O Capital

10/10/2013 01:14:00 AM |

Uma coisa bem interessante me ocorre todas as terças-feiras quando sou surpreendido com algum filme na programação do qual eu nem sabia da existência, mas essas surpresas eu gosto de mais ainda de me testar e até o dia que vou assistir ele evito ler qualquer coisa a respeito. Hoje o teste foi muito mais grato do que poderia imaginar, pois o filme francês "O Capital" é mais uma obra de arte do diretor Costa-Gavras que envolve tanto assuntos financeiros, o qual estudei na minha pós quanto a beleza do cinema que foi minha formação, então parecia um bobo assistindo o filme, rindo de algumas situações e me divertindo como nunca com tudo que é mostrado na sua totalidade, tornando ele mais um dos filmes que irei recomendar muito para todos meus conhecidos.

A sinopse nos mostra que os cidadãos do século XXI são escravos do capitalismo; sofrem com os problemas e celebram os triunfos. Esta é a história da ascensão de um escravo do sistema que se transforma em mestre: o executivo Marc Tourneuil se aventura no mundo feroz do capitalismo, tornando-se o CEO de um grande banco. Ele trava uma perigosa luta contra o conselho de diretores quando começa a ter controle unilateral do poder, demitindo muitos dos funcionários e fechando um acordo corrupto com um fundo de investimentos americano.

Quem não for afim de intrigas bancárias ou que não seja acostumado a ler um jornal na parte de Economia, ou até mesmo ver algum jornal mais sério na TV pode se assustar um pouco com o que verá no filme, mas embora exista toda a parte ficcional, é a mais pura realidade que ocorre algumas vezes no mundo onde vivemos. O diretor Costa-Gavras é famoso por fazer filmes que nos leve a pensar muito sobre algum determinado assunto, mas aqui ele optou em ser um pouco mais explícito e já cravou sua faca na cara do espectador mostrando tudo e mais um pouco. Em alguns momentos até podemos pensar que ele vai mudar um pouco de lado e resolver o filme de forma diferente, mas sairia da coesão inicial da trama, e felizmente não temos isso. Outro ponto sábio foi colocar insights do protagonista realizando coisas que desejaria fazer ao invés da realidade, são os melhores do filme sem dúvida alguma, que mesmo sendo pontos de alívio de tensão conseguem agradar demais sem acabar com a seriedade da trama.

O ator Gad Elmaleh apenas possui uma pequena semelhança física com Nicolas Cage, mas sua qualidade técnica vai muito além ao demonstrar tanto uma perfeita persuasão tanto no olhar quanto na forma de interpretar seus diálogos que coloca qualquer personagem no devido lugar que é inferior a ele, e ao mesmo tempo ele não sai da linha simples querendo aparecer em foco demais agradando na medida. É até difícil falar de qualquer outro ator com tudo que o protagonista faz, mas a persistência de Gabriel Byrne é impagável com cenas onde qualquer um com sangue mais frio faria exatamente o que o protagonista pensa sem pestanejar nem um pouco, e isso mostra o quão bom ator ele é, pois faz o "vilão" ser o que deve ser. Lyia Kebede quase me convenceu ser uma modelo real, mas seu personagem na terceira aparição já começa a ficar chato demais, poderia ter sido resolvido mais facilmente sua trama da mesma forma como finalizaram, mas antes. É interessante que todos os atores mesmo que fazendo pequenas pontas conseguem chamar atenção no seu devido momento, mas a resolução sempre recai sobre o protagonista que mandou muito bem, valendo destacar alguns momentos de Natacha Régnier que soube fazer a mulher que apoia no início e vai desgostando de tudo que vai acontecendo com o marido, e isso é nítido em empresários grandiosos e suas esposas, e ela soube dosar a interpretação sem ser chamativa demais.

O visual todo trabalhado nos grandes escritórios bancários e toda a riqueza por trás disso é algo que faz do filme um charme a parte, pois ele tramita muito bem a realidade que é um mundo a parte do que vemos nas ruas e na nossa própria vida. Se a equipe de arte não filmou em locações reais, tenho certeza absoluta que os 8 milhões de euros do orçamento foi todo em construções, pois é minucioso cada detalhe usado, desde as videoconferências interessantíssimas que mostra o nível que andam as telecomunicações, quanto nos gestos mais singelos como os presentes coreanos dados para as crianças. A fotografia usou do tradicional para não chocar mais do que a trama em si já é chocante e aliado a planos mais velozes tanto de filmagem quanto na edição, a trama ganha um ritmo agradável sem ser nem rápido demais nem chegar a dar sono.

Enfim, é um longa mais técnico que alguns até podem não entender ou gostar, mas para aqueles que procuram algo diferenciado do comum que nós é jogado todos os dias e mostrar uma realidade dura de aceitar, esse é o filme que recomendo com toda certeza. Um fato bem cômico é que aqui em Ribeirão Preto está sendo exibido apenas na sala mais chique e rica dos cinemas, e alguns que estavam na sala aparentavam ser dessa turma que o filme mostra e ao mesmo tempo critica, então não sei se todos gostaram tanto quanto eu. Se você estuda Economia ou Finanças, é mais um longa obrigatório, e se você também se interessa por esses assuntos, vá que é garantia de gostar. Encerro a semana cinematográfica da melhor forma possível, com uma nota que andava meio sumida por aqui, mas que mereceu voltar. Mas não fiquem tristes, que só sumirei daqui nessa quinta-feira, pois na sexta volto com uma semana bem recheada de estreias pelo interior contando com pelo menos 8 filmes que irei acompanhar, talvez um pouco mais, mas iremos nos falando por aqui. Então abraços e até sexta pessoal!


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