Dark Blood

11/14/2013 12:38:00 AM |

Uma coisa que gosto muito de ver em filmes é a linguagem que um diretor usa para concluir sua obra, e muitas vezes quando assisto filmes onde existem excessos de narração acabo saindo frustrado com o que vi, pois geralmente não necessitaria de ficar explicando as cenas. Mas nem por isso fazem menos filmes narrados, e se a exibição de "Dark Blood" não tivesse um prólogo com o diretor George Sluizer explicando tudo que aconteceu, muitos que não reclamam de narrações assistiriam o filme, entenderiam o que aconteceu e ficariam felizes com o que viram, mesmo sendo um longa pesado. Porém, pra que não acompanha tanto o cinema mundial, nesse prólogo fica sabendo que o ator principal River Phoenix morreu antes da conclusão das filmagens em 1993 e o diretor em 2012 resolveu montar o material que tinha e entregar um longa incompleto para ser passado, e maravilhosamente usou a narração em prol da linguagem, lendo o roteiro das cenas que não foram filmadas onde elas aconteceriam. E pasmem, isso ficou perfeitamente entendível e de uma simbologia ímpar, onde acabamos vendo um ótimo filme diferenciado, filmado em 1993, mas que passaria naturalmente como sendo atual.

O filme nos mostra que um jovem viúvo vive recluso em um local onde foram realizados testes nucleares. Lá, ele aguarda a chegada do fim do mundo produzindo bonecas que acredita ter poderes mágicos. Quando o carro de um casal da alta sociedade hollywoodiana cruzava o deserto do Arizona numa espécie de segunda Lua de Mel ele se quebrou, mas o jovem conseguiu ajudá-los, levando-os para seu abrigo e os mantendo como reféns porque pretende estabelecer com a noiva o início de uma nova e melhor sociedade.

A história é interessante pelo fato de envolver todo o misticismo entre crenças indígenas, testes nucleares, e até mesmo pelo mistério do personagem de Phoenix que acaba sendo quase um símbolo dentro da cidade com tudo que faz. E o diretor na época foi muito inteligente pelos planos, e teve mais sorte ainda de o cronograma de filmagens ter sido feito totalmente a seu favor, pois as cenas chaves foram filmadas e com isso o longa montado de forma inacabada conseguiu ter todo um sentido, colocando apenas alguns momentos narrados para ligar o longa completamente. Outro ponto bem bacana, foi ter optado por planos bem abertos onde a paisagem desértica praticamente sufoca os personagens, dando uma característica marcante que os western possuíam de o espaço ser maior que os personagens, e aqui isso serviu para retratar quase que uma cela aberta para os prisioneiros que poderiam fugir a qualquer momento, mas o calor os matariam facilmente. Podemos observar também o fator psicológico dos personagens, afinal o diretor trabalha muito com isso nos três, oscilando muito pouco para que o público identifique sem pensar o que cada um é realmente, e isso ficou genial.

É no mínimo estranho ver um filme de alguém que morreu, quando re-assistimos algo que vimos na época de vida da pessoa até fica condizente, mas ver algo novo de alguém que morreu há 20 anos, fica parecendo que estamos naqueles filmes futuristas que congelam uma pessoa para viver algo depois. Mas tirando esse detalhe sombrio, River Phoenix nas cenas que gravou mostrava-se centrado e com uma personalidade bem forte e intimista para o personagem, agradando por prender a tensão, pena mesmo que não concluiu tudo morrendo 11 dias antes de acabar o cronograma de filmagens, pois teria feito cenas bem ousadas pela narração do diretor. Outro que podemos dizer que já estava velho em 93 mas continua igualzinho nos filmes atuais é Jonathan Pryce que até tenta manter a compostura, mas enlouquece demais em algumas cenas acabando um pouco inverossímil nos trejeitos, poderia ser menos forçado que agradaria mais, além de estar presente nos maiores furos de figurino do filme, que quando foi filmado era o que mais dava erro. Judy Davis tinha apenas 37 anos quando gravou o filme, mas faz seu papel de forma a parecer tão mais velha que chega a assustar em alguns momentos, poderia ter sido mais sensual em algumas cenas que chamaria mais atenção, já que essa era a proposta principal de seu papel, além de exageros também na interpretação.

Um ponto fortíssimo está na direção de arte e na produção do filme, que conseguiu transformar um cenário desértico em algo a mais para a trama, pois tudo desde pequenos buracos até panelas de metal, passando por bonecos pintados passam a fazer parte do contexto do filme, o que é magnífico. Porém certos exageros acabaram ficando como furos, por exemplo o ator escorrega na areia, rola, pula, corre, sua, e na cena seguinte sua roupa está nova em folha como se tivesse saído de uma sala com ar condicionado, no máximo aberto o colarinho. Em outra cena, entram em um lugar todo escuro, o rapaz acende uma vela e em seguida andando milhares de velas estão acesas. Esses problemas ocorriam demais quando foi filmado, então é "relevante" observar isso, mas que fica engraçado e ao mesmo tempo estranho, fica. A fotografia aproveitou muito do cenário, pois ao optar por planos mais abertos, o diretor jogou toda luz pra tela iluminando sem precedentes, e isso auxiliou no tom amarelado que todo deserto tem, porém nas cenas noturnas utilizaram também o correto já que está em um lugar onde não existe praticamente eletricidade, a escuridão predomina forte quase não sendo possível ver nenhum ator.

Enfim, é um bom filme que se tivesse sido completado, talvez até tivesse feito muito sucesso na época, porém hoje acaba sendo mais um longa que muitos irão curiosos para rever o ator e talvez acabem frustrando mais com a expectativa de que ele dominaria a tela como fez em outros filmes, mas por possuir pouquíssimas cenas realmente impactantes acaba não sendo tanto destacado. Ainda assim vale a pena conferir, afinal muitos que me acompanham aqui, assim como eu nem iam em cinema na época, só vindo a conhecer esses atores bem mais tarde. O lançamento comercial no Brasil está marcado para Julho/2014 então quem puder e quiser conferir é algo diferenciado e interessante para assistir. Bem é isso pessoal, encerro essa semana cinematográfica por aqui, mas sexta vem boas estreias pelo interior e estaremos indo conferir para deixar minha opinião aqui para discutirmos, então abraços e até lá.


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