Confesso que quando vi o pôster lotado de crianças, já imaginei "A Viagem de Fanny" como um longa monótono, bobo e sem graça alguma, mas com muita graciosidade, tensão e emoção o longa acabou me conquistando demais, transformando toda a dureza da Segunda Guerra, agora vista pela ótica de crianças judias em algo tão inteligente, bem feito e dosado na medida certa que acabamos ficando apaixonados por tudo o que é mostrado, fazendo com que o longa se tornasse a grande cereja do bolo do Festival Varilux, pois de uma maneira bem simples a trama é construída e desenvolvida, não pecando em nada nem por falta nem por excesso, mostrando que sim, um longa de Guerra pode ser muito bem interpretado por crianças!
O longa nos mostra que do alto de seus 12 anos, Fanny é cabeça dura! Mas é, sobretudo, uma jovem menina
corajosa que, escondida em uma casa longe de seus pais, toma conta de suas duas irmãs
mais novas. Ao ter que fugir precipitadamente, Fanny vai à frente do grupo de oito crianças,
iniciando uma perigosa peripécia através da França ocupada durante a Segunda Guerra
Mundial, em direção a fronteira com a Suíça. Entre medos, risadas compartilhadas e
encontros inesperados, o pequeno grupo aprende a independência e descobre a
solidariedade e a amizade
A peripécia que a diretora e roteirista Lola Doillon fez em cima do livro de Fanny Bel-Ami (que viveu realmente toda a situação mostrada no longa) é algo tão impressionante que ficamos realmente deslumbrados, pois a cada cena a tensão só aumentava, a criatividade das crianças se desenvolvia bem, e principalmente a dinâmica do longa nos conduzia exatamente para onde ela desejava mostrar, ou seja, o filme fluía, que é algo que tanto reclamo da maioria dos filmes dramáticos franceses. Sendo assim, cada plano bem escolhido mostrava ângulos precisos para que estivéssemos quase junto das crianças vivendo aquele medo da polícia nos capturar, estando com fome, frio, desejo (esperança) de ver novamente nossos pais, mas principalmente sobreviver e ajudar nossos irmãos/amigos a conseguir sobreviver também. Claro que por ser baseado em algo real, a história teve um conteúdo impressionante, mas mais do que isso, a sintonia escolhida pela diretora para que a garota protagonista tivesse essa vivência foi o ponto certo para que seu longa empolgasse e agrasse demais.
Sobre as atuações temos de aplaudir a estreia de Léonie Souchaud nos cinemas, pois a garotinha foi singela, e bem dirigida conseguiu transformar sua Fanny em uma personagem única, com medos, emoções, trejeitos bem pontuais, e principalmente usar de sua doçura envolvente para cativar os demais personagens a segui-la, certamente veremos mais dela em breve. Ryan Brodie também conseguiu conduzir muito bem seu Victor e com uma desenvoltura carismática que foi construindo, pois inicialmente parecia arrogante num nível altíssimo, ele conseguiu chamar a atenção e agradar bastante com o que fez. A pequenina Juliane Lepoureau foi tão bonitinha com sua Georgette, vivendo um encantamento único e com leves desenvolturas acabava sempre chamando atenção, sem errar olhares. Os demais pequenos também foram muito bem colocados na trama, cada um de sua maneira encantando e agradando, mas sem grandes destaques. Victor Meutelet foi bem colocado com seu Elie, e talvez poderia até ter tido mais tempo de tela para chamar mais atenção, mas acabaria roubando as desenvolturas dos pequenos, e assim sendo sua fuga é mais justificada do que tudo. Cécile De France foi inicialmente dura com sua Madame Forman, mas trabalhou tão bem seus poucos momentos, mostrando que os adultos também tinham medos na época da Guerra, e mesmo que não demonstrassem de cara, os olhares não escondiam seus desejos mais fortes de sobrevivência. Stéphane De Groodt também foi bem com seu Jean, e principalmente na cena junto dos alemães mostrou uma faceta expressiva tão eloquente que chegamos a ter o mesmo desespero de seu personagem.
Quanto do visual, as escolhas foram perfeitas, com trens antigos andando e fazendo várias desconexões, pensões/casebres/albergues escolhidos na medida certa para mostrar o quão pobre viviam as pessoas na época da Guerra, e que davam o melhor que tinham para ajudar as crianças, figurinos bem pobrinhos para realçar a fuga judaica que mesmo quem tinha dinheiro escondido não tinha como utilizar frente aos nazistas (que muito bem encaixado na visão das crianças como monstros que deviam fugir), e claro, ótimos descampados, florestas, casas destruídas e tudo mais para simbolizar toda a dramaticidade e pontualidade que o longa desejava passar, ou seja, precisão em cima de precisão. A fotografia segurou bem os tons marrons para manter a época, mas também usou muito do verde das matas para esconder leves defeitos de tons, e junto da precisão das cenas escuras para criar tensão montou-se um quebra-cabeça incrível de iluminação para que os realces felizes (a doçura das crianças decorando a casa destruída foi algo incrível de ver no tom sobre tom ali) ficassem na memória de cada um.
Enfim, é um longa que até possui leves defeitos, mas é tão bonito, soando tão agradável, que faz fluir diversos tipos de emoções, de modo que com muito louvor (mesmo faltando conferir 1 longa ainda do Festival) coloco esse como o melhor do Festival Varilux, e só não dou a nota máxima (esse ano vai ser difícil rancar um 10 coelhos desse que vos digita) pelo simples fato da trama ser rápida demais, pois merecia um desenvolvimento maior das cenas na floresta, merecia ter mais cenas nos orfanatos para conhecermos o dia a dia dos pequenos ali, merecia sim aparecer mais alemães em cena, e nesse quesito para também reduzir os custos, acabaram cortando muita coisa que certamente deve estar no livro de Fanny. Portanto caberia bem um 9,5 aqui, mas como não tenho, vai acabar sendo um 9 com louvor, e digo mais, quem puder confira esse longa para se emocionar e ver o quanto era difícil sobreviver naquela época. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com o último texto do Festival Varilux, então abraços e até lá.
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