Jackie

11/05/2013 11:46:00 PM |

Alguns filmes podem parecer simples na essência, mas a forma que lidam com o conteúdo de um roteiro às vezes consegue impressionar o espectador. Com uma pegada bem leve para um road-movie, já que estamos acostumados à grandes intempéries nesse gênero, "Jackie" consegue ser uma produção alternativa entre a Holanda e os Estados Unidos que consegue segurar bem uma drama com pitadas cômicas que só não é melhor por exagerar em alguns pequenos clichés de filmes que envolvam problemas familiares. Mas tirando esses detalhes, o longa agrada bem para quem gostar de histórias tranquilas que podem ter algumas pequenas reviravoltas interessantes.

O filme nos mostra que as irmãs gêmeas Sofie e Daan foram criadas por seus dois pais. Quando elas recebem um telefonema inesperado dos Estados Unidos de sua até então desconhecida mãe biológica, Jackie, elas embarcam numa jornada que modifica tudo o que acreditavam ser verdade. A viagem com a estranha e desajustada Jackie mudará a vida de Sofie e Daan para sempre.

O interessante de um road-movie é o fator inesperado, de que qualquer coisa possa acontecer durante a jornada dos personagens de um ponto até o outro, e infelizmente a diretora Antoinette Beumer não aproveita tanto esse fator, utilizando apenas outra instância característica do gênero que é a jornada de vida dos protagonistas. E embora coloque muito do que estamos acostumados a ver nesses filmes, como desertos, motoqueiros, bares country, e tudo mais, a diretora foi extremamente feliz em contar com duas irmãs verdadeiras, não gêmeas, mas que contribuiram imensamente com sua ligação para a trama, é notável ver a sintonia entre elas, mesmo existindo todas as diferenças visuais. Portanto, é um mero detalhe que poderia ter feito do longa algo perfeito, mas nem por isso acaba não sendo algo prazeroso em curtir a forma que nos é mostrado tudo e ir descobrindo um pouco mais da vida das garotas, e um pouco mais da estranha que dá nome ao filme.

Se a ligação entre as irmãs reais Jelka e Carice van Houten é boa e mostra uma ótima execução de trejeitos emocionais para a trama, já Holly Hunter não consegue mostrar nem um pouco de como conseguiu até hoje 4 indicações ao Oscar, sendo duas no mesmo ano por filmes diferentes onde abocanhou um, fazendo um papel que poderia ter uma vertente muito mais dramática e encarnada do personagem, a atriz parece desconexa com a trama, ficando a cada momento mais distante das demais atrizes, que de certa forma vamos conectar um pouco melhor no final essa ideologia, mas não precisaria ser feito dessa forma tão jogada da atriz. Falando individualmente das irmãs, Carice já estamos mais acostumados a ver seu rosto em blockbusters, então já conhecíamos melhor sua forma de atuar, e aqui não decepciona sendo a irmã mais desacreditada de fantasias e que mantém forte seu gênio até boa parte, e seus trejeitos ficam focados de uma forma tão interessante que ela conseguiria fazer duas atrizes completamente diferentes só com o seu antes e depois de uma picada de cobra. Enquanto Jelka é mais conhecida na TV holandesa e consegue manter seu trejeito doce que a personagem pede, sempre fantasiosa, mas que trabalha bem seus sentimentos também durante toda a duração, mas provém dela as sutilezas que dão o ar emotivo para o filme.

A equipe de arte soube trabalhar de forma simples, mas coerente com a trama, pois não abusou de elementos que poderiam tornar o filme mais rico, mas que sairia um pouco do contexto que quiseram mostrar, o da jornada de mudança pessoal das garotas com vidas "ricas" entrando num trailer bagaceiro e conhecendo uma vida mais arriscada e aventuresca que poderia até ter sido melhor trabalhada no melhor estilo dos road-movies. A fotografia foi bem grata ao trabalhar tanto com o ar desértico, quanto com neve e até mesmo gesso, onde o visual a cada momento acaba tomando uma tonalidade dando diferentes ares para que o filme tomasse diversos rumos que poderiam ser escolhidos para um final diferenciado.

Enfim, é um filme alternativo que acaba sendo mais tradicional do que deveria ser, mas de certa forma é bem gostoso de assistir que recomendo, pois agradará a maioria do público que conseguir assistí-lo, afinal é um filme de festivais, com uma distribuidora que certamente não irá distribuí-lo comercialmente pelo Brasil, então quem tiver a oportunidade de vê-lo em alguma data em festivais espalhados pelo Brasil não perca, e quando estiver de certa forma disponível para vê-lo em casa, é do estilo para curtir sem pensar em nada. Bom esse foi apenas o primeiro filme da Itinerância da Mostra Internacional de São Paulo que começou em Ribeirão Preto e você pode conferir os demais filmes que estão sendo mostrados no Galpão de Eventos do SESC aqui, então não perca e nos encontramos por lá. Abraços e até amanhã com mais um filme da Mostra.


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