Sempre digo que de cada filme é possível tirar uma experiência diferenciada, pois alguns vão mexer com nossos sentimentos, outros vão mostrar histórias fictícias que parecem reais para o nosso imaginário, e alguns vão fazer o inverso também, montar histórias reais tão malucas que de tanta abstração acabam parecendo ficção, e dessa maneira o cinema acaba fluindo trabalhando com o nosso mundo criativo, que como muitos já falaram é bem melhor viver ele do que a nossa triste realidade! Começo meu texto sobre "Z - A Cidade Perdida" filosofando dessa maneira, pois sendo baseado em uma incrível história real, como diz o pôster, poderíamos imaginar algo bem mais simples (e também algo bem mais maluco) das fronteiras amazônicas do Brasil com a Bolívia nos anos 20, aliás até hoje lá não é um lugar muito bem conhecido (ao menos da maioria das pessoas, livros e afins), e sendo assim algo desconhecido, tudo que possam ter criado no mundo fictício é válido para entreter, e o longa conseguiu esse feito, pois temos 141 minutos que parecem ser 300, e por mais incrível que pareça não é arrastado nem alongado, de história realmente rolando e sendo mostrada durante toda a duração. Ou seja, você deve estar pensando: "será que eu aguento tanta história?", e a resposta é bem fácil, se você aguentou longas novelescos bem mais ruins, com elenco fraco, com toda certeza aqui com um elenco bem trabalhado, essa novelona (que quando você acha que não pode aparecer nada de novo, surge com uma guerra completa sendo mostrada!!!) aqui vai ser fichinha de acompanhar, só não exagere na bebida, senão quase 3 horas é tempo demais para ficar sentado sem precisar correr para o banheiro.
O longa conta a incrível história real do explorador britânico Percy Fawcett, que viaja para a Amazônia no início do século XX e descobre evidências de uma civilização avançada desconhecida que pode ter habitado a região. Depois de ter sido ridicularizado pelo corpo científico que considera as populações indígenas como "selvagens", Fawcett está determinado a retornar à sua amada selva e provar seu caso.
O trabalho que o diretor e roteirista James Grant ("Era Uma Vez Em Nova York", "Os Donos da Noite") fez com a obra de David Grann é algo bem pontuado e desenvolvido, tanto que se víssemos o longa como uma minissérie de 5 capítulos seria completamente agradável e não haveria sequer uma reclamação para falar, pois o longa tem sim material para mostrar, e é bem denso, mas falta uma dinâmica maior para segurar o público comum, funcionando quase como um longa mais artístico para festivais e premiações (muito cedo para se falar em Oscar, mas Brad Pitt como produtor pode aprontar algo mais para frente) do que algo comercial que poderia envolver mais. Não digo em momento algum que é um filme ruim, muito pelo contrário, sendo daqueles materiais que podem ser explorados diversas vezes e ainda assim não conseguiremos observar tudo que tentaram nos mostrar, mas que pela falta de um ritmo mais acelerado (afinal, a ideia do longa é ser uma aventura, não um drama) acaba cansando um pouco no miolo, mas quando achamos que vai nos derrubar, surge alguma novidade para se atentar, ou seja, um filme cheio de história para contar que talvez visto mais que uma vez (talvez pausando em partes) seja até mais agradável da forma que foi concebido, afinal não podemos mudar algo pronto. Sendo assim, as escolhas de ângulos do diretor, junto da produção minuciosa de Pitt, acaba entregando até mais do que poderíamos esperar, mas também menos para agradar e ser perfeito.
