filmar a maioria das cenas em locações fechadas para criar os ambientes de uma maneira coesa sem precisar se preocupar tanto com locações, mas que ambientaram cada uma das casas, dos boliches, bares, restaurantes, festas, clubes, prisões e tudo mais com precisões ímpares para que cada momento fosse incrível de vivenciar, e principalmente para que viajássemos para o momento em que o filme se passa, e esse acerto foi algo que a equipe de arte pode levar para casa prêmios com muita felicidade. Sobre a maquiagem digital, que rejuvenesceu os três protagonistas, só tenho uma palavra: medo, pois agora com essa tecnologia acabou de falar que precisam de determinado ator de um biotipo X para um papel Y, afinal agora é só pegar alguém perfeito de interpretações, e mudar tudo no computador, pois não vemos falhas em momento algum (tirando o fato das lentes de contato azuis ficarem sem movimento em algumas expressões do protagonista), e isso foi incrível de ver.
Enfim, é um tremendo filme, que cansa sim, não vou negar que me vi com os olhos pesados em diversos atos mais calmos da trama, mas que não vejo ele sem toda essa duração, pois perderia muitas cenas importantes, e talvez o corte não entregaria uma obra tão completa de situações. Ou seja, veja ele com calma, num momento que estiver descansado, preferencialmente em um sofá ou poltrona bem confortável (não recomendo cinemas infelizmente, pois ninguém irá aguentar ficar quase 4 horas sentado numa cadeira não tão confortável), de modo que o lançamento na Netflix foi certeiro para ver em casa (friso em casa, pois ver em um celular é sacanagem para estragar tudo o que o filme propõe!). E assim sendo, não darei nota máxima por esses motivos de cansar, de ter algumas leves falhas, mas com toda certeza recomendo muito ele para quem gosta do estilo, pois outros irão odiar, e é isso, vou ficando por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até breve.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...