Se no Brasil as comédias ficam tediosas pelo excesso apelativo, na França o que acaba tendo esse mesmo defeito é o apelo pelo bizarro como ponto funcional, e não digo que isso seja algo bom, pois ao invés de fazer o público rir com a proposta de um julgamento completamente maluco de um crime maluco em "Na Cama Com Victoria", o resultado acaba indo bem pelo caminho inverso, ou seja, fazer o público se perguntar o que desejavam mostrar com a completa maluquice que habita a cabeça da protagonista, e assim sendo, não rimos, não torcemos por ninguém e nem aprendemos nada com a trama, a não ser que dálmatas são os cães menos inteligentes, e só.
O longa nos conta que Victoria Spick é uma advogada criminalista cuja vida amorosa é nula e vazia. Em um casamento, ela se encontra com seu velho amigo Vincent, e dá de cara com Sam, um traficante que ela defendeu com sucesso. No dia seguinte, Vincent é acusado de tentativa de assassinato de sua namorada. A única testemunha é o cachorro da vítima. Victoria relutantemente concorda em defender Vincent e contrata Sam como assistente. Dá-se início, então, a uma série de cataclismos na vida de Victoria.
A diretora e roteirista Justine Triet até trabalhou bem os momentos da trama, que mesmo bem bagunçada consegue ter um vértice central para seguirmos, tanto que o estilo artístico de sua comédia conseguiu fazer com que o longa fosse indicado ao Cesar de melhor filme, melhor atriz, melhor ator coadjuvante (2x) melhor roteiro, melhor direção de arte, vencendo inclusive a Palm Dog em Cannes com o cão Jacques, porém a construção do longa, ou melhor, a desconstrução acabou deixando o longa bem confuso para o publico em geral que acaba não sabendo se ri de algo ou se conecta com a ideia da loucura da protagonista, ficando bem abstrato para se ter um resultado efetivo.
Quanto da atuação temos de ser sinceros ao falar que Virginie Efira entrou completamente na maluquice de sua Victoria, mostrando o quão estressante pode virar a cabeça de um advogado quando pega causas malucas em conjunto com a vida bagunçada que leva, e ao trabalhar bem trejeitos expressivos consegue dar boas nuances para a trama, porém se a diretora tivesse seguido uma linha mais congruente certamente ela detonaria em cena. Vincent Lacoste sempre trabalha seus personagens de uma forma bem dúbia e com isso seu Sam acaba interessante pelo afeto que entrega para a protagonista, mas ficamos na duvida de sua índole é o que deseja atingir com o que faz, agradando e desagradando na mesma cena, o que poucos atores conseguem fazer. Melvil Poupaud também ligou o turbo para sua maluquice e fez de seu Vincent alguém que não dava para confiar e muito menos defender, o que acaba causando um certo desconforto cênico, porém isso é o que faz seu personagem ser interessante de conhecer mais, e caso tivessem se aprofundado mais no conceito de julgamento acabaríamos gostando mais dele. Laurent Poitrenaux inicialmente é um trouxa, bobo demais e chega a ser chato com seu David, porém com o desenrolar da trama vimos seu lado oportunista e acabamos se interessando muito por onde ele poderia chegar, o que acaba fluindo.
Visualmente o longa é bem simples, mas escolheu bem as locações para o julgamento mostrando algo vermelho e bizarro como o filme, pegaram um apartamento e escritório da advogada completamente zoneados e bagunçados para mostrar a bagunça na vida dela é até mesmo a festa acabou sendo algo maluco demais para combinar com o filme, ou seja, uma direção de arte irreverente que atinge o objetivo maluco do longa, mas que não ajudou a fazer rir, que seria o mais importante.
Enfim, um filme interessante, mas que passa bem longe da comédia comum, e assim quem for esperando rir horrores com a sinopse bacana acabará decepcionado. Portanto se gosta de uma comédia bagunçada, que não faz rir, vá e confira, senão fuja. Bem é isso, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.
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