Dentro das atuações, antes de falar do protagonista que me assustei ao ver nos créditos o nome de Robert Pattinson, e de cara perguntei para meu amigo, quem ele era, e eis que é o melhor parceiro do protagonista Henry Costin, ou seja, o vampirinho brilhante das antigas mudou completamente e mostra interpretação bem feita e nuances tão bem colocadas dentro de uma personalidade forte, bacana, e principalmente com o visual completamente mudado, ficando irreconhecível e perfeito para o papel, ou seja, já vimos que melhorou bem em "Cosmópolis", mas agora está chegando num outro nível. Já havíamos elogiado o trabalho de Charlie Hunnam em "Rei Arthur - A Lenda da Espada", mas aqui ele deixou de lado o estilo cafajeste e aventureiro que vimos lá e centrou em um homem mais determinado de seus ideais e impactante com seu Percy Fawcett, dando um estilo clássico, mas com boa jogada sempre trabalhando trejeitos de maneira simples e efetiva, convencendo a todos de seguir junto com ele em suas aventuras, ou seja, é um ator para seguir mais de perto, pois sempre pode impressionar. Sienna Miller é daquelas mulheres que paramos para acompanhar e ficamos sempre de boca aberta com a classe e beleza sutil que acaba entregando em seus personagens, e aqui sua Nina é doce, poética e boa esposa para o protagonista, mostrando uma desenvoltura clara e dominante para com suas cenas, agradando bastante no que faz. E já no rumo final, eis que Tom Holland apareceu com um bigodinho maroto com seu Jack, mostrando que o que vimos de potencial lá atrás em "O Impossível" só vem recebendo polimento a cada novo filme, e logo estará completo para grandes papeis de renome, pois o jovem ator tem carisma, personalidade e aqui mostrou uma seriedade incrível com suas cenas, agradando bastante também, mesmo que pouco. Dos demais, todos foram bem encaixados, até mesmo os índios foram bem colocados na trama, não aparecendo forçados como muitos longas hollywoodianos costumam jogar, e muito menos monstruosos para que a classificação etária fosse lá em cima, como costuma ocorrer em longas mais artísticos, ou seja, em resumo todos os coadjuvantes trabalharam muito bem no longa para complementar cada cena.
O longa se passa entre o Brasil e a Bolívia, porém teve a maioria de suas cenas rodadas de floresta na Colômbia, afinal qualquer floresta bem fechada serviria de base para a equipe rodar suas cenas, e lá o filme teve os momentos mais sujos e duros de gravar, com objetos cênicos bem trabalhados de época e muito simbolismo para com as tribos indígenas, mostrando que a pesquisa da equipe de arte foi efetiva. Enquanto que as cenas mais clássicas foram filmadas na Irlanda do Norte aonde trabalharam bem o conceito das comunidades de época que eram sociedades bem mais machistas, com pessoas brigando para defender seus conceitos entre todos, e claro que com isso a parte de figurino pode ser bem mais trabalhada do que as locações em si, e assim mostrando que o trabalho da equipe de arte foi completo. Outro destaque cênico podemos dar para o teatro de ópera de uma fazenda no meio do seringal, incrível de detalhes, e claro também temos de pontuar as belas locações cenográficas das cenas de guerra, que com tantos elementos só ali já farão a equipe ser lembrada em diversas premiações. Quanto da fotografia, tivemos muitas cenas iluminadas por fogueiras, velas, e assim além de contrastantes tons de verde e cinza nas cenas normais, nas internas e/ou noturnas o alaranjado acaba chamando atenção, além claro do vermelho nas cenas de matança mais fortes, ou seja, uma gama bem interessante para um filme de época, pois geralmente se sobressai tons de sépia, e aqui resolveram ousar.
Enfim, um filme bem interessante que chama bastante atenção, que praticamente surgiu do nada, afinal fui sem ver o trailer em nenhuma outra sessão e como não costumo ler sinopses, acabei chegando sem conhecer nada do que iriam me mostrar, ou seja, valeu pela experiência, mas como frisei em diversos momentos, mesmo tendo um elenco excelente, poderiam ter trabalhado mais o ritmo, ou quem sabe lançar ele picotado em formato de série, pois realmente é um longa para os fortes nem tanto pelas 2h21min de duração, mas sim pelas 4hs que aparenta ter. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais estreias, então abraços e até logo mais.
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