A Sombra do Dia (L'Ombra Del Giorno)

11/15/2022 08:53:00 PM |

Costumo dizer que tem filmes que sabem ser tão bem elaborados de ideia que fico pensando como tudo vem na cabeça de um roteirista, e aqui no longa italiano "A Sombra do Dia", ele brinca com fascismo, com a paixão entre um ex-soldado manco que agora é dono de um restaurante e se apaixona por uma judia disfarçada, vemos interações de pessoas ligadas ao Duce, vemos infiltrações e vários diálogos defendendo e acusando, ou seja, um prato cheio literalmente de comida pesada que soa leve dentro da ideia do diretor, que trabalha tudo com grandes floreios e boas atuações, e que funciona muito bem dentro tanto do conceito de drama, quanto do romance bem singelo, e que com as devidas nuances flui e envolve bastante. Ou seja, é daqueles filmes que você fica esperando tudo dar errado, que aparecem situações e dinâmicas fortes para serem discutidas, mas que tem tanto estilo e boas desenvolturas que acabamos envolvidos com tudo, e assim sendo o resultado agrada bastante.

A trama nos mostra um filme ambientado em uma cidade provinciana (Ascoli Piceno) no final dos anos trinta. Luciano, simpatizante do fascismo como a grande maioria dos italianos, é dono de um restaurante, mas acredita que pode viver de acordo com as regras que estabeleceu, numa espécie de isolamento do mundo exterior. Mas na janela com vista para a praça antiga, junto com os preocupantes sinais de algo que está prestes a acontecer no mundo, aparece uma garota carregando um segredo. O nome dela é Anna e ela consegue ser contratada no restaurante. Desde então, a vida nunca mais será a mesma para Luciano e junto com os perigos que ele enfrenta, existe o maior de todos: o amor. A sombra do dia é uma história de amor, naqueles anos difíceis.

Diria que o diretor Giuseppe Piccioni foi bem direto na sua síntese para que seu filme fluísse bem, tivesse toda a construção de época e ainda soasse forte dentro do conceito romântico com muita precisão de movimentos, sem fazer com que o filme chamasse atenção demais, mas também não soasse falso, de tal forma que tudo tem sentimento, envolvimento e boas cenas, não se impondo demais nas cenas mais amplas, e desenvolvendo dessa forma toda a ambientação em cima de uma época que você podia por meia palavra errada chegando através de um informante amanhecer preso. Ou seja, o resultado do roteiro e da direção de Piccioni é algo que traz muito carisma para as cenas fortes, conseguindo dosar as atitudes e desenvolturas de cada protagonista para algo marcante e envolvente, não apelando nem para cenas duras, nem fazendo um romance melado demais, no ponto para tudo o que precisava entregar.

Sobre as atuações, particularmente gosto muito do estilo de Riccardo Scarmarcio, pois ele tem um estilão clássico e consegue ser sutil nas personificações que faz, e dessa forma ele entrega um Luciano marcado pela guerra, mas também com um envolvimento amplo bem colocado, ou seja, vemos ele fazendo trejeitos duros, vemos um ar de apaixonado, e até mesmo uma entrega bem cheia de imposição para alguns atos mais tensos, de forma que tudo se encaixa em suas dinâmicas, mostrando um personagem durão, mas que chama atenção. Benedetta Porcaroli conseguiu entregar tanta personalidade para sua Anna que ficamos muito conectados em seus atos, de forma que ela convence bem com muita desenvoltura e vai se entregando aos poucos, trazendo cada vez mais o protagonista para seu lado, mesmo ele sendo apoiador do outro lado, ou seja, foi muito bem em cena e agradou bastante. Ainda tivemos boas cenas com Lino Musella chamando a atenção com seu Osvaldo bem imponente, Vincenzo Nemolato bem direto nos atos de seu Giovanni e Waël Sersoub chamando muita atenção com seu Emile, de forma que todos os secundários acabaram tendo boas conexões e desenvolturas, entregando bem os atos juntos dos protagonistas, e ainda vale a menção a Antonio Salines com seu professor que deu ares clássicos de como muitos precisaram fazer durante um governo fascista.

Visualmente a trama tem uma boa pegada, com um restaurante bem trabalhado, que recebe todo tipo de público, um porão interessante aonde acabam escondendo o rapaz judeu, a praça com apresentações icônicas que depois ficamos pensando se realmente aconteceram ou se são apenas imaginações do protagonista, e temos ainda alguns momentos no quarto dele, mas a base mesmo é toda na cozinha do restaurante e nas mesas aonde rolam todas as conversas sobre o tema, ouvimos as notícias do Duce e tudo mais sobre a guerra que está se iniciando, ou seja, a equipe de arte brincou bem com o visual da trama, entregou boas nuances nos figurinos e nas desenvolturas cênicas, e o resultado acaba chamando atenção.

Enfim, é um bom filme, que tem situações e envolvimentos bem marcados, que acabam empolgando pelas boas atuações, encontros e dinâmicas, e que passa bem a mensagem da época envolvendo o fascismo, as pessoas favoráveis, os que estavam se escondendo, e seus devidos motivos, de modo que o filme não chega a impactar com tanta tensão, mas é muito bem trabalhado e agrada dentro do conceito por completo, valendo a indicação dele para ser conferido no Festival Italiano. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


2 comentários:

isabela disse...

amei a crítica. queria tanto saber onde posso assistir

Fernando Coelho disse...

Vixi Isabela... Os filmes foram todos do Festival Italiano com longas que só saíram na Itália sem data ainda de lançamento nacional, o jeito é esperar ou arriscar algum site de nuvem da Itália mesmo! Que bom que gostou do texto, o filme é bem interessante e vou torcer para que todos consigam ver!! Abraços!

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