Os Irmãos De Filippo (I Fratelli De Filippo)

11/12/2022 05:34:00 PM |

Sempre é bacana conhecer um pouco da formação cultural de um país, e ver longas de festivais acaba sendo muito interessante por encararmos filmes que muitas vezes veríamos nos cartazes dos streamings (já que a maioria dificilmente chegaria nos cinemas do interior) e acreditaríamos que não é algo que vamos gostar, e aqui já sabemos que todos são muito bem feitos. Comecei o texto do longa "Os Irmãos De Filippo" dessa forma, pois a família De Filippo juntamente com a Scarpetta foi uma das grandes, se não a maior trupe de artistas cômicos que a Itália já teve, brilhando tanto nos palcos quanto no cinema, e aqui vemos a vida deles desde o começo dos anos 1900 até os anos 30, com as devidas brigas, conflitos de ego, tentativas de montar a própria companhia e toda a desenvoltura que sabemos ser bem conflitiva quando se tem pessoas artistas vivendo junto, afinal nunca se sabe parar de atuar e isso causa problemas, e o longa é interessante por isso, para vermos formações, opiniões, as tentativas de mudar o estilo cômico do pastelão para a tragicomédia, e com isso acabamos conhecendo muito mais dessa fase da Itália que foi ampla e lançou grandes nomes para o mundo. Ou seja, é uma biografia bem marcante tanto de Eduardo, quanto de Peppino, e toda a família que deu nome à comédia italiana.

O longa nos coloca no início do século XX, os três irmãos Peppino, Titina e Eduardo, vivem com sua bela e jovem mãe, Luisa De Filippo. Não há pai na família, ou melhor, ele se esconde na pele do "tio" Eduardo Scarpetta, o ator e dramaturgo mais famoso, rico e aclamado de sua época. Scarpetta, embora não reconhecendo os três filhos naturais, os apresentou ao mundo do teatro desde a infância. Com a morte do grande ator, seus filhos legítimos dividem sua herança, enquanto Titina, Eduardo e Peppino não têm direito a nada. Aos três jovens, porém, o "tio" Scarpetta transmitiu um dom especial, seu grande talento, que não tocou seu filho legítimo Vincenzo, também ator e dramaturgo, que se tornou dono da empresa de seu pai. A redenção da dolorosa história familiar passa pela formação do trio De Filippo, sonho acalentado durante anos por Eduardo e seus irmãos e finalmente realizado, superando dificuldades e conflitos. A do De Filippo é a história de uma ferida familiar que se transforma em arte. E de três jovens, que, unindo forças, dão vida a uma forma completamente nova de contar a realidade com um olhar voltado para o futuro.

Diria que o diretor Sergio Rubini foi muito emocional na forma de transpor a vida dos De Filippo para a tela, pois conseguiu mostrar tanto a boa desenvoltura dos artistas como também toda a difícil vida que tiveram desde o começo com seu verdadeiro pai os renegando como uma família secundária, mas dando para eles a qualidade de uma grande família de atores cômicos, com talentos natos e envolvimentos precisos, e assim vemos através da ótica tragicômica, que tanto Eduardo defendeu e que muitos podem considerar como um dos pais do neorealismo no teatro/cinema, a vida desses jovens no meio da comédia da própria vida, e dos dramas que tiveram de passar, sendo um feito brilhante tanto pelo ótimo roteiro de pesquisa quanto para a desenvoltura entregue na tela, e isso acaba funcionando demais. Ou seja, é a famosa arte falando de artistas, numa biografia precisa, humana e bem emocional, que faz rir e também emociona bastante, o que faz valer como um tremendo filmaço longo, mas incrível de ver.

Sobre as atuações, antes de falar de toda a desenvoltura dos atores adultos tenho de parabenizar todo o envolvimento gracioso de Christian Chiummariello, Giovanni Corsicato e Anna Paola Minardi, como os jovens Peppino, Eduardo e Titina respectivamente, pois foram muito bem encaixados, desenvolveram bem suas personalidades, e o resultado total de suas poucas cenas foram brilhantemente utilizadas até na cena final incrível. E falando de cenas incríveis, tivemos muito envolvimento na concepção da personalidade de Mario Autore como Eduardo e Domenico Pinelli como Peppino, pois ambos criaram nuances, tiveram personificações marcantes, chamaram a responsabilidade para si em diversos momentos, e assim resultaram em claras e emotivas cenas atuando tanto para as câmeras, quanto para o público das peças, o que acaba chamando muita atenção, muita desenvoltura e agradando demais de ver na tela, principalmente pela semelhança física que a maquiagem acabou ajudando a entregar para ambos. Da mesma forma Anna Ferraioli se entregou para uma Titina cômica, mas bem séria nos assuntos familiares, sendo o ponto de quebra dos dois atores em todos os momentos, resultando em algo bem bacana de ver em cena. Ainda tivemos grandes atos com Giancarlo Giannini nas cenas iniciais com seu Eduardo Scarpetta, tivemos depois muita sagacidade para Biagio Izzo entregar para seu Vicenzo, e até mesmo Francesco Maccarinelli fez bons atos com seu Pietro, mas o destaque recai mesmo para o emocional de Suzy Del Giudice como a matriarca da família que envolve demais entre os secundários.

Visualmente a trama é bem bacana ao mostrar muito do universo teatral, os ensaios, as primeiras montagens, e trabalhou bem o conceito da época com figurinos e tudo mais, mostrou o lance das famílias duplas aonde uma acaba sendo riquíssima e a outra meio que deixada de lado comendo o resto da comida da outra, não tendo os mesmos brinquedos e com uma vida mais sofrida. Ou seja, temos vários elementos cênicos bem representativos, aonde as nuances que a equipe de arte desenvolveu funcionam bem, mostra boas peças cômicas, e o resultado funciona.

Enfim, é um filme bem desenvolvido, aonde vemos uma biografia bem interpretada e com uma representação emocional e cômica bem interessante, que acaba agradando bastante tanto pelo filme em si, quanto por conhecermos mais dos personagens que foram tão conhecidos, e assim sendo vale a recomendação de conferida dele no Festival de Cinema Italiano, que está totalmente gratuito até o dia 04/12, então fica a dica, e eu fico por aqui agora, então abraços e até logo mais.


